O cinema de terror já não faz tantos filmes memoráveis como antigamente. O Exorcista (1973), O Bebê de Rosemary (1968), O Iluminado (1980) e Poltergeist: O Fenômeno (1982), são clássicos que permanecem na memória dos cinéfilos até hoje. Um pouco mais recentes, A Bruxa de Blair (1999), e quem diria, [Rec] (2007), um terror espanhol, conseguem criar o clima e a tensão de terror para figurar entre os grandes filmes do gênero. Ano passado estreou Invocação do Mal, que mostrou muita qualidade com seu roteiro envolvente e assustador. Em Invocação do Mal, a boneca Annabelle é utilizada como introdução ao filme, e um ano depois a boneca demoníaca ganha seu próprio filme solo, digamos assim.
Annabelle conta a história do casal Mia e Josh. Ela grávida e ele começando a residência logo após a faculdade de medicina, vivem ansiedades e tentam se adaptar às mudanças que estão ocorrendo em suas vidas. Para completar, um casal de loucos que fazem parte de uma seita demoníaca invade a casa, e a mulher acaba se suicidando. Ela morre com a boneca Annabelle nas mãos. Pouco tempo antes, Josh presenteou Mia com esta boneca. E esse é o início para acontecimentos sobrenaturais ao redor do jovem casal.
A história de Annabelle tem (tinha) um potencial incrível, e se fosse bem produzida e elaborada, tinha tudo para figurar entre os grandes filmes de terror já criados. Isso dava-se, logicamente, à figura sinistra da boneca, e principalmente à introdução aterrorizante da sua história em Invocação do Mal.
Uma pena que o diretor John R. Leonetti e o roteirista Gary Dauberman não conseguiram dar a qualidade que o filme merecia. O roteiro é fraco, mal desenvolvido e faz o filme perder todo o seu poder de terror que ele prometia. São poucas (uma ou duas) cenas que realmente são legais e que provocam medo. Pouco para um filme de quase 100 minutos. O filme demora a desenvolver o desenrolar da história, e quando o faz, opta pelo mais óbvio, ao invés de tentar fazer algo mais elaborado. Lógico que uma série de fatores pode ter ocasionado isso com o roteiro. O filme Annabelle só existe porque Invocação do Mal foi um sucesso, e entre eles um ano de distância. Pouco tempo para desenvolver algo mais marcante. Os produtores poderiam ter esperado um pouco mais para desenvolver um roteiro melhor e assim, um filme bem melhor.
Atenção, Spoiler’s! Esta parte do texto é para quem viu o filme.
Quando eu digo que o filme demora a desenvolver a história, me refiro por ele passar muito tempo mostrando coisas óbvias, tipo: coisas se mexerem sozinhas na casa, o diretor usar as feições da boneca para tentar criar algo sinistro, isso tudo não seria ruim, desde que a história fosse andando. Tudo é muito parado. Creio que só na meia hora final a história realmente começa a andar, e tomar um rumo que é um perigo para um filme de terror: mostrar ou não a criatura que inferniza os protagonistas.
Desde aquela introdução em Invocação do Mal, e também aqui em Annabelle, sabemos que a boneca é um utensílio utilizado por forças demoníacas para conseguir o que quer no caso aqui, uma alma. A primeira cena em que o Demônio aparece é assustadora, uma das poucas cenas que valem a pena. E essa cena só é assustadora porque a figura demoníaca é mostrada de relance, e quando isso acontece você pensa: “o que diabos é aquilo?”. Porém logo depois, o filme faz o mais óbvio, e mostra a criatura por completo, estragando um pouco o clima de suspense. Dois filmes que citei no início desse texto, O Bebê de Rosemary e A Bruxa de Blair, são assustadores até hoje, e neles em momento algum é mostrado o bebê e a bruxa que os títulos se referem. Você não é obrigado a mostrar o que está aterrorizando para dar medo. Na maioria das vezes o que você não vê ou o que é mostrado em segundo plano é o que mais aterroriza, já que você não sabe o que é… só não revele a criatura, porque na maioria das vezes, quando isso acontece o termo “broxante” cai muito bem.
Fim dos Spoilers!
O cuidado e zelo que faltou ao roteiro, sobrou para a direção de arte do filme. A recriação dos anos 60 foi perfeita. Figurinos, utensílios, assuntos, enfim… Um primor. A trilha sonora também é excelente e ajuda a criar um pouco mais o clima de terror que tanto faltou ao roteiro. Depois de ver os detalhes técnicos tão bons, é uma pena ver que o filme pecou em roteiro e direção.
Annabelle prometeu e deixou a desejar. Para os fãs do cinema de terror, assista em casa quando sair em DVD, ou vá ao cinema no dia em que o ingresso for mais barato. E se caso a sequência realmente venha (sim, existe um gancho no final do filme), que seja feita com uma qualidade bem superior do que este longa.
Annabelle, 2014. Direção: John R. Leonetti. Com: Annabelle Wallis, Ward Horton, Tony Amendola, Alfre Woodard, Kerry O’Malley, Brian Howe, Eric Ladin, Gabriel Bateman. 98 Min. Terror.
Me decepcionei com Annabelle também. Sabe quando você cria expectativas acerca de uma coisa e acaba se decepcionando legal? Então, foi o caso desse filme clichê e enfadonho, para não dizer o pior. Quem sabe nas mãos de um diretor mais diligente e detalhista, capaz de criar uma atmosfera tão pesada quanto em A Invocação do Mal. Nesse longa, você só torce por uma coisa: que a sessão acabe logo. Quero deixar meu elogio ao blog, que está cada vez melhor!
Obrigado pelos elogios Everton… 🙂