Fotocópia (2017)

Título original: Photocopy

Países: Egito

Duração: 1 h e 30 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Mahmoud Hemida, Sherine Reda, Farah Youssef

Diretor: Tamer Ashry

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7464158/


Citação: “De qualquer forma, o Sr. Mahmoud decidiu me acordar e abrir meus olhos para a vida que eu não estava vivendo.”


Sinopse: “Mahmoud é um idoso solitário, sem filhos, que vive exclusivamente para sua pequena empresa, cuja principal atividade é tirar fotocópias. Por isso, é até chamado de Mahmoud da Fotocópia. Um dia, ele desenvolve um forte interesse por Safia, uma senhora de meia-idade, cancerosa, diabética, carente, sozinha e negligenciada por seu único filho, Karim. Sob os olhos da preconceituosa sociedade egípcia, Mahmoud não medirá esforços para conquistar a sua amada.”


SINGELO E BRILHANTE TESOURO DOS FARAÓS.


Retratar a velhice é sempre algo difícil, pois é um assunto que desperta preconceitos na “vida real”, entretanto, fechar os olhos para essa fase da vida é desperdiçar oportunidades de ouro para desenvolver nuances particulares e pertinentes inerentes a esse período tão especial da vida do ser humano, quando as pessoas possuem muitas experiências adquiridas ao longo do tempo, que podem servir de matéria-prima para belíssimas narrativas, principalmente na seara das artes, como o cinema. Em relação a essa afirmação, “Fotocópia” destoa no sentido de não desenvolver histórias passadas de seus personagens idosos, pois prefere adotar uma função ou um viés social importante ao contar a sua história quebrando paradigmas, considerando seus protagonistas simplesmente como pessoas comuns, concedendo-lhes a chance de viver, quando a sociedade, maculada por preceitos religiosos e fortes prejulgamentos, enxerga-os como fracassados – e até como moribundos. É um filme que transpira humanidade e beleza, sobre o qual teço minhas impressões mais abaixo.

Fotocópia” parece ser daqueles filmes que apenas mostram o cotidiano, sem, no entanto, desenvolver algum ponto de interesse ou linha de raciocínio. Essa sensação decorre da maneira singela como o filme é construído, com muita delicadeza, enfatizando nada mais do que a normalidade da vida de seus personagens, cada um com seus próprios problemas e maneiras diversas de tocarem as suas vidas. Entretanto, aos poucos, com muita parcimônia e cuidado, o filme acende uma fagulha de amor, colocando os protagonistas sob apreciação de seu público e dos demais personagens. É importante salientar que, com as cenas exibidas, há uma forte predisposição de solicitar julgamentos dos espectadores e testar o nível de humanidade presente em cada um, pois, ao mesmo tempo, outra temática espinhosa é introduzida no contexto: o câncer, que, diga-se de passagem, não é desenvolvido de forma usual, no sentido de levar o filme para um profundo precipício melodramático, pelo respeito e austeridade como é tratado.

Muito da atração com o público que o filme adquire em sua exibição é decorrente da atuação de seu protagonista, Mahmoud, que é um personagem encantador e deveras empático na maioria de suas aparições. O roteiro, paulatinamente, transforma-o em um adolescente, com atos dignos de uma alma pueril em tempos de conhecimento do primeiro amor, concedendo sentido para sua vida. É belo e ao mesmo tempo engraçado assistir à desinibição do “jovem senhor” em suas abordagens amorosas e observar seu comportamento simples e curioso. O roteiro chega ao ponto de colocá-lo para jogar os chamados “jogos de tiro” em uma lan house para delírio de uma plateia e plantar ideias mirabolantes, corajosas  e constrangedoras, como desejar ter um filho e expor publicamente um pedido de casamento em uma faixa, por exemplo, em sua difícil missão de acessar o coração de Safia. Entretanto, o principal ponto de interesse, no meu entender, é a preocupação do protagonista em transmitir esse sentido de vida, essa nova motivação para sua amada, que possui uma nuvem negra sobre sua alma por tudo o que tem enfrentado, parecendo até ter desistido da vida. Novamente, nesse ponto, o roteiro preza pela discrição para que o espectador procure sentir as pequenas doses de sentimento que Mahmoud injeta em cada pequeno gesto, em cada frase, em cada interação e em todo o zelo que demonstra em sua aproximação. É interessante notar também, a despeito de toda a resistência apresentada, principalmente por medo de julgamentos, o “contágio” revigorante e paulatino em Safia. A cena em que ela interage com uma garota aflita à espera de fazer uma mamografia é um ótimo exemplo da mudança de postura de Safia.

Fotocópia” é um filme respeitoso, que traz à baila diversas reflexões, e, talvez, a principal delas seja a consideração dos idosos como parte integrante da sociedade, que, mesmo com todas as limitações da velhice e todos os problemas inerentes a essa fase da vida, têm o direito de viver – e não apenas sobreviver à espera do fim que se avizinha. Todos têm sentimentos, vontades e anseios, que não devem ser menosprezados por conta de qualquer tipo de conjectura. Trata-se de um filme que mexe fortemente com a crença emocional da esperança e traz de volta a vontade de viver, caso ela, porventura, não exista mais. Através dessa narrativa especial, percebe-se que o sentido da vida de cada um é particular e pode ser descoberto quando menos se espera, pois nossa existência é repleta de boas surpresas. Viver é garantia fundamental do ser humano!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba.


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