Título em inglês: To return
País: Espanha
Duração: 2 h e 01 min
Gêneros: Comédia, crime, drama, mistério
Elenco Principal: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas
Diretor: Pedro Almodóvar
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0441909/
Ninguém explora e entende o universo feminino em seus filmes com tanta competência como o grande diretor Pedro Almodóvar. “Volver”, que considero como uma de suas obras-primas, é um exemplo disso. Neste filme, os homens são apenas adereços. Se o mestre Alfred Hitchcock fosse analisar a filmografia de Almodóvar, ele diria que nela os homens são mcGuffins, ou seja, representam algo que serve apenas de pretexto para avançar na narrativa e que tem pouca ou nenhuma importância. Algo como objetos cenográficos. Independentemente dessa “feminilização” do enredo, a qual aprecio bastante, o filme em tela trata de temas complexos sem qualquer tipo de pudor e proporciona uma interligação muito competente entre as temáticas que o compõem. “Volver” tem, na minha opinião, o chamado roteiro perfeito.
Com algumas idas e vindas e com mais uma narrativa grandiosa do diretor, o filme conta a história de quatro mulheres pertencentes a três gerações da mesma família. Raimunda e Sole, que são irmãs; Irene, que é mãe das duas moças; e Paula, que é filha de Raimunda. Sem querer dar spoillers – e já dando alguns –, a trama gira em torno de um suposto incesto, um assassinato e o retorno de um espírito para resolver problemas que ficaram pendentes enquanto seu corpo estava vivo. Parece fantasioso, mas tudo se encaixa perfeitamente sem a necessidade de, por exemplo, alguma coincidência forçada.
Traduzindo a partir do espanhol, volver significa voltar. Automaticamente, pela leitura do segundo parágrafo, vem à mente o retorno do espírito de Irene, pois é a mais velha e a única falecida dentre as 4 protagonistas do filme, porém, essa “volta” é muito mais abrangente e atinge a todas as principais personagens da história. Não se trata apenas de retornos físicos, mas também a volta a realidades pretéritas ou íntimos fantasmas do passado, que têm o condão de conceder felicidade aos contextos tristes e de seus presentes difíceis e, em muitos aspectos, cruéis. O amor é a base de todas as reviravoltas nas vidas das personagens, principalmente aquele amor que une mães e filhas na narrativa, o qual é mostrado como o amor supremo – o maior amor possível e imaginável que se possa existir.
Obtive uma comprovação automática e real após assistir ao filme: o consumo abusivo de álcool provoca a queda das máscaras que ocultam os reais caracteres (plural de caráter) e os desejos mais profundos das pessoas. Isso é apenas uma reflexão, pois esse fato – o consumo excessivo de álcool – foi um dos maiores geradores de tensão da narrativa. Aliás, fatos geradores de problemas não faltam ao longo da exibição: tragédias e dramas familiares, atos impensados e/ou desesperados, falta de comunicação, etc., no entanto, para cada acontecimento importante, há um tratamento devido, de modo que o roteiro não deixa pontas soltas, pois sempre há uma resolução dos assuntos, geralmente proporcionada por um plot twist, ou seja, uma reviravolta, que é uma característica do diretor – o último plot é arrebatador, diga-se de passagem. Percebe-se que há vários plots em “Volver”, para a alegria dos fãs de Almodóvar.
Preciso destacar a cena mais especial do filme: Penélope Cruz, intérprete de Raimunda e musa do diretor, com uma beleza hipnotizante irradiando de seus olhos emocionados – o poster do filme já corrobora essa constatação -, esbanjando sensualidade – mesmo num filme dramático -, sem saber da volta de sua mãe, canta – ou dubla – a música Volver, que é tema do filme – enquanto Irene, supostamente falecida, escondida em um carro ao longe, escuta a tudo e se afoga em lágrimas. É indubitavelmente que essa é a mais bela passagem do filme, que ficará marcada na mente de cada espectador por muito tempo. É simplesmente inesquecível!
Longe de ser um filme fantasioso, por usar um “fantasma” como protagonista, “Volver” é a morte, sem escuridão, que altera o rumo da vida ao surpreendente estilo Almodóvar de fazer cinema – e seu radiante colorido. Ao fim, não há questionamentos e sobram aplausos e admiração por mais um excepcional trabalho desse grande realizador do cinema mundial. Recomendo esse filme com muita satisfação, pois tenho a certeza absoluta de que será uma excelente experiência para todos os que embarcarem nessa jornada cinematográfica.
O trailer em espanhol segue abaixo.
Adriano Zumba
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