Cinema: Noé

Noé: visão de Aronofsky causa polêmica.

Noé: visão de Aronofsky sobre o dilúvio causa polêmica.

Adaptações de livros para o mundo do cinema nunca foi uma tarefa fácil. Os fãs da saga Harry Potter reclamam muito de várias coisas que ficaram de fora e algumas mudanças durante toda a saga. E o que dizer de O Hobbit? Um livro minúsculo que virou três filmes de três horas cada? E esse tipo de adaptação se torna mais complicada ainda quando a história vem da Bíblia, já que carrega o status de “sagrado”. E para apimentar mais, o filme ainda é de Darren Aronofsky, um diretor cheio de talento, criativo e visionário.

Para contar a história de Noé, Aronofsky volta ao tempo e inicia seu filme com a história da maçã, passando pelos descendentes de Caim que criaram um povo violento. Até que o Criador resolve limpar a terra, e ordena a um homem (Noé), a construir uma arca, na qual ele salvaria um casal de cada animal, e lógico, sua família.

Mas Noé tem dificuldades de entender com exatidão as ordens do Criador. E é nesse ponto que Aronofsky aproveita para fazer o seu filme. O diretor mergulha a fundo nos dramas, obsessões e decisões que Noé tem de tomar. Aronofsky sempre foi apaixonado por filmar seres humanos com obsessão, seja em Réquiem Para Um Sonho, Cisne Negro e em toda a sua filmografia. Em Noé, ele deixa o dilúvio em segundo plano (repare que não temos muitas imagens da catástrofe propriamente dita), e deixa que Noé e suas crenças, aflições e sofrimentos dominem o filme.

O roteiro do filme é muito polêmico. Aronofsky deixou bem claro que seu filme não seguiria fielmente a Bíblia. Mas nem por isso o diretor deixou de estudar sobre o personagem. O diretor pesquisou muito sobre a história em diversas religiões, e há quem garanta que ele resgatou até trechos pouco conhecidos. Quem conhece bem a história da Bíblia não vai digerir muito bem as mudanças. Mas vale lembrar, que desde o início o diretor deixou bem claro que esta era a sua visão da história do dilúvio, e não a maneira como estava no livro sagrado.

Dito isto, o diretor utilizou a sua grande habilidade criativa para fazer algumas mudanças da história que conhecemos,  diga-se de passagem: Que coragem do Darren Aronofsky! Adaptando o que adaptou e ainda realizando grandes mudanças, isso é que é ter coragem e mais, é confiar no seu público.

Mudanças como na família de Noé, no funcionamento da arca, um vilão para o filme e gigantes de pedra que são anjos caídos (esses gigantes inclusive lembrando muito alguns seres de uma certa Terra Média) são só alguns dos pensamentos livres que Aronofsky teve no filme, porque existem muitos outros. As mudanças foram muitas, e eu sei que é difícil para quem conhece a Bíblia digerir elas, mas o que tem que ser analisado aqui é o filme que Aronofsky entregou, principalmente por que em nenhum momento o diretor disse que seria fiel a Bíblia.

No fim, percebemos que o filme gira em torno do livre-arbítrio e das decisões que seu protagonista tem que tomar. O bom deste filme é que ele trouxe de volta os debates, a discussão. Alguns defendendo a visão de Aronofsky e outros não gostando nada dela,e  condenando o seu filme.

Aronofsky encontrou em Russell Crowe o seu Noé perfeito. Um pouco violento e carrancudo, Crowe colocou em seu Noé a fé e a obsessão necessária que seu personagem exigia, e assim ele domina o filme, e de longe tem a melhor atuação. Jennifer Connelly e Emma Watson não são muito exigidas, porém na parte final do filme cada uma tem uma grande cena. Logan Lerman não brilha, mas também não prejudica o filme. E o longa ainda conta com Anthony Hopkins, como Matusálem. Hopkins tem uma participação, digamos que até engraçada e de grande importância para a humanidade na visão de Aronofsky.

Em termos técnicos, o filme não tem uma boa edição. A primeira metade do filme é bem, mas bem arrastada. O figurino é totalmente diferente dos filmes bíblicos que conhecemos. Aronofsky chegou a declarar que não queria ninguém de túnica em seu filme. E assim ele fez. A trilha sonora de Clint Mansell lembra muito os filmes bíblicos antigos. E, diga-se de passagem, a trilha é ótima. Não conferi o filme em 3D, mas é notório que o 3D é totalmente dispensável, já que o próprio Aronofsky se recusou a fazer o filme assim, e foi o estúdio que inventou de convertê-lo para o formato.

Noé se junta a filmes como A Última Tentação de Cristo e O Código da Vinci, como polêmicos e sendo proibidos até em alguns países. Assista Noé de mente aberta, você será premiado com um bom filme. Adaptação complicada e polêmica, mas de qualidade. E tudo isso com o toque de um dos diretores mais criativos desta geração.

Nota 8

Noah, 2014. Direção: Darren Aronofsky. Com: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Ray Winstone, Anthony Hopkins, Emma Watson, Logan Lerman, Douglas Booth, Nick Nolte, Mark Margolis. 138 Min. Drama.

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