Filme sensacional: realista e apaixonado; inteligente e sensível. Para além do que é a figura do professor, ou da própria função educativa da escola, do sistema educacional; para além do que tudo isso significa em Cuba, ou na América Latina, ou ainda que poderia significar em comunidades com análoga situação de pobreza. São essas questões dividindo o mesmo espaço com a individualidade do universo psicológico de Carmela e de Chala (especialmente desse último), que enquanto professora e aluno, são também seres humanos tão lindos quanto comuns. É tudo isso orquestrado sobre o signo do que é ser trabalhador, ser interventivo, em certo sentido revolucionário em atitudes e palavras cotidianas. Sobre ter postura. É a possibilidade de o taxista desconhecido intervir na conversa dos passageiros para dizer ao menino que respeite sua avó. A possibilidade de respeitar por amor e não por mera obediência. Sobre ter a pobreza como uma constante econômica, estritamente: um substantivo para a ideia de não possuir coisas – e nenhuma outra conotação valorativa. O filme diz tanto! E tem uma maestria sensacional que consegue comunicar com detalhes, com ambientação, com ritmo, com expressões faciais das magníficas atuações dos personagens principais. Aliás, o que são esses olhares da Alina Rodriguez? E esse menino maravilhoso, Armando Valdés? Gente...
Bom filme, com uma mais do que pertinente crítica à nossa medicina ocidental enferrujada nas suas engrenagens e nas do capitalismo implacável. O ponto alto são as atuações fantásticas de Leto e desse maravilhoso - que vem surpreendendo a cada dia - Matthew McConaughey. É um longa fofo, não chega a ser extraordinário, mas cativa especialmente com a doçura caipira que pretende força, macheza e certa ignorância, mas se constitui primeiramente em bondade, caráter e esperteza. Recomendo.
O fato de a musa de Chris Kirk, V., precisar ter sua identidade ocultada é contornado com maestria pela direção ao fazer da dificuldade um mistério, que ritma a história e que conecta os fatos fora de uma linha de tempo retilínea. Linha essa que não é nada mais senão enfadonha e didaticamente preguiçosa pra qualquer produção artística. O doc tem uma pretensão poética que ao passo em que possibilita uma maior abertura de visão de mundo por parte do próprio protagonista, também abre lacunas que não nos permitem ver detalhes dos fatos através de uma visão mais encorpada. A fluidez que o enredo possui é uma faca de dois gumes que escurece e perde aprofundamentos, mas por outro lado ganha com a habilidade encantadora de contar sua própria história que o protagonista possui. Se Kirk estivesse com a câmera, certamente o filme teria a cara de um Henri-Georges Clouzot estadunidense, que em determinado ponto da história aceita a obsessão amorosa pra se tornar obcecado por sua própria vida. O doc se perde por um momento com a ilustração dos chats, rendendo mais tempo do que deveria para conservar o mistério e o ritmo da narração; tempo que serviria para explicar como, por exemplo, Chris se estabeleceu no Brasil, ou sobre seu estranhamento entre as culturas norte-americanas e colombianas. O excesso de dicas e sutilezas a respeito do porque ele se tornou um criminoso me deixaram particularmente decepcionadas, pois os diretores parecem terem sido deixados levar pelo carisma de Chris e só, e não pela série de razões que comungam para levar alguém ao crime. E esclarecer essa perspectiva é importante porque o fato de o protagonista ser estrangeiro e ter uma boa história pra contar não pode justificar qualquer atitude, ao menos não se não servirem para justificar as ações criminosas de todos os outros brasileiros comuns no presídio, que não possuem as mesmas características ou habilidades. No mais, recomendo :)
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Numa Escola de Havana
4.2 71Filme sensacional: realista e apaixonado; inteligente e sensível.
Para além do que é a figura do professor, ou da própria função educativa da escola, do sistema educacional; para além do que tudo isso significa em Cuba, ou na América Latina, ou ainda que poderia significar em comunidades com análoga situação de pobreza.
São essas questões dividindo o mesmo espaço com a individualidade do universo psicológico de Carmela e de Chala (especialmente desse último), que enquanto professora e aluno, são também seres humanos tão lindos quanto comuns. É tudo isso orquestrado sobre o signo do que é ser trabalhador, ser interventivo, em certo sentido revolucionário em atitudes e palavras cotidianas. Sobre ter postura. É a possibilidade de o taxista desconhecido intervir na conversa dos passageiros para dizer ao menino que respeite sua avó. A possibilidade de respeitar por amor e não por mera obediência. Sobre ter a pobreza como uma constante econômica, estritamente: um substantivo para a ideia de não possuir coisas – e nenhuma outra conotação valorativa.
O filme diz tanto! E tem uma maestria sensacional que consegue comunicar com detalhes, com ambientação, com ritmo, com expressões faciais das magníficas atuações dos personagens principais. Aliás, o que são esses olhares da Alina Rodriguez? E esse menino maravilhoso, Armando Valdés? Gente...
Por favor, assistam.
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraBom filme, com uma mais do que pertinente crítica à nossa medicina ocidental enferrujada nas suas engrenagens e nas do capitalismo implacável. O ponto alto são as atuações fantásticas de Leto e desse maravilhoso - que vem surpreendendo a cada dia - Matthew McConaughey. É um longa fofo, não chega a ser extraordinário, mas cativa especialmente com a doçura caipira que pretende força, macheza e certa ignorância, mas se constitui primeiramente em bondade, caráter e esperteza. Recomendo.
A Vida Privada dos Hipopótamos
3.4 20O fato de a musa de Chris Kirk, V., precisar ter sua identidade ocultada é contornado com maestria pela direção ao fazer da dificuldade um mistério, que ritma a história e que conecta os fatos fora de uma linha de tempo retilínea. Linha essa que não é nada mais senão enfadonha e didaticamente preguiçosa pra qualquer produção artística.
O doc tem uma pretensão poética que ao passo em que possibilita uma maior abertura de visão de mundo por parte do próprio protagonista, também abre lacunas que não nos permitem ver detalhes dos fatos através de uma visão mais encorpada. A fluidez que o enredo possui é uma faca de dois gumes que escurece e perde aprofundamentos, mas por outro lado ganha com a habilidade encantadora de contar sua própria história que o protagonista possui. Se Kirk estivesse com a câmera, certamente o filme teria a cara de um Henri-Georges Clouzot estadunidense, que em determinado ponto da história aceita a obsessão amorosa pra se tornar obcecado por sua própria vida.
O doc se perde por um momento com a ilustração dos chats, rendendo mais tempo do que deveria para conservar o mistério e o ritmo da narração; tempo que serviria para explicar como, por exemplo, Chris se estabeleceu no Brasil, ou sobre seu estranhamento entre as culturas norte-americanas e colombianas.
O excesso de dicas e sutilezas a respeito do porque ele se tornou um criminoso me deixaram particularmente decepcionadas, pois os diretores parecem terem sido deixados levar pelo carisma de Chris e só, e não pela série de razões que comungam para levar alguém ao crime. E esclarecer essa perspectiva é importante porque o fato de o protagonista ser estrangeiro e ter uma boa história pra contar não pode justificar qualquer atitude, ao menos não se não servirem para justificar as ações criminosas de todos os outros brasileiros comuns no presídio, que não possuem as mesmas características ou habilidades. No mais, recomendo :)