Lista #1 – Top 10 de Livros Lidos em 2014

Em 2014, eu li exatamente 30 livros dos mais diferenciados autores e gêneros. Queria escrever sobre o que achei de cada leitura, mas seria muito complicado depois algum tempo lembrar a peculiaridade de cada um, por isso, resolvi listar os que mais mexeram comigo, isto é, o meu Top 10 literário de 2014.

Apenas dois exemplares foram lançados no ano passado, já outros dois são do retrasado e um do anterior. Os outros cinco são leituras de outras épocas, mas totalmente atemporais, então, podemos dizer que esta lista é meio a meio contemporânea e clássica. Se tratando de literatura, acredito que devemos sempre balancear os dois. Em contagem regressiva, eis os selecionados:

  1. A Culpa é das Estrelas (John Green, 2012, p. 286)

A Culpa e das Estrelas

Por causa de todo o furor e os recordes de vendas, eu me interessei em saber o que este livro tinha de tão especial. Após ser o mais vendido no mundo editorial no ano passado, sua adaptação também foi o filme mais visto no Brasil em 2014. Se você ainda não sabe o motivo de milhares de pessoas lerem o livro ou correrem para o cinema, eu explico.

John Green misturou humor e lágrimas, além de brincar com a metalinguagem da recepção dos leitores sobre seu livro. Além disso, o tema “câncer” deixou de ser chato e corrosivo para abrir espaço de forma natural, de como viver com a doença, ao invés de esperar a morte. Assim, Hazel e Gus viraram personagens ícones de uma geração. É a primeira vez que vi uma história deste tipo não soar piegas e com mensagens de superação. Se divirta e se emocione de página em página.

  1. Amor Líquido (Zygmunt Bauman, 2004, p. 190)

amor liquido

O sociólogo polonês Bauman faz uma análise das relações humanas cada vez mais frágeis no contexto social. Grande parte da obra é dedicada ao relacionamento amoroso e como o indivíduo está perdido sem saber lidar com o Outro e a tecnologia. Quando mais eu lia, mais eu percebia como o discurso social nos molda para além de uma vontade própria.

É difícil sair da bolha social. Logo de início, o autor nos explica que o “amor” pode ser comparado facilmente a uma transação financeira e, por isso, ficamos tão arrasados quando perdemos todo o nosso investimento na outra pessoa. Para ele, o afeto se tornou moeda da troca nas transações cotidianas. Apesar de escrito há 10 anos, a atualidade segue os mesmos preceitos. Ótimo para refletir sobre as posições dos sujeitos no mundo.

  1. Alta Fidelidade (Nick Hornby, 1995 p. 312)

Alta Fidelidade

Eternizado pelo filme com John Cusack e Jack Black, o romance é bem semelhante à película, o que me deixou fascinada pela ótima adaptação do roteiro. Claro que, como todo livro, tem muito mais recheio do que uma projeção de duas horas. As listas do protagonista são intermináveis, engraçadas e melancólicas. Comecei a fazer os meus próprios rankings mentalmente (como este!).

A narrativa de Hornby é poderosa, exatamente por dar voz a Rob, um personagem irresponsável e desapegado, exceto por sua melancolia, a qual ele é totalmente devoto (vide tantas memórias por meio de listas). Há uma reflexão sobre relacionamento e suas causalidades a partir dos 30, tudo bem longe do romance e mais próximo da praticidade da vida, o que faz o leitor amar ou odiar todos os personagens. Fico com a primeira opção.

  1. A Espinha Dorsal da Memória (Bráulio Tavares, 1989, p. 165)

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Lançado muito antes do gênero fantástico se tornar sensação nas prateleiras das livrarias, a publicação reúne excelentes contos lúdicos e metafóricos. Para a mim, sua linguagem é um verdadeiro quebra-cabeça transmitindo mensagens criptografas. Lembra bastante os contos de Malba Tahan, mas misturados aos cenários de Neil Gaiman.

Além dos contos, a obra é composta por uma história no final sobre os elementos dos primórdios da humanidade, ambientada no espaço. A última parte me remeteu ao livro A Arte da Guerra, só que galáctico. Eu adorei cada aventura e teve algumas que eu tive que reler para compreender o raciocínio fascinante do autor brasileiro.

  1. Dias Perfeitos (Raphael Montes, 2014 , p. 280)

Dias Perfeitos

Descrito por alguns críticos como o “Stephen King Brasileiro”, eu tive que conferir o que o escritor nacional de 24 anos tinha de tão maravilhoso em seu texto. Devo confessar que fiquei meio desapontada com a escrita super simples, mas a história realmente te envolve. Claro, pretendo ler o seu primeiro livro, Suicidas, em breve.

Com uma pitada de Norman Bates na veia e viagens pelo Rio de Janeiro, Raphael nos leva ao “romance” macabro de Téo, um solitário estudante de medicina, e Clarice, uma jovem de espírito livre. As aspas indicam que romance é apena um eufemismo para o vício doentio do rapaz pela moça, que o torna capaz de qualquer coisa, mesmo. Os acontecimentos nos deixam arrebatados, além de nos transformar em cúmplices de Téo. Isso tudo ao mesmo tempo em que tentamos decifrar a mente perturbada de ambos.

  1. O Oceano no Fim do Caminho (Neil Gaiman, 2013, p. 208)

O Oceano no Fim do Caminho

A fantasia vive na mente das crianças, depois de adultos perdemos o poder de ver as criaturas sobrenaturais ao nosso redor. É assim, mais ou menos, que começa a narrativa desta maravilhosa fábula, contada 40 anos após seus acontecimentos. O narrador relembra a grande aventura da sua infância em que ele descobriu o amor, os mistérios da vida e todo o oceano.

Isso tudo pode soar subjetivo demais, no entanto, só há um jeito de saborear as páginas desta obra: se deixando levar pela fantasia narrativa. É uma história de amadurecimento, mas de forma muito mais criativa e abstrata. Afinal, as lembranças de anos atrás podem ser fiadas como verdades ou é apenas um modo como nos apropriamos dos acontecimentos e o recontamos para vida? O discurso é simples, mas a percurso é delicioso.

  1. Risíveis Amores (Milan Kundera, 1987 [1970], p. 236)

Risiveis-Amores

Desde que li A Insustentável Leveza do Ser, devoro os livros de Kundera saboreando cada grão de sabedoria de seus peculiares núcleos narrativos.  Neste livro, o autor reúne sete contos profundos sobre relacionamentos amorosos, de forma que a aceleração das batidas de um coração pode ascender um estopim para a destruição de um quarteirão inteiro.

Em poucas páginas, Kundera constrói caminhos inimagináveis, mas totalmente palpáveis. O conto O Jogo da Carona é meu preferido, pois me desafiou a compreender a imprevisibilidade humana. Como de costume, sua ficção traz teorias filosóficas entranhadas, passo longos momentos me questionando sobre suas reflexões. Se quiser começar a lê-lo, esta obra é, com certeza, uma ótima porta de entrada.

  1. Fragmentos de um Discurso Amoroso (Roland Barthes, 2003 [1977], p. 343)

Fragmentos de um Discurso Amoroso

O filósofo francês constrói um dicionário explicativo por meio de verbetes que compreendem todas as noções do mito socrático e o mito romântico sobre o amor. Com recurso figurativo, ele remete passagens de obras da literatura, onde o amor era o seu ponto principal, como O Sofrimento do Jovem Werther, de Goethe, considerada a primeira obra do romantismo, e O Banquete, de Plantão, conhecido por apresentar as iniciais noções míticas do amor.

As palavras pinçadas, tais como Abraço, Coração, Escrever, Nuvens, Recordação, Ternura, Verdade, ganham desenvolvimentos associativos da vida do apaixonado e sofredor, passando por todas nuances do amor romântico. Como uma ideia construída socialmente, o amor apresenta facetas instigantes e um final fatídico para os mais aficionados.

  1. Fim (Fernanda Torres, 2013, p. 208)

Fim

Se você já conhece a irreverência de Fernanda Torres por suas atuações, pode apostar que o seu texto, ainda bem, está repleto dela. O Fim é narrado em primeira pessoa por um grupo de amigos sexagenário contanto suas aventuras e desventuras pela vida. Cada capítulo é a narração de Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto ou Ciro.

Conhecemos pelas beiras e por completo o que cada um pensa do outro e de que forma o fim chega para todos. Numa reflexão sobre a vida de um homem na terceira idade e o que eles esperam até a hora do último suspiro, a gente dá gargalhadas e concorda com toda filosofia de botequim ensinada pelos cinco. Até os personagens secundários ganham nossa atenção nessa gostosa leitura. Não há para quem eu não recomende.

  1. Garota Exemplar (Gillian Flynn, 2013, p. 448)

Garota Exemplar

Li este livro em apenas quatro dias. Resumindo, não consegui descolar dele até terminá-lo. Os capítulos intercalados narrados em primeira pessoa por Nick e Amy são fascinantes. Pois ouvimos um, logo em seguida o outro e não fazemos a menor ideia de quem está falando a verdade. Aliás, personagens podem mentir para os leitores?

Flynn mostra que pode, mas não de maneira tola. Amy é um personagem forte e muito racional (já é uma das minhas favoritas). Apesar da brilhante atuação de Rosamund Pike no cinema, o filme está bem aquém do livro. Infelizmente, a adaptação muda um pouco das motivações da personagem, enfraquecendo-a, mas tornando a história menos complexa para os expectadores. Por isso, talvez, não tenha sido indicado ao Oscar de Melhor Adaptação. Só digo isso: Leia!

Publicado por Letícia Alassë

Jornalista pesquisadora sobre comunicação, cultura, linguística e psicanálise. Mestranda de Jornalismo Internacional na Universidade Paris VIII, na França. Nascida no Rio de Janeiro, apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quando diante da tela. Mora atualmente na Cidade Luz.

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