É interessantíssimo revisitar esse filme depois de conhecer um pouco mais do trabalho da Eliza, com Never, Rarely, Sometimes, Always. A diretora, em sua estreia, já demonstra seu talento em conduzir personagens com dramas internos e inertes em uma melancolia profunda (notem o olhar dos protagonistas de seus dois filmes), advinda de suas escolhas e vivencias. Aqui, ela aborda a vida de um rapaz homossexual que cresceu em um bairro onde a sua referência de masculinidade é a marginalizada. Outsiders que moram do lado errado dos trilhos e que estão fadados a repetir as mesmas histórias (como fora seu pai e sua mãe), independente das gerações. Ao dar-se conta dessa realidade, o protagonista busca dentro de si, uma resposta para fugir de tal destino. A fotografia é um dos pontos altos do filme, pois esta nos transpassa os anseios e medos do protagonista através de enquadramentos fechados, por vezes escuros e até mesmo assustadores, como nas cenas noturnas na praia, em seus encontros. A trilha sonora com os sintetizadores melancólicos da Arca, também colaboram de maneira positiva na imersão da obra, e eu não poderia deixar de falar da atuação do protagonista, que através de seu olhar, entrega tudo o que o filme quer demonstrar. Essa é uma obra triste, mas real. É a realidade de inúmeros caras que nunca aceitarão sua natureza e que buscam sanar seus instintos em sexo perigoso e casual. Eliza não poderia ser mais cirúrgica em sua abordagem. Belo e necessário filme.
Esse é um exemplo de um excelente filme ruim! Vamos levar em consideração as coisas boas: excelente ambientação, o que torna a experiência imersiva e amedrontadora, trilha sonora marcante, boas perseguições (o que foi aquela cena do protagonista sendo perseguido pelas crianças n'uma cidade abandonada?! incrível!), boa construção de personagens infantis, tendo tanto os bons garotos quanto os maus, personalidades cativantes, e por fim: o elemento surpresa que fora o clímax final. O filme se assemelha muito ao final do livro O Iluminado e de certa forma, cria uma conexão com o Kingverse, o qual eu particularmente sou fã. A direção é inspirada e o realizador conseguiu tirar bom proveito com o pouco que tinha para trabalhar. As atuações dos protagonistas adultos são péssimas e eu nem vou entrar no mérito dos efeitos visuais e práticos porque eu já sabia que o filme não me ofereceria. Portanto, que experiência divertida que fora esse filme. Uma boa surpresa.
O filme tem um texto bastante preconceituoso ao tratar das religiões de matriz africanas. Isso me incomodou um pouco. E o plot principal também é bastante previsível. No mais, a atmosfera urbana do filme é extremamente sufocante, muito bem construída, tal qual Taxi Driver. Um bom filme para um sábado a tarde.
Slasher divertido demais! Não entendi nada dessa nota, tendo o filme entregado exatamente o que se propôs a entregar. O epílogo explicou, também, a proposta do cara. Vocês que não gostaram, assistiram esperando exatamente o quê?!
Quando uma criança era uma criança Ela andava com seus braços balançando, queria o córrego pra ser um rio, o rio pra ser uma torrente, e uma poça pra ser o mar.
Quando uma criança era uma criança, não sabia que era uma criança, tudo era tão cheio de espírito, e todas as almas eram uma só.
Quando a criança era uma criança não tinha opinião a respeito de nada, não tinha hábitos e sentava-se sempre de pernas cruzadas, descansando de uma corrida e tinha o cabelo lambido e não fazia poses na hora da fotografia.
Quando a criança era uma criança era a época destas perguntas: Por que eu sou eu e não você? Por que estou aqui, e por que não lá? Quando foi que o tempo começou, e onde é que o espaço termina? A vida debaixo do sol não é só um sonho? Aquilo que eu vejo e escuto e cheiro não é só uma ilusão de um mundo de antes do mundo? Considerando-se o mal e as pessoas. A maldade realmente existe? Como pode aquilo que sou, quem eu sou, não ter existido antes que eu viesse a ser, e que algum dia, eu, quem eu sou, não serei mais quem eu sou?
Quando uma criança era uma criança, Mastigava espinafre, ervilhas, bolinhos de arroz, e couve-flor cozida, e comia tudo isto não somente porque precisava comer.
Quando uma criança era uma criança, Uma vez acordou numa cama estranha, e agora faz isso de novo e de novo. Muitas pessoas, então, pareciam lindas e agora só algumas parecem, com alguma sorte. Visualizava uma clara imagem do Paraíso, e agora no máximo consegue só imaginá-lo, não podia conceber o vazio absoluto, que hoje estremece no seu pensamento.
Quando uma criança era uma criança, brincava com entusiasmo, e agora tem tanta excitação como tinha, porém só quando pensa em trabalho.
Quando uma criança era uma criança, Era suficiente comer uma maçã, uma laranja, pão, E agora é a mesma coisa.
Quando uma criança era criança, amoras enchiam sua mão como somente as amoras conseguem, e também fazem agora, Avelãs frescas machucavam sua língua, parecido com o que fazem agora, tinha, em cada cume de montanha, a busca por uma montanha ainda mais alta,e em cada cidade, a busca por uma cidade ainda maior, e ainda é assim, alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvores como, com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje, tinha uma timidez na frente de estranhos, como ainda tem. Esperava a primeira neve, Como ainda espera até agora.
Quando a criança era criança, Arremessou um bastão como se fosse uma lança contra uma árvore, E ela ainda está lá, chacoalhando, até hoje.
A Viagem de Chihiro (2002) Dir. Hayao Miyazaki • revisão • ★★★★★ + ❤️ _____________________________________________ Revisão dessa obra-prima, dessa vez com minha mãe e sobrinha. Esse aqui é p'ra quem não conhece se apaixonar pelo Studio Ghibli. Realmente o filme é uma viagem. Uma viagem imaginativa, fantasiosa e imersiva com toda a genialidade que o cinema pode nos oferecer. Um roteiro completo, que revolucionara o cinema de animação de muitas formas. O filme têm muito simbolismo e referências a cultura asiática, mas tão interessante quanto, é assistir e tirar de lá, suas próprias conclusões frente as metáforas e afins. Magnífico! Disponível na Netflix.
Faça a Coisa Certa (1989) Dir. Spike Lee • ★★★★½ #BlackLivesMatter _____________________________________________ 1989 - 2020: nada mudou. É interessante e triste perceber o quão atual esse filme se faz. Eu fui vê-lo, pela primeira vez, já sabendo que este seria a obra-prima do aclamado diretor e expoente do movimento negro dos EUA, Spike Lee. Sabendo, também, do assunto do qual este aborda, motivado pelo atual contexto em que vivemos (Black Lives Matter). Ao chegar ao clímax do filme, foi como levar um soco no estômago. A verossimilhança só traz a tona uma realidade que há muito já é conhecida por todos, mas que ninguém fazia nada para mudar, justamente porque mesmo as pessoas estando nos seus lugares, na sua comunidade, o poder exercido ali nunca fora o deles (a pizzaria do Sal é pode ser vista como uma metáfora para tanta coisa...). E digo mais, pode-se espelhar aquele pequeno bairro do filme como um reflexo da América inteira. Primoroso em sua mensagem. Tecnicamente impecável e me passei para como o tão jovem Spike conseguiu transpor tanto talento em tela, como atrás das câmeras. O filme têm problemas de ritmo, mas que ao fim, acaba não interferindo no poder que ele têm e na mensagem que quer passar. Excelente! Disponível no Telecine Play. _____________________________________________
“Acho que tem muita gente boa na América, mas também tem muita gente ruim na América, e os ruins parecem deter o poder para, em tal posição, bloquear aquilo de que eu e você precisamos. Como a situação é essa, precisamos preservar o direito de fazer o necessário para acabar com essa situação. Isso não significa que eu pregue a violência, mas não sou contra usar violência para se defender; nem chamo de violência se for para se defender. Chamo de inteligência.” - Malcon X
As Memórias de Marnie (2014) Dir: Hiromasa Yonebayashi • ★★★★★ + ❤️ _____________________________________________A primeira vista, a primeira coisa que nos chama atenção é a arte incrível do filme. Cenários riquíssimos, como já de costume do Studio Ghibli, tomando aqui, outras proporções no que tange a beleza e locações. Mas o trunfo principal do filme se dá pelo roteiro. A construção de mistério em torno da existência (?) e amizade da Marnie com a protagonista, é o ponto alto. Temos aqui uma protagonista apática, que toma forma a partir do momento em que a amizade começa a ser construída, onde podemos, então, entender seus anseios, tristezas, medos e tudo que antes tornava a personalidade de uma menininha de 10 anos, tão complexa. De resto... somente a experiência do filme pode levá-los a entender o quão gratificante é essa trajetória, sobretudo, de autodescoberta. Grandioso! Disponível na Netflix.
Sonata de Outono (1978) Dir. Ingmar Bergman • ★★★★★ + ♥ _____________________________________________ Este filme equivale a uma hora e meia da cena do jantar de Hereditário. A histeria está aqui presente, mas os diálogos... ah, os diálogos. Saídos da mente genial do mestre do drama, Bergman. O filme traz um final de semana, onde uma filha que há muito não vê a mãe, a recebe em sua casa. E a partir disso, o conflito se estabelece. Todos os gestos, olhares e aspectos mínimos, refletem diretamente a inquietação de uma para com a outra. Há algo muito errado ali. Uma relação fragilizada, machucada, onde a única coisa que as une, é a música. A instalação do conflito quando se estabelece é de matar. Drama familiar sempre fora meu subgênero favorito do drama e esse aqui é um dos melhores expoentes de tal. As atuações são dignas de toda aclamação possível, mas uma atenção especial para Ingrid Bergman que vive uma antagonista que seria facilmente uma vilã histórica de novela das 21h. No mais, aconselho a todos que querem curtir um bom drama que lhe fará ficar pensando por horas. Disponível no Telecine Play.
Este aqui é sim um filme de serial killer, porém diferente de outros, onde nos é apresentado um porquê, uma identidade do assassino e de seus atos. Nesse aqui o Haneke nos introduz os antagonistas, mas brinca com a ideia de não dar nome a eles (o "gorducho" é chamado de pelo menos 4 nomes diferentes), de dar motivações para seus atos (independente de estigmas sociais, como o loiro conta duas histórias que poderiam ser utilizadas para "justificar" os atos e ambas são totalmente diferentes) ou de identidade social, onde os assassinos poderiam ser estudantes de medicina, favelados ou mimados entediados. Não existe uma característica para eles. Serial killers podem surgir de qualquer meio social, com ou não uma motivação a seus atos. Não o bastante, Haneke também brinca com a forma com a qual nos é entregue o gênero. Formuláico , com finais esperados e atitudes que o espectador espera que os protagonistas tomem. Aqui, ainda que até tenhamos esse gostinho de vitória, como nas famosas final girls, nos é tirado.
Perfeito! O filme, para mim, fala bastante sobre a exerção de poder. Sobre utilizar o conhecimento como arma para criar, em todo contexto, indivíduos subexistentes ou alienados. Gosto também da ideia da arte ter o poder de libertação, no filme.
Cirúrgico em sua mensagem! O filme pode ser vendido como uma experiência sensorial, porque ele realmente é. A trilha sonora é como um protagonista, é necessária e sempre se faz sempre presente. A locação não poderia ter sido melhor escolhida, a Escandinávia é uma região que exala mistério. E a Scarlett, o ponto alto. Magnífica como uma alien em pele humana. Ou é isso que o filme quer te fazer acreditar. Aí que eu chego na parte interessante.
Eu captei toda a história como uma grande metáfora para a liberdade feminina, a sexualidade livre e aflorada. Uma mulher que é independente, bonita, solteira e bem resolvida sexualmente, não pode ser humana, certo?! Foge aos princípios de uma mulher decente, vivente em uma sociedade patriarcal. É irreal que uma mulher como a Scarlett possa seduzir caras estranhos daquela maneira sem que não haja consequências, diretas ou indiretas. Mas é aí que entra a sagacidade do diretor. No ato final, sua pele é rasgada, sua privacidade é invadida e ainda que não seja um corpo humano, esse corpo é desrespeitado, queimado, deixado a margem de estradas. É assim que são vistas mulheres livres no mundo, como aliens, under the human skin.
Eu amei todo o tom atmosférico e futurístico. A direção é de mão cheia, com enquadramentos perfeitos e com uma riqueza de detalhes para que o expectador possa elevar ao máximo o seu potencial interpretativo. Com certeza irei rever em alguns anos. Excelente! 10/10
"Excuse me... a-ha!" Poesia cotidiana pura! O filme consegue transpassar sentimento mesmo com tanta simplicidade. A incisão dos poemas de Paterson é o ponto-chave do filme. Tive alguns insights de criatividade durante a experiência. Talvez eu saia amanhã para comprar um livro de notas para mim. Excelente. Adam Driver perfeito. E tem uma cena em especial que... puta que pariu, este cara vai ser um dos maiores de sua geração. Excelente! 10/10
Vi quando criança. Minha irmã trabalhava em uma locadora e esse foi um dos inúmeros filmes que ela trouxe p'ra casa. Lembro de ter ficado aterrorizado e fascinado para querer saber mais da história real e das crianças (o que tornava o filme muito mais assustador), mas nunca encontrei nada sobre. Enfim, me marcou positivamente e lembro de algumas cenas cruciais. Não pretendo rever porque ele tá de boa na minha memória afetiva.
O 3º ato é estarrecedor. Apenas ele. Filme mediano por culpa da história original ser mediano. O talento do diretor está presente, ainda que eu não curta a estética (que filtro horrível da porra!) dele, o cara sabe conduzir a tensão. Ewan tá muito bem como Danny Torrence e eu adorei a nova co-protagonista, esbanja carisma. 7,5/10.
"Como você é linda. Vi você na enorme onda que nos consumiu. Tudo que eu vi foram seus olhos e suas lágrimas, senti seu choro me arrastando para o litoral. Seus olhos nunca me deixaram. Desde que eu me afoguei, você tem sido meu sol brilhante dentro das profundezas."
Lindo filme, visualmente falando. Amei as cores e as locações e principalmente a trilha sonora, o que me ajudou a imergir no filme que têm seus méritos, mas ainda assim falta algo. O roteiro é bem simples e metafórico. Fácil de captar a mensagem social emitida pela diretora, importante daquela realidade e da conjuntura atual do mundo, porém o filme não captura o expectador a ponto de se apegar aos personagens ou comprar o romance pré estabelecido. Enfim, vale a pena a experiência, porém não veria de novo. 7,5/10.
Ratos de Praia
3.0 236É interessantíssimo revisitar esse filme depois de conhecer um pouco mais do trabalho da Eliza, com Never, Rarely, Sometimes, Always.
A diretora, em sua estreia, já demonstra seu talento em conduzir personagens com dramas internos e inertes em uma melancolia profunda (notem o olhar dos protagonistas de seus dois filmes), advinda de suas escolhas e vivencias.
Aqui, ela aborda a vida de um rapaz homossexual que cresceu em um bairro onde a sua referência de masculinidade é a marginalizada. Outsiders que moram do lado errado dos trilhos e que estão fadados a repetir as mesmas histórias (como fora seu pai e sua mãe), independente das gerações. Ao dar-se conta dessa realidade, o protagonista busca dentro de si, uma resposta para fugir de tal destino.
A fotografia é um dos pontos altos do filme, pois esta nos transpassa os anseios e medos do protagonista através de enquadramentos fechados, por vezes escuros e até mesmo assustadores, como nas cenas noturnas na praia, em seus encontros. A trilha sonora com os sintetizadores melancólicos da Arca, também colaboram de maneira positiva na imersão da obra, e eu não poderia deixar de falar da atuação do protagonista, que através de seu olhar, entrega tudo o que o filme quer demonstrar.
Essa é uma obra triste, mas real. É a realidade de inúmeros caras que nunca aceitarão sua natureza e que buscam sanar seus instintos em sexo perigoso e casual. Eliza não poderia ser mais cirúrgica em sua abordagem. Belo e necessário filme.
Pixote: A Lei do Mais Fraco
4.0 449Todo homem precisa de uma mãe.
Colheita Maldita
3.1 494 Assista AgoraEsse é um exemplo de um excelente filme ruim!
Vamos levar em consideração as coisas boas: excelente ambientação, o que torna a experiência imersiva e amedrontadora, trilha sonora marcante, boas perseguições (o que foi aquela cena do protagonista sendo perseguido pelas crianças n'uma cidade abandonada?! incrível!), boa construção de personagens infantis, tendo tanto os bons garotos quanto os maus, personalidades cativantes, e por fim: o elemento surpresa que fora o clímax final.
O filme se assemelha muito ao final do livro O Iluminado e de certa forma, cria uma conexão com o Kingverse, o qual eu particularmente sou fã.
A direção é inspirada e o realizador conseguiu tirar bom proveito com o pouco que tinha para trabalhar. As atuações dos protagonistas adultos são péssimas e eu nem vou entrar no mérito dos efeitos visuais e práticos porque eu já sabia que o filme não me ofereceria.
Portanto, que experiência divertida que fora esse filme. Uma boa surpresa.
Praia do Futuro
3.4 935 Assista AgoraRaso demais.
Coração Satânico
3.9 494O filme tem um texto bastante preconceituoso ao tratar das religiões de matriz africanas. Isso me incomodou um pouco. E o plot principal também é bastante previsível. No mais, a atmosfera urbana do filme é extremamente sufocante, muito bem construída, tal qual Taxi Driver. Um bom filme para um sábado a tarde.
Veludo Azul
3.9 777 Assista AgoraNão há explicação heterossexual para esse filme.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraMistura de fluxo de consciência com surrealismo.
Vigiados
2.6 366 Assista AgoraSlasher divertido demais!
Não entendi nada dessa nota, tendo o filme entregado exatamente o que se propôs a entregar. O epílogo explicou, também, a proposta do cara. Vocês que não gostaram, assistiram esperando exatamente o quê?!
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista Agoraindivíduo vs. estado (capitalista e ineficiente)
Asas do Desejo
4.3 493 Assista AgoraQuando uma criança era uma criança
Ela andava com seus braços balançando,
queria o córrego pra ser um rio,
o rio pra ser uma torrente,
e uma poça pra ser o mar.
Quando uma criança era uma criança,
não sabia que era uma criança,
tudo era tão cheio de espírito,
e todas as almas eram uma só.
Quando a criança era uma criança
não tinha opinião a respeito de nada,
não tinha hábitos
e sentava-se sempre de pernas cruzadas,
descansando de uma corrida
e tinha o cabelo lambido
e não fazia poses na hora da fotografia.
Quando a criança era uma criança
era a época destas perguntas:
Por que eu sou eu e não você?
Por que estou aqui, e por que não lá?
Quando foi que o tempo
começou, e onde é que o espaço termina?
A vida debaixo do sol não é só um sonho?
Aquilo que eu vejo e escuto e cheiro
não é só uma ilusão de um mundo de antes do mundo?
Considerando-se o mal e as pessoas.
A maldade realmente existe?
Como pode aquilo que sou, quem eu sou,
não ter existido antes que eu viesse a ser,
e que algum dia, eu, quem eu sou,
não serei mais quem eu sou?
Quando uma criança era uma criança,
Mastigava espinafre, ervilhas, bolinhos de arroz,
e couve-flor cozida,
e comia tudo isto não somente porque precisava comer.
Quando uma criança era uma criança,
Uma vez acordou numa cama estranha,
e agora faz isso de novo e de novo.
Muitas pessoas, então, pareciam lindas
e agora só algumas parecem, com alguma sorte.
Visualizava uma clara imagem do Paraíso,
e agora no máximo consegue só imaginá-lo,
não podia conceber o vazio absoluto,
que hoje estremece no seu pensamento.
Quando uma criança era uma criança,
brincava com entusiasmo,
e agora tem tanta excitação como tinha,
porém só quando pensa em trabalho.
Quando uma criança era uma criança,
Era suficiente comer uma maçã, uma laranja, pão,
E agora é a mesma coisa.
Quando uma criança era criança,
amoras enchiam sua mão como somente as amoras conseguem,
e também fazem agora,
Avelãs frescas machucavam sua língua,
parecido com o que fazem agora,
tinha, em cada cume de montanha,
a busca por uma montanha ainda mais alta,e em cada cidade,
a busca por uma cidade ainda maior,
e ainda é assim,
alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvores
como, com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje,
tinha uma timidez na frente de estranhos,
como ainda tem.
Esperava a primeira neve,
Como ainda espera até agora.
Quando a criança era criança,
Arremessou um bastão como se fosse uma lança contra uma árvore,
E ela ainda está lá, chacoalhando, até hoje.
A Viagem de Chihiro
4.5 2,3K Assista AgoraA Viagem de Chihiro (2002)
Dir. Hayao Miyazaki • revisão • ★★★★★ + ❤️
_____________________________________________
Revisão dessa obra-prima, dessa vez com minha mãe e sobrinha. Esse aqui é p'ra quem não conhece se apaixonar pelo Studio Ghibli.
Realmente o filme é uma viagem. Uma viagem imaginativa, fantasiosa e imersiva com toda a genialidade que o cinema pode nos oferecer.
Um roteiro completo, que revolucionara o cinema de animação de muitas formas.
O filme têm muito simbolismo e referências a cultura asiática, mas tão interessante quanto, é assistir e tirar de lá, suas próprias conclusões frente as metáforas e afins. Magnífico!
Disponível na Netflix.
Faça a Coisa Certa
4.2 398Faça a Coisa Certa (1989)
Dir. Spike Lee • ★★★★½
#BlackLivesMatter
_____________________________________________
1989 - 2020: nada mudou.
É interessante e triste perceber o quão atual esse filme se faz. Eu fui vê-lo, pela primeira vez, já sabendo que este seria a obra-prima do aclamado diretor e expoente do movimento negro dos EUA, Spike Lee. Sabendo, também, do assunto do qual este aborda, motivado pelo atual contexto em que vivemos (Black Lives Matter).
Ao chegar ao clímax do filme, foi como levar um soco no estômago. A verossimilhança só traz a tona uma realidade que há muito já é conhecida por todos, mas que ninguém fazia nada para mudar, justamente porque mesmo as pessoas estando nos seus lugares, na sua comunidade, o poder exercido ali nunca fora o deles (a pizzaria do Sal é pode ser vista como uma metáfora para tanta coisa...). E digo mais, pode-se espelhar aquele pequeno bairro do filme como um reflexo da América inteira.
Primoroso em sua mensagem. Tecnicamente impecável e me passei para como o tão jovem Spike conseguiu transpor tanto talento em tela, como atrás das câmeras. O filme têm problemas de ritmo, mas que ao fim, acaba não interferindo no poder que ele têm e na mensagem que quer passar. Excelente!
Disponível no Telecine Play.
_____________________________________________
“Acho que tem muita gente boa na América, mas também tem muita gente ruim na América, e os ruins parecem deter o poder para, em tal posição, bloquear aquilo de que eu e você precisamos. Como a situação é essa, precisamos preservar o direito de fazer o necessário para acabar com essa situação. Isso não significa que eu pregue a violência, mas não sou contra usar violência para se defender; nem chamo de violência se for para se defender. Chamo de inteligência.”
- Malcon X
As Memórias de Marnie
4.3 668 Assista AgoraAs Memórias de Marnie (2014)
Dir: Hiromasa Yonebayashi • ★★★★★ + ❤️
_____________________________________________A primeira vista, a primeira coisa que nos chama atenção é a arte incrível do filme. Cenários riquíssimos, como já de costume do Studio Ghibli, tomando aqui, outras proporções no que tange a beleza e locações.
Mas o trunfo principal do filme se dá pelo roteiro.
A construção de mistério em torno da existência (?) e amizade da Marnie com a protagonista, é o ponto alto.
Temos aqui uma protagonista apática, que toma forma a partir do momento em que a amizade começa a ser construída, onde podemos, então, entender seus anseios, tristezas, medos e tudo que antes tornava a personalidade de uma menininha de 10 anos, tão complexa.
De resto... somente a experiência do filme pode levá-los a entender o quão gratificante é essa trajetória, sobretudo, de autodescoberta. Grandioso!
Disponível na Netflix.
Sonata de Outono
4.5 492Sonata de Outono (1978)
Dir. Ingmar Bergman • ★★★★★ + ♥
_____________________________________________
Este filme equivale a uma hora e meia da cena do jantar de Hereditário. A histeria está aqui presente, mas os diálogos... ah, os diálogos. Saídos da mente genial do mestre do drama, Bergman.
O filme traz um final de semana, onde uma filha que há muito não vê a mãe, a recebe em sua casa. E a partir disso, o conflito se estabelece.
Todos os gestos, olhares e aspectos mínimos, refletem diretamente a inquietação de uma para com a outra. Há algo muito errado ali. Uma relação fragilizada, machucada, onde a única coisa que as une, é a música.
A instalação do conflito quando se estabelece é de matar. Drama familiar sempre fora meu subgênero favorito do drama e esse aqui é um dos melhores expoentes de tal.
As atuações são dignas de toda aclamação possível, mas uma atenção especial para Ingrid Bergman que vive uma antagonista que seria facilmente uma vilã histórica de novela das 21h.
No mais, aconselho a todos que querem curtir um bom drama que lhe fará ficar pensando por horas.
Disponível no Telecine Play.
Violência Gratuita
3.4 1,3KCada vez que assisto, pego uma nova interpretação.
Adoro como o diretor brinca com as convenções do gênero do horror.
Este aqui é sim um filme de serial killer, porém diferente de outros, onde nos é apresentado um porquê, uma identidade do assassino e de seus atos. Nesse aqui o Haneke nos introduz os antagonistas, mas brinca com a ideia de não dar nome a eles (o "gorducho" é chamado de pelo menos 4 nomes diferentes), de dar motivações para seus atos (independente de estigmas sociais, como o loiro conta duas histórias que poderiam ser utilizadas para "justificar" os atos e ambas são totalmente diferentes) ou de identidade social, onde os assassinos poderiam ser estudantes de medicina, favelados ou mimados entediados. Não existe uma característica para eles. Serial killers podem surgir de qualquer meio social, com ou não uma motivação a seus atos.
Não o bastante, Haneke também brinca com a forma com a qual nos é entregue o gênero. Formuláico , com finais esperados e atitudes que o espectador espera que os protagonistas tomem. Aqui, ainda que até tenhamos esse gostinho de vitória, como nas famosas final girls, nos é tirado.
Dente Canino
3.8 1,2KPerfeito!
O filme, para mim, fala bastante sobre a exerção de poder. Sobre utilizar o conhecimento como arma para criar, em todo contexto, indivíduos subexistentes ou alienados.
Gosto também da ideia da arte ter o poder de libertação, no filme.
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraCirúrgico em sua mensagem!
O filme pode ser vendido como uma experiência sensorial, porque ele realmente é. A trilha sonora é como um protagonista, é necessária e sempre se faz sempre presente. A locação não poderia ter sido melhor escolhida, a Escandinávia é uma região que exala mistério. E a Scarlett, o ponto alto. Magnífica como uma alien em pele humana. Ou é isso que o filme quer te fazer acreditar. Aí que eu chego na parte interessante.
Eu captei toda a história como uma grande metáfora para a liberdade feminina, a sexualidade livre e aflorada. Uma mulher que é independente, bonita, solteira e bem resolvida sexualmente, não pode ser humana, certo?! Foge aos princípios de uma mulher decente, vivente em uma sociedade patriarcal.
É irreal que uma mulher como a Scarlett possa seduzir caras estranhos daquela maneira sem que não haja consequências, diretas ou indiretas. Mas é aí que entra a sagacidade do diretor. No ato final, sua pele é rasgada, sua privacidade é invadida e ainda que não seja um corpo humano, esse corpo é desrespeitado, queimado, deixado a margem de estradas. É assim que são vistas mulheres livres no mundo, como aliens, under the human skin.
Eu amei todo o tom atmosférico e futurístico. A direção é de mão cheia, com enquadramentos perfeitos e com uma riqueza de detalhes para que o expectador possa elevar ao máximo o seu potencial interpretativo. Com certeza irei rever em alguns anos. Excelente! 10/10
Paterson
3.9 353 Assista Agora"Excuse me... a-ha!"
Poesia cotidiana pura!
O filme consegue transpassar sentimento mesmo com tanta simplicidade. A incisão dos poemas de Paterson é o ponto-chave do filme. Tive alguns insights de criatividade durante a experiência. Talvez eu saia amanhã para comprar um livro de notas para mim.
Excelente. Adam Driver perfeito. E tem uma cena em especial que... puta que pariu, este cara vai ser um dos maiores de sua geração. Excelente! 10/10
Eles
3.2 352Vi quando criança. Minha irmã trabalhava em uma locadora e esse foi um dos inúmeros filmes que ela trouxe p'ra casa. Lembro de ter ficado aterrorizado e fascinado para querer saber mais da história real e das crianças (o que tornava o filme muito mais assustador), mas nunca encontrei nada sobre. Enfim, me marcou positivamente e lembro de algumas cenas cruciais. Não pretendo rever porque ele tá de boa na minha memória afetiva.
As Ondas
3.9 165 Assista AgoraUma carta de amor ao R&B.
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraO 3º ato é estarrecedor.
Apenas ele. Filme mediano por culpa da história original ser mediano. O talento do diretor está presente, ainda que eu não curta a estética (que filtro horrível da porra!) dele, o cara sabe conduzir a tensão. Ewan tá muito bem como Danny Torrence e eu adorei a nova co-protagonista, esbanja carisma. 7,5/10.
Atlantique
3.6 129"Como você é linda. Vi você na enorme onda que nos consumiu. Tudo que eu vi foram seus olhos e suas lágrimas, senti seu choro me arrastando para o litoral. Seus olhos nunca me deixaram. Desde que eu me afoguei, você tem sido meu sol brilhante dentro das profundezas."
Lindo filme, visualmente falando. Amei as cores e as locações e principalmente a trilha sonora, o que me ajudou a imergir no filme que têm seus méritos, mas ainda assim falta algo. O roteiro é bem simples e metafórico. Fácil de captar a mensagem social emitida pela diretora, importante daquela realidade e da conjuntura atual do mundo, porém o filme não captura o expectador a ponto de se apegar aos personagens ou comprar o romance pré estabelecido. Enfim, vale a pena a experiência, porém não veria de novo. 7,5/10.
Os Garotos Perdidos
3.8 707 Assista AgoraTensão homoerótica genuína.
Ziggy Stardust and the Spiders from Mars
4.7 42O show é lindo, a atmosfera mais ainda, porém eu esperava algo mais épico.