Já disse várias vezes que é uma proeza segurar o espectador num filme em que um ou mais personagens ficam em um confinamento ou um lugar só. No caso de “A Queda”, como fica óbvio no cartaz e no trailer, duas jovens ficam presas no alto de uma torre, onde elas estavam escalando.
O diretor Scott Mann do despretensioso “O Sequestro do Ônibus 657”, não só conseguiu essa proeza, como um pouco mais. A desconhecida Grace Caroline Currey e Virginia Gardner (“Por Lugares Incríveis”) são respectivamente Becky e Hunter e vão para essa empreitada 1 ano após o marido de Becky morrer num acidente quando escalavam a uma montanha.
Como já citado, a partir do momento em que ficam presas no alto de uma imensa torre, roteiro e direção conseguem desenhar situações e até mesmo diálogos úteis que nunca deixam o espectador com tédio e contribui para uma ótima dinâmica.
Só que talvez a melhor qualidade seja o fato de que com a ajuda de efeitos especiais, a produção passa MESMO a sensação de que elas estão nas alturas. Chega a dar uma agonia cenas tão bem-feitas onde o risco de cair parece real. Só por isso já vale ver o filme, principalmente na experiência do cinema. Com pouquíssimos deslizes de um ou outro efeito digital (por exemplo, uma cena onde claramente se vê nuvens feitas por computador), de resto é puro êxtase, principalmente para quem tem medo de altura.
Mais uma qualidade é que as atrizes estão corretíssimas e não há aquelas piadinhas incômodas que os americanos adoram inserir em momentos de tensão. Assim, o clima sempre é de medo e urgência. Interessante também como a narrativa é cheia de rimas, isto é, coisas que acontecem no início, vão ecoar lá na frente (aqui não vou dar spoilers), e ainda há uma ótima reviravolta no início do terceiro ato.
Além disso, o arco emocional das personagens é tão bem desenhado que o diretor ainda opta por desprezar uma potencial cena final de tensão quando ele entende que a história necessária já havia sido contada.
“A Queda” é o suspense de ação comercial que traduz tudo o que se deve fazer para capturar, não só a atenção do espectador, como todos os sentidos para ele ter uma experiência de imersão completa, usando rimas narrativas e clichês ao seu favor. Ótima pedida!
Curiosidades:
- Para dar mais realismo, a produção montou alguns metros de uma torre de verdade em cima de uma montanha. Assim, os ventos e o clima passavam a impressão de que elas realmente estavam no alto (e estavam) mesmo que o chão estivesse apenas há alguns metros dela (31 metros para ser exato).
- Essa torre B67 não existe. Colocaram um nome fictício para que não incentivassem esportistas radicais a invadir uma possível torre real para escalar. Entretanto, a torre foi inspirada numa de verdade: a torre de rádio KXTV/KOTR, conhecida como Sacramento Joint Venture Tower que fica em Walnut Grove, Califórnia.
- Os diálogos tinham mais de 30 vezes a palavra f*ck (no caso seria tipo “car*lho”), mas por causa da censura tiveram que cortar e utilizaram tecnologia de inteligência artificial para, além de editar o áudio, fazer com que a boca das personagens se mexesse de acordo com o novo diálogo sem o palavrão.
- No início do filme, Hunter é chamada de Ethan Hunt, numa brincadeira referenciando a famosa cena de Tom Cruise escalando uma montanha como o Agente Ethan Hunt em “Missão Impossível 2”.
- O cartaz do filme na verdade é uma composição de duas cenas: a de quando Becky está descendo e as escadas caem e de quando Hunter tenta pegar a mochila que ficou numa parte da torre. Portanto a cena do poster não existe.
Ficha Técnica:
Elenco:
Grace Caroline Currey
Virginia Gardner
Mason Gooding
Jeffrey Dean Morgan
Jasper Cole
Darrell Dennis
Direção:
Scott Mann
Roteiro:
Jonathan Frank
Scott Mann
Produção:
David Haring
James Harris
Mark Lane
Scott Mann
Christian Mercuri
Fotografia:
MacGregor
Trilha Sonora:
Tim Despic