Review – Mãe! (Mother!)

        Gostaria de partir do ponto que esse texto é uma mera opinião de espectador, não tenho nenhuma qualificação pra fazer críticas elaboradas ou conhecimento aprofundado sobre Cinema, apenas um grande interesse. Ponto número dois é que não irei destrinchar as simbologias do filme, tem vídeos no YouTube fazendo  isso de forma mais completa, esse texto apenas expressa minhas impressões e opiniões. Dito isto, vamos ao filme.

   Mother! ou Mãe! é o filme mais recente de Darren Aronofsky, um dos diretores norte americanos que considero mais competente da atualidade, sempre com técnicas bem executadas, que contribuem para contar a sua história de forma assertiva, impactante e delinear a sua própria personalidade, é quase impossível não saber que um filme tem a mão do Darren Aronosfky. Com Mãe! não foi diferente, o trabalho é permeado pela personalidade inerente as obras do diretor, em alguns momentos o filme remete ao Roman Polanski, em outros até ao famigerado Lars Von Trier, mas sempre tendo bem marcada a sua originalidade.

   A premissa é, de certa forma, simples. Um casal formado por um poeta em crise de criatividade e sua esposa bem mais jovem vivem em paz em meio à natureza na casa que pertencera a família do homem durante a sua infância. Enquanto ele tenta retomar o seu trabalho de forma satisfatória, ela passa os dias reconstruindo a casa que havia sido destruída em um incêndio, investindo assim seu tempo em algo para a felicidade de seu cônjuge.  Esse modo de vida bucólico passa a ser interrompido por visitantes inesperados, um fã louco dos trabalhos do poeta, sua esposa invasiva e até mesmo os filhos desse segundo casal irão por fim a paz dos donos da casa, mais necessariamente da mulher, pois o homem interpretado por Bardem é receptivo e se envaidece com as visitas, gerando cada vez mais situações inusitadas e inconvenientes.

   O próprio Aronofsky divulgou para a impressa qual a sua ideia por trás da história, identificando a protagonista interpretada pela Jennifer Lawrence como a Mãe natureza, o marido interpretado pelo Javier Bardem como O Criador e o casal vivido por Ed Harris e Michelle Pfeiffer como Adão e Eva. Construindo dessa forma uma analogia ao novo testamento da Bíblia, algo recorrente na filmografia do diretor são trabalhos baseados em textos e passagens bíblicas, como Fonte da Vida(2006) e Noé (2014). Isso porém não torna as interpretações de suas obras engessadas e de cunho religioso, ele bebe da fonte do livro sagrado do cristianismo para elaborar metáforas contundentes e aplicáveis a sociedade atual e aos indivíduos da mesma, mas sempre permitindo e convidando o público a refletir e repensar essas escrituras.

   Desse modo a palavra que mais descreve o filme pra mim é subjetividade, cada um pode tirar a interpretação que quiser da história, é repleta de símbolos, de arquétipos e referências que vai levar cada espectador a formular a sua própria conclusão sobre o que acabou de ver, o certo é que ninguém vai ficar indiferente a obra.  A escalada de eventos proporcionada pelos desencadeamentos dos acontecimentos é incômoda, inesperada, em alguns pontos propositalmente exagerada, eu enlouqueci junto à personagem durante a exibição e é aqui que devo dizer que o filme não irá agradar a todo mundo. É uma jornada difícil, não de compreender, há filmes infinitamente mais incompreensíveis, mas é uma tarefa árdua, pois toca em pontos sensíveis e nisso reside a coragem da obra.

   A intenção está clara, ele conta a sua história de forma metafórica doa a quem doer e que cada um interprete como bem entender os acontecimentos. É um filme que vai fazer todo mundo refletir sobre a sua vida particular, a relação com o outro e principalmente com o mundo.  A grande metáfora bíblica é muito bem executada, em certos pontos o filme brilha, porém na minha opinião pessoal em determinado momento o filme passa a ser sobre tanta coisa que acaba sendo até mesmo sobre nada. Não quero ser injusto e dizer que é uma obra vazia, muito pelo contrário, foi apenas a sensação da minha experiência pessoal. As atuações são todas ótimas com destaque para a essência maldosa da personagem da Michelle Pfeiffer e para Javier Bardem cínico e condescendente em cada olhar e cada nota da voz. Jennifer Lawrence manda bem, mas não alcança o seu máximo aqui. Vemos uma outra faceta da atriz conhecida por suas personagens femininas fortes e independentes, nesse novo trabalho vemos uma mulher que embora se mostre ativa está devotada a figura do marido, permanecendo submissa a maior parte da projeção com sua voz restrita, contida e esse é um dos pontos mais interessantes da experiência.

   Nós acompanhamos a história com a câmera praticamente acoplada ao ombro da protagonista, seguimos o ponto de vista dessa mulher. Acredito que esse elemento seja decisivo para o incômodo que será nos proporcionado para meia hora final do filme, na qual os acontecimentos atingem o nível máximo de tensão sendo difícil até mesmo permanecer na sessão. Uma das leituras possíveis sobre o filme é de que se trata de uma crítica não somente da relação da humanidade com a mãe natureza, mas também dos papéis do homem e da mulher ao longo de tempo nas diversas sociedades e que ainda perdura. Porém acho que particularmente essa questão é abordada mas não tem um desfecho que sinalize uma perspectiva positiva, isso me fez sair da sala com um gosto amargo na boca.

 

   O meu veredito é que embora metáforas bíblicas não sejam nenhuma novidade, nem para o cinema de forma geral e nem para o diretor,  Mãe! é um filme importante. Incômodo, árduo, mas essencialmente rico em significado, corajoso e que deveria ser assistido por todo mundo, embora não vá agradar a grande maioria. É um dos trabalhos mais instigantes do ano, cheio de pretensão sim, mas que é alcançada de forma impactante e que dificilmente será esquecido. Um dos melhores trabalhos de Darren Aronofsky ao lado de Cisne Negro e Réquiem Para Um Sonho. Recomendado especialmente para quem gosta de Roman Polanski, Lars Von Trier e Michael Haneke.

 

Autoria de Henrique Santos

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