Segunda-feira ao sol (2002)

Título original: Los lunes al sol

Título em inglês: Mondays in the sun

Paises: Espanha, França, Itália

Duração: 1 h e 53 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Javier Barden, Luis Tosar, José Ángel Egido

Diretor: Fernando León de Aranoa

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0319769/


A cada dia que passa o mundo fica mais populoso, o capitalismo fica mais selvagem, a desigualdade social aumenta, os governos têm mais dificuldade de promover o bem estar das pessoas, os trabalhos ficam mais escassos e especializados, as máquinas substituem o homem, etc. São anomalias da globalização e da tecnologização. Uma consequência direta de tudo isso é o desemprego, que leva as pessoas e as famílias à ruína por não terem como subsistir, entretanto, vê-se no filme em tela que a miserabilidade causada pela condição de falta de emprego é muito mais do que apenas financeira. “Segunda-feira ao sol” retrata essa situação dramática de vulnerabilidade social com passagens alegres e tristes, numa antítese de sentimentos para deixar a experiência mais rica e diversificada, mas sem perder em momento algum o viés trágico que o contexto denota.

A sinopse é a seguinte: “Em uma cidade costeira de Vigo, na Espanha, o estaleiro Aurora é fechado por ter sido vendido a investidores coreanos que pretendem utilizar a localização privilegiada do local para construir um hotel de luxo. Por conta deste acontecimento, várias pessoas perderam seus empregos e protestaram ferrenhamente, como mostrado em cenas reais no início do filme. Partindo agora para o lado da ficção, cinco amigos – Santa, Lino, Amador, José e Sergei – ficaram à mercê de pequenas ocupações temporárias ou algum tipo de inserção precária no mercado de trabalho para poder sobreviver. Santa, um machão rebelde e auto-suficiente se recusa a admitir o fracasso. Mas a verdade é que ele e seus companheiros, dos quais ele se torna uma espécie de líder, são perdedores completos, mergulhados no alcoolismo e em crises familiares.”

A narrativa deve ser compreendida e analisada sob duas óticas. A primeira delas é a situação individual de cada personagem. Discriminação, ilusão, dependência econômica e falta de esperança são apenas algumas situações que eles têm que enfrentar. Percebemos a nocividade que a falta de emprego acarreta, ao acompanharmos o peso no semblante dos homens e a pungente desolação frente ao problema que tomou corpo. Há uma série de acontecimentos que transmitem uma tristeza de cortar o coração e, ao mesmo tempo, conseguem ser engraçadas por alguma dificuldade de enfrentá-las. Independentemente desses dramas particulares, a amizade que eles cultivam, regada à muita bebida alcoólica – apenas mais uma consequência do desespero -, ameniza um pouco o contexto e concede um pouco de humanidade à história. Pessoas fracassadas também podem sonhar, nem que seja em decorrência do álcool, como um refúgio para suas almas. A segunda ótica é conceder um sentido mais macro, mais global à situação dos homens. Sugere-se através de várias passagens do filme, principalmente por meio de alguns contos e parábolas, uma relação direta com a lógica atual do capital, que impõe visões negociais egoístas e capitalistas em detrimento de qualquer tipo de visão humana aplicada aos provedores de mão de obra, diga-se, a classe proletária. Por existir um personagem soviético que divaga à vontade, Sergei, há também um quê de crítica ao neoliberalismo amplamente praticado no mundo moderno, porém, através de seus pensamentos, o personagem demonstra frustração com o meio socialista de tratar do assunto, ou seja, há uma desilusão ampla e irrestrita típica de uma pessoa em desespero. Esse viés político não pode ser desconsiderado.

Considero como a principal cena do filme, uma que proporciona a desconstrução da fábula francesa “A cigarra e a formiga“, proporcionada por Santa. Nesse momento há um início de entendimento da tal situação macro aludida no parágrafo anterior, que viria a ser confirmado através de diversas outros detalhes mostrados no restante do filme. Sempre escutamos, desde criança, que a cigarra é preguiçosa e boa vida, e a formiga é trabalhadora. Através de um humor corrosivo e frases como “filha da puta essa cigarra”, “se você nasce cigarra, você tá fodido”, “a formiga é uma especuladora” ele concede sua interpretação própria ao tão famoso conto, e o adapta à sua nefasta realidade. Naquele momento ele era uma cigarra anômala – sem emprego, engolido pelo sistema, mas seguindo adiante na medida do possível -, mas gostaria de ter continuado a ser formiga, pois, mesmo havendo sol em alguma segunda-feira de verão, o inverno já congelava a sua dignidade e a de seus companheiros, concedendo uma imobilidade, regada a uma falta de perspectivas que se revestia com o obscuro manto da tragédia social.

Há muito o que se discutir após a exibição desse filme. São muitas mensagens que convidam o espectador à reflexão, entretanto, ao fim, sobra angústia por esse desastre da vida real, que assola tantas pessoas no mundo e está representado através dos personagens do filme, contudo, enquanto houver segundas – em alusão ao primeiro dia útil de uma semana comum, no qual a maioria das pessoas reserva para começar alguma atividade -, a esperança sempre se renova. Pelo menos isso a vida não pode tirar deles, apesar de infelizmente isso não ser uma verdade absoluta.

O trailer em espanhol segue abaixo.

Adriano Zumba

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