Seu amor faz a água do banho ferver (2016)

Título original: Yu wo wakasuhodo no atsui ai

Título em inglês: Her love boils bathwater

País: Japão

Duração: 2 h e 05 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal:Rie Miyazawa, Hana Sugisaki, Aoi Itô

Diretor: Ryôta Nakano

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt4778500/


Concordo que o tema deste filme já foi revirado ao avesso pelos mais diversos cineastas ao redor do mundo e nas mais diferentes épocas nas quais foi produzido cinema, inclusive pelo próprio cinema japonês, com o inesquecível “Viver (1952)”, da lenda Akira Kurosawa. Nada como a sensibilidade e a sabedoria oriental para tratar de um tema tão abordado sem ser repetitivo e sem dar à narrativa ares de pieguice, ou seja, sem comoções forçadas. O diretor Ryôta Nakano conseguiu, com muita leveza, vinda de algumas cenas cômicas, e com emoção na dose certa, retratar uma situação tão pesada de uma forma inteligente que transmite uma “tristeza confortável” em boa parte da história.

Eis a sinopse: “Trata-se da história de Futaba, uma japonesa comum que batalha para sustentar sua filha, Azumi. À medida que o roteiro avança, sabemos que Futaba foi abandonada por seu marido e desenvolveu um câncer, o qual foi descoberto muito tardiamente para obter a cura. A partir daí, acompanhamos a protagonista em seus esforços finais, antes da passagem para a eternidade – algo muito simbólico no Japão -, para promover a independência e o futuro de sua filha, afinal, quem permanece, precisa viver com dignidade.”

Aparentemente, o roteiro não é complicado e segue uma só linha de raciocínio: a realização dos últimos desejos de Futaba. Entretanto, não há apenas um drama pessoal contido na narrativa, e sim mais dois: o drama de Azumi, que foi abandonada pelo pai e será alvo de um plot twist devastador ao se aproximar o final do filme, e o drama de Ayuko, a outra filha do pai de Azumi que aparecerá posteriormente na história – ela, por sua vez, foi abandonada pela mãe. Em resumo, são desgraças íntimas causadas por desamparos súbitos, que causam reviravoltas na vidas das três e geram dor, dúvidas e dificuldades.

Para descrever melhor a protagonista da história, segue uma definição dada por um amigo dela no filme: “Futaba despertava nos outros a vontade de fazer qualquer coisa por ela, porque ela fazia os outros sentirem que ela estava fazendo muito mais por eles.” Dessa forma as pessoas enxergavam a Sra. Futaba – uma pessoa excepcional, que não merecia ter sua vida interrompida tão prematuramente, mas o destino é imprevisível. A narrativa apresenta um ser humano do bem, uma mãe que todos gostariam de ter, uma pessoa sofrida e trabalhadora, para destacar a injustiça do destino e fazer o espectador torcer pelos seus últimos anseios e sofrer com suas dores. Deve-se destacar o trabalho magnífico de sua intérprete, a atriz japonesa Rie Miyazawa, que ganhou uma série de prêmios merecidos por sua atuação primorosa.

Há também um personagem-chave, o gerador da maioria dos problemas da narrativa – o marido de Futaba -, cujo nome não é falado durante o filme. Talvez, para transformá-lo num personagem genérico, num “objeto cênico”, num McGuffin, segundo Alfred Hitchcock; porém, o seu presumido desinteresse pelos fatos que o rodeiam não deve ser descartado, em nome da importância que eles têm na história. É um personagem isolado, desinteressante, apagado, porém, importante, por colaborar na reabertura da casa de banhos da família e, por conseguinte, prover uma perspectiva de futuro para suas filhas.

Traduzindo o título para o português ao pé da letra, temos o seguinte: “seu amor ferve a água do banho”. Correlaciona-se o negócio da família com o maior amor do mundo – o amor de mãe -, mesmo que não seja direcionado a seus filhos de sangue. Através de um roteiro sensível e fluido, personagens interessantes e algumas surpresas, o filme movimenta suas peças harmonicamente no tabuleiro da vida, em uma temática tendente ao fracasso, porém, tudo depende de como o argumento principal é desenvolvido. Os orientais, mais uma vez, dão um show e nos oferecem um filme triste e leve ao mesmo tempo. Uma boa opção para quem busca um ótimo entretenimento regado a grandes emoções.

Esse filme foi a indicação do Japão para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018, mas, infelizmente, não chegou à final.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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