Maior clássico de todos os tempos, revolução do cinema e obra-prima que se deve assistir antes de morrer. A obra eterniza-se. Sim, porque não podemos colocar no passado; ela ainda impressiona os apreciadores do cinema. Impressiona por sua qualidade de direção, de imagem, roteiro, maquiagem, figurino - até para comparações atuais. O filme é realmente tudo o que o público e a crítica prometem. Reúne fãs de todos os estilos e cruza gerações e repassa ensinamentos de estratégia e astúcia.
São múltiplos os vieses mostrados na trilogia de O Poderoso Chefão. Vieses esses que ultrapassam a caracterização da obra simplesmente como filme de máfia. Mais que isso, somos apresentados a conflitos psicológicos universais (como as desordens de personalidade dos personagens - antissociais e borderline), exclusão da mulher das decisões, e até a Maquiavel, sobre como tomar e permanecer no poder.
Porém, de todas as teorias de genialidade de Mario Puzo e Francis Ford Coppola (sim, até de que previram o 11 de setembro), uma é correta: eles certamente perceberam que a máfia italiana não combinava com tráfico de drogas (apesar deles não terem qualquer relação com o crime organizado). A própria estrutura das famílias em 'capos-caporegimes-soldados', se desmantela quando acrescentamos o fator dos narcóticos. A prova disso viria somente a ser retratada em obras posteriores (menção a outro clássico The Sopranos, mas isso fica para outra hora).
Além de tudo, a trilogia nos dá uma verdadeira aula de história do século XX ao passar por temas da forma mais singular: Segunda Guerra Mundial, ciclos da imigração, a revolução cubana e a movimentação do eixo financeiro para a crescente Las Vegas. Nos mostra ainda como funciona na prática a "Lei da Omertà", lei do silêncio que deve regrar a vida de um mafioso.
Ao passar por curiosidades do filme, vemos uma persistência de Coppola em apostar em atores contra executivos da Paramount; inspirações na história real da máfia; regulações da Italian-American Civil Rights League, liderada por ninguém mais, ninguém menos que Joe Colombo; a presença do gato na cena inicial de forma icônica não prevista no roteiro; a cena do cavalo com uma cabeça de verdade; montagem das mortes a partir de fotos reais e ainda cenas a mais só pra reunir Al Pacino e Marlon Brandoe a mais curiosa: os encontros desagradáveis entre Frank Sinatra e Puzo, sobre a semelhança entre o personagem de Johnny Fontane (Al Martino) e o cantor.Com uma das sonografias mais perfeitas e emblemáticas da sétima arte, uma direção impecável, e uma fotografia mais profunda e inexplicável que os olhos de Capitu, as cenas nunca sairão da nossa memória. A obra nos transporta no tempo e na história. São mais de nove horas de película e, mesmo assim, ao terminá-la, ficamos com a sensação de vazio. Tenho certeza que outros fãs, assim como eu, o repetem por várias vezes, sempre aprendendo e mergulhando nessa sociedade dos anos 1950.
Por: Breno de Melo