Cinema: As Aventuras de Pi

Emoção, Respeito e Sobrevivência…

As Aventuras de Pi: visual quase indescritível na tela.

As Aventuras de Pi: visual quase indescritível na tela.

Após anos, Hollywood finalmente conseguiu trazer para as telas a adaptação da obra de Yann Martel “The life of Pi”, aqui intitulado “As aventuras de Pi” (os títulos nacionais são sempre uma droga eu sei). Antes eu vou deixar claro que aqui falarei apenas sobre a obra cinematográfica, não fazendo comparação alguma com o livro.

Sob direção de Ang Lee (O Tigre e o Dragão, Brokeback Mountain) e um roteiro absolutamente fantástico de David Magee (Em busca da Terra do Nunca) somos apresentados à magnífica história de Piscine Patel, jovem indiano criado em um zoológico, que luta pela vida após um naufrágio onde perdeu sua família. Preso a um bote tendo como companhia apenas uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de bengala.

Quase que completamente gravado em estúdio, o filme “transborda” beleza, a fotografia é espetacular, as cores e imagens são estonteantes, o visual aqui é realmente impressionante. Com uma computação gráfica perfeita, onde você em momento algum saberá quando o tigre é real ou foi criado em CGI por exemplo (o real é utilizado em poucos momentos, onde aparece sozinho), os planos na água que se confundem ao céu, é tudo impressionante.

Aqui o 3D é utilizado de forma a acrescentar mais a trama que no impacto visual propriamente dito, dando profundidade a cena, tornando o oceano bem mais amplo por exemplo, dando a impressão de “solidão” um impacto maior, os “devaneios” do jovem também se tornam algo sublime.

 Porém, falar desta obra apenas pelo seu visual seria no mínimo ultrajante, pois é na trama que está seu grande trunfo.

Lee fez bem em escolher atores pouco, ou nem um pouco conhecidos para esta obra que tinha TUDO pra ser NADA, exceto por Gerard Depardieu, que tem uma pequena participação no inicio e certa importância ao fim da trama. A escolha do diretor aqui foi sábia pois da espaço para a apreciação da trama e não as atuações.

 Rafe Spall interpreta um escritor decadente que perdeu a fé. Indicado por um amigo em comum, procura em Pi Patel, um meio de recuperá-la. A história é narrada ao escritor (no filme ele funciona como nós, o público) por Pi na idade adulta, Irrfan Khan é responsável por dar vida ao protagonista, interpretando-o de forma amigável e carismática, diferente de como estamos acostumados a vê-lo em outros filmes. É então que a história começa, Pi conta sobre a origem de seu nome bastante peculiar, os valores que aprendeu com o pai e suas crenças religiosas (que aliás são três) religião é uma coisa bastante questionada no decorrer do filme (não se alarde, ela é tratada de modo a não ofender nenhuma delas, pelo contrário), talvez isso faça o inicio correr um tanto quanto arrastado, no entanto todas essas histórias servem para mostrar a formação que teve nosso protagonista, suas ideias e valores, e acabam fundindo-se de forma tão perfeita que antes de você se perguntar “Que porra isso tem a ver com a história?”, já terá sido sugado pra dentro e estará apaixonado por ela. Tudo isso acaba então culminando no naufrágio, onde Suraj Sharma, após uma disputa com cerca de outros 3 mil concorrentes pelo papel , toma as rédeas, interpretando Pi em sua adolescência, aos 17 anos, durante todo o naufrágio e a maior parte do filme, aliás tenho que dizer, ele vive tão bem o personagem que ao invés de pensar sobre o filme ou as interpretações, você simplesmente mergulha na trama e se deixa levar. O filme vai lhe conquistar pouco a pouco acredite.

Daqui em diante trata-se de sobrevivência e questionamentos, o jovem se vê preso a um bote tento como companhia o estonteante Richard Parker, a situação vivida por eles cria o clima de medo e respeito, em certo ponto você talvez diga “se fosse eu já o teria matado”, porém acaba percebendo que um precisa do outro para sobreviver a esta “provação”. Tudo aqui é impressionante e encantador, você mal pode esperar para ver os minutos seguintes.

E é nessa parte que o filme atinge seu ponto mais forte, utilizando da luta pela sobrevivência e do relacionamento do jovem com seu “companheiro” para tratar de coisas como relações humanas e fé, aqui é trabalhado todo lado emocional, não se surpreenda se deixar escorrer uma ou outra lágrima vendo um simples grito.

 No fim, voltamos a discutir sobre religião, e aqui temos o desfecho que deixará o público em choque.

 Creio eu que teremos aqui um grande concorrente a algumas estatuetas na disputa pelo Oscar, que aliás estará bem disputado.

 Não é um blockbuster, nem mesmo é um filme para todos, mas sem dúvida vai atingir você de alguma forma, em algum ponto você se sentirá tocado. Esse filme fará você querer conversar sobre ele.

Nota: 10,0

Life of Pi, 2012. Direção: Ang Lee. Com: Gérard Depardieu, Irrfan Khan, Tabu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon, Rafe Spall. 127 Min. Drama.

Raphael PH Gomes é um louco viciado em cinema desde os seus primórdios. Consome filmes a todo momento, e tem sempre uma ótima opinião sobre a 7ª arte.

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