Sob a Pele

A sequência inicial de Sob a Pele começa com um ponto branco na tela escura que vai se transformando e assumindo diversos formatos até se tornar um olho. A abertura, aos poucos, nos hipnotiza e prepara nosso estado de espírito para o que estar por vir. Uma ficção científica com grande influência nos filmes de Kubrick, como “2001”, “De Olhos Bem Fechados” e “O Iluminado”, Sob a Pele consegue ir além dos formatos que estamos acostumados e proporciona mais uma “experiência” do que um filme com uma história que te pega pela mão e te guia até o final.

Desde o início, o diretor Jonathan Glazer não se importa em dar um ritmo mais lento e espaçado ao filme. Dessa forma, ele consegue explorar cada detalhe, plano e sequência ao nos apresentar à rotina de sua protagonista. Uma mulher é levada por um motociclista até Laura (Scarlet Johansson), uma alienígena que chega à Terra. Não sabemos quando, como ou por que, da mesma forma que, em momento algum, sabemos quem é o motociclista que a auxilia. Laura retira e veste as roupas da mulher morta e sai pelas ruas de Glasgow em uma van em busca de homens que servirão como presas. Mesmo vestindo um casaco grande e mostrando pouco de seu corpo, com seu olhar, lábios vermelhos e o rosto branco em contraste com os cabelos negros, ela não tem dificuldades para encontrar homens e atraí-los até sua casa, que, obviamente, esperam fazer sexo com ela.

Ao levar os homens até sua casa, um lugar abandonado, sujo e escuro, vemos que em momento algum ocorre sexo. A atmosfera sensual criada anteriormente se mistura ao imaginário e a sensação de sonho, quando Laura vai se despindo aos poucos e os homens a seguem por um cenário todo preto. Ao se aproximarem dela, o chão se transforma em uma espécie de piscina com óleo, que os puxa para baixo, mas Laura consegue voltar da mesma forma que entrou.

Um dos pontos fortes do filme é o uso de poucos diálogos. O excelente desempenho de Johansson, que através de gestos e pequenas expressões consegue mostrar Laura em diversas situações, seja ao seduzir homens na rua ou ao tentar se adaptar à experiências humanas que ela ainda não conhece. A fotografia com uma paleta de cores frias combina com o frio incessante que é presente durante todo o filme, além de tornar os planos abertos das montanhas e praias ainda mais bonitos. O uso minimalista da trilha sonora de Mica Levy, com percussões e sintetizadores, se encaixa perfeitamente aos momentos estranhos e misteriosos.

Com o roteiro de Glazer e Walter Campbell, inspirado em um livro de Michel Faber, fica claro que o propósito do filme é nos mandar para casa pensando na experiência que tivemos durante aqueles 108 minutos, ao invés de tentarmos “resolver” o que assistimos. Sob a Pele tenta criar uma discussão muito maior do que descobrir quem, ou o que é a alienígena, seu propósito na Terra ou discutir se as relações humanas são baseadas apenas na aparência, como sugere o título. 

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