Olive Kitteridge

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Em quatro episódios, uma professora ranzinza meio que vai vivendo. Essa sinopse muito curta não anima ninguém a sair correndo para assistir Olive Kitteridge. Mas mais informações vão deixando a minissérie mais interessante. Tem a Frances McDormand como Olive, o Richard Jenkins como o marido dela, e uma participação excelente do Bill Murray; é uma realização da HBO; foi produzida, entre outros, pelo Tom Hanks, e é baseada em livro de Elizabeth Strout, livro vencedor do prêmio Pulitzer.

Sendo aquela a sinopse, eu não imaginei que fosse sentar na frente da televisão para só levantar mais ou menos quatro horas depois, marcando 5/5 no Filmow e 10/10 no Banco de Séries, e com vontade de chorar. Não me entenda mal: a vontade de chorar eu até já esperava. Confesso que até por isso me enrolei um pouquinho para assistir. Também esperava que a minissérie fosse muito boa: eu já sabia daqueles atributos que listei acima. Adoro McDormand, Jenkins (que, pra quem não liga o nome à pessoa, é o pai-fantasma de A Sete Palmos) e Murray, e os três, ainda por cima, ganharam Emmys por causa de Olive Kitteridge, que também levou o prêmio de melhor minissérie. Antes de ver eu não duvidava que fosse boa, mas não apostava, de jeito nenhum, que a história (eu vivo falando “história”, eu sei que o certo seria “estória”, mas me nego) fosse tão cativante – ou melhor: absorvente. Pois é.

A personagem de Frances McDormand não é só ranzinza. Às vezes ela chega a ser malvada. Em boa parte do tempo a minissérie acompanha o ponto de vista dela, daí é normal que a gente entenda esse jeito de ser. Richard Jenkins, como Henry Kitteridge, é o completo oposto da protagonista. Os dois vão esbarrando em situações propiciadas por uma vida absolutamente ordinária, e através desses acontecimentos vamos ganhando intimidade com ela e com ele. Na criação do filho, na convivência com as outras pessoas, na manifestação dos sentimentos: Olive e Henry têm abordagens diferentes para tudo. Diante das convenções sociais, ela tenta ser radicalmente sincera e ir direto ao ponto, para que todas as coisas supérfluas saiam do caminho; ele, por outro lado, tenta andar na linha das convenções, buscando fazer com que aquilo que é superficial e artificial num mundo todo engessado por regras – um gesto de gentileza, o ato de se importar com alguém – ganhe força e seja verdadeiro. Dou um exemplo: numa data que, a princípio, não tem ou não precisa ter significado, como o Dia dos Namorados, ele faz questão de elaborar uma declaração para que a marca não passe em branco. Para que seja mesmo um dia de namorados. Ela, do lado dela, parece fazer questão de não se importar meio que para denunciar a artificialidade da data, para escancarar aquele aceno em direção a uma felicidade que ela sabe que não existe. A questão é: ele também sabe que não existe, mas quer inventar. Essa invenção, aos olhos dela, é insinceridade e desonestidade.

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Depois do meu, esse é o cachorro mais lindo do mundo todo

Desta forma, Olive Kitteridge conta a história de duas pessoas que não foram feitas uma para a outra. Com a sinceridade brutal de Olive, Henry se machuca e é infeliz. Com a insistência inocente de Henry, Olive se irrita é infeliz. É claro que assim eu estou reduzindo muito os temas que a minissérie encontra, e até evito comentar as consequências de um relacionamento assim, porque ver a história se desenrolar vai te fazer pensar muito mais do que esse texto, mas acho que basta dizer que Olive Kitteridge é a história do amor na medida do possível.

Tem algumas pequenas subtramas na minissérie, e elas aparecem através de personagens secundários, mas acho que elas são uma maneira de jogar luz nesse eixo principal, que é o relacionamento de Olive e Henry. Eles têm um único filho, que vai acabar tendo problemas com a mãe – e talvez a reação deste filho ao comportamento radical de Olive seja uma boa mostra do despreparo contemporâneo para deixar de lado as convenções e ir direto ao ponto.

Quando Seinfeld terminou nos anos 1990, virou consenso afirmar que a sitcom mais bem sucedida e mais aclamada pela crítica era uma análise minuciosa das relações entre as pessoas, de todas aquelas partes dessas relações que não foram devidamente mapeadas e que são, portanto, território sem lei. Esse ponto de vista foi comprovado depois, quando Larry David – um dos criadores de Seinfeld – fez de Curb Your Enthusiasm a jornada de um homem ranzinza contra toda a ladainha (bullshit, digamos) do mundo. Olive Kitteridge, a personagem, é uma espécie de Larry David ou George Costanza. O que tem sua graça, mas é muito triste no fim das contas: basta a gente pensar que um cara como o Costanza e uma mulher como Elaine Benes vão, provavelmente, morrer sozinhos.

3 comentários sobre “Olive Kitteridge

  1. vera disse:

    Gostei muito do seu post. Sabia meio “por alto” do que tratava a serie/livro.
    E tambem nunca tinha ouvido essa analise interessante sobre “Seinfeld”.
    Sabe como posso ver a serie? Nao consegui achar o dvd, nem site pra ver.

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