Expurgo (2012)

Título original: Puhdistus

Título em inglês: Purge

Países: Finlândia, Estônia

Duração: 2 h e 05 min

Gêneros: Crime, drama

Elenco Principal: Laura Birn, Liisi Tandefelt, Amanda Pilke

Diretor: Antti Jokinen

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1714205/


Opinião: “Brutais relatos para desnudar nuances perversas do passado e da atualidade.”


Eis um filme que valoriza o tempo dispensado para garimpar na internet filmes advindos de países sem tradição cinematográfica. Afirmo que perdemos de conhecer muitas pérolas do cinema mundial por nos atermos apenas ao convencional. Trata-se de um filme sombrio, que conta com um acaso do destino para unir personagens de duas gerações da mesma família, cujas dramáticas histórias retratam ambientes hostis e perigosos, tanto no passado quanto no presente. Nesse contexto, percebe-se uma obra com uma bela cinematografia – ou direção de arte -, um fantástico trabalho de câmera, excelentes performance dos atores e um enredo bastante interessante. “Expurgo” é baseado no livro “Puhdistus” de Sofi Oksanen, a qual tem um pai finlandês e uma mãe estoniana, que emigrou para a Finlândia ainda na era soviética. As nacionalidades de seus pais são pertinentes, pois o filme retrata os tormentos do povo da Estônia durante a aludida época de dominação soviética.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Em 1992, uma velha senhora que vivia solitária em uma floresta da Estônia, Aliide, acolhe em sua casa uma jovem russa, Zara. Apesar das desconfianças e precauções iniciais, as duas começam a se conhecer melhor e desenvolvem uma relação de amizade. Zara era uma escrava sexual na Rússia e, depois que fugiu, passou a ser caçada por dois homens russos, que estavam envolvidos no mercado sexual. Já Aliide vê na nova amiga uma oportunidade de contar sua trajetória e suas experiências pela antiga União Soviética, tentando se livrar dos próprios fantasmas.”

Após o encontro fortuito das duas protagonistas, é de se esperar que as histórias de vida das duas mulheres se cruzem em algum ponto. Para isso, a narrativa foi construída de forma não-linear e viaja ao passado o tempo todo em uma série de flashbacks. Tanto o atual tema da tráfico de humanos para municiar uma rede de prostituição internacional, relacionado a Zara, quanto o passado obscuro de atrocidades cometidas em nome do patriotismo e da honra, relacionado a Aliide, são retratados de maneira brutal e honesta, e, por conta disso, não há o mínimo esforço para evitar o desconforto visual para os espectadores. A crueza está sempre presente nas cenas. De qualquer forma, unir a história aos problemas atuais é fenomenal, e nos faz perceber que, apesar da passagem do tempo, a maldade do ser humano insiste em tomar corpo pelos mais diversos motivos.

Considero a história de Aliide como a mais atrativa, pois, entre dramas e tragédias, há um contexto amoroso que proporciona alguma leveza à narrativa. Dois tipos de amor devem coexistir em um ambiente beligerante: um que proporciona altas doses de frustração e outro que gera uma grande aura de tristeza, a qual paira sobre o filme ao longo da exibição. O conceito de expurgo, que pode ser definido no contexto da obra como um “descarte” em massa de algo sem serventia – no caso, seres humanos -, na verdade deve ser estendido à alma de alguns personagens, pois o amor – ou a falta dele – também leva ao momento final de uma vida, seja por uma morte real ou presumida – em sentido figurado.

Difícil dizer o que exatamente influenciou a escolha do autor para um tal ziguezague final – é bom salientar que o romance e sua adaptação cinematográfica terminam da mesma forma. Mas uma coisa é certa: enquanto a sociedade de muitas nações jovens, ou melhor, daquelas que existem há séculos, mas quase sempre em sua história foram dependentes de vizinhos com uma população mais numerosa, melhores organizados politicamente e ricos, percebe seu passado como um genocídio, ou seja, consideram-se vítimas, histórias como essa serão apenas uma gota no oceano e tendem a se perder pelo tempo, mas, para que isto não aconteça, existe o cinema para eternizar histórias interessantes.

Segundo Confúcio, um pensador e filósofo chinês que viveu antes de Cristo, “se queres conhecer o passado, examina o presente que é o resultado; se queres conhecer o futuro, examina o presente que é a causa.”

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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