Sandy Wexler (2017)

Por André Dick

Este novo filme de Adam Sandler feito para a Netflix é dirigido por Steven Brill, do fraco A herança de Mr. Deeds e do caricato, mas com momentos divertidos, Little Nicky. Sandler tem mostrado alguns acertos esporádicos em sua trajetória, como Embriagado de amor, Tratamento de choque e Espanglês, mas nos últimos anos encadeou uma série de filmes desagradáveis, investindo em piadas excessivamente escatológicas e um humor voltado a piadas culturais em parte bastante ofensivas, apesar de ter aparecido também em Homens, mulheres e filhos e no infantojuvenil subestimado Pixels.
Desta vez, Sandler interpreta Sandy Wexler, que trabalha como empresário de estrelas (desconhecidas) de Hollywood: o ventríloquo Ted Rafferty (Kevin James), o esportista de luta livre Bobby Barnes (Terry Crews), o humorista Kevin Connors (Colin Quinn), o acrobata Gary Rodgers (Nick Swardson) e a atriz Amy Baskin (Jackie Sandler). No entanto, a sua grande descoberta é Courtney Clarke (Jennifer Hudson), uma cantora na qual aposta todas as suas fichas. Ele a conhece durante uma apresentação infantil e precisa pedir a permissão do pai dela, Willy (Aaron Neville), para empresariá-la. A questão é que ele se encontra numa prisão do Nebraska, para onde Wexler viaja devidamente.

Usando uma voz estranha, como em Little Nicky (e o espectador que se incomodar com isso pode se afastar imediatamente da narrativa), Sandler faz, ainda assim, um personagem humano, para o qual cada artista deve ser atendido de forma atenciosa. É uma figura ingênua, mas extremamente afetuosa, embora não consiga dizer a verdade, praticamente o oposto do empresário Richie Finestra, vivido por Bobby Cannavale em Vinyl. Ele vive numa pequena casa junto à mansão de Firuz (Rob Schneider), um milionário que se encontra fora do país e espalha câmeras por todos os lugares para que não usem sua piscina, e tem como vizinha a solitária (mas não tanto) Cindy Marvelle (Jane Seymour).
A exemplo de grande parte dos projetos de Sandler, há participações de vários artistas e diretores (veja Arsenio Hall, Rob Reiner, Quincy Jones, Judd Apatow e Jimmy Kimmel), além de parceiros do Saturday Night Live (Chris Rock, Jon Lovitz, David Spade e Dana Carvey). Isso concede aos seus filmes uma espécie de clima entre amigos, o que por vezes é prejudicial. No entanto, aqui se estabelece, em meio a algumas piadas menos bem-sucedidas, vínculos reais de amizade. Não apenas Sandler consegue oferecer uma camada interessante a Wexler: Hudson (Oscar de atriz coadjuvante em Dreamgirls) entrega uma grande atuação, além de Kevin James estar discreto e eficiente.

Além disso, a reconstituição da década de 90, na qual o filme se passa, é muito interessante, com fotografia de Dean Semler (Apocalypto), que lembra a de Boogie Nights em alguns momentos, e trilha sonora agradável de Rupert Gregson-Williams (A lenda de Tarzan e Até o último homem). O desenho de produção lembra até mesmo o de Cassino, destacando os letreiros noturnos e certos enquadramentos, como na sequência em que Wexler e Courtney vão para um estúdio de música fabuloso. Há um senso de estética no filme de Brill que não costuma haver nas obras de Sandler, um cuidado minucioso com o trabalho de figurino e as cores de cada ambiente, que fazem valer a sessão. Repare-se numa cena que mostra o personagem central caminhando por uma rua de Los Angeles com cartazes de filmes de 1994 e uma trilha sonora adequada àquele momento.
Sandy Wexler pode ser visto sem qualidades apenas por quem não considera que Sandler está adotando nessa narrativa outra postura, e o seu ritmo lembra Top five, um grande acerto de Chris Rock feito há alguns anos, também sobre as questões envolvendo fazer uma carreira acompanhada pela fama. Os bastidores do showbusiness são vistos sem nenhuma pose forçada, mas, em certos momentos, até com uma melancolia e uma nostalgia agradáveis. É notável a sequência em que Wexler reúne os artistas que assessora para comemorar a conquista de Courtney. Não há nenhuma espécie de ciúme do sucesso – talvez porque ele se considere o “rei de Hollywood”.

Terceira parceria de Sandler com a Netflix (as primeiras foram The ridiculous 6 e Zerando a vida), Sandy Wexler também possui um certo senso de crítica cultural que Noah Baumach apresenta em peças como Frances Ha e, sobretudo, Greenberg, no qual Ben Stiller tem seu melhor momento. Talvez seja o projeto pessoal de Sandler que mais se aproxime de um filme de verdade: claro que temos sua parceria afetuosa com Drew Barrymore em Afinado no amor e Como se fosse a primeira vez, e outros acertos já lembrados, mas é como se aqui ele realmente colocasse uma porção de sentimento, tanto em seu personagem quanto no tom narrativo. O roteiro de Sandler, em parceria com colaboradores de obras anteriores, Tim Herlihy, Dan Bulla e Paul Sado, é suficientemente interessante para sustentar as mais de duas horas, dividindo bem o tempo entre os personagens, de modo que não os percamos de vista. E espera-se que ele invista mais em obras nesse tom, trazendo uma homenagem interessante ao mundo artístico e buscando um diálogo até mesmo com La La Land em determinado instante, sem esquecer All That Jazz – O show deve continuar, a obra-prima de Bob Fosse. Seria uma maneira de utilizar o talento que exibe em filmes como Embriagado de amor, de quinze anos atrás e ainda seu papel mais desafiador.

Sandy Wexler, EUA, 2017 Diretor: Steven Brill Elenco: Adam Sandler, Jennifer Hudson, Kevin James, Terry Crews, Rob Schneider, Colin Quinn, Nick Swardson, Lamorne Morris, Aaron Neville, Jane Seymour, Jackie Sandler, Arsenio Hall, Rob Reiner, Quincy Jones, Judd Apatow, Jimmy Kimmel, Chris Rock, Jon Lovitz, David Spade, Dana Carvey, Conan O’Brien Roteiro: Tim Herlihy, Dan Bulla, Paul Sado, Adam Sandler Fotografia: Dean Semler Trilha Sonora: Rupert Gregson-Williams Produção: Allen Covert, Adam Sandler Duração: 131 min. Estúdio: Happy Madison Productions Distribuidora: Netflix

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