Filmes Hulkéfilos (Hulk Cinéfilo™)

Lista criada por Pedro Coelho Xavier, que busca trazer filmes que extinguem o elitismo por trás do cinema e nos fazer questionar sobre as regras que compõe um "bom filme".

Declaração do autor:

"Não, Sr. Cinéfilo pseudo cult, o cinema não morreu ainda. Mas está morrendo desde que nasceu. Como quem leva um golpe e sangra aos poucos até morrer. E quem deu esse golpe foi tu e vários outros “amantes de cinema” iguais a você. Vocês tentam matá-lo sempre que tentam impor regras e limitar as obras cinematográficas à suas pequenas visões de mundo colonizadas sobre o que é um filme ou não. E o que torna um filme bom ou não. Impondo cada vez mais regras técnicas e estéticas de como um bom cinema deve ser. O cinema pós-irônico não é mais nada se não uma resposta, um soco no estômago de vocês, um contra-ataque. Não nos curvamos as suas regrinhas que derivam de uma cultura de crítica cinematográfica europeia e/ou estadunidense. Fazemos cinema como podemos sem nos limitarmos a orçamentos.

O som tá com ruído? Foda-se. A fotografia tá estourada? Foda-se. Os atores gaguejaram? Foda-se. Plataformas de cinema elitistas como o “Letterboxd”, “The Movie Database”, “IMDB” se recusam a reconhecer nossas obras como cinema e as deletam? Fodam-se. Não nos prendemos à essas amarras estéticas colonizadoras que nos diz como nossa arte deve se comportar ou não para ser arte “de verdade”. Se não pudermos fazer filmes com aparatos tecnológicos de primeiro mundo, filmamos com o celular. Se não pudermos contratar atores profissionais, chamamos amigos e/ou atuamos nós mesmos. Se não pudermos criar as imagens por nós mesmos, então nós as saquearemos desse sistema que nos mantém refém e as ressignificaremos dentro de nossas narrativas. Se não pudermos lançar nossa arte nos cinemas por não ser um "cinema profissional", postamos na internet. “Se a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Se avacalha e se esculhamba”. Pois a nossa arte e a nossa paixão estão acima de qualquer parâmetro elitista, conservador e limitador do que deve ser a arte.

Para a casa do caralho aqueles que vierem com o discurso pasteurizado de Joseph Goebbels sobre uma arte “pura e de poderosas formas estéticas”. Existe mais tesão num filme de José Mojica Marins ou de Petter Baienstorf do que num filminho pseudo conceitual da A24. A beleza de um plano sequência não está em filminho fetichista como "La La Land", que só quer criar um mundinho perfeito e alienado para poder viver. E sim num filme como "Sem Essa Aranha" que o usa para integrar a própria condição de subdesenvolvimento em sua forma. O poder experimental de um jumpcut não está em um filminho francês aleatório da década de 60, que acredita estar rompendo regras cinematográficas vigentes, quando na realidade só está impondo novas, tal como as vanguardas europeias fizeram nas últimas décadas. Essa beleza está num curta como "O Baú" que faz a sua montagem na hora através do botão de pausar gravação do celular que filma a cena. Porque essa foi a maneira que o cineasta encontrou de montar. E, se ainda assim, não for suficiente, o cineasta termina de editar no seu celular com o primeiro editor que encontrar. E ainda colocando logo no primeiro plano, o seu protagonista encarando frontalmente e em seguida dando as costas para a marca d’água colonizadora que esse editor deixa nos vídeos, para taxá-los como sendo seus.

Cineastas que nutrem paixão e desejo de verdade fazem seu cinema como podem, com os meios que possuem, sem se curvar a imposições vigentes de uma indústria capitalista. O estado atual em que o mundo se encontra e, consequentemente, que o mundo do cinema se encontra é prova definitiva disso. A indústria cinematográfica, incapaz fazer e lançar filmes de maneira “profissional”, encontra-se em sua maior crise em décadas. Enquanto isso, maio de 2020 se revela como sendo uma das épocas mais prolíficas para aqueles que se viram como podem (Enfia a película no rabo Sean Baker e volte a filmar com IPhone).

“Vulgar” é o cacete. "Propositalmente ruim" é o corno do seu pai. Somos “pós-irônicos” e reconhecemos que o nosso próprio movimento está fadado ao fracasso e ao esquecimento, por se tratar de um cinema que não liga para nada, apenas pros filmes. Mas e daí? Vamos aproveitar cada segundo em que estivermos dispostos para fazermos nossas obras do jeito que quisermos e pudermos enquanto debochamos da própria situação que nos encontramos. Como quem aceita a própria mazela e brinca com ela. E que se dane a sua opinião elitista de merda no “IMDB” e a sua quantidade de estrelas com meias verdades escritas abaixo delas no “Letterboxd”. Nós não cagamos regras sobre como a arte deve ser, apenas fazemos arte. CINEASTAS DO MUNDO, UNI-VOS!"