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Nascimento: 24 de Julho de 1952 (71 years)

Louisville - Estados Unidos da América

Gus Van Sant tem uma maneira singular de filmar. É talvez o único, senão um dos poucos na indústria cinematográfica mundial, a se apropriar de um estilo autoral raramente bem dosado entre o underground e a cultura de massa. Quem melhor sabe retratar os dissabores e o anseio libertário de uma juventude americana despatriada, dos loucos, sociopatas e drogados – a que a América chama de losers, os que sujam como uma nódoa permanente o “american dream” – e ainda fazê-lo com a energia pulsante de um uivo adormecido?
Gay assumido, o cineasta norte-americano, de 55 anos, mantém-se como um dos mais atuantes de sua geração, lançando, ao menos, um filme a cada dois anos. Marcado por obras de temática homossexual, o diretor está ainda mais maduro e refinado, porém sem deixar arrefecer sua verve poética. Em 2008, produz a biografia sobre o primeiro político declaradamente gay eleito nos EUA, Harvey Milk, com Sean Penn, e outro filme cujo título provisório será 8.
O interesse pelo submundo e a cultura que emerge dos esgotos, ruas e esquinas povoadas por gente de índole qualquer – leiam-se bêbados, maltrapilhos, clandestinos, jovens órfãos, garotos de programa e toxicômanos – é um aspecto mais que latente na filmografia de Van Sant, sobretudo em suas primeiras produções, na década de 1980 e início de 1990. Qualquer semelhança com a beat generation, à qual se filia como legítimo herdeiro, não é mera coincidência.
Fez parte do círculo de amizades de William S. Burroughs, com quem chegou a editar a co-produção de um álbum (The Elvis of Letters), e do poeta Allen Ginsberg. Nos anos 60, como estudante de artes da Escola de Design de Rhode Island, conheceria David Byrne (ex- Talking Heads) e beberia diretamente na fonte da vanguarda do cinema underground nova-iorquino, de diretores como Jonas Mekas, Stan Brakhage e Andy Warhol, o papa da pop-art. Com um estoque desses, e levado pela observação que fazia dos outsiders de Los Angeles, não havia outro modo: seu destino seria o cinema.
Em seus trabalhos, Van Sant consegue transmitir, como poucos, o grau de urgência, a ambigüidade e os arroubos de euforia e pesadelos da fase juvenil. Na história do cinema, são escassos os casos bem-sucedidos nesta seara. Por exemplo, há o ótimo O Selvagem da Motocicleta, de Francis Ford Coppola; o tênue Rosas Selvagens, de André Techiné, ou mesmo o clássico cult, Juventude Transviada, com o mítico James Dean. Mais recentemente, temos o argentino XXY, de Lucia Puenzo, exibido em sessão especial na mostra Expectativa 2008 da Fundaj, e ainda inédito por aqui. Em comum, esses filmes fogem dos clichês e de quaisquer tentativas de fetichização da rebeldia (com causa, sim senhor!) já feitas antes. A diferença é que este diretor, natural de Portland (Oregon), capta o espírito jovem por meio de uma lupa generosa e destemida, com pinceladas intensas de poesia beat.
Em duas décadas, Gus Van Sant já elaborou, praticamente, um dossiê da juventude norte-americana pós-moderna, multifacetada em suas várias “tribos” urbanas. Na sua estréia, em 1985, causou estardalhaço ao lançar Mala Noche, um polêmico petardo em p&b, de baixíssimo orçamento, sobre o amor idílico entre um clandestino mexicano e um norte-americano no Meio-Oeste. O filme, remasterizado digitalmente e relançado no formato DVD em 2006, em Cannes, foi eleito por um jornal o melhor filme independente daquele ano, vindo a ganhar status de cult entre os cinéfilos.
Além de produzir o lendário Kids, de Larry Clark, faria ainda dois clássicos obrigatórios do cinema alternativo americano: Drugstore Cowboy (1989), um retrato cruel e bruto dos drogados que roubavam farmácias para aplacar o torpor do tédio, estrelado por Matt Dillon; e Garotos de Programa (My Own Private Idaho, 1991), um road movie sobre um prostituto narcoléptico (River Phoenix, morto por overdose dois anos depois, em circunstâncias ainda hoje não-esclarecidas) em busca do amparo e do amor materno, que se apaixona por seu colega (Keanu Reeves). Recheada de metáforas e diálogos poéticos, a trama de forte influência shakespeariana é uma das mais pungentes que o cinema já produziu.
Em meados dos anos 90, sua produção oscila bastante, em grande parte pelo seu flerte com o mainstream . É indicado ao Oscar de melhor diretor por Gênio Indomável (1997), seu primeiro grande sucesso de bilheteria. Recebe, no entanto, uma saraivada de críticas pela refilmagem de Psicose, de Alfred Hitchcock, e faz o monótono, para não dizer apático, Encontrando Forrester (2000), com Sean Connery. Van Sant parecia se diluir e perder os tons originais de seu recorte. Quando todos davam por feita a sua estafa criativa, ele ressurge em 2002 com Gerry, um filme minimalista-experimental conduzido apenas pelo embate metafísico entre dois homens (Casey Affleck e Matt Damon) perdidos num deserto.
Mas o melhor, sim, ainda estava por vir. Em 2003, compõe uma versão devastadora e delicada do vazio da juventude contemporânea em Elefante, baseado no massacre de Columbine, com o qual seria ovacionado em Cannes com os prêmios de melhor filme e melhor diretor.

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