O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, 2012)

O Hobbit

Finalmente chega aos cinemas o retorno de Peter Jackson (Um Olhar do Paraíso) à Terra-média de Tolkien. Quase dez anos depois de ter adaptado a trilogia O Senhor dos Anéis, o diretor resolve investir em mais uma trilogia de blockbusters. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é o primeiro da nova trilogia, na qual Peter Jackson resolveu fragmentar o livro de Tolkien.

No livro O Hobbit (The Hobbit, or There and Back Again, 1937) é onde Tolkien nos apresenta pela primeira vez à raça de homenzinhos com pés peludos que vivem em tocas luxuosas do Condado. Como personagem principal temos Bilbo Bolseiro, que nos relata sua aventura inesperada pela Terra-média na missão liderada pelo mago Gandalf para recuperar o lar dos Anões. Escrito quase vinte anos antes de O Senhor dos Anéis, este primeiro relato da Terra-média tem uma linguagem mais simplista e ingênua daquelas que vemos posteriormente nas demais narrativas deste universo ficcional. Obviamente essa diferença dá-se pelo fato de que o público inicial de Tolkien era seus filhos, que na época ainda eram crianças.

Quando soube que Peter lançaria a adaptação de O Hobbit em três filmes, achei que seria uma empreitada arriscada, já que o livro é muito pequeno e até mesmo simplório para tanto. Após conferir no cinema o resultado da primeira parte, mudei de ideia e acho que funcionou sim e tendo por base o que o diretor já fez com o universo de Tolkien pressupõe-se que nos próximos dois anos teremos experiências cinematográficas tão magníficas quanto essa, envolvendo os personagens já tão bem conhecidos por nós.

Notadamente o elo de ligação entre a narrativa de O Hobbit com a de O Senhor dos Anéis fica mais clara nos filmes de Peter Jackson do que nos próprios livros de Tolkien. Isso se dar pelo fato de que esse retorno do diretor à adaptação do universo tolkeniano serviu para que ele amarrasse pontas soltas da trilogia anterior, construindo um prelúdio mais enxuto e mais amplo que a tão resumida obra de Tolkien. Não quero dizer que os filmes sejam melhores que os livros, mas sim que o diretor soube utilizar esse novo trabalho de forma que ele complementasse o anterior. Tolkien não usou a trilogia para complementar O Hobbit, mas para desenvolvê-la e ampliá-la. Para Peter Jackson a produção foi inversa, já que ele começou com os finalmentes e foi para o prelúdio.

Tudo funciona muito bem no filme. O diretor se usou de outros personagens que só aparecem nos livros posteriores ao do hobbit, assim como inseriu novos contextos para ampliar a obra tendo material para os três filmes, que têm quase três horas de duração, um exemplo está no destaque do orc Azog (Manu Bennett), que derrotou os anões em guerras anteriores. Como o primeiro filme só aborda os seis primeiros capítulos dos dezenove presentes no livro, Peter Jackson insere ação e muitos movimentos a cada nova tomada para que o filme não se torne parado e cansativo (já que é tão longo). Isso permite ao telespectador uma adrenalina constante, não dá pra piscar nem cochilar durante a sessão. Isso sem falar nos cenários, figurinos e cores de encher os olhos, tudo muito impecável.

O elenco é praticamente o mesmo da trilogia, para os personagens em comum: Gollum (Andy Serkis), Galadriel (Cate Blanchett), Saruman (Christopher Lee), Gandalf (Ian McKellen), Bilbo (Ian Holm), Elrond (Hugo Weaving) e até o Frodo (Elijah Wood), que faz uma pontinha na introdução do filme. Para o Bilbo jovem, nosso personagem principal, temos o ator inglês Martin Freeman, que apesar de toda sua fisionomia meio caricata se sai bem no papel. E por falar em caricatura, a liberdade inventiva de Peter Jackson lhe permite inserir cenas de comédia no filme, o que não se configura num erro, já que o resultado me pareceu bem positivo.

A trilha sonora como sempre impecável, dando vida às cenas. No roteiro, além de si próprio e dos já companheiros da trilogia, Fran Walsh e Philippa Boyens, junta-se ao time Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno e Hellboy), que era o encarregado do filme anteriormente. A direção de arte é incrível e minimalista, impossível não ficar deslumbrado. O resultado é um blockbuster que agrada não apenas os fãs mais exigentes, mas também aqueles que vão para o cinema apenas na curiosidade de assistir um filme de aventura com uma boa dose de ação.

O enredo do filme se aproxima muito do livro. Após a devastação do povo anão pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch), forma-se uma comitiva composta pelo mago Gandalf, o hobbit ladrão Bilbo, o príncipe anão Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) e mais alguns anões guerreiros. A missão deles é retomar o lar dos anões já que há sessenta anos não se houve falar do dragão, embora não se saiba do seu paradeiro. Paralelo a isso um mal desconhecido começa a se manifestar pela Terra-média, que é a deixa para a trilogia sequencial já produzida. O final desta primeira parte é uma jogada de mestre do diretor, pois o filme se encerra quando os telespectadores se ajeitam na poltrona para o clímax da história, obrigando-os assim a garantir o público dos dois filmes que virão.

O Hobbit - Adaptações

Não posso concluir esse texto, sem mencionar que apesar do belo trabalho feito, Peter Jackson não foi pioneiro em adaptar o Hobbit, talvez tenha sido o mais bem sucedido. O fato é que O Hobbit já foi adaptado para filme em live-action em 1985, numa versão russa intitulada Сказочное путешествие мистера Бильбо Беггинса, Хоббита (A viagem do Fabuloso do Sr. Bilbo Bolseiro, o Hobbit em tradução literal) ou apenas Хоббит (Hobbit), com direção por Vladimir Latyshev.

O filme foi exibido na TV durante a década de 1980 e 1990 para o público infantil, seguindo uma outra linha bem diferente dessa. Na primeira versão as temidas aranhas das ruínas de Dol Guldur são interpretadas por fantoches e os anões possuem uma aparência bem mais humana, parecendo mais os anões da Branca de Neve. Quem quiser conferir o filme completo está disponível no YouTube, sem legendas. Há ainda uma versão em animação dirigida por Jules Bass e Arthur Rankin Jr. lançada em 1977 também para a TV.

E aí já viram as versões anteriores? O que acharam? E a versão do Peter Jackson? Deixem sua opinião!

Título / Título original: O Hobbit: Uma Jornada Inesperada / The Hobbit: An Unexpected Journey
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo del Toro e J.R.R. Tolkien
Gênero: Ação, Aventura, Drama, Fantasia
País: Estados Unidos da América, Nova Zelândia
Ano: 2012
Duração: 169 min.

6 comentários

  1. Foi uma bela resenha do filme em consonância com os livros!

    Nada no filme me incomodou, porque como você sabe, eu sou fã, mas eu fiz um exercício mental de analisar o filme como não sendo fã. O que eu iria achar dele?

    Partindo dessa condição só encontrei um defeito, os 30 minutos iniciais (depois daquele belo prólogo), foram um pouco demorados. Mas como o filme foi filmado na tecnologia nova, por 48 quadros/segundo, isso é aparentemente resolvido (pela opinião de outras pessoas que assistiram o filme e relataram).

    Parabéns, mais uma vez e continue assim!

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    • Rascius,

      Muito obrigado, vindo de você o elogio se torna todo especial, já que você é o maior fã de Tolkien que já conheci. Sua opinião é muito importante, eu concordo com você sobre a demora no início do filme, mas confesso que quando se iniciaram as cenas de ação eu já tinha esquecido do tempo introdutório.

      Gostaria de conversar (e aprender) mais com você sobre o universo tolkeniano, em momento mais oportuno.

      Abraços!

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  2. Agora eu tenho certeza que vou assistir ao Hobbit. Tive minhas dúvidas quanto à qualidade do filme por conta de alguns comentários hostis, mas depois do que li aqui eu acredito que essa produção não seja decepcionante, e preciso comprovar com meus próprios olhos. Ótima resenha, cara!

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    • Eduardo,
      Eu gosto de conferir os filmes mesmo quando os comentários dos amigos são negativos. Quando estreou Lopper: Assassinos do Futuro, um colega meu disse que o filme era péssimo e que não valia a pena assistir. Fui e constatei totalmente o contrário, o filme é muito bom, tem um roteiro incrível (e complexo) e me surpreendeu muito.
      Quanto ao Hobbit, acho que você vai curtir sim! o/
      Obrigado por comentar! 😀
      Abraço!

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  3. Adorei o post! E o melhor é que você só teceu elogios ao filme!
    Eu ainda não tive a oportunidade de assisti-lo e como você comentou eu tinha medo de, por ser a adaptação de um livro tão pequeno em três partes, não funcionasse bem! Mais que bom que deu certo.
    Estou ansioso demais pra ver esse filme, pretendo vê-lo em breve!

    Ótimo texto!
    Abraço!

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    • Oi Alysson,

      O filme é muito bom, acho que por isso resolvi destacar mais os pontos positivos. Me surpreendeu a forma como o filme foi adaptado, acho que foi bem fiel na medida do possível.

      Quando o assistir me avisa, ok?
      Abraços!

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