"Preto com muito orgulho de sua cor." "É pesado e tem as asas fininha." "Quando os olhos do menino brilharam vendo aquele cascudo. Preto que nem ele, mas que podia voar. Ele fez uma escolha. A escolha de lutar pelo seu povo e deixou de ser Manoel pra virar Besouro."
Tenho minhas ressalvas com as representações feitas das mulheres nos filmes dessa época no Brasil, mas acho que a personagem da moça principal de "Escola de Samba Alegria de Viver" (claro) e em alguma medida o episódio "Pedreira de São Diogo" conseguem questionar algumas pré-definições. Os episódios são fortes e lindos, os diretores souberam bem retratar as desigualdades sociais (ps: O do Diegues não é mesmo muito claro). Tem como não gostar das temáticas do cinema novo? A trilha sonora que compõe os episódios é linda. São episódios que devem ser vistos várias vezes.
"— O rei de Portugal nos dá a liberdade pra sempre. — O rei de Portugal não pode me dar o que é meu." "Foi o Zumbi quem disse: Só fica escravo quem tem medo de morrer. O Zumbi é mais forte que tudo. Com ele Palmares não se acaba nunca." "Eu sempre quis saber porque é que tem gente quer tanto mandar nos outros." "Nós nunca mais vamos voltar a ser escravos de novo. Nunca mais."
"Penso sempre no meu corpo descansando em Palmares. Na terra livre. Como era a nossa do outro lado do mar. Esse corpo para de doer." "— Eles tem mais força. Tudo com arma. Eles são dono de tudo. — Não vence a vontade de ser livre." "Tu é que não sabe. Eles tentaram de todo jeito. Fizeram tudo pra acabar com Zambi, mas Oxumaré protege Palmares. Não deixa eles destruir o reino da gente." "Oxumaré não deixa Palmares acabar. Palmares é terra de sangue livre." "Zambi tá cansado, mas não desiste da luta. Nenhum de nós desiste." "A gente tem é que fazer alguma coisa, se fosse fácil a gente não tava na luta. Tem é que lutar muito."
Que momento a cena de todo mundo "louvando" a tal da pátria cantando o hino nacional pra logo em seguida entrarem os policias. "Era véspera de eleição, doutor, o governador não ia deixar a cadeia explodir." "Entraram pra matar, doutor." "Mudou de ideia o cacete. Agiu na maldade pura. Deu um gostinho de esperança pro Ezequiel, voltou e matou ele." "Quero ouvir você dizer: viva o Choque." "No dia 2 de outubro de 1992, morreram 111 homens na Casa de Detenção de São Paulo. Não houve mortes entre os policias militares."
"O sangue (dela) é a vida." "Não sou um louco, sou um homem normal lutando pela minha própria alma." "Não existem coisas no universo que não entende, mas são reais?"
O filme dentre todos que já vi até agora do Bergaman foi o único que não amei. Mas gostei mesmo assim. Bergman me toca de um jeito que é impossível "desgostar" de alguma de suas obras. Bergman joga um olhar sobre os relacionamentos humanos que impossibilita a indiferença. Me fascina a cada filme, mas esse é de um realismo tão cru, sem os símbolos tão do Bergman e abarcando essa temática específica foi incômodo. Mas é justamente essa a beleza de Bergman, ele consegue como nenhum outro diretor enfiar o dedo fundo na ferida.
A cena em que somente Anna fica com Agnes me doeu muito, abandonada pelas irmãs. Senti isso bem dentro de mim. Senti Agnes na pele, como se eu é que estivesse passando por tudo aquilo.
A qualidade do filme é indiscutível. Bergman tira meu chão sempre.
Maravilhooooso! Bergman, você é genial. Esse filme dói com os questionamentos da existência de Deus com a noção da morte iminente. Nem sei falar desse filme..
Título maisss que apropriado, captou exatamente o conceito do filme. Direção realmente incrível! O filme é ó-t-i-m-o! A trilha sonora foi outra coisa que delineou bem demais o filme. As cenas são tãaao bem construídas. Sério, amei o filme.
Direção impecável do Bergman nesse filme! (como em todos dele, rs). O silêncio do filme de nome homônimo permitiu que Bergman soltasse as asas enquanto diretor. Ele trata lindamente com temas difíceis, polêmicos, de grande carga emocional... Retratando relações familiares ele joga o filme na nossa cara, mas consegue ainda assim ser sutil. O silêncio desse filme era mais do que necessário pra montar essa sutileza do filme em contraste com
as insinuações de incesto, desejo reprimido, conflitos interiores, domínio, desprezo, raiva, mágoa, tristeza, remorso, rejeição, erros, vergonha, solidão, traumas. Anna parece assustada quando se trata de sexo e se engana que não, sai com homens quaisquer pra se esquecer disso. Johan é a expressão exata da infância (das coisas que não entendemos, da doçura que vemos em tudo, no que guardamos em nós de mau e bom). Esther é só tormenta.
Bergman sabe explorar bem demais suas personagens femininas, elas são sempre cheias de peculiaridades e força (exposta ou não).
Existencialista do início ao fim. Bergman disseca a alma humana; perfura, esfrega, retorce, escalpela, invade, entranha, trespassa os sentimentos humanos. Nesse "Luz de inverno" trata da fé, de incertezas, questionamentos, negações, amor, morte, ausência, medo, fraqueza, vazio, entrega, silêncio, dor, suicídio, solidão, abandono... Em relação ao momento histórico, Bergman capta e transcreve com excelência o sentimento global gerado pela tensão da Guerra Fria, com ameaças de bombas nucleares que detonariam com todo o planeta, acabando com a vida na Terra. Ter escolhido um padre pra protagonizar o clima desse cenário é o diferencial grandioso. A confusão e o medo geral resultando no deterioramento da esperança, na perda da fé na "humanidade", nas pessoas, em Deus, em si. A quebra da estabilidade, da segurança, expondo sem dó tudo aquilo que é cruel de enxergar, a realidade muitas vezes dura; sem proteção, sem disfarce ou aparências; o que é verdadeiro transparece, assim como o que não é; no foco: a inquietação com a fé é questionada, seria ela um mero suporte, um conforto ou a mais pura verdade? Seria aquele período turbulento uma provação de Deus para com seus fiéis, um sacrifício necessário na identificação dos seres de real fidelidade ou a demonstração mais clara da não existência desse Deus? Questionam-se instituição, costumes e dogmas religiosos. Duvida-se da vida e de seu sentido a todo instante. A sonoridade em relação aos sinos, relógio, órgão, hinos, silêncios são incisivas.
Após a cena inicial de "longa" pregação para uma pequena quantidade de pessoas, em meio as tosses do padre (seu corpo e sua fé padecendo), o momento do tocador de órgão totalmente alheio à missa é cômico.
Bergman ainda escolheu bem as personagens que comporiam a trama. É incrível como ele faz com que a Guerra Fria passe do ambiente em que se inserem para a intimidade de cada um.
É maravilhoso ver o desprezo de Tomas ao amor de Magdalena. Aquele que prega o amor desdenhando de quem o ama. E ela, criada fora de um ambiente religioso, desacreditando da fé de Tomas (fé essa que supostamente seria um dos grandes motivos, ou "o" motivo de sua existência), enquanto se entrega a ele com uma adoração que dialoga com o divino, que deusifica o ser amado, direcionando a ele todo o seu amor e por ele até sacrificando sua carne, sem negá-lo mesmo depois de depreciada por ele, num amor que se ratifica quase configurando em fé no objeto de desejo. Tomas em descrença de tudo que foi até ali, dos valores que tinha, das coisas em que pensava crer. Seu amor à esposa morta. Seu amor (passando pela insegurança) à um Jesus tb morto. A secundariedade do pescador que acaba por tirar sua própria vida. A maneira distante que o padre lida com a morte do pescador. A maneira forte (e talvez tb distante) que a esposa do pescador lida com a morte do marido (lindo cortar o olhar do padre para a janela da casa dela justo no momento em que ela contaria aos filhos sobre o falecimento do pai.) A aproximação dos questionamentos, sentimentos, dúvidas do Deus em sua forma humana com a angústia que o padre sentia naqueles momentos, o padre assumindo o papel do Cristo. Se sentindo esquecido por Aquele à quem mais amou. Que alusão! A cena final, Magdadela (adorei esse nome e ele se encaixa bem no filme, diga-se de passagem) ajoelha-se quase que rezando, quase que pedindo à Deus. Tomas (decid)indo rezar a missa para "ninguém", se apoiando em esperanças? Em fé? No último suspiro? No recomeço? No novo nascimento de convicções? Seria a vitória de Deus? Da fé?
Confesso que quase senti falta de desses diálogos intensos como só Bergman faz, mas os que tem são como sempre arrebatadores e o que não tem de fala tem de simbologia, o filme inteiro fala, ainda que em silêncio (figuras, ângulos, enquadramentos, movimentações) e fala bonito demais.
Porra, Bergman! Esse filme veio pra minha realidade, não só em seu conteúdo, mas tb em seus gestos, jeitos, ambientações (que atuações, que fotografia, que roteiro... o filme tava passando aqui do meu lado!). Cada filme do Bergman é único e me é sentido como se fosse o primeiro. Pensei em ver sem parar filmes dele de tão encantada que fico com cada um, tão intensa e unicamente, mas talvez, só talvez seja melhor ir aos poucos pra que cada um seja a marca de um dia específico de minha vida; é impossível um dia em que se viu algum de seus filmes (digo isso pelos que já vi até agora, apesar de apostar quase com certeza e sem medo que todos os outros façam o mesmo) que seu dia não fique profundamente marcado por ele, muitas vezes como o mais tocante momento do dia (ainda que com o Bergman, as sensações do filme venham à tona na nossa vida, transforme os dias, sua maneira de vê-los e senti-los). Harriet Andersson está muito bem! Lars Passgård com seu olhar marcante; Max von Sydow, atenção e presença; Gunnar Björnstrand em uma personagem que conversa com quem sou, ao mesmo tempo que me traz angústia. Poderia passar o dia falando desse filme, de seus detalhes, de cada cena, juro, cada olhar, os maravilhoooosos diálogos. É um filme completíssimo, tão bem feito que cada cena para ter levado anos pra ser tão bem composta; elas compõe com exatidão o filme, nem mais nem menos. As discussões do filme são realmente atemporais: relações familiares, "disputas de poder", loucura, fé, amor, sensibilidade, distanciamento, preocupação. O título do filme simplesmente não poderia ser outro, é perfeito pro que retrata. Incrível! Genial!
"Uma pedra-carta... Os antigos, antes da invenção da escrita procuravam uma pedra que expressasse seus sentimentos e a davam para aos entes queridos. Quem recebia a pedra podia ler os sentimentos do outro, pelo peso e textura. Por exemplo, uma pedra lisa era sinal de um coração sereno. Uma pedra áspera, de que a pessoa estava em dificuldades."
Tirando os pensamentos da época de ver as travestis/drag queens/transsexuais como um "tipo de gay" e outros termos pejorativos de como na época enxergavam o mundo, é filme com problemáticas atuais que dialoga muito com os dias de hoje. Talvez a linguagem ou forma de apresentação tenham suas limitações no mundo atual, o que é totalmente natural tratando-se de momentos históricos completamente distintos. Porém enquanto manifesto é incrível! Capta bem o tempo e país em que se desenvolve o filme, para estudantes (historiadores, psicólogos etc etc etc) de tal época e lugar é uma baita fonte de estudos, para quem se interessa por questões voltadas à sexualidade também. Quanto aos diálogos finais: não podiam ser melhores.
Pooooor favor, segundo filme q vejo Bergman e tô só me apaixonando cada vez mais. Filmaço! Incrível! Acho meio cedo pra dizer considerando que é só o segundo filme que conheço dele, mas me arrisco a dizer frente a qualidade dos filmes dele que só vou gostar mais e mais do diretor. Os diálogos desse filme são espetaculares. Me encantei tb por ser basicamente a gravação de uma peça de teatro. Filme bom demais!
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
3.8 1,3K Assista Agora"The pickety witch. The pickety witch. Who's going to kiss the pickety witch?"
"The truth is not always appearence."
Besouro
3.1 551"Preto com muito orgulho de sua cor."
"É pesado e tem as asas fininha."
"Quando os olhos do menino brilharam vendo aquele cascudo. Preto que nem ele, mas que podia voar. Ele fez uma escolha. A escolha de lutar pelo seu povo e deixou de ser Manoel pra virar Besouro."
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias
4.0 263Quanto sofrimento não é passível de ser evitado com a legalização do aborto...
Cinco Vezes Favela
3.7 24Tenho minhas ressalvas com as representações feitas das mulheres nos filmes dessa época no Brasil, mas acho que a personagem da moça principal de "Escola de Samba Alegria de Viver" (claro) e em alguma medida o episódio "Pedreira de São Diogo" conseguem questionar algumas pré-definições. Os episódios são fortes e lindos, os diretores souberam bem retratar as desigualdades sociais (ps: O do Diegues não é mesmo muito claro). Tem como não gostar das temáticas do cinema novo? A trilha sonora que compõe os episódios é linda. São episódios que devem ser vistos várias vezes.
Quilombo
3.5 30"— O rei de Portugal nos dá a liberdade pra sempre.
— O rei de Portugal não pode me dar o que é meu."
"Foi o Zumbi quem disse: Só fica escravo quem tem medo de morrer. O Zumbi é mais forte que tudo. Com ele Palmares não se acaba nunca."
"Eu sempre quis saber porque é que tem gente quer tanto mandar nos outros."
"Nós nunca mais vamos voltar a ser escravos de novo. Nunca mais."
Carmen
4.2 3Adoro muuuuuuuito essa ópera linda! Pra valer.
Ganga Zumba
3.5 22"Penso sempre no meu corpo descansando em Palmares. Na terra livre. Como era a nossa do outro lado do mar. Esse corpo para de doer."
"— Eles tem mais força. Tudo com arma. Eles são dono de tudo.
— Não vence a vontade de ser livre."
"Tu é que não sabe. Eles tentaram de todo jeito. Fizeram tudo pra acabar com Zambi, mas Oxumaré protege Palmares. Não deixa eles destruir o reino da gente."
"Oxumaré não deixa Palmares acabar. Palmares é terra de sangue livre."
"Zambi tá cansado, mas não desiste da luta. Nenhum de nós desiste."
"A gente tem é que fazer alguma coisa, se fosse fácil a gente não tava na luta. Tem é que lutar muito."
Carandiru
3.7 750 Assista AgoraTimaço de atores! Fala sério, que elenco! Filme bom demais.
Que momento a cena de todo mundo "louvando" a tal da pátria cantando o hino nacional pra logo em seguida entrarem os policias.
"Era véspera de eleição, doutor, o governador não ia deixar a cadeia explodir."
"Entraram pra matar, doutor."
"Mudou de ideia o cacete. Agiu na maldade pura. Deu um gostinho de esperança pro Ezequiel, voltou e matou ele."
"Quero ouvir você dizer: viva o Choque."
"No dia 2 de outubro de 1992, morreram 111 homens na Casa de Detenção de São Paulo. Não houve mortes entre os policias militares."
Os Fantasmas Se Divertem
3.9 1,7K Assista AgoraO-q-é a Winona nesse filme? Coisa linda!
Gasparzinho e Wendy
2.5 225Taí um dos filmes da minha infância que sempre vou amar!
Drácula de Bram Stoker
4.0 1,4K Assista Agora"O sangue (dela) é a vida."
"Não sou um louco, sou um homem normal lutando pela minha própria alma."
"Não existem coisas no universo que não entende, mas são reais?"
Monika e o Desejo
4.0 120 Assista AgoraO filme dentre todos que já vi até agora do Bergaman foi o único que não amei. Mas gostei mesmo assim. Bergman me toca de um jeito que é impossível "desgostar" de alguma de suas obras.
Bergman joga um olhar sobre os relacionamentos humanos que impossibilita a indiferença. Me fascina a cada filme, mas esse é de um realismo tão cru, sem os símbolos tão do Bergman e abarcando essa temática específica foi incômodo. Mas é justamente essa a beleza de Bergman, ele consegue como nenhum outro diretor enfiar o dedo fundo na ferida.
O Jardim dos Esquecidos
3.3 195Assisti esse filme pq minha prima queria muito q eu visse com ela, mas me surpreendeu, achei bom sim!
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraFilme fabuloso!
Irei Como um Cavalo Louco
3.9 25Liiink???
Gritos e Sussurros
4.3 472Incrível! Muito bom mesmo, as atuações estão fora de lógica de boas. Esse foi um filme do Bergman que pesou pra mim.
A cena em que somente Anna fica com Agnes me doeu muito, abandonada pelas irmãs. Senti isso bem dentro de mim. Senti Agnes na pele, como se eu é que estivesse passando por tudo aquilo.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KMaravilhooooso! Bergman, você é genial. Esse filme dói com os questionamentos da existência de Deus com a noção da morte iminente. Nem sei falar desse filme..
Correndo com Tesouras
3.8 264 Assista AgoraTítulo maisss que apropriado, captou exatamente o conceito do filme. Direção realmente incrível! O filme é ó-t-i-m-o! A trilha sonora foi outra coisa que delineou bem demais o filme. As cenas são tãaao bem construídas. Sério, amei o filme.
O Silêncio
4.1 110Direção impecável do Bergman nesse filme! (como em todos dele, rs). O silêncio do filme de nome homônimo permitiu que Bergman soltasse as asas enquanto diretor. Ele trata lindamente com temas difíceis, polêmicos, de grande carga emocional... Retratando relações familiares ele joga o filme na nossa cara, mas consegue ainda assim ser sutil. O silêncio desse filme era mais do que necessário pra montar essa sutileza do filme em contraste com
as insinuações de incesto, desejo reprimido, conflitos interiores, domínio, desprezo, raiva, mágoa, tristeza, remorso, rejeição, erros, vergonha, solidão, traumas. Anna parece assustada quando se trata de sexo e se engana que não, sai com homens quaisquer pra se esquecer disso. Johan é a expressão exata da infância (das coisas que não entendemos, da doçura que vemos em tudo, no que guardamos em nós de mau e bom). Esther é só tormenta.
Anna na chuva (enquanto Johan lê a "carta" da tia) é "o" final.
A metáfora de estarem em um país cuja língua desconhecem relacionando-se com a impossível comunicação entre as irmãs é tocante.
Luz de Inverno
4.3 173Existencialista do início ao fim. Bergman disseca a alma humana; perfura, esfrega, retorce, escalpela, invade, entranha, trespassa os sentimentos humanos. Nesse "Luz de inverno" trata da fé, de incertezas, questionamentos, negações, amor, morte, ausência, medo, fraqueza, vazio, entrega, silêncio, dor, suicídio, solidão, abandono... Em relação ao momento histórico, Bergman capta e transcreve com excelência o sentimento global gerado pela tensão da Guerra Fria, com ameaças de bombas nucleares que detonariam com todo o planeta, acabando com a vida na Terra. Ter escolhido um padre pra protagonizar o clima desse cenário é o diferencial grandioso. A confusão e o medo geral resultando no deterioramento da esperança, na perda da fé na "humanidade", nas pessoas, em Deus, em si. A quebra da estabilidade, da segurança, expondo sem dó tudo aquilo que é cruel de enxergar, a realidade muitas vezes dura; sem proteção, sem disfarce ou aparências; o que é verdadeiro transparece, assim como o que não é; no foco: a inquietação com a fé é questionada, seria ela um mero suporte, um conforto ou a mais pura verdade? Seria aquele período turbulento uma provação de Deus para com seus fiéis, um sacrifício necessário na identificação dos seres de real fidelidade ou a demonstração mais clara da não existência desse Deus? Questionam-se instituição, costumes e dogmas religiosos. Duvida-se da vida e de seu sentido a todo instante.
A sonoridade em relação aos sinos, relógio, órgão, hinos, silêncios são incisivas.
Após a cena inicial de "longa" pregação para uma pequena quantidade de pessoas, em meio as tosses do padre (seu corpo e sua fé padecendo), o momento do tocador de órgão totalmente alheio à missa é cômico.
Bergman ainda escolheu bem as personagens que comporiam a trama.
É incrível como ele faz com que a Guerra Fria passe do ambiente em que se inserem para a intimidade de cada um.
É maravilhoso ver o desprezo de Tomas ao amor de Magdalena. Aquele que prega o amor desdenhando de quem o ama.
E ela, criada fora de um ambiente religioso, desacreditando da fé de Tomas (fé essa que supostamente seria um dos grandes motivos, ou "o" motivo de sua existência), enquanto se entrega a ele com uma adoração que dialoga com o divino, que deusifica o ser amado, direcionando a ele todo o seu amor e por ele até sacrificando sua carne, sem negá-lo mesmo depois de depreciada por ele, num amor que se ratifica quase configurando em fé no objeto de desejo.
Tomas em descrença de tudo que foi até ali, dos valores que tinha, das coisas em que pensava crer. Seu amor à esposa morta. Seu amor (passando pela insegurança) à um Jesus tb morto.
A secundariedade do pescador que acaba por tirar sua própria vida.
A maneira distante que o padre lida com a morte do pescador.
A maneira forte (e talvez tb distante) que a esposa do pescador lida com a morte do marido (lindo cortar o olhar do padre para a janela da casa dela justo no momento em que ela contaria aos filhos sobre o falecimento do pai.)
A aproximação dos questionamentos, sentimentos, dúvidas do Deus em sua forma humana com a angústia que o padre sentia naqueles momentos, o padre assumindo o papel do Cristo. Se sentindo esquecido por Aquele à quem mais amou. Que alusão!
A cena final, Magdadela (adorei esse nome e ele se encaixa bem no filme, diga-se de passagem) ajoelha-se quase que rezando, quase que pedindo à Deus. Tomas (decid)indo rezar a missa para "ninguém", se apoiando em esperanças? Em fé? No último suspiro? No recomeço? No novo nascimento de convicções?
Seria a vitória de Deus? Da fé?
Confesso que quase senti falta de desses diálogos intensos como só Bergman faz, mas os que tem são como sempre arrebatadores e o que não tem de fala tem de simbologia, o filme inteiro fala, ainda que em silêncio (figuras, ângulos, enquadramentos, movimentações) e fala bonito demais.
Através de um Espelho
4.3 249Porra, Bergman! Esse filme veio pra minha realidade, não só em seu conteúdo, mas tb em seus gestos, jeitos, ambientações (que atuações, que fotografia, que roteiro... o filme tava passando aqui do meu lado!). Cada filme do Bergman é único e me é sentido como se fosse o primeiro. Pensei em ver sem parar filmes dele de tão encantada que fico com cada um, tão intensa e unicamente, mas talvez, só talvez seja melhor ir aos poucos pra que cada um seja a marca de um dia específico de minha vida; é impossível um dia em que se viu algum de seus filmes (digo isso pelos que já vi até agora, apesar de apostar quase com certeza e sem medo que todos os outros façam o mesmo) que seu dia não fique profundamente marcado por ele, muitas vezes como o mais tocante momento do dia (ainda que com o Bergman, as sensações do filme venham à tona na nossa vida, transforme os dias, sua maneira de vê-los e senti-los). Harriet Andersson está muito bem! Lars Passgård com seu olhar marcante; Max von Sydow, atenção e presença; Gunnar Björnstrand em uma personagem que conversa com quem sou, ao mesmo tempo que me traz angústia. Poderia passar o dia falando desse filme, de seus detalhes, de cada cena, juro, cada olhar, os maravilhoooosos diálogos. É um filme completíssimo, tão bem feito que cada cena para ter levado anos pra ser tão bem composta; elas compõe com exatidão o filme, nem mais nem menos. As discussões do filme são realmente atemporais: relações familiares, "disputas de poder", loucura, fé, amor, sensibilidade, distanciamento, preocupação. O título do filme simplesmente não poderia ser outro, é perfeito pro que retrata. Incrível! Genial!
A Partida
4.3 523 Assista Agora"Uma pedra-carta... Os antigos, antes da invenção da escrita procuravam uma pedra que expressasse seus sentimentos e a davam para aos entes queridos. Quem recebia a pedra podia ler os sentimentos do outro, pelo peso e textura. Por exemplo, uma pedra lisa era sinal de um coração sereno. Uma pedra áspera, de que a pessoa estava em dificuldades."
Não é o Homossexual que é Perverso, mas a Situação …
4.1 46Tirando os pensamentos da época de ver as travestis/drag queens/transsexuais como um "tipo de gay" e outros termos pejorativos de como na época enxergavam o mundo, é filme com problemáticas atuais que dialoga muito com os dias de hoje. Talvez a linguagem ou forma de apresentação tenham suas limitações no mundo atual, o que é totalmente natural tratando-se de momentos históricos completamente distintos. Porém enquanto manifesto é incrível! Capta bem o tempo e país em que se desenvolve o filme, para estudantes (historiadores, psicólogos etc etc etc) de tal época e lugar é uma baita fonte de estudos, para quem se interessa por questões voltadas à sexualidade também. Quanto aos diálogos finais: não podiam ser melhores.
Madame de Sade
3.8 12Pooooor favor, segundo filme q vejo Bergman e tô só me apaixonando cada vez mais. Filmaço! Incrível! Acho meio cedo pra dizer considerando que é só o segundo filme que conheço dele, mas me arrisco a dizer frente a qualidade dos filmes dele que só vou gostar mais e mais do diretor. Os diálogos desse filme são espetaculares. Me encantei tb por ser basicamente a gravação de uma peça de teatro. Filme bom demais!