Crítica | Mapa Para as Estrelas

David Cronenberg possui um jeito estoico de contar histórias, isto é, nos confrontando com o lado violento e grotesco da humanidade de forma a nos deixar impassível ou inabalável. Quem já assistiu A Mosca (1986) ou as produções mais recentes Marcas da Violência (2005) e Senhores do Crime (2007) pode fazer uma ideia do que isso significa na tela. Em Mapa para as Estrelas (Maps to the Stars), o diretor canadense desenvolve o emaranhado roteiro de Bruce Wagner em uma fábula mórbida sobre Hollywood.

Todos os personagens da trama possuem um lado negro, uma espécie de mau-caráter evidente que surge de suas pequenas ou incontroláveis ações. Suas motivação são seus próprios egos, a vontade de ser/parecer maior sobre todos de alguma forma, não importa qual. O bom do enredo é que ele não cai no lugar comum das picuinhas e artimanhas, mas explora bastante o psicótico comportamento humano.

Havana Segrand (Julianne Moore) é uma atriz decadente que morre de pavor de ser esquecida. Há tempos, ela não consegue um papel de destaque até que surge a oportunidade de ela interpretar o mesmo personagem de sucesso que sua falecida mãe realizou anos atrás. A oportunidade única a enlouquece mais do que sua depressão pós-fama e ela passa a ver o fantasma da sua própria mãe e a delirar sobre a relação entre as duas.

Mapa para as Estrelas 1

Envolvida nesse caos, ela contrata uma jovem traumatizada para ser sua assistente (Mia Wasikowska). A menina possui marcas de queimaduras pelo corpo e, consequentemente, um segredo. Á princípio, o seu caminhar parece impreciso, mas ela tem muito bem os seus planos traçados. Em sua rota, no entanto, aparece o motorista de luxo e aspirante a astro Jerome Fontana (Robert Pattinson). Aparentemente normal, o jovem também se mostra como os outros personagens em seu devido momento.

Todos os indivíduos estão interligados de alguma forma, mas estas relações se apresentam aos poucos. Já em outro panorama cinematográfico, o jovem ator Benjie Weiss (Evan Bird) é um pré-adolescente milionário e arrogante. Trata seus funcionários como objetos descartáveis e pouco se interessa pela necessidade dos outros. Assim, apesar de uma criança ainda, ele também recebe a visita dos seus próprios fantasmas e inicia uma série de perturbações mentais.

Seus pais também são personagens repugnáveis. A mãe (Olivia Williams) parece uma figura desamparada ainda presa na mente de uma adolescente apavorada e o pai (John Cusack) um teórico da sua própria vida. O filme é um show de horrores de personalidades destroçadas por buscarem um real imaginário: um holofote que nunca para de brilhar ou mude de posição. Julianne Moore, mais uma vez, se sobressai em cena e apaga a atuação Wasikowska, enquanto os outros apenas caminham na superfície.

Mapa para as estrelas é um filme de composição que apresenta uma imagem caricata ao extremo para nos indicar que algo se perdeu em algumas camadas sociais. Vale dizer que seria trágico se não fosse cômico construir uma metalinguagem dos bastidores do cinema tão desmantelada em personagens loucos.

Cronenberg não poupa nem a figura infantil da sua conjuntura sórdida sobre os componentes de Hollywood. Caminhar este percurso com Bruce Wagner e Cronenberg é pouco interessante, pois suas premissas já estão evidentes desde os 20 primeiros minutos, mas eles apresentam um corajoso escárnio de que ninguém sobrevive neste ramo com complacência, ou você come, ou é devorado.

Nota: 3

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