Quando você perde o marido/a esposa, vira viúva (o). Quando você perde o pai/a mãe, vira órfão/órfã. E quando você perde um (a) filho (a), se transforma no que? O filme “A Metade de Nós”, dirigido e co-escrito por Flavio Botelho, fala sobre a caminhada do casal Francisca (Denise Weinberg) e Carlos (Cacá Amaral) após a perda do único filho Felipe, em decorrência de um suicídio.
Acompanhar o luto de Francisca e Carlos é vivenciar, com eles, as diversas etapas desse processo: a tentativa de compreender o que houve/os motivos por trás da decisão de Felipe; a dor que acompanha a vontade de falar sobre o ente querido que se foi; se permitir sentir a dor da perda e, principalmente, ser atropelado pela vida, que insiste em continuar e em seguir seu curso, independente de você estar pronto (a) para isso ou não.
“A Metade de Nós” é um filme marcado pela sutileza, mas principalmente pelas marcas que a morte de Felipe deixa em seus pais. Sobreviver à perda de um filho não é fácil. Neste sentido, os pontos altos do longa acabam sendo as atuações silenciosas e igualmente sutis de Denise Weinberg e Cacá Amaral.
Baseado nas próprias experiências do diretor Flávio Botelho, que perdeu uma irmã para o suicídio em 2007, “A Metade de Nós” ganhou o Prêmio do Público como Melhor Filme de Ficção Brasileiro na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada em 2023.
A construção de Dan Morgan (Mark Wahlberg), protagonista do filme “Plano em Família”, dirigido por Simon Cellan Jones, chama a atenção pela sutileza dos detalhes. Um devotado homem de família, um simpático vizinho, um bem-sucedido vendedor de carros, um homem nada violento. Porém, por trás dessa fachada, no olhar dele, a gente sente: Dan reprime o seu lado agressivo.
Tudo passa a fazer sentido quando nos é revelado que Dan, na realidade, vive uma vida dupla, uma vez que construiu essa persona como uma forma de esconder aquilo que ele realmente foi um dia: um assassino do governo, transformado em um dos líderes de um grupo de mercenários.
“Plano em Família”, portanto, aborda uma viagem de família que é mais uma das mentiras construídas por Dan. O que deveria ser um momento de descontração e de união familiar esconde a tentativa de fuga do protagonista quando seu paradeiro é descoberto pelo grupo de assassinos ao qual ele pertencia.
O filme se apoia, acertadamente, no carisma de Mark Wahlberg (que repete, aqui, o par romântico com Michelle Monaghan, com quem ele esteve também em “O Dia do Atentado”), que é o tipo perfeito para interpretar um simpático homem de família que é capaz de tudo pelos seus, mas também para se auto-defender. O longa tem bons momentos, com ênfase naqueles que colocam Dan na incômoda posição de sustentar sua mentira, enquanto defende sua família (sem que eles saibam de nada) dos seus antigos comparsas.
Numa determinada cena de “Uma Ideia de Você”, filme dirigido e co-escrito por Michael Showalter, Solène (Anne Hathaway) e Hayes (Nicholas Galitzine) conversam sobre a possibilidade - e as consequências - de se abrirem um para o outro. Certamente não na cabeça dele, mas na dela, surgem inúmeros motivos para a dissuadir dessa ideia. Ela tem 40 anos, ele tem 24. Ela tem uma filha adolescente, e passou por um divórcio bastante traumático. Ele é líder de uma boy band de sucesso, enquanto ela vive uma pacata existência como dona de galeria.
Ver o desenrolar do romance entre Solène e Hayes me deixou, pelo menos, com uma pergunta atrás da orelha: somente o amor é suficiente? Por trás de uma mulher que se sente viva e desejada novamente e de um homem que vivencia a realidade de sentimentos pela primeira vez, existem diversas barreiras no caminho para a felicidade, como o choque de gerações, a diferença de responsabilidades e a vivência de momentos de vida distintos.
Embora para “Uma Ideia de Você” todas essas questões sejam trabalhadas de forma superficial, elas contribuem para o senso de verdade que o filme nos passa. Boa parte do charme do longa vem da maneira como as situações são trabalhadas, e também da química entre Nicholas Galitzine e Anne Hathaway. Clichês por clichês, às vezes, tudo que nós precisamos é de uma comédia romântica raiz como essa. Este é um filme que cumpre por completo o seu papel.
A comédia romântica “Uma Manhã Gloriosa”, dirigida por Roger Michell, se passa no ambiente dos telejornais matinais, mais precisamente por trás das câmeras, nos bastidores desse tipo de programa. Centrado na figura da produtora Becky (Rachel McAdams), o filme acompanha, não só a sua rotina profissional, como também a forma como a vida profissional de Becky influencia na sua vida pessoal.
Desde a primeira cena, percebemos que, para Becky, o trabalho vem em primeiro lugar. Uma produtora dedicada, que abraça a difícil missão de reerguer/reinventar o telejornal matinal de uma emissora. A tarefa é hercúlea, pois o “Daybreak” (o programa que Becky comanda), tem uma equipe de trabalho acomodada e uma dupla de âncoras formada por pessoas que não se suportam.
Neste ponto, precisamos destacar os acertos de “Uma Manhã Gloriosa”. Harrison Ford (como a lenda do telejornalismo transformada num âncora insatisfeito com sua função) e Diane Keaton (como a ex-miss que adora ser âncora de um telejornal matinal) são uma atração à parte. Rachel McAdams, por sua vez, brilha como um tipo que ela sabe interpretar como ninguém: a mocinha boba e atrapalhada, gente como a gente.
Porém, talvez, o ponto mais legal de “Uma Manhã Gloriosa” é a construção da jornada de Becky, como a personagem principal que desafia um gênero que é conhecido pelos seus clichês. Ao vermos uma personagem feminina que prioriza o trabalho e não condiciona o seu sucesso pessoal à presença de um homem na sua vida (embora isso exista no caso de Becky), temos a transmissão de uma mensagem muito positiva.
O que queremos dizer com isso é que o que importa para “Uma Manhã Gloriosa” não é a relação amorosa. E sim, as interações pessoais que Becky constrói ao longo de seu caminho. A verdadeira parceria dela é a que ela estabelece com seus colegas de trabalho.
“Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola”. Essa é a maneira como Macabéa (Marcélia Cartaxo, numa das performances mais emblemáticas do cinema brasileiro) se auto-descreve. A personagem é considerada uma das mais clássicas da literatura brasileira e é uma criação de uma das mais celebradas autoras do nosso país, Clarice Lispector.
Na adaptação “A Hora da Estrela”, dirigida e co-escrita por Suzana Amaral, as características pessoais de Macabéa são potencializadas. Aos 19 anos, migrante nordestina, semi-analfabeta, curiosa, sonhadora, ingênua, infeliz e desprovida de qualquer maldade, Macabéa é engolida pela realidade de uma cidade grande e, principalmente, por relacionamentos (com o namorado Olímpio, com colegas de trabalho, com as companheiras de quarto) em que ela não consegue reconhecer as humilhações e os abusos.
Lançado originalmente em 1985, “A Hora da Estrela” ganhou uma cópia digitalizada e com áudio remasterizado, idealizada especialmente para a Sessão Vitrine Petrobras. O filme estreia em 16 de maio e é uma ótima oportunidade para o público conferir aquele que é considerado um dos melhores longas do cinema brasileiro em todos os tempos, vencedor do Urso de Ouro de Melhor Atriz, no Festival de Cinema de Berlim, em 1985.
Para quem tem, como lembrança recente, a performance de Johnny Depp como Willy Wonka no filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, de Tim Burton; assistir à atuação de Timothée Chalamet como a personagem em “Wonka”, filme dirigido e co-escrito por Paul King, é uma grande surpresa.
Sai de cena a personagem excêntrica e exagerada, quase infantilizada; e entra no palco um jovem Willy Wonka, que se destaca pelo seu caráter empreendedor e como inventor e por já, nessa idade, produzir um chocolate de sabor peculiar, que proporciona ao consumidor uma experiência única.
Como podemos perceber, então, “Wonka” é uma prequel, que nos coloca diante da personagem título antes dele ter alcançado o sucesso que assistimos posteriormente. Neste filme, Willy Wonka enfrenta a pobreza, o trabalho escravo, a corrupção e a competência desleal do mundo dos negócios, bem como tem seu primeiro encontro com os Umpa Lumpas, que viriam a auxiliá-lo no futuro.
O que chama a atenção em “Wonka” foi a principal solução narrativa adotada por Paul King. No filme, as barreiras que a personagem enfrenta, bem como o seu caráter e motivações, são reveladas por meio de cenas do gênero fantasia musical, o que faz com que o longa tenha um certo charme.
Entretanto, apesar disso, falta a “Wonka” o elemento fantástico e mágico que está inserido nos filmes “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.
Um dos mais populares e celebrado escritores brasileiros, Luis Fernando Verissimo é o objeto de retrato do documentário “Verissimo”, dirigido e co-escrito por Angelo Defanti. O filme captura a rotina do escritor nas vésperas de seu 80º aniversário, em 2016.
Chama a atenção em “Verissimo” o contraste entre a euforia advinda da chegada do natalício e a rotina calma, envolta em acontecimentos quase frívolos, do retratado.
No documentário, Verissimo é mostrado em todos os papeis que desempenha: o marido amoroso, o pai, o avô, o escritor ativo que mantém-se em atividade (seja escrevendo, dando entrevistas, lançando livros e participando de eventos públicos) e o idoso marcado por questões de sua própria idade.
Porém, confesso que o que mais ficou comigo enquanto assistia a “Verissimo” foi perceber o quanto o escritor tem um caráter introvertido dentro de si mesmo. Ele é silencioso, um homem de poucas palavras. Em alguns momentos, ele pareceu desconfortável/melancólico diante de algumas situações. Ao ponto de eu me perguntar: quando ele se sente à vontade? Será se diante do computador, ao escrever? Será se diante de sua cuidadosa e amorosa esposa? Será se diante da inocência dos netos? Não sei.
O que eu sei é que “Verissimo” comprova que estamos diante de alguém admirado por anônimos, porém, principalmente, um homem que é extremamente amado pela sua família.
Poucas vezes eu assisti a um filme tão problemático quanto “Clube Zero”, obra dirigida e co-escrita por Jessica Hausner. O longa aborda um tema bastante sério: os transtornos alimentares e o negacionismo científico de uma forma bastante equivocada, para não dizer irresponsável.
Numa escola que funciona num regime de internato, a Ms. Novak (Mia Wasikowska) é contratada para dar uma disciplina a sete estudantes intitulada “Comer Consciente”. No método estabelecido pela Ms. Novak, a alimentação está relacionada ao consumismo excessivo e à preocupação com a sustentabilidade do mundo que habitamos.
Neste ponto, é importante fazermos um adendo. Transtornos alimentares, normalmente, estão relacionados a problemas emocionais. Na medida em que a trama de “Clube Zero” avança, percebemos que boa parte dos estudantes que compõem a turma da Ms. Novak possuem diversos tipos de questões emocionais, a maior parte delas ligada aos relacionamentos que eles possuem com pais permissivos/omissos e que transferem para a escola a sua parte na criação dos filhos.
Por isso, a abordagem de “Clube Zero” soa problemática e irresponsável. Ao tratar sobre um tema tão sério de uma forma enfática no fanatismo, no radicalismo, na sátira e no limite tênue que pode mexer com a própria sobrevivência desses adolescentes, a diretora e co-roteirista Jessica Hausner subestima o poder que o cinema possui de influência sob as plateias ao redor do mundo. Ao invés de educar com a sua história, a diretora preferiu seguir um caminho perigoso que pode persuadir, de forma negativa, parte do público que assistirá a essa história.
“Houve uma avalanche, ficamos apavorados, mas tudo ficou bem”.
Sabe quando você repete várias vezes a mesma coisa para se assegurar de que aquilo foi a verdade? A família formada pelo casal Tomas (Johannes Bah Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) e seus dois filhos Vera e Harry vai repetir a frase que abre a nossa resenha crítica diversas vezes para que eles mesmos se certifiquem de que ela representa a verdade sobre o que ocorreu com eles.
Em uma viagem de férias numa estação de esqui, a família divide seu tempo entre os passeios pelas diversas trilhas, refeições pelos restaurantes e momentos de descanso no quarto. Tudo acontece na maior normalidade até que a vivência de uma avalanche durante um desses instantes abala as estruturas emocionais desta família.
“Força Maior”, filme dirigido e escrito por Ruben Östlund, aborda justamente as consequências das reações de Tomas e de Ebba, enquanto marido e mulher, enquanto pai e mãe, durante a vivência da avalanche; e como isso os afeta, no relacionamento, e, principalmente, naquilo que eles representam um para o outro e para seus filhos/amigos/relacionamentos próximos.
No caso de Ebba, temos a incredulidade diante da reação do marido. No caso de Tomas, a sua reação simboliza, para ele, uma quebra da sua masculinidade. Tolhido de seu papel como homem da família, provedor e protetor, Tomas só poderá recuperar a sua responsabilidade quando ele mesmo entrar em contato com seus sentimentos e com o ser que ele é.
O título “Força Maior” faz referência a um conceito oriundo do Direito e que está relacionado ao sentido de que a “força maior é aquela a que a fraqueza humana não pode resistir”. Ou seja, diante de um acontecimento extraordinário, ficamos impedidos de cumprir as nossas obrigações. Qualquer semelhança com a situação vivida por Tomas, Ebba e família é mera coincidência.
Uma das obras símbolos do regime ditatorial brasileiro, a Rodovia Transamazônica tem extensão de 4.260km, iniciando-se, na Região Nordeste, na cidade de Cabedelo-PB, findando na Região Norte, na cidade de Lábrea-AM. O filme “Iracema: Uma Transa Amazônica”, de Jorge Bodansky e Orlando Senna, utiliza a rodovia como o pano de fundo para o retrato de uma história que mistura os gêneros de ficção com documentário.
Ao acompanharmos a jornada do motorista de caminhão Tião Brasil Grande (Paulo César Pereio) e da prostituta Iracema (Edna de Cássia), o filme “Iracema: Uma Transa Amazônica” acaba fazendo uma crítica direta aos problemas sociais encobertos pela grandiosidade das obras alardeadas pelo regime militar. A pobreza extrema, a prostituição, a exploração da mão-de-obra (em alguns casos, escrava) e a violência são realçadas, reforçando uma questão que é antiga, e atual, no nosso país: a de que, para a prosperação da riqueza de muitos, implica também a miséria de tantos outros.
Por fazer uma mistura dos gêneros de ficção com documentário, a estética e o andamento da trama de “Iracema: Uma Transa Amazônica” são muito interessantes. A sensação que temos, ao assistir ao filme, é a de que a câmera captura a vida real, as situações cotidianas e corriqueiras, e que somente os atores seguiram um mínimo de roteiro. As interações deles com as pessoas com as quais eles cruzam pelo caminho são reações naturais àquilo que, provavelmente, era a linha norteadora da história.
Como curiosidade, “Iracema: Uma Transa Amazônica” é um filme que, apesar de ter circulado em diversos festivais de cinema europeus, foi uma obra cuja exibição foi proibida em solo brasileiro por muitos anos, devido à censura. O longa só pôde ser lançado comercialmente, no Brasil, em 1981, tendo conquistado o prêmio principal do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
“Pobres Criaturas”, filme dirigido por Yorgos Lanthimos, se passa durante a era Vitoriana, que marcou o regime liderado pela Rainha Vitória, num momento de muitas transformações econômicas, políticas e culturais para os países que vivem sob o regime da Monarquia Inglesa. Saber desse pano de fundo é muito importante para que possamos compreender um pouco sobre o que iremos assistir no longa.
A história de “Pobres Criaturas” é centrada na figura de Bella Baxter (Emma Stone, numa atuação vencedora do Oscar 2024 de Melhor Atriz), uma jovem mulher que é trazida de volta à vida por um médico/cientista excêntrico (Willem Dafoe). Na experiência de Godwin Baxter, o médico, Bella é uma mulher com cérebro de bebê, por isso, ela vai atingindo certos marcos temporais que são dignos da sua idade mental.
Uma mulher presa, sem contato com o mundo exterior; a verdadeira jornada de Bella, ao longo de “Pobres Criaturas” é a que a coloca enfrentando o mundo, usando seu corpo e o sexo como moedas de liberdade. É aqui que voltamos à Era Vitoriana, com seus momentos de luzes e de trevas, metaforizados pela fotografia de Robbie Ryan: o mundo da prisão de Bella é retratado em preto e branco; o mundo que Bella passa a conhecer lá fora é cheio de cores vibrantes, como a personalidade que ela revela ter.
Ao vivenciarmos a viagem de Bella, Yorgos Lanthimos desnuda diante de nós uma trajetória de uma mulher, numa época de pensamento conservador, em busca de sua liberdade, da igualdade e de poder ser aquilo que ela quiser, da forma que ela quiser. É uma história de força, que utiliza muito bem o tom irônico a seu favor.
Assistir a "Fartura", curta de Yasmin Thayná, é reviver memórias da minha infância, em que a família toda se reunia para celebrar/comemorar momentos especiais nos ambientes caseiros. Neste sentido, chama a atenção no curta a maneira como a diretora trabalha com os símbolos que remetem ao sentido de comemoração: a comida (farta), a música, a religião, a família, a decoração, as bebidas. Tudo reforçando o sentido do Aprender, do Fazer e do Memorar - os capítulos que integram essa história. Um filme marcado pelo afeto que nos faz sentir.
"Esta Não é a Sua Vida". Afirmações absurdas, mistura de ficção com realidade. O que seria real? O que seria ficção? Jorge Furtado faz um filme que elabora uma visão interessante sobre a vida, a monotonia da vida, as escolhas que fazemos, o rumo que tomamos. Um filme repleto de simplicidade e de um senso de humor único.
A alternância entre as imagens que mostram a perspectiva de quem Kadu é, como pessoa, com as que retratam a sua atuação como um dos líderes da Ocupação Vitória, na passeata que eles realizaram/promoveram. Curta documental de estética crua, condizente com a realidade que quer mostrar.
Uma minissérie dividida em cinco partes, cada qual retratando diferentes estágios da evolução do desaparecimento de Leanne, “Cinco Dias” sofre justamente com a irregularidade do relato proposto pela roteirista Gwyneth Hughes. No entanto, uma constante pode ser percebida no meio disso tudo: a de que somente a conclusão total de algo repleto de incertezas faz com que se termine a sensação de que toda uma vida está sendo consumida por um fato que ocorreu.
Os estereótipos são padrões construídos pela sociedade e que acabam influenciando na forma e na maneira como rotulamos e retratamos as pessoas. Baseado no livro escrito por Percival Everett, “Ficção Americana”, filme dirigido e escrito por Cord Jefferson, trabalha justamente com essa noção, fazendo um recorte especial sobre como os negros são retratados e vistos pela literatura e pelo cinema.
O professor e escritor Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright, numa sólida atuação indicada ao Oscar 2024 de Melhor Ator) tem, como objeto de estudo de suas obras, os aspectos sociais, políticos e culturais do ser negro nos Estados Unidos. Cansado de ver que o público aparenta estar mais interessado em ler histórias de personagens negros repletas de clichês, ele decide adotar um pseudônimo e escrever um livro de ficção com todas essas marcas que remetem ao lugar-comum relacionado aos negros norte-americanos.
Apesar de ter uma trama imbuída dessa crítica, “Ficção Americana” também se interessa pelos dramas particulares da vida de “Monk”. Na forma como a sua vida privada é retratada pelo diretor e roteirista Cord Jefferson, fica subentendido que o ponto de limite da personagem é um reflexo, também, não só das suas frustrações profissionais, como também das familiares e pessoais.
“Ficção Americana” é uma obra que tem um elemento muito forte em sua narrativa: a metalinguagem. Afinal, estamos diante de um filme cuja ideia principal é transmitida dentro da sua própria linguagem. Ainda que a crítica que Cord Jefferson deseja passar seja importante, fica a incômoda sensação de que o filme não atinge aquilo que deseja transmitir.
Uma obra carismática e com ótimo senso de humor, “Gnomeu e Julieta” consegue ser a primeira animação a se destacar em 2011 justamente por ter elementos, em sua história, que apelam demais ao público infantil. A lamentar, no filme, somente dois pontos: o primeiro, a falta de necessidade do uso da tecnologia 3D aqui, uma vez que ela mal pode ser notada; a segunda, o não envio de cópias legendadas ao Brasil. A dublagem de Vanessa Giácomo e Daniel de Oliveira (casal de atores na ficção e na vida real) é muito fraca. Somente Ingrid Guimarães se destaca com um ótimo trabalho feito na personagem Nanette.
“Eu, Capitão”, filme dirigido e co-escrito por Matteo Garrone, não é uma simples obra sobre a jornada de dois jovens senegaleses que decidem imigrar para a Itália em busca de uma vida melhor. É o relato de uma história com um elemento humano muito forte, que revela diversos aspectos sobre nós, enquanto seres humanos.
Quando decidem sair escondidos de casa, os primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) vão passar pelos mais diferentes locais: o Senegal, o Deserto do Saara, a Líbia e o Mar Mediterrâneo. Uma viagem que será marcada pela frase de Seydou para o primo: “começamos a jornada juntos. Vamos terminá-la juntos”.
“Eu, Capitão” fala sobre as humilhações, as dificuldades, a corrupção, a violência, a solidão, o medo e as angústias que quem decide imigrar enfrenta. Ao mesmo tempo, este também é um filme sobre amor, companheirismo, perseverança, coragem e, principalmente, seguir em frente.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional, “Eu, Capitão” nos retrata a história de Seydou utilizando como base a jornada do herói. O triunfo final, acompanhado do ápice da trilha sonora, mesmo que esperado, não deixa de ser impactante, do ponto de vista emocional. Afinal, esta é uma história que causa uma empatia enorme conosco, enquanto plateia.
O multiverso ocorre quando universos múltiplos e realidades paralelas existem simultaneamente. Esse conceito tem estado muito em voga na atual fase de filmes produzidos pela Marvel Studios. Uma das franquias que melhor trabalha com esse significado é a do “Homem-Aranha”, no gênero animação, nos longas estrelados por Miles Morales.
“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, filme dirigido por Joaquin dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers, amplia o que assistimos na trama de “Homem-Aranha: No Aranhaverso”, na medida em que a diversidade de Homens-Aranhas encarnados nas diversas dimensões formam uma grande liga cujo principal propósito é evitar que o multiverso colapse pelas mãos de uma anomalia produzida por ele mesmo, o vilão Mancha (dublado por Jason Schwartzman).
Apesar dessa grande missão, a jornada de Miles Morales (dublado por Shameik Moore) nesta continuação vai além da trajetória do heroi: entender que o seu percurso pessoal é composto por aquilo que os seus semelhantes chamam de cânone (o evento que se repete na história particular de todos eles, independente de onde eles estejam localizados).
Já tínhamos aprendido, nos filmes live-action estrelados pelo Homem-Aranha, que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Com “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, temos a lição de que “ser Homem-Aranha é se sacrificar”. Miles Morales está pronto para esse sacrifício? Essa é uma pergunta que a continuação deixa sem resposta, uma vez que sua trama termina inacabada. Missão para o próximo filme da série!
A história de Richard Montañez é um exemplar típico do tão falado “sonho americano”. De origem latina, ele começou a trabalhar desde cedo (em uma trajetória errante, diga-se de passagem, com episódios dentro da criminalidade) até que encontrou uma certa estabilidade como zelador da Frito-Lay, empresa do conglomerado PEPSICO que fabrica salgadinhos de milho, batatas fritas, Doritos, dentre outros.
A diferença entre Richard Montañez (Jesse Garcia) e seus colegas de trabalho é que ele era alguém visionário e corajoso. Na esteira da crise econômica do governo Reagan, preocupado com a manutenção de seu emprego (a fábrica na qual ele trabalhava estava ameaçada de fechamento), ele tem a ideia de criar uma variação do Cheetos que dialogasse diretamente com a cultura e com a culinária mexicanas.
A versão Cheetos Flamin’ Hot foi um verdadeiro sucesso, transformando, não só, a realidade da Frito-Lay, como também a de Richard Montañez, seus colegas e, principalmente, sua família. A trajetória de Montañez do menino que trabalhava na vinícola até o bem-sucedido Diretor de Marketing Multicultural da PEPSICO nos é contada em “Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História”.
Surpreendentemente dirigido pela atriz Eva Longoria (conhecida pela série “Desperate Housewives”), “Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História” chama a atenção por contar a sua história de forma leve, divertida e, em certos pontos, exagerada. Ajuda muito também o fato dela ter escalado atores muito carismáticos e que entenderam justamente o tom que o filme deseja passar.
Os Guardiões da Galáxia são um grupo cuja característica principal é a defesa de planetas e de galáxias contra ataques alienígenas no espaço sideral. O que chama a atenção neles é o espírito de equipe: eles atuam juntos e unidos em busca do propósito que eles têm que cumprir. Isso explica muito do que assistiremos em “Guardiões da Galáxia: Vol. 3”, filme dirigido e co-escrito por James Gunn, que marca o encerramento da trilogia que iniciou-se em 2014.
O Rocket (dublado por Bradley Cooper) é uma personagem muito importante para esse universo narrativo. Um guaxinim inteligente, atirador habilidoso e grande estrategista; é ele quem lidera esse grupo ao lado de Peter Quill (Chris Pratt). Na ausência de um, o outro toma à frente; quando um não está bem, o outro assume a ponta.
Em “Guardiões da Galáxia: Vol. 3” nem o Rocket, nem Peter Quill estão bem. O primeiro lida com as lembranças do seu passado. O segundo com a perda de Gamora (Zoe Saldana). Porém, para defender o universo e o Rocket, Peter Quill assume, mais uma vez, a liderança e reúne a sua equipe.
“Guardiões da Galáxia: Vol. 3” acaba trazendo o que essa franquia tem de melhor: o senso de humor peculiar, a trilha sonora caprichada e o todo, composto por cada um dos personagens que compõem esse grupo, em que cada um tem o seu momento para brilhar. Ao mesmo tempo, o filme tem um tom melancólico, prenúncio do fim que se anuncia e das transições que vem pela frente.
Dirigido e escrito pelo brasileiro Edson Oda, “Nove Dias” é um filme que tem uma premissa muito interessante: a trama se passa num mundo que não se parece com o que habitamos, em que um homem recluso chamado Will (Winston Duke) passa seus dias observando outras pessoas vivenciando as suas experiências terrenas. A missão dele no decorrer do filme é a de entrevistar candidatos para nascer e viver no nosso planeta.
Alguns detalhes importantes saltam aos nossos olhos durante a experiência de assistir a “Nove Dias”.
O primeiro deles é que os tipos de relacionamentos que Will estabelece com os candidatos a renascer, os diálogos que eles têm e, principalmente, as escolhas que Will fará possuem como base a experiência do próprio entrevistador como um homem encarnado.
O segundo deles é, por meio da personagem Emma (Zazie Beetz), percebermos o quão importante é estarmos abertos para vivenciar novas experiências, aproveitando e celebrando cada momento que temos a oportunidade de viver - sejam eles os mais triviais e simplórios, sejam eles os mais definidores e importantes.
O terceiro deles é o quão fundamental é fazer valer a pena a nossa vida. Independente de onde estivermos, encarnados ou não (considerando a realidade na qual “Nove Dias” se passa).
Perceber esses pequenos detalhes e ver as transformações acontecendo diante dos nossos olhos são elementos que fazem de “Nove Dias” um filme a ser conferido!
O curta-metragem “E Depois?”, dirigido e co-escrito por Misan Harriman, é um lembrete a todos nós de como, na vida, tudo acontece em uma questão de segundos. Sejam as tragédias pessoais, sejam os encontros fortuitos do dia a dia, sejam os momentos de apreensão, sejam as alegrias, sejam aqueles gatilhos que mexem com a gente a ponto de transbordar tudo aquilo que estava guardado dentro de nós.
Em 13 de outubro de 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, que tinha como destino o Chile, cai em plena Cordilheira dos Andes. Nele estavam 45 pessoas a bordo - amigos, familiares e membros do time de rúgbi Old Christians Club. O que se passou nos 72 dias após o acidente, em que sobreviventes (ilesos e feridos) lutaram para permanecerem vivos é o que assistiremos em “A Sociedade da Neve”, filme dirigido e co-escrito por J.A. Bayona.
Assim como vimos em “O Impossível”, outro longa que retrata a luta pela sobrevivência dirigido por Bayona, em “A Sociedade da Neve” iremos assistir a pessoas resistindo, brigando em condições extremas para se manterem vivos e sendo capazes até dos atos mais inimagináveis (os quais não iremos nunca julgar) para poderem contar a sua história ao final de tudo isso.
Uma decisão muito feliz do roteiro de “A Sociedade da Neve” é colocar uma voz narrando tudo o que iremos assistir. Ao dar uma face a esse narrador, Bayona nos traz, como espectadores, para mais próximos de sua história, nos colocando quase como se fôssemos um passageiro oculto daquele voo. É através da voz de Numa Turcatti (Enzo Vogrincic) que aprendemos os verdadeiros valores dessa história: a coletividade e o trabalho em equipe. Foram eles que levaram os 16 sobreviventes finais a serem resgatados com vida.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme Estrangeiro, “A Sociedade da Neve”, apesar de ser mais um retrato ficcional/documental do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, é uma obra que marca por ser um relato com a fidelidade e com a crueza que uma história como essa necessita.
A Metade de Nós
3.4 2Quando você perde o marido/a esposa, vira viúva (o). Quando você perde o pai/a mãe, vira órfão/órfã. E quando você perde um (a) filho (a), se transforma no que? O filme “A Metade de Nós”, dirigido e co-escrito por Flavio Botelho, fala sobre a caminhada do casal Francisca (Denise Weinberg) e Carlos (Cacá Amaral) após a perda do único filho Felipe, em decorrência de um suicídio.
Acompanhar o luto de Francisca e Carlos é vivenciar, com eles, as diversas etapas desse processo: a tentativa de compreender o que houve/os motivos por trás da decisão de Felipe; a dor que acompanha a vontade de falar sobre o ente querido que se foi; se permitir sentir a dor da perda e, principalmente, ser atropelado pela vida, que insiste em continuar e em seguir seu curso, independente de você estar pronto (a) para isso ou não.
“A Metade de Nós” é um filme marcado pela sutileza, mas principalmente pelas marcas que a morte de Felipe deixa em seus pais. Sobreviver à perda de um filho não é fácil. Neste sentido, os pontos altos do longa acabam sendo as atuações silenciosas e igualmente sutis de Denise Weinberg e Cacá Amaral.
Baseado nas próprias experiências do diretor Flávio Botelho, que perdeu uma irmã para o suicídio em 2007, “A Metade de Nós” ganhou o Prêmio do Público como Melhor Filme de Ficção Brasileiro na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada em 2023.
Plano em Família
3.2 51 Assista AgoraA construção de Dan Morgan (Mark Wahlberg), protagonista do filme “Plano em Família”, dirigido por Simon Cellan Jones, chama a atenção pela sutileza dos detalhes. Um devotado homem de família, um simpático vizinho, um bem-sucedido vendedor de carros, um homem nada violento. Porém, por trás dessa fachada, no olhar dele, a gente sente: Dan reprime o seu lado agressivo.
Tudo passa a fazer sentido quando nos é revelado que Dan, na realidade, vive uma vida dupla, uma vez que construiu essa persona como uma forma de esconder aquilo que ele realmente foi um dia: um assassino do governo, transformado em um dos líderes de um grupo de mercenários.
“Plano em Família”, portanto, aborda uma viagem de família que é mais uma das mentiras construídas por Dan. O que deveria ser um momento de descontração e de união familiar esconde a tentativa de fuga do protagonista quando seu paradeiro é descoberto pelo grupo de assassinos ao qual ele pertencia.
O filme se apoia, acertadamente, no carisma de Mark Wahlberg (que repete, aqui, o par romântico com Michelle Monaghan, com quem ele esteve também em “O Dia do Atentado”), que é o tipo perfeito para interpretar um simpático homem de família que é capaz de tudo pelos seus, mas também para se auto-defender. O longa tem bons momentos, com ênfase naqueles que colocam Dan na incômoda posição de sustentar sua mentira, enquanto defende sua família (sem que eles saibam de nada) dos seus antigos comparsas.
Uma Ideia de Você
3.2 307 Assista AgoraNuma determinada cena de “Uma Ideia de Você”, filme dirigido e co-escrito por Michael Showalter, Solène (Anne Hathaway) e Hayes (Nicholas Galitzine) conversam sobre a possibilidade - e as consequências - de se abrirem um para o outro. Certamente não na cabeça dele, mas na dela, surgem inúmeros motivos para a dissuadir dessa ideia. Ela tem 40 anos, ele tem 24. Ela tem uma filha adolescente, e passou por um divórcio bastante traumático. Ele é líder de uma boy band de sucesso, enquanto ela vive uma pacata existência como dona de galeria.
Ver o desenrolar do romance entre Solène e Hayes me deixou, pelo menos, com uma pergunta atrás da orelha: somente o amor é suficiente? Por trás de uma mulher que se sente viva e desejada novamente e de um homem que vivencia a realidade de sentimentos pela primeira vez, existem diversas barreiras no caminho para a felicidade, como o choque de gerações, a diferença de responsabilidades e a vivência de momentos de vida distintos.
Embora para “Uma Ideia de Você” todas essas questões sejam trabalhadas de forma superficial, elas contribuem para o senso de verdade que o filme nos passa. Boa parte do charme do longa vem da maneira como as situações são trabalhadas, e também da química entre Nicholas Galitzine e Anne Hathaway. Clichês por clichês, às vezes, tudo que nós precisamos é de uma comédia romântica raiz como essa. Este é um filme que cumpre por completo o seu papel.
Uma Manhã Gloriosa
3.4 737 Assista AgoraA comédia romântica “Uma Manhã Gloriosa”, dirigida por Roger Michell, se passa no ambiente dos telejornais matinais, mais precisamente por trás das câmeras, nos bastidores desse tipo de programa. Centrado na figura da produtora Becky (Rachel McAdams), o filme acompanha, não só a sua rotina profissional, como também a forma como a vida profissional de Becky influencia na sua vida pessoal.
Desde a primeira cena, percebemos que, para Becky, o trabalho vem em primeiro lugar. Uma produtora dedicada, que abraça a difícil missão de reerguer/reinventar o telejornal matinal de uma emissora. A tarefa é hercúlea, pois o “Daybreak” (o programa que Becky comanda), tem uma equipe de trabalho acomodada e uma dupla de âncoras formada por pessoas que não se suportam.
Neste ponto, precisamos destacar os acertos de “Uma Manhã Gloriosa”. Harrison Ford (como a lenda do telejornalismo transformada num âncora insatisfeito com sua função) e Diane Keaton (como a ex-miss que adora ser âncora de um telejornal matinal) são uma atração à parte. Rachel McAdams, por sua vez, brilha como um tipo que ela sabe interpretar como ninguém: a mocinha boba e atrapalhada, gente como a gente.
Porém, talvez, o ponto mais legal de “Uma Manhã Gloriosa” é a construção da jornada de Becky, como a personagem principal que desafia um gênero que é conhecido pelos seus clichês. Ao vermos uma personagem feminina que prioriza o trabalho e não condiciona o seu sucesso pessoal à presença de um homem na sua vida (embora isso exista no caso de Becky), temos a transmissão de uma mensagem muito positiva.
O que queremos dizer com isso é que o que importa para “Uma Manhã Gloriosa” não é a relação amorosa. E sim, as interações pessoais que Becky constrói ao longo de seu caminho. A verdadeira parceria dela é a que ela estabelece com seus colegas de trabalho.
A Hora da Estrela
3.9 517“Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola”. Essa é a maneira como Macabéa (Marcélia Cartaxo, numa das performances mais emblemáticas do cinema brasileiro) se auto-descreve. A personagem é considerada uma das mais clássicas da literatura brasileira e é uma criação de uma das mais celebradas autoras do nosso país, Clarice Lispector.
Na adaptação “A Hora da Estrela”, dirigida e co-escrita por Suzana Amaral, as características pessoais de Macabéa são potencializadas. Aos 19 anos, migrante nordestina, semi-analfabeta, curiosa, sonhadora, ingênua, infeliz e desprovida de qualquer maldade, Macabéa é engolida pela realidade de uma cidade grande e, principalmente, por relacionamentos (com o namorado Olímpio, com colegas de trabalho, com as companheiras de quarto) em que ela não consegue reconhecer as humilhações e os abusos.
Lançado originalmente em 1985, “A Hora da Estrela” ganhou uma cópia digitalizada e com áudio remasterizado, idealizada especialmente para a Sessão Vitrine Petrobras. O filme estreia em 16 de maio e é uma ótima oportunidade para o público conferir aquele que é considerado um dos melhores longas do cinema brasileiro em todos os tempos, vencedor do Urso de Ouro de Melhor Atriz, no Festival de Cinema de Berlim, em 1985.
Wonka
3.4 393 Assista AgoraPara quem tem, como lembrança recente, a performance de Johnny Depp como Willy Wonka no filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, de Tim Burton; assistir à atuação de Timothée Chalamet como a personagem em “Wonka”, filme dirigido e co-escrito por Paul King, é uma grande surpresa.
Sai de cena a personagem excêntrica e exagerada, quase infantilizada; e entra no palco um jovem Willy Wonka, que se destaca pelo seu caráter empreendedor e como inventor e por já, nessa idade, produzir um chocolate de sabor peculiar, que proporciona ao consumidor uma experiência única.
Como podemos perceber, então, “Wonka” é uma prequel, que nos coloca diante da personagem título antes dele ter alcançado o sucesso que assistimos posteriormente. Neste filme, Willy Wonka enfrenta a pobreza, o trabalho escravo, a corrupção e a competência desleal do mundo dos negócios, bem como tem seu primeiro encontro com os Umpa Lumpas, que viriam a auxiliá-lo no futuro.
O que chama a atenção em “Wonka” foi a principal solução narrativa adotada por Paul King. No filme, as barreiras que a personagem enfrenta, bem como o seu caráter e motivações, são reveladas por meio de cenas do gênero fantasia musical, o que faz com que o longa tenha um certo charme.
Entretanto, apesar disso, falta a “Wonka” o elemento fantástico e mágico que está inserido nos filmes “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.
Verissimo
3.1 3Um dos mais populares e celebrado escritores brasileiros, Luis Fernando Verissimo é o objeto de retrato do documentário “Verissimo”, dirigido e co-escrito por Angelo Defanti. O filme captura a rotina do escritor nas vésperas de seu 80º aniversário, em 2016.
Chama a atenção em “Verissimo” o contraste entre a euforia advinda da chegada do natalício e a rotina calma, envolta em acontecimentos quase frívolos, do retratado.
No documentário, Verissimo é mostrado em todos os papeis que desempenha: o marido amoroso, o pai, o avô, o escritor ativo que mantém-se em atividade (seja escrevendo, dando entrevistas, lançando livros e participando de eventos públicos) e o idoso marcado por questões de sua própria idade.
Porém, confesso que o que mais ficou comigo enquanto assistia a “Verissimo” foi perceber o quanto o escritor tem um caráter introvertido dentro de si mesmo. Ele é silencioso, um homem de poucas palavras. Em alguns momentos, ele pareceu desconfortável/melancólico diante de algumas situações. Ao ponto de eu me perguntar: quando ele se sente à vontade? Será se diante do computador, ao escrever? Será se diante de sua cuidadosa e amorosa esposa? Será se diante da inocência dos netos? Não sei.
O que eu sei é que “Verissimo” comprova que estamos diante de alguém admirado por anônimos, porém, principalmente, um homem que é extremamente amado pela sua família.
Clube Zero
3.2 12Poucas vezes eu assisti a um filme tão problemático quanto “Clube Zero”, obra dirigida e co-escrita por Jessica Hausner. O longa aborda um tema bastante sério: os transtornos alimentares e o negacionismo científico de uma forma bastante equivocada, para não dizer irresponsável.
Numa escola que funciona num regime de internato, a Ms. Novak (Mia Wasikowska) é contratada para dar uma disciplina a sete estudantes intitulada “Comer Consciente”. No método estabelecido pela Ms. Novak, a alimentação está relacionada ao consumismo excessivo e à preocupação com a sustentabilidade do mundo que habitamos.
Neste ponto, é importante fazermos um adendo. Transtornos alimentares, normalmente, estão relacionados a problemas emocionais. Na medida em que a trama de “Clube Zero” avança, percebemos que boa parte dos estudantes que compõem a turma da Ms. Novak possuem diversos tipos de questões emocionais, a maior parte delas ligada aos relacionamentos que eles possuem com pais permissivos/omissos e que transferem para a escola a sua parte na criação dos filhos.
Por isso, a abordagem de “Clube Zero” soa problemática e irresponsável. Ao tratar sobre um tema tão sério de uma forma enfática no fanatismo, no radicalismo, na sátira e no limite tênue que pode mexer com a própria sobrevivência desses adolescentes, a diretora e co-roteirista Jessica Hausner subestima o poder que o cinema possui de influência sob as plateias ao redor do mundo. Ao invés de educar com a sua história, a diretora preferiu seguir um caminho perigoso que pode persuadir, de forma negativa, parte do público que assistirá a essa história.
Força Maior
3.6 241“Houve uma avalanche, ficamos apavorados, mas tudo ficou bem”.
Sabe quando você repete várias vezes a mesma coisa para se assegurar de que aquilo foi a verdade? A família formada pelo casal Tomas (Johannes Bah Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) e seus dois filhos Vera e Harry vai repetir a frase que abre a nossa resenha crítica diversas vezes para que eles mesmos se certifiquem de que ela representa a verdade sobre o que ocorreu com eles.
Em uma viagem de férias numa estação de esqui, a família divide seu tempo entre os passeios pelas diversas trilhas, refeições pelos restaurantes e momentos de descanso no quarto. Tudo acontece na maior normalidade até que a vivência de uma avalanche durante um desses instantes abala as estruturas emocionais desta família.
“Força Maior”, filme dirigido e escrito por Ruben Östlund, aborda justamente as consequências das reações de Tomas e de Ebba, enquanto marido e mulher, enquanto pai e mãe, durante a vivência da avalanche; e como isso os afeta, no relacionamento, e, principalmente, naquilo que eles representam um para o outro e para seus filhos/amigos/relacionamentos próximos.
No caso de Ebba, temos a incredulidade diante da reação do marido. No caso de Tomas, a sua reação simboliza, para ele, uma quebra da sua masculinidade. Tolhido de seu papel como homem da família, provedor e protetor, Tomas só poderá recuperar a sua responsabilidade quando ele mesmo entrar em contato com seus sentimentos e com o ser que ele é.
O título “Força Maior” faz referência a um conceito oriundo do Direito e que está relacionado ao sentido de que a “força maior é aquela a que a fraqueza humana não pode resistir”. Ou seja, diante de um acontecimento extraordinário, ficamos impedidos de cumprir as nossas obrigações. Qualquer semelhança com a situação vivida por Tomas, Ebba e família é mera coincidência.
Iracema - Uma Transa Amazônica
3.9 74Uma das obras símbolos do regime ditatorial brasileiro, a Rodovia Transamazônica tem extensão de 4.260km, iniciando-se, na Região Nordeste, na cidade de Cabedelo-PB, findando na Região Norte, na cidade de Lábrea-AM. O filme “Iracema: Uma Transa Amazônica”, de Jorge Bodansky e Orlando Senna, utiliza a rodovia como o pano de fundo para o retrato de uma história que mistura os gêneros de ficção com documentário.
Ao acompanharmos a jornada do motorista de caminhão Tião Brasil Grande (Paulo César Pereio) e da prostituta Iracema (Edna de Cássia), o filme “Iracema: Uma Transa Amazônica” acaba fazendo uma crítica direta aos problemas sociais encobertos pela grandiosidade das obras alardeadas pelo regime militar. A pobreza extrema, a prostituição, a exploração da mão-de-obra (em alguns casos, escrava) e a violência são realçadas, reforçando uma questão que é antiga, e atual, no nosso país: a de que, para a prosperação da riqueza de muitos, implica também a miséria de tantos outros.
Por fazer uma mistura dos gêneros de ficção com documentário, a estética e o andamento da trama de “Iracema: Uma Transa Amazônica” são muito interessantes. A sensação que temos, ao assistir ao filme, é a de que a câmera captura a vida real, as situações cotidianas e corriqueiras, e que somente os atores seguiram um mínimo de roteiro. As interações deles com as pessoas com as quais eles cruzam pelo caminho são reações naturais àquilo que, provavelmente, era a linha norteadora da história.
Como curiosidade, “Iracema: Uma Transa Amazônica” é um filme que, apesar de ter circulado em diversos festivais de cinema europeus, foi uma obra cuja exibição foi proibida em solo brasileiro por muitos anos, devido à censura. O longa só pôde ser lançado comercialmente, no Brasil, em 1981, tendo conquistado o prêmio principal do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Pobres Criaturas
4.1 1,2K Assista Agora“Pobres Criaturas”, filme dirigido por Yorgos Lanthimos, se passa durante a era Vitoriana, que marcou o regime liderado pela Rainha Vitória, num momento de muitas transformações econômicas, políticas e culturais para os países que vivem sob o regime da Monarquia Inglesa. Saber desse pano de fundo é muito importante para que possamos compreender um pouco sobre o que iremos assistir no longa.
A história de “Pobres Criaturas” é centrada na figura de Bella Baxter (Emma Stone, numa atuação vencedora do Oscar 2024 de Melhor Atriz), uma jovem mulher que é trazida de volta à vida por um médico/cientista excêntrico (Willem Dafoe). Na experiência de Godwin Baxter, o médico, Bella é uma mulher com cérebro de bebê, por isso, ela vai atingindo certos marcos temporais que são dignos da sua idade mental.
Uma mulher presa, sem contato com o mundo exterior; a verdadeira jornada de Bella, ao longo de “Pobres Criaturas” é a que a coloca enfrentando o mundo, usando seu corpo e o sexo como moedas de liberdade. É aqui que voltamos à Era Vitoriana, com seus momentos de luzes e de trevas, metaforizados pela fotografia de Robbie Ryan: o mundo da prisão de Bella é retratado em preto e branco; o mundo que Bella passa a conhecer lá fora é cheio de cores vibrantes, como a personalidade que ela revela ter.
Ao vivenciarmos a viagem de Bella, Yorgos Lanthimos desnuda diante de nós uma trajetória de uma mulher, numa época de pensamento conservador, em busca de sua liberdade, da igualdade e de poder ser aquilo que ela quiser, da forma que ela quiser. É uma história de força, que utiliza muito bem o tom irônico a seu favor.
Fartura
4.2 4Assistir a "Fartura", curta de Yasmin Thayná, é reviver memórias da minha infância, em que a família toda se reunia para celebrar/comemorar momentos especiais nos ambientes caseiros. Neste sentido, chama a atenção no curta a maneira como a diretora trabalha com os símbolos que remetem ao sentido de comemoração: a comida (farta), a música, a religião, a família, a decoração, as bebidas. Tudo reforçando o sentido do Aprender, do Fazer e do Memorar - os capítulos que integram essa história. Um filme marcado pelo afeto que nos faz sentir.
Esta Não é a Sua Vida
4.0 31"Esta Não é a Sua Vida". Afirmações absurdas, mistura de ficção com realidade. O que seria real? O que seria ficção? Jorge Furtado faz um filme que elabora uma visão interessante sobre a vida, a monotonia da vida, as escolhas que fazemos, o rumo que tomamos. Um filme repleto de simplicidade e de um senso de humor único.
Na Missão, com Kadu
4.2 3A alternância entre as imagens que mostram a perspectiva de quem Kadu é, como pessoa, com as que retratam a sua atuação como um dos líderes da Ocupação Vitória, na passeata que eles realizaram/promoveram. Curta documental de estética crua, condizente com a realidade que quer mostrar.
Cinco Dias
3.3 8 Assista AgoraUma minissérie dividida em cinco partes, cada qual retratando diferentes estágios da evolução do desaparecimento de Leanne, “Cinco Dias” sofre justamente com a irregularidade do relato proposto pela roteirista Gwyneth Hughes. No entanto, uma constante pode ser percebida no meio disso tudo: a de que somente a conclusão total de algo repleto de incertezas faz com que se termine a sensação de que toda uma vida está sendo consumida por um fato que ocorreu.
Ficção Americana
3.8 383 Assista AgoraOs estereótipos são padrões construídos pela sociedade e que acabam influenciando na forma e na maneira como rotulamos e retratamos as pessoas. Baseado no livro escrito por Percival Everett, “Ficção Americana”, filme dirigido e escrito por Cord Jefferson, trabalha justamente com essa noção, fazendo um recorte especial sobre como os negros são retratados e vistos pela literatura e pelo cinema.
O professor e escritor Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright, numa sólida atuação indicada ao Oscar 2024 de Melhor Ator) tem, como objeto de estudo de suas obras, os aspectos sociais, políticos e culturais do ser negro nos Estados Unidos. Cansado de ver que o público aparenta estar mais interessado em ler histórias de personagens negros repletas de clichês, ele decide adotar um pseudônimo e escrever um livro de ficção com todas essas marcas que remetem ao lugar-comum relacionado aos negros norte-americanos.
Apesar de ter uma trama imbuída dessa crítica, “Ficção Americana” também se interessa pelos dramas particulares da vida de “Monk”. Na forma como a sua vida privada é retratada pelo diretor e roteirista Cord Jefferson, fica subentendido que o ponto de limite da personagem é um reflexo, também, não só das suas frustrações profissionais, como também das familiares e pessoais.
“Ficção Americana” é uma obra que tem um elemento muito forte em sua narrativa: a metalinguagem. Afinal, estamos diante de um filme cuja ideia principal é transmitida dentro da sua própria linguagem. Ainda que a crítica que Cord Jefferson deseja passar seja importante, fica a incômoda sensação de que o filme não atinge aquilo que deseja transmitir.
Gnomeu e Julieta
3.1 549 Assista AgoraUma obra carismática e com ótimo senso de humor, “Gnomeu e Julieta” consegue ser a primeira animação a se destacar em 2011 justamente por ter elementos, em sua história, que apelam demais ao público infantil. A lamentar, no filme, somente dois pontos: o primeiro, a falta de necessidade do uso da tecnologia 3D aqui, uma vez que ela mal pode ser notada; a segunda, o não envio de cópias legendadas ao Brasil. A dublagem de Vanessa Giácomo e Daniel de Oliveira (casal de atores na ficção e na vida real) é muito fraca. Somente Ingrid Guimarães se destaca com um ótimo trabalho feito na personagem Nanette.
Eu, Capitão
4.0 70 Assista Agora“Eu, Capitão”, filme dirigido e co-escrito por Matteo Garrone, não é uma simples obra sobre a jornada de dois jovens senegaleses que decidem imigrar para a Itália em busca de uma vida melhor. É o relato de uma história com um elemento humano muito forte, que revela diversos aspectos sobre nós, enquanto seres humanos.
Quando decidem sair escondidos de casa, os primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) vão passar pelos mais diferentes locais: o Senegal, o Deserto do Saara, a Líbia e o Mar Mediterrâneo. Uma viagem que será marcada pela frase de Seydou para o primo: “começamos a jornada juntos. Vamos terminá-la juntos”.
“Eu, Capitão” fala sobre as humilhações, as dificuldades, a corrupção, a violência, a solidão, o medo e as angústias que quem decide imigrar enfrenta. Ao mesmo tempo, este também é um filme sobre amor, companheirismo, perseverança, coragem e, principalmente, seguir em frente.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional, “Eu, Capitão” nos retrata a história de Seydou utilizando como base a jornada do herói. O triunfo final, acompanhado do ápice da trilha sonora, mesmo que esperado, não deixa de ser impactante, do ponto de vista emocional. Afinal, esta é uma história que causa uma empatia enorme conosco, enquanto plateia.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 525 Assista AgoraO multiverso ocorre quando universos múltiplos e realidades paralelas existem simultaneamente. Esse conceito tem estado muito em voga na atual fase de filmes produzidos pela Marvel Studios. Uma das franquias que melhor trabalha com esse significado é a do “Homem-Aranha”, no gênero animação, nos longas estrelados por Miles Morales.
“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, filme dirigido por Joaquin dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers, amplia o que assistimos na trama de “Homem-Aranha: No Aranhaverso”, na medida em que a diversidade de Homens-Aranhas encarnados nas diversas dimensões formam uma grande liga cujo principal propósito é evitar que o multiverso colapse pelas mãos de uma anomalia produzida por ele mesmo, o vilão Mancha (dublado por Jason Schwartzman).
Apesar dessa grande missão, a jornada de Miles Morales (dublado por Shameik Moore) nesta continuação vai além da trajetória do heroi: entender que o seu percurso pessoal é composto por aquilo que os seus semelhantes chamam de cânone (o evento que se repete na história particular de todos eles, independente de onde eles estejam localizados).
Já tínhamos aprendido, nos filmes live-action estrelados pelo Homem-Aranha, que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Com “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, temos a lição de que “ser Homem-Aranha é se sacrificar”. Miles Morales está pronto para esse sacrifício? Essa é uma pergunta que a continuação deixa sem resposta, uma vez que sua trama termina inacabada. Missão para o próximo filme da série!
Flamin' Hot: O Sabor que Mudou a História
3.3 65 Assista AgoraA história de Richard Montañez é um exemplar típico do tão falado “sonho americano”. De origem latina, ele começou a trabalhar desde cedo (em uma trajetória errante, diga-se de passagem, com episódios dentro da criminalidade) até que encontrou uma certa estabilidade como zelador da Frito-Lay, empresa do conglomerado PEPSICO que fabrica salgadinhos de milho, batatas fritas, Doritos, dentre outros.
A diferença entre Richard Montañez (Jesse Garcia) e seus colegas de trabalho é que ele era alguém visionário e corajoso. Na esteira da crise econômica do governo Reagan, preocupado com a manutenção de seu emprego (a fábrica na qual ele trabalhava estava ameaçada de fechamento), ele tem a ideia de criar uma variação do Cheetos que dialogasse diretamente com a cultura e com a culinária mexicanas.
A versão Cheetos Flamin’ Hot foi um verdadeiro sucesso, transformando, não só, a realidade da Frito-Lay, como também a de Richard Montañez, seus colegas e, principalmente, sua família. A trajetória de Montañez do menino que trabalhava na vinícola até o bem-sucedido Diretor de Marketing Multicultural da PEPSICO nos é contada em “Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História”.
Surpreendentemente dirigido pela atriz Eva Longoria (conhecida pela série “Desperate Housewives”), “Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História” chama a atenção por contar a sua história de forma leve, divertida e, em certos pontos, exagerada. Ajuda muito também o fato dela ter escalado atores muito carismáticos e que entenderam justamente o tom que o filme deseja passar.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 808 Assista AgoraOs Guardiões da Galáxia são um grupo cuja característica principal é a defesa de planetas e de galáxias contra ataques alienígenas no espaço sideral. O que chama a atenção neles é o espírito de equipe: eles atuam juntos e unidos em busca do propósito que eles têm que cumprir. Isso explica muito do que assistiremos em “Guardiões da Galáxia: Vol. 3”, filme dirigido e co-escrito por James Gunn, que marca o encerramento da trilogia que iniciou-se em 2014.
O Rocket (dublado por Bradley Cooper) é uma personagem muito importante para esse universo narrativo. Um guaxinim inteligente, atirador habilidoso e grande estrategista; é ele quem lidera esse grupo ao lado de Peter Quill (Chris Pratt). Na ausência de um, o outro toma à frente; quando um não está bem, o outro assume a ponta.
Em “Guardiões da Galáxia: Vol. 3” nem o Rocket, nem Peter Quill estão bem. O primeiro lida com as lembranças do seu passado. O segundo com a perda de Gamora (Zoe Saldana). Porém, para defender o universo e o Rocket, Peter Quill assume, mais uma vez, a liderança e reúne a sua equipe.
“Guardiões da Galáxia: Vol. 3” acaba trazendo o que essa franquia tem de melhor: o senso de humor peculiar, a trilha sonora caprichada e o todo, composto por cada um dos personagens que compõem esse grupo, em que cada um tem o seu momento para brilhar. Ao mesmo tempo, o filme tem um tom melancólico, prenúncio do fim que se anuncia e das transições que vem pela frente.
Nove Dias
3.7 76Dirigido e escrito pelo brasileiro Edson Oda, “Nove Dias” é um filme que tem uma premissa muito interessante: a trama se passa num mundo que não se parece com o que habitamos, em que um homem recluso chamado Will (Winston Duke) passa seus dias observando outras pessoas vivenciando as suas experiências terrenas. A missão dele no decorrer do filme é a de entrevistar candidatos para nascer e viver no nosso planeta.
Alguns detalhes importantes saltam aos nossos olhos durante a experiência de assistir a “Nove Dias”.
O primeiro deles é que os tipos de relacionamentos que Will estabelece com os candidatos a renascer, os diálogos que eles têm e, principalmente, as escolhas que Will fará possuem como base a experiência do próprio entrevistador como um homem encarnado.
O segundo deles é, por meio da personagem Emma (Zazie Beetz), percebermos o quão importante é estarmos abertos para vivenciar novas experiências, aproveitando e celebrando cada momento que temos a oportunidade de viver - sejam eles os mais triviais e simplórios, sejam eles os mais definidores e importantes.
O terceiro deles é o quão fundamental é fazer valer a pena a nossa vida. Independente de onde estivermos, encarnados ou não (considerando a realidade na qual “Nove Dias” se passa).
Perceber esses pequenos detalhes e ver as transformações acontecendo diante dos nossos olhos são elementos que fazem de “Nove Dias” um filme a ser conferido!
E Depois?
3.2 64 Assista AgoraO curta-metragem “E Depois?”, dirigido e co-escrito por Misan Harriman, é um lembrete a todos nós de como, na vida, tudo acontece em uma questão de segundos. Sejam as tragédias pessoais, sejam os encontros fortuitos do dia a dia, sejam os momentos de apreensão, sejam as alegrias, sejam aqueles gatilhos que mexem com a gente a ponto de transbordar tudo aquilo que estava guardado dentro de nós.
A Sociedade da Neve
4.2 724 Assista AgoraEm 13 de outubro de 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, que tinha como destino o Chile, cai em plena Cordilheira dos Andes. Nele estavam 45 pessoas a bordo - amigos, familiares e membros do time de rúgbi Old Christians Club. O que se passou nos 72 dias após o acidente, em que sobreviventes (ilesos e feridos) lutaram para permanecerem vivos é o que assistiremos em “A Sociedade da Neve”, filme dirigido e co-escrito por J.A. Bayona.
Assim como vimos em “O Impossível”, outro longa que retrata a luta pela sobrevivência dirigido por Bayona, em “A Sociedade da Neve” iremos assistir a pessoas resistindo, brigando em condições extremas para se manterem vivos e sendo capazes até dos atos mais inimagináveis (os quais não iremos nunca julgar) para poderem contar a sua história ao final de tudo isso.
Uma decisão muito feliz do roteiro de “A Sociedade da Neve” é colocar uma voz narrando tudo o que iremos assistir. Ao dar uma face a esse narrador, Bayona nos traz, como espectadores, para mais próximos de sua história, nos colocando quase como se fôssemos um passageiro oculto daquele voo. É através da voz de Numa Turcatti (Enzo Vogrincic) que aprendemos os verdadeiros valores dessa história: a coletividade e o trabalho em equipe. Foram eles que levaram os 16 sobreviventes finais a serem resgatados com vida.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme Estrangeiro, “A Sociedade da Neve”, apesar de ser mais um retrato ficcional/documental do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, é uma obra que marca por ser um relato com a fidelidade e com a crueza que uma história como essa necessita.