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Acho bom ressaltar que apesar de ser um filme muito bom, não apresenta nada de muito inovador. Aqui temos Ostlund, mais uma vez, fazendo uma crítica social que se não fosse por duas temporadas completas de The White Lotus e um oscar de melhor filme para Parasite, provavelmente seria muito mais relevante.
O filme gira ao redor de três atos, focados em personagens/circunstâncias diferentes que aos poucos se conectam em prol de uma narrativa maior. Após o prólogo, onde o filme joga na sua cara o porquê de seu título, somos introduzidos a Carl e Yaya, um casal de modelos que vivem um relacionamento que é uma transação financeira, feita pra conseguir likes, onde a beleza que alimenta a fama de Yaya é o motor da relação que termina por si só aprisionando Carl em uma posição onde ele funciona como um acessório qualquer de moda, posição essa a qual ele aceita pelas vantagens que isso traz a ele - mais disso mais tarde.
No segundo ato, agora em um cruzeiro, vemos uma representação atual, cômica e exagerada de como é viver em sociedade atualmente: é um navio, onde a classe trabalhadora faz seu serviço todos os dias e os ricos vivem como querem, fazendo o que querem e com quem querem, ambos os lados da moeda ignorando que ninguém esta dirigindo o navio, há uma tempestade lá fora e que o capitão, na verdade, está bêbado e ninguém sabe o que vai acontecer. Usando do exagero e do cômico, o diretor aqui ataca a upper class e mostra através de diferentes discursos como o ser humano pode ser estupido quando ascende ou nasce em uma posição de poder.
Por último, temos a ilha, onde todas as atribuições de beleza e dinheiro são removidas e voltamos ao começo de tudo, onde finalmente estaríamos livres para não descriminar, não julgar e reajustar e corrigir tudo que estava errado no navio. Certo? Não, errado. Aqui vemos que pela própria condição humana, voltamos a valorizar as mesmas coisas só que com caras diferentes. Durante o terceiro ato, é a beleza de Carl que paga as dívidas, o dinheiro passa a ser comida, uma nova capitã surge e com essa, mais um novo set de regras que apesar de melhores, são tão corruptas quanto as que existiam no navio. A tríade dos atos do filme se conecta para fechar um ciclo/circulo/triângulo de tristeza onde não importa a posição em que estejamos, sempre terminamos no começo. O final em aberto, com a trilha EDM tocando, é a cereja do bolo. Se Abigail matar Yaya, não estaria ela usando de sua posição de poder de uma forma tão horrível quanto a classe rica durante o segundo ato? Se ela não matar Yaya, eles voltariam a condição inicial, onde ela provavelmente perderia tudo que conseguiu ali e seria, novamente, apenas mais uma gerente de banheiro? Perpetuando a posição de poder daquelas pessoas horríveis.
Palmas também para Charlbi, que durante a cena final remete ao começo do filme quando sua personagem menciona que é manipuladora, a atuação ali dela é muito sútil, mas extremamente precisa. Não vejo esse filme como um ataque a burguesia e sim como um ataque a todos nós, afinal, a diferença entre cobrar sexo como pagamento por comida ou produzir granadas em massa é apenas a escala que se usa para julgar aos atos.
tô lendo os livros, volto com uns 5 anos pra reclamar que o livro é melhor que a série também.