Crítica | A Incrível História de Adaline

Brincar com o tempo e suas imprevisibilidades é sempre uma trajetória interessante. Se na fábula O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), ele corria pelo avesso, em A Incrível História de Adaline (The Age of Adaline), ele congela sua passagem no corpo da protagonista (Blake Lively). Roteiros sob esta perspectiva já nos renderam os maravilhosos Feitiço do Tempo (1993) e De Volta Para o Futuro (1985), mágicos, engraçados e eternizados.
A voz do narrador em off começa a narrar os passos da vida de Adaline, desde o seu primeiro choro em 1º de janeiro de 1908 até um fatídico dia de neve em que a moça saiu da estrada e caiu no lago congelante. A morte lhe abraçava, enquanto uma tempestade se armava no céu. Assim, segundos depois do seu coração parar de pulsar, um raio atingiu o lago e a despertou da escuridão.

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Como na apresentação de contos fantásticos, o narrador nos conduz as primeiras descobertas de Adaline sobre a sua nova vida. Ainda antes do acidente, ela se casou, teve uma filha e a guerra levou seu marido. Viúva e com aparência jovial, apesar dos mais de 40 anos, ela começou a ser perseguida depois da Segunda Guerra Mundial.
Com receio de perde sua liberdade, Adaline se separou da filha ainda moça e começou a mudar de cidade de tempos em tempos. Sua vida era uma eterna fuga em companhia contínua apenas de um cachorro e ocasionais reencontros com Flemming (Ellen Burstyn), a filha já com aparência de sua avó. Apesar de excentricidade, é perceptível que Adaline levava sua vida da melhor forma possível: emprego, colegas, eventos sociais, porém evitava fotografias.

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Sua beleza combinada com a sabedoria adquirida com o passar dos anos, além da sua independência, a tornavam uma mulher realmente admirável. O que não passou despercebido pelo galante Ellis Jones (Michiel Huisman). Portanto, a fábula do tempo também é uma história de amor, contudo, mais que isso é sobre aceitação e coragem. O romance se desenvolve de forma agradável com um roteiro inteligente e dinâmico.
Quando os contratempos se dissipam, o destino prega uma peça no caminho da personagem e o seu passado volta como um misto de nostalgia e mágoa na pele de Harrinson Ford (William Jones). Para Adaline, o amor é envelhecer juntos, se ela não possui este benefício, dificilmente poderá se reder a este sentimento, pois gerará sofrimento. Isto é como uma filosofia para ela. Ao tomar conhecimento sobre outro ponto de vista, no entanto, Adaline começa a reconsiderar suas escolhas.

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Pelo menos uma vez na vida, todos nós nos confrontamos se devemos considerar um relacionamento como passageiro ou uma longa jornada, por diversas razões. Quando Harrison Ford, no auge dos seus 72 anos, fala sobre um amor do passado inebriado pela nostalgia de seus antigos sentimentos e dispara comentários exuberantes sobre a mulher com quem sonhara um dia se casar, dá para sentir como é passar por algo assim, até sua atual esposa se sente abalada.
Blake Lively não lembra nada adolescente de Gossip Girl (2007-2012) e personifica uma mulher forte, encantadora e decidida a enfrentar o seu destino do melhor jeito que ela conhece. Seu semblante é jovial, mas carrega os sofrimentos de todo uma vida de hesitações e fingimentos. A jovem atriz e o veterano Ford contracenam cheios de emoção e inspiram o espectador.
Infelizmente, a tensão da história se esvai na parte final para dar espaço a um desfecho de contos de fadas, em que um feitiço ou uma maldição podem ser quebrados magicamente. A escolha dos roteiristas para encerrar A Incrível História de Adaline é um pouco decepcionante, ainda mais depois de apresentar diálogos e sensações intensas durante todo o seu percurso. Novamente, o diretor Lee Toland Krieger retrata o romance muito bem e sem pieguices, vide Celeste e Jesse Para Sempre (2012) e o curta Modern/Love (2012).

Nota: 3

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