Título original: Armomurhaaja

Título em inglês: Euthanizer

País: Finlândia

Duração: 1 h e 25 min

Gêneros: Drama, thriller

Elenco Principal: Matti Onnismaa, Jari Virman, Hannamaija Nikander

Diretor: Teemu Nikki

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6505968/

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Para melhor entendimento do roteiro do filme em destaque, deve-se conhecer o significado da palavra carma, que pode ter várias interpretações, principalmente entre algumas religiões distintas. A que achei mais pertinente em relação à narrativa vem do budismo, e consiste em uma relação de causa e efeito para as ações dos seres humanos. Boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. Popularmente, podemos definir carma como as consequências dos atos das pessoas ao longo do tempo. Esse carma recém explicado é apenas a ponta do iceberg de uma narrativa incômoda – não só pela natureza do ato que nomeia o filme. “Eutanásia” é um filme perturbador, que mantém o significado desse adjetivo durante toda a exibição, principalmente pelos comportamentos de seus protagonistas – que são 3 -, que, diga-se de passagem, são todos perturbados, quiça subversivos.

Eis a sinopse: “Veijo, um mecânico de 50 anos, tem um segundo emprego: ele sacrifica animais domésticos que estão em sofrimento. Além disso, ele guarda uma enorme mágoa de seu pai, que se encontra moribundo em um hospital por conta do câncer. Um dia, Petri, pertencente a uma gangue de pervertidos, tem um problema com sua cadela e tenta matá-la, porém, não tem coragem e contrata Veijo para fazer o serviço. O único problema é que Veijo não mata cães saudáveis. Isso causará um sério problema à medida que a história for transcorrendo.”

Antes de tudo, nota-se que a eutanásia é de animais – o que automaticamente já gera bastante angústia, principalmente em pessoas sensíveis. Pela própria natureza de seus atos, Veijo se considera como um juiz do sofrimento animal, por possuir uma suposta capacidade de entendê-los. Esse pensamento se estende também em suas relações com as pessoas. “O sofrimento deve ser bem administrado”, segundo o personagem. Além do mais, essa predisposição de julgar não se aplica só ao sofrimento, mas também aos atos, inclusive aqueles realizados por si próprio. Por ironia do destino, seu pai se encontra em sofrimento extremo e ele se relaciona com a enfermeira que cuida dele, a qual possui um fetiche potencialmente mortal. Não fica bem explicado se a jovem se aproxima de Veijo por seu idealismo não convencional ou por sentir atração pela proximidade da morte – algo que Veilo representa muito bem. A enfermeira, chamada Lotta, é apenas mais uma personagem perturbada. A trinca de personagens principais se completa com Petri, que funciona como antagonista do velho mecânico e é tão perturbado quanto os demais protagonistas. A verdade é que a morte abraça a história a todo instante, cobrindo os personagens com uma aura obscura e a narrativa com um peso imensurável.

Veilo é um misantropo, que só possui duas companhias, as quais consegue ao longo do filme: Lotta e a cadela de Petri, ou seja, ele era uma pessoa sozinha. Percebe-se que esse isolamento veio da dificuldade de lidar com fantasmas do passado, principalmente relacionados a seu velho pai. Automaticamente nota-se que uma das principais temáticas do filme é a dificuldade de perdoar, de superar as adversidades da vida e algum eventual trauma que porventura venha a acontecer. A cada ação de Veijo, o diretor evidencia a definição de carma já aludida no primeiro parágrafo. Isso também acontece com seu pai e com Petri. A única tentativa de perdão da narrativa nem chega a acontecer. Todas as relações humanas entre os personagens são doentias, infelizes ou não salutares por algum motivo. Ao fim, constata-se que todo o arco narrativo de “Eutanásia” é preenchido por uma grande negatividade, apesar de ser bastante bem construído e amarrado.

Se o objetivo é chocar, perturbar, incomodar, “Eutanásia” cumpre muito bem a missão. Para mim não foi uma boa experiência, mesmo reconhecendo que o filme tem bastantes qualidades. Se você, leitor/expectador, quiser embarcar nessa jornada, já está avisado. Vá de alma preparada! Uma árvore de repugnância ou aversão à narrativa pode brotar facilmente, pois o solo já é bastante adubado com material orgânico – e cal, para acelerar o processo. Para bom entendedor, isso já basta!

Bem vindos à justiça de Veilo!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba