The Legend of Zipang

Título original: 「ZIPANG」(ジパング)
Diretor: Kaizô Hayashi (林海象)
Ano: 1990
País: Japão

Jigoku Gokurakumaru é o encrenqueiro mais procurado no Japão do séc. XVII. Juntamente com seu bando, vive derrotando habilidosamente ondas de mercenários que buscam por sua cabeça, amolecendo apenas perante um desses caçadores de recompensa: a obstinada Teppou O-Yuri. Tudo corre normalmente até que ele e seu grupo encontram uma espada dourada, também procurada  pelo exército de ninjas de Hattori Hanzo sob ordens do próprio shogun Ieyasu Tokugawa. O furto da arma desperta um conflito ancestral entre deuses e humanos, dando início a uma grande aventura.

Logo de cara, a sensação que tive ao assistir The Legend of Zipang era a de ver um anime. Isso porque Kaizô Hayashi consegue transpor muitas características de desenhos animados para o filme através de enquadramentos e recursos de edição muito próximos àqueles usados em animações. Os figurinos e maquiagens usados criam um estilo que transita entre o cartunesco e o teatral, bem como as atuações combinam momentos de exagero cômico com momentos comedidos e dramáticos, arrematando assim a caracterização peculiar dos personagens. Há também o quê circense comum em filmes de Hayashi – que pode ser verificado aqui, por exemplo, nas acrobacias realizadas pelos ninjas.

O visual anime obtido por Hayashi em The Legend of Zipang é uma realização e tanto. Trazer às telas uma história de fantasia não é uma tarefa simples quando não se dispõem de tantos recursos como em Hollywood, e o êxito concebido nesses aspectos cinematográficos relativamente triviais – caracterização, cinematografia, atuação – é certamente algo digno de nota. Além da precisão dessas técnicas essenciais, soluções criativas em efeitos especiais completam o trabalho de materializar a magia nos fotogramas. Materiais simples – como purpurina dourada espargida no ar – ou a suspenção de atores e shuriken com fios (que em diversos momentos ficam totalmente evidentes – uma falha hilária, mas de fato charmosa) dão um toque surreal agradavelmente artesanal.

A pirotecnia empregada, em alguns momentos, lembra Power Rangers (Kaizô Hayashi dirigiu dois episódios do Power Rangers Time Force), mas também é incorparada à caracterização de forma artística.

E o universo de fantasia não estaria completo sem uma boa cenografia. Belos planos de fundo, sets bem construídos e tomadas externas, aliadas à iluminação e enquadramentos eficientes, se completam e resultam em ambientações grandiosas e oníricas.

Em termos de narrativa, há um ponto muito interessante em The Legend of Zipang : o filme mistura diversos gêneros de forma inteligente: batalhas e cenas que contam com muitos atores, muito bem coreografadas, remetem ao clássico chanbara; maquiagens assustadorasse assemelham àquelas dos filmes de zumbi; os absurdos aparatos tecnológicos de Hanzo lembram filmes de ficção científica de baixo orçamento; há comicidade, há drama; toda história é conduzida pelo romance, desde à introdução ao desenlace. E o mais legal é que toda essa mistura não fere a coerência da narrativa mas a realça – diferentemente do que vemos frequentemente no circuito comercial, onde uso de elementos distintos é paupérrimo e visa apenas tornar o filme suficientemente genérico para ser consumível por qualquer pessoa.

Enfim, The Legend of Zipang é uma bagunça muito bem organizada. O excesso e sobriedade sabem se articular, garantindo uma divertida viagem onde abudam folclore e cultura (tanto tradicional como moderna).

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