[Em construção]
Desde o início da história da indústria cinematográfica, se pode observar a presença importante de mulheres nas mais diversas funções. O documentário E a Mulher Criou Hollywood (2016), por exemplo, recupera que, até 1925, metade dos filmes produzidos em Hollywood era dirigido por mulheres. Além do espaço se tornar cada vez mais restrito a homens, o que se viu foi o apagamento da história dessas mulheres pioneiras.
Com um novo ideário em disputa em função da Nova Hollywood que se colocava a partir do final da década de 1960, a figura do diretor de cinema não se delimitaria mais como uma mera função dentro da lógica industrial. Com os filmes que estavam a surgir, a ideia posta em jogo era do diretor como autor, seguindo as premissas desenvolvidas por François Truffaut, em ensaio notório para a Cahiers du Cinema. Com isso posto e todo o caldo cultural diante da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a presença de mulheres na direção de cinema começou a se tornar uma questão considerável. Com muitas dificuldades e restrições, algumas mulheres conseguiram realizar seus filmes.
Provavelmente o exemplo de produção mais prolífica deve se encontrar na também atriz Elaine May (1932), que dirigiu O Caçador de Dotes (1971), O Rapaz que Partia Corações (1972) e Mikey & Nicky (1976), além de ter roteirizado Amigo é pra Essas Coisas (1971), de Otto Preminger, e O Céu Pode Esperar (1978), de Warren Beatty e Buck Henry. Ainda que seus filmes sejam, principalmente, bons exemplos uma nova comédia que se fazia no cinema norte-americano da década de 1970, no último filme em que atuou como diretora, entregou um competente drama policial. Além dela, temos os exemplos de Barbara Loden (1932-1980), que dirigiu, escreveu e protagonizou o filme Wanda (1970), fortemente influenciado pela Nouvelle Vague francesa; Joan Micklin Silver (1935), na direção do drama de época Rua da Esperança (1975); e Claudia Weill (1947) com Girlfriends (1978), uma comédia dramática de tom intimista. Além delas, há o caso de Barbara Peeters, frequente colaboradora de Roger Corman, que esteve à frente da direção de alguns filmes B, como: The Dark Side of Tomorrow (1970) e Os professores da escola de verão (1974), mas que também atuou em outras funções em dezenas de outras obras.
No entanto, a presença de mulheres como diretoras não se restringiu às produções de ficção e também ocorreu nas produções de documentários. É o caso de Shirley Clarke (1919-1997), com o filme Retrato de Jason (1967), notável produção que traz passagens de uma entrevista de doze horas com Jason Holliday, negro, homossexual, garoto de programa e aspirante a artista de cabaré; Barbara Kopple (1946), diretora de Harlan County - Tragédia Americana (1976), filme que cobre a Greve de Brookside, onde 180 mineiros e suas esposas enfrentaram os proprietários da empresa de energia em que trabalhavam; e Ellen Hovde e Muffie Meyer, que atuaram na equipe de direção de Grey Gardens (1975), que registra o cotidiano de duas mulheres isoladas há mais de vinte anos.