Mais Pesado é o Céu | Crítica
top of page
  • Foto do escritorMessias Adriano

Mais Pesado é o Céu | Crítica

Atualizado: 29 de mar.


Ana Luisa rios segurando um bbzin

O filme “Mais Pesado é o Céu” contém já no título uma certa poesia inerente ao estilo do diretor cearense Petrus Cariry, artista que se mostrou capaz de produzir obras excelentes como O Barco, A Jangada de Welles e, meu favorito, A Praia do Fim do Mundo. É uma pena, portanto, que dessa vez o diretor demonstre de forma um tanto quanto injustificada uma mão tão fatigante nas ambições estéticas e narrativas deste último trabalho.


Antônio (Matheus Nachtergaele) é a pessoa que realizou diversos serviços laborais para sobreviver e parte em busca de uma esperança de melhor condições financeiras no Piauí. Decide fazer uma pausa onde morou no interior do Ceará, na antiga cidade de Jaguaribara, e que foi submersa para a construção da barragem do Açude Castanhão (fica desde já a recomendação do lindo documentário Memórias da Chuva, que tem o acontecimento como tema). Lá encontra Teresa (Ana Luisa Rios), que também vai em busca de condições melhores de sobrevivência, mas em Fortaleza, e um bebê abandonado na beira do açude.


Ana luisa rios e Matheus  sentados à mesa.

Já neste início, existem composições imagéticas que combinam muito bem o esteticamente belo com o funcional para a narrativa, como dispor Teresa diminuta no canto quadro frente à imponência de um enorme açude e uma natureza imensa ao seu redor. O problema é que mais pesada é a mão de quem decidiu abusar do uso de drones em trocentas mil tomadas aéreas, as quais eu imagino que também devam ser utilizadas pelo governo do estado como publicidade, porque pensa num asfalto bem cuidado, o que esses personagens andam.


Ligado a isso está um sem número de cenas com mise-en-scènes esquisitas pela artificialidade, como uma dos personagens caminhando em plano geral, um exatamente do lado do outro, até pararem em um primeiro plano, virarem um pro outro e soltarem algumas frases de impacto. Ou vagando pelos cômodos da casa e pararem um em cada parte da soleira da porta para também dizerem frases iluminadas. E quem nunca foi pro meio do asfalto de uma rodovia estadual passar alguns minutos em pé ali fumando um cigarro de olhos fechados se não for pra fazer um quadro BEM bacana em um filme, certo? Aí o seu amigo chega e fica exatamente na outra faixa (também no meio do asfalto) e solta outra frase de efeito. Strike a pose! Uau...


Essas falas declamadas passam longe da naturalidade espontânea que o filme poderia às vezes buscar nos protagonistas. Há um meio termo estranho aqui, no qual os acontecimentos não fazem parte de um universo poético e mais aberto ao imaginoso (como em Inferninho, de Guto Parente), mas também não se encontram na fluidez despojada. Muitas passagens são desnecessariamente verbalizadas ou estendidas um pouco a mais do que deveriam: se nos comovemos ao ver Antônio estirando a mão para pedir esmola na rodovia, ou Teresa chorando sentada e abandonada, estica-se um pouco mais as cenas para ouvirmos Antônio dizer “Menino com fome, menino com fome...” e Teresa se levantar e gritar de raiva a plenos pulmões.


Matheus como Antônio pedindo esmola no mei da rua

O desequilíbrio também pode ser exemplificado na atmosfera de suspense no momento em que os personagens chegam em uma casa abandonada. Por não ser propriamente bem construída, a passagem soa abrupta, deslocada e chega de forma artificial. Bem diferentes são os momentos de elegância da montagem de Firmino Holanda e do próprio Petrus, que quase fazem valer o filme, como no momento no qual Teresa sobe no caminhão, corta para Antônio arrumando os lençóis de uma cama, e depois há um corte para Teresa comprando alimentos em uma loja de conveniência, passagem bem sugestiva e no tom correto sobre como a mulher conseguiu aquele dinheiro. Ou o momento embalado por uma música de forró no qual os personagens, distantes, se entreolham e há quase um estalo de paixão.


Vivemos submersos num oceano de ar”. Bonito, né? Pesado, né? O problema é que Petrus levou a sério demais a etimologia do seu primeiro nome (vindo de “pedra”, rá!) e decidiu dar pedrada atrás de pedrada. Esse excesso fez com que ele se esquecesse da sutileza em algum canto.


 

Nota: 2/5



41 visualizações1 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo

Pacarrete

bottom of page