A câmera estática, a iluminação natural e a falta de decupagem dentro dos planos em si, revelam como esse duro filme mexicano encaixa forma e conteúdo perfeitamente, nos entregando duramente o sentimento do longa. Esses fatores "técnicos" arranjados assim não apenas contam o enredo do filme, mas constroem um espaço-tempo para o espectador dentro da narrativa, melhor dizendo, nos dão tempo e espaço físico dentro das cenas para que também estejamos ali, compartilhando a densidade do filme. No início do filme, vemos pai e filha viajando de carro para se mudarem de cidade depois que Lúcia (esposa e mãe) falece. Aqui, a inércia dessa câmera, os longos planos, os poucos diálogos, já nos mostra que apesar do avanço físico que eles fazem, seus corpos ainda permanecem. Nessa primeira parte, temos a adaptação dessa nova formação familiar lentamente, o pai iniciando um novo trabalho e a filha se integrando bem aos novos colegas de classe. Porém, novamente, os fatores da forma que estamos falando não nos deixa seguir e avançar, o ritmo permanece e a sensação de incômodo também. Apesar do filme nos dizer que a vida segue depois de Lúcia, ele nos mostra o contrário. Até que a tensão começa a se revelar num segundo momento quando Lúcia passa a sofrer bullying de seus mesmos colegas constantemente e, agora tomando outra forma, os mesmos elementos - a câmera estática, a iluminação natural e a falta de decupagem dos planos - nos defrontam com duras cenas na qual nos sentimos tão impotentes quanto a personagem. A falta de decupagem nos planos nos aproximam do olhar de quem presencia de perto e, portanto, o espectador inerte assiste todo o plano, vagando o olhar para onde quiser, quase avançando dentro do filme mas, obviamente, pela própria natureza distante deste, nada podendo fazer. Por fim, forma e conteúdo bem alinhadas desde o início vão se tornando mais claras entre si, e entendemos, por exemplo, a influência que um ser um humano pode fazer em outro, em como até os personagens mais sóbrios são deixados à deriva quando os nós se desatam. O título, ao meu ver, está aí para nos lembrar disso, que depois que um ser nos cruza, uma corda se forma. E cordas se rompem.

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