Jules e Jim – Uma mulher para dois (1962)

Título original: Jules et Jim

Título em inglês: Jules and Jim

País: França

Duração: 1 h e 45 min

Gêneros:  Drama, romance

Elenco Principal: Jeanne Moreau, Oskar Werner, Henri Serre

Diretor: François Truffaut

IMDB: www.imdb.com/title/tt0055032/


Opinião: “A mais perfeita definição da liberdade vanguardista do cinema francês de meados do século XX.”


Em plena Nouvelle Vague francesa e, por conseguinte, em plena liberdade temática e estilística em relação à arte de fazer cinema, François Truffaut dirigiu um de seus melhores filmes, “Jules e Jim – Uma mulher para dois“. Na verdade, o numeral dois no título representa apenas a quantidade de protagonistas masculinos, Jules e Jim, porque, se formos considerar o que realmente é exibido no filme, teríamos um título muito grande: “Jules, Jim, Albert, … – uma mulher para (número indeterminado)“.  Gracejos à parte, a ousadia da protagonista, que é automaticamente atribuída ao roteiro, chama a atenção. A emocionalmente inconstante Catherine, interpretada por Jeanne Moreau em uma atuação memorável, é uma mulher à frente de seu tempo – até certo ponto leviana e egoísta – e, em tempos de “libertação” dos jovens na década de 60 – principalmente das mulheres -, representava e praticava o livre amor, sem se preocupar com as consequências.

Eis a sinopse: “O filme conta a história do alemão Jules (Oskar Verner) e do francês Jim (Henri Serre), que nutrem uma amizade que nem a guerra consegue destruir, pois eles lutam por países diferentes e o maior medo deles é que um enfrente e mate o outro no front.  Ambos se apaixonam por Catherine, e, a partir daí, a história se desenvolve mostrando que, mesmo com toda instabilidade emocional e afetiva da protagonista e a conjuntura proposta, a amizade dos dois segue inabalada. Em nenhum momento do filme, há conflitos entre eles por motivo algum. A amizade construída por eles suplanta até o amor que sentem pela mesma mulher.”

No filme os papeis se invertem em relação aos sexos, pelo machismo entranhado nas sociedades até então. A primeira reação do espectador é de estranheza, ao observar o triângulo amoroso entre Jules, Jim e Catherine, principalmente quanto à submissão dos homens aos caprichos da protagonista, à aceitação até fácil de tal situação e à libertinagem da mulher – algo pouco usual até na sociedade de hoje, que respira ares tão promíscuos, que por vezes são chamados de modernos. Catherine é tratada como uma rainha, e isso é explicitamente citado no filme. Convém salientar que os três personagens, apesar do aparente despojamento e despreocupação com a vida, são bastante complexos se pararmos para analisar suas almas. Apesar de tudo, há uma clara dependência afetiva entre eles. Normalmente, pessoas como essas receberiam adjetivos bem pejorativos por esses comportamentos ou maneiras de viver. São relações bastante utópicas ou surreais para a época.

Tecnicamente, o filme apresentou uma série de características diferentes do cinema tradicional que era praticado no resto do mundo naquela época: narrações em off, legendas, imagens congeladas, tela dividida, etc. Foi um filme que exalou modernidade em sua produção e na maneira como os fatos eram mostrados. Além disso, a inovação aparecia principalmente no comportamento dos personagens, como percebido nos parágrafos acima. Tudo isso foi fruto do movimento vanguardista francês da época, a já citada Nouvelle Vague, na qual os cineastas franceses se libertaram de quaisquer tipos de amarras ou características predefinidas no ofício de criar obras cinematográficas. Qualquer recurso estilístico ou temática poderiam ser usados sem pudores e sem medos. Considero, em se tratando de cinema, o filme em tela como a mais perfeita definição da palavra liberdade, até os dias de hoje. É muito atrevimento da minha parte, mas é apenas uma opinião íntima que vocês, meus caros leitores, podem até concordar.

Jules e Jim – Uma mulher para dois” é um dos filmes mais cultuados e famosos do cinema francês e, porquê não, mundial, o qual influenciou inúmeras gerações de diretores. Apesar de, em sua narrativa, desnudar relações interpessoais no mínimo excêntricas – o que pode desagradar a espectadores mais conservadores, por exemplo -, é uma excelente recomendação por sua relevância na história da sétima arte. É um filme imprescindível para qualquer cinéfilo que se preze.

A arte imitou a vida em tempos de libertação na década de 60 e apresentou um filme de amor sobre a amizade. É simplesmente sui generis!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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