Pássaro Branco da Nevasca

A independência financeira e profissional da mulher em um lar familiar nos dias atuais já se tornou algo comum em nossa sociedade. As mulheres escolhem quando querem ter uma família e quando se dedicar à vida pessoal e profissional. Isso, é claro, só acontece porque no passado a grande maioria das mulheres se casavam e passavam os dias dentro de suas casas levando uma vida corriqueira e sem objetivos. Agradar o marido, cuidar dos filhos e cuidar para que tudo estivesse limpo eram as principais ocupações delas. Em Pássaro Branco da Nevasca, vemos como esse quadro da estagnação feminina e a falta de comunicação e compreensão podem destruir uma família.

Kat (Shailene Woodley) tem 17 anos e vive com seus pais. Ela se ocupa indo à escola, saindo com os amigos e namorando o vizinho da frente, Phil (Shiloh Fernandez). Sua vida parece normal como a de qualquer outro adolescente de sua idade: ela briga com sua mãe, vai às mesmas festas toda semana e tenta se descobrir sexualmente. Certo dia, ela chega em casa e encontra seu pai, Brock (Christopher Meloni), desolado na sala, porque sua mãe, Eve (Eva Green), havia desaparecido e nenhum vizinho, amigo ou a polícia tinha ideia de onde ela poderia estar.

Levando uma vida sem graça e rotineira, Eve é uma dona de casa que, após casar, começa a abusar da bebida e a não se importar com o bem-estar da sua família, enquanto vê sua filha crescer e criar mais independência. Ela passa a tratar o marido de qualquer jeito e a se preocupar excessivamente com sua imagem e seu corpo, pois acha que está ficando “velha”. Eve se espelha na filha e acaba sofrendo por causa disso. Esse comportamento inicia uma série de situações que vão minando a relação entre elas, além de colocar seu casamento de Eve em segundo plano. A falta de comunicação e as constantes discussões sem sentido fazem com que a família, aos poucos, entre em colapso. A situação só parece entrar novamente nos eixos quando Eve desaparece.

O filme inteiro é contado através de flashbacks, o que ajuda a criar e nos mostrar as mudanças na personalidade de Kat. Shailene Woodley faz um ótimo trabalho ao representar uma garota no processo de amadurecimento, saindo da adolescência e entrando na vida vida adulta. O sumiço de sua mãe não parece lhe incomodar tanto, pois ela imagina que a mãe desapareceu para finalmente fazer o que gostaria com a própria vida e se livrar da rotina chata e sem perspectiva como dona de casa. Mesmo não demonstrando tanta falta de sua mãe, seus sonhos provam o contrário. Desde o desaparecimento, Kat desenvolve vários sonhos estranhos e fantasiosos com a mãe que lembram todo o clima e atmosfera da série de David Lynch, Twin Peaks. (Sheryl Lee, a Laura Palmer, faz uma participação como May.)

Situado no final da década de 80 até o início da década de 90, os cenários, locações e figurinos são eficientes e retratam bem a época em que o filme se passa. A trilha sonora constante também ajuda a nos transportar para o período e ambiente em que Kat vive. O filme é sustentado em suas boas atuações, mas a quantidade excessiva de flashbacks, a narração de Woodley e os clichês que cercam o roteiro, prejudicam um pouco alguns bons momentos que o filme oferece.

Dirigido e escrito por Gregg Araki, baseado no livro de Laura Kasischke, Pássaro Branco da Nevasca tem cara de um drama familiar, mas funciona como um thriller e consegue balancear os momentos mais estranhos com as emoções latentes vividas pela família, mesmo com seus defeitos no desenvolvimento do ritmo.

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