Honeyland (2019)

País: Macedônia

Duração: 1 h e 26 min

Gêneros: Drama, documentário

Elenco Principal: Hatidze Muratova, Nazife Muratova, Hussein Sam

Diretores: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8991268/


Síntese: “Um belo exemplo de como uma relação de igualdade, sem supremacia, entre o homem e a Mãe natureza, é pertinente e até necessária.”


Citação: “Metade para vocês (abelhas), metade para mim.”


Opinião: “Sensível, singelo e reflexivo. Uma obra ímpar que traz à baila um contexto selvagem que abarca dois significados: um literal e um metafórico; um belo e um perverso.”


Se “Honeyland” tivesse sido produzido há algumas décadas, talvez a mensagem que ele (o filme) se propõe a transmitir não tivesse o mesmo impacto, pois a narrativa acabaria mostrando apenas uma conjuntura comum e natural para boa parte das pessoas, entretanto, como foi produzido em 2019, e, portanto, numa época de plena dependência tecnológica (isso é muito importante salientar) e na qual uma grande fatia do mundo pratica, sem qualquer tipo de remorso, o chamado capitalismo selvagem, que visa cegamente ao maior lucro possível, com um visível decremento de preocupação com o meio ambiente por parte de vários governantes e considerando as pessoas como mero robôs sem alma que podem ser prontamente substituídos a qualquer momento, o legado deixado por sua narrativa é tão pertinente que transforma uma simples produção com ares rudimentares em um dos filmes mais importantes do ano de 2019 – as inúmeras premiações conquistadas tratam de corroborar com essa afirmação. Trata-se de um roteiro bastante reflexivo, que traz à baila uma essência que anda em desuso há muitos anos e que, talvez, muitas pessoas não consigam enxergar que exista tal possibilidade: considerar o ser humano como sendo apenas parte integrante do ambiente, celebrando uma relação praticamente “simbiótica” com a Mãe Natureza, que é fortemente caracterizada pelo respeito mútuo. Seguem abaixo as minhas impressões sobre o filme em tela.

Eis a sinopse: “A última caçadora/criadora de abelhas da Europa, Hatidze  Muratova, deve salvar as suas abelhas e devolver o equilíbrio natural em seu vilarejo, após a chegada de uma família de apicultores/pecuaristas nômades que invade sua terra e ameaça seu sustento com suas práticas nocivas em relação ao trato com a natureza.”

Honeyland” é um documentário diferente: sem qualquer narração. Trata-se de uma história construída através da simples observação de personagens reais inseridos em seus próprios microcosmos. Nota-se que seu principal fato gerador de tensão é apenas uma pequena representação das consequências da ganância do homem na interação com os recursos naturais postos à sua disposição pelo planeta Terra, ou seja, através de um simplório fato se busca fazer alusão a um contexto global de exploração perversa e irresponsável, o chamado extrativismo sem limites. Nessa mesma linha de pensamento, os diretores, para reforçarem a ideia central da narrativa, inserem vários personagens que fazem o papel do eterno “sistema” exploratório, e suas presenças tratam de impor a percepção de um único modo de atuação do homem em relação à natureza, que incentiva a extração abusiva de qualquer tipo de recurso em nome de, sobretudo, uma incessante satisfação financeira.

Mesmo proporcionando reflexões oportunas, o mais belo do filme é o desnudamento da âmago de sua protagonista, Hatidze. Utilizando-se de uma sensibilidade extrema, cenas memoráveis mostram uma senhora ingênua mas, ao mesmo tempo, com uma força hercúlea; com uma feição desgastada pela luta pela sobrevivência mas, ao mesmo tempo, iluminada pela pureza d’alma demonstrada em cada gesto; aparentemente bruta, mas, ao mesmo tempo, delicada e carinhosa. Sua personalidade atrai de forma automática e sem dificuldades animais e crianças. Até as abelhas a respeitam e conhecem seu toque amoroso e seus métodos particulares e humanos. Não vemos uma só picada de abelha na protagonista em toda a exibição, mesmo sem usar uma proteção adequada no manejo de suas colmeias e favos de mel. O filme evidencia sua vida plena em meio à simplicidade, mesmo com poucos recursos e na iminência de experimentar a solidão com a proximidade da morte de sua mãe de 85 anos. A relação dela com sua mãe, diga-se de passagem, é especial. É muito fácil observar Hatidze por horas pois é uma mulher – ou uma pesonagem – bela  no compasso de sua simplicidade.

“Honeyland” foi filmado por três anos “no fim do mundo”, no longínquo interior da Macedônia, e o resultado final, após a triagem das cenas e posterior montagem, foi excepcional, pela obtenção de uma sequência inteligível de fatos reais que possuem todas as virtudes de uma narrativa dramática ficcional, mas que exala a mais completa realidade revelada por um documentário, no qual, com a maior naturalidade possível, a heroína – ou a guerreira – Hatidze ama, emociona, diverte, sofre e, sobretudo, proporciona ensinamentos através de sua apaixonante interação com a natureza. Ótimo para refletir e admirar, pois o contexto político global atual em relação à preservação da natureza sugere um futuro nebuloso. O que importa é sugar, é consumir, é lucrar, é ganhar, etc. A natureza estabele regras para a coexistência com os seres humanos e a manutenção de sua harmonia e/ou o equilíbrio de seus ecossistemas. Sem a conscientização necessária da raça humana, um dia a conta da barbárie contra o planeta vai chegar para todos, e, possivelmente, esse dia esteja bem próximo. Já estamos sentindo as consequências!

O trailer com legendas em português segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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