Novembro (“November”)

Em 2017 a Estônia submeteu essa obra para concorrer ao Oscar e, desde já, é um dos filmes mais doidos que vi esse ano, porém artisticamente parece uma poesia visual.

Poderia simplesmente ter a sinopse: num pobre reino com magia, entidade e espíritos, a jovem Liina se apaixona por Hans, mas ele acaba se apaixonando pela Baronesa do castelo. Então Liina faz (quase) tudo para que ele a ame.

Mas não é tão simples assim, ou melhor, não é nada simples assim. O diretor Rainer Sarnet filmou tudo em preto e branco e transformou o reino num conto dos irmãos Grimm.

Para quem não sabe a maioria dos clássicos da Disney são baseados em contos deles, como “João e Maria”, “Chapéuzinho Vermelho”, a “Bela Adormecida”, “Rapunzel”, “Branca de Neve e os Sete Anões”, entre outros. Só que a Disney fez os contos serem infantis. Os originais, são adultos para a nossa época, com fartas descrições de violência, sexo e outros impropérios.

É nesse ambiente que se passa “Novembro”, com personagens sujos, muitos deles execráveis e sem senso de moral. Até mesmo o casal protagonista é cheio de defeitos.

Só que muito mais do que mostrar essa trama, a história, baseada no bestseller europeu de Andrus Kivirähk, preocupa-se mais em mostrar os costumes malucos do vilarejo, como o ritual de espíritos que falam e comem, criaturas feitas de metal com almas humanas chamadas krats, um costume insano para espantar uma praga, e até bolo de fezes para amarrar o ser amado. Sério, isso é apenas um pouco do que se vê no decorrer da história.

Com momentos e cenas inteiras tão absurdos, o espectador pode parar em qualquer frame para perceber uma fotografia digna de uma obra de arte. O desconhecido diretor de fotografia Mart Taniel é um gênio em enquadramento e trabalho nas tonalidades das duas cores, onde sombras, poeiras e até fios de cabelo fazem toda a diferença.

A sobreposição entre as sombras da noite e a neve de um dia ensolarado é sensacional e aí se entende que a paixão dos jovens não vê a beleza, mas sim o conteúdo, enquanto a obra faz o inverso, onde há uma beleza indescritível em cada movimento, mesmo com um conteúdo saído de um conto macabro.

Ainda assim, o desfecho da trama principal também traz algo de poético, seja para os personagens, seja para a mensagem de que o mundo é feio e não se preocupa com o amor. Daí o feio e bonito serem simbólicos entre história e fotografia.

Novembro” passa há anos-luz da veia comercial, mais longe de ser um filme fácil de se ver, mas há uma imensa beleza a ser descoberta que fica na cabeça por um bom tempo.

Ficha Técnica:

Elenco:
Rea Lest
Jörgen Liik
Arvo Kukumägi
Katariina Unt
Taavi Eelmaa
Heino Kalm
Meelis Rämmeld
Dieter Laser
Jette Loona Hermanis
Jaan Tooming

Direção:
Rainer Sarnet

História e Roteiro:
Rainer Sarnet

Produção:
Katrin Kissa

Fotografia:
Mart Taniel

Trilha Sonora:
Michal Jacaszek

DIREÇÃO

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