The Affair é tão boa que nem faz questão de se anunciar como a última bolacha do pacote. Não falo nem de marketing, nem nada assim. É que a série não banca a espertinha para chamar a atenção, não faz malabarismos na trama, nem fica se amando pra soar séria e dramática (isso foi uma indireta pra você, True Detective S02). Ainda assim, é impressionante o tanto de reflexão que eles conseguem fazer com uma história à primeira vista simples. Há duas famílias: a de um casal de meia idade e a de um outro casal, mais jovem. Em ambos os casos, crises no relacionamento. Pondo tudo assim, não parece promissor. O grande recurso de The Affair, porém, é a habilidade em entrelaçar essas histórias seja no tempo, que é picotado e não-linear (mas reforço: isso nunca parece pretensioso), seja na memória emocional dos envolvidos. Tudo é  contado a partir dos pontos-de-vista dos protagonistas, mas o alcance vai se alargando até que nada seja exatamente o que parece. 

Piloto da série

O elenco é impressionante de tão bom. Há muitos rostos conhecidos, entre eles o do Joshua Jackson. Julgando por seus tempos de Dawson’s Creek seria impossível dizer que ele conseguiria parecer tão amargurado e triste. E ele nem é o maior destaque. Tem o Dominic West, famoso por The Wire, e a Ruth Wilson, que fez um papel grande num seriado inglês com o Idris Elba – o alzheimer não está me permitindo lembrar agora. West e Wilson levaram a primeira temporada nas costas, mas a segunda, que acabou de começar, parece ter um escopo maior. O personagem do Joshua Jackson cresceu, assim como a da quarta integrante do quarteto principal, um rosto que quem viveu nos anos 90 conhece, mas um nome que me fugiu agora – ela fez a esposa do Jim Carrey em O Mentiroso (o Pai Google avisa: Maura Tierney é o nome dela e Luther é o nome do seriado com Ruth Wilson e Idris Elba). Ela interpreta uma mulher traída e em conflito, rica e generosa, na visão dela, e entediante e arrogante na visão do marido. Esse é o grande barato de The Affair: é  preciso parar pra discutir personagens, detalhes, teorias. Tudo isso sem ofender a inteligência de ninguém e sem deixar de fisgar quem se interessa por um bom novelão: tem assassinato, investigação policial, traição, sexo, peitinhos femininos e bundinhas masculinas, festas à beira da piscina e longas caminhadas pela praia. Às vezes parece quase uma história de humor negro, às vezes você quer chorar e abraçar um personagem.

Elenco perfeito!

Eu gosto tanto de The Affair que vi a primeira temporada duas vezes, uma imediatamente atrás da outra. Tinha visto sozinha, mas Mozão® ficou vendo uns pedaços, se interessou, e eu assisti tudo de novo com ele. Tenho muito carinho pelos personagens. A série deixa a sensação de que conhecemos várias partes das vidas deles, já que os acompanhamos de perto. Até do Noah, personagem do Dominic West, que é meio canalha e egoísta, eu gosto. O último episódio foi o S02E02, e esse é aquele tipo de série que me deixa tão ansiosa pelo que vem a seguir, que a minha vontade é parar o que quer que eu esteja fazendo e começar tudo desde o episódio piloto. 

Melhor cena da primeira temporada

The Affair é tão boa que chega a ser gostoso assisti-la sem muito burburinho, apesar dos dois Globos de Ouro que a série ganhou já na primeira temporada. É gostoso porque mais cedo ou mais tarde o pessoal vai se tocar que ali tem um programa especial, e aí nós que já assistimos vamos fazer cara de “eu avisei”.