Howard Philips Lovecraft é, com toda certeza, um dos maiores autores de histórias de terror da história da literatura. Porém não qualquer tipo de terror, mas o terror cósmico: o medo do desconhecido, criaturas que fazem o ser humano parecer um mero grão de areia e que podem levá-lo à loucura, entre outras coisas inomináveis (para quem nunca leu um conto dele, essa é uma das palavras que ele mais usa). Lovecraft conseguiu, com isso, criar uma mitologia de seres de outros lugares do universo e que aqui estão há muito mais tempo que o ser humano, seres esses considerados deuses. O autor se opõe a outras vertentes literárias/filosóficas como o romantismo, o racionalismo e o humanismo para expor uma visão pessimista da existência: a de que nós, meros mortais, somos insignificantes perante os desafios do universo, o que torna a vida ainda mais incompreensível, resultando em loucura e desespero. Além disso, seus contos ainda exerceram forte influência sobre autores como Stephen King, bandas como Metallica e filmes como Alien – O Oitavo Passageiro (1979), O Enigma de Outro Mundo (1982), À Beira da Loucura (1994), It – A Coisa (2017) e Aniquilação (2018). Entre seus principais contos estão O Chamado de Ctulhu, Nas Montanhas da Loucura, Herbert West – Reanimador, O Horror de Dunwich e o conto que é adaptado nesse filme, A Cor que Caiu do Espaço. A primeira pergunta que um leitor de Lovecraft (como eu) provavelmente faria (ou não) diante de uma adaptação cinematográfica de um conto do autor é: como diabos vão adaptar isso? E realmente: como se adapta o “desconhecido” para o cinema? É uma tarefa difícil (e até perigosa), mas dois recursos que os realizadores podem usar – e têm liberdade para isso – são a imaginação e a interpretação, e nesse filme isso funciona bem. Uma marca registrada nos contos de Lovecraft, assim como na maioria das histórias de terror e suspense, é o mistério em torno de alguma coisa, nesse caso a tal cor que veio do espaço. E como retratar aquilo que é desconhecido/misterioso se não através da cor? Portanto, começo falando brevemente da paleta de cores desse filme. A predominância do roxo, rosa-choque e magenta serve para acentuar o mistério em torno da cor, enquanto o vermelho é quase imperceptível para ressaltar o perigo que essa cor carrega, perigo este que se torna mais claro gradualmente à medida que o ambiente em que se encontram os Gardner muda, além do fato de as cores trazerem uma atmosfera psicodélica, assim como é feito em Mandy – Sede de Vingança, acentuando a loucura que vai ganhando força entre os Gardner. E falando em mudança, o que essa misteriosa cor faz ao atingir a propriedade daquela família é justamente alterar/interferir tudo ao seu redor (plantação, animais, o comportamento de cada membro da família, aparelhos eletrônicos e até a percepção de tempo e espaço), e é por isso que a situação só vai piorando, criando um clima de tensão constante. O caos se torna realidade aos poucos, assim como nos contos do Lovecraft. Tanto o roteiro quanto a trilha sonora ajudam na construção desse clima: o primeiro busca ao máximo não ser muito explicativo a ponto de parecer uma bula de remédio ou um tutorial, contentando-se apenas em mostrar o que está acontecendo e deixando o espectador pensar por si mesmo sobre o mistério da cor, enquanto a trilha se aprofunda na medida em que as coisas vão ficando mais caóticas utilizando sons eletrônicos que lembram outras trilhas sonoras como as de Hereditário (o compositor, Colin Stetson, é o mesmo inclusive) e Corrente do Mal. As atuações estão boas de forma geral, embora Nicolas Cage dê umas exageradas em alguns momentos, o que, por outro lado, não nos deixa de interpretar esses exageros como o efeito da cor sobre o comportamento dos personagens. Quanto à estética do filme (além das cores, claro), ela nos faz lembrar outros longas de terror e suspense: O Iluminado, pela claustrofobia que sufoca os personagens por estarem isolados em um lugar do qual não podem ir embora; O Enigma de Outro Mundo, por conta dos efeitos práticos muito bem feitos e do tema do medo do desconhecido; Aniquilação, devido ao ambiente que muda com o passar do tempo e à loucura que assola aqueles que topam com o “desconhecido”; e À Beira da Loucura, pelos mesmos motivos citados anteriormente. Agora, se posso apontar um problema no filme é o exagero no CGI principalmente no terceiro ato, já que no restante do filme ele é mais moderado e controlado apenas para pontuar algumas mudanças no ambiente. Quanto a Nicolas Cage, já o abordei anteriormente, mas creio que sua atuação nesse longa poderá dividir a opinião das pessoas. Eu, particularmente, achei que ele até se saiu bem, apesar dos exageros. No final das contas, A Cor que Caiu do Espaço se sai muito bem como uma adaptação do conto de Lovecraft, preservando sua essência mesmo sendo trazido para os dias de hoje (o que não é uma péssima ideia), mostrando o quão os realizadores foram competentes em retratar o famigerado desconhecido/inominável tão presente na obra desse grande mestre do terror. Sinceramente espero que outros contos dele sejam adaptados para o cinema, embora isso vá requerer muita imaginação e muito cuidado por parte dos realizadores, já que a mitologia lovecraftiana é muita rica em detalhes e mistérios que nos deixam na ponta da cadeira. Nota: 9/10
Ficção científica é um dos meus gêneros de filme favoritos. Entre meus favoritos estão 2001 - Uma odisseia no Espaço (a melhor ficção para mim), Metrópoles, Planeta dos Macacos, as trilogias De volta para o futuro e Star Wars (episódios IV a VI), Blade Runner, Matrix, Distrito 9, A Chegada, Avatar... é filme que não acaba mais. Cada longa, na maioria das vezes, busca transmitir um determinado ponto de vista sobre certo tema, e cada espectador pode tirar suas próprias conclusões sobre ele. Para isso, porém, o filme necessita de um roteiro bem construído e que busque não explicar tudo, entregar tudo (ou quase tudo) de bandeja para o espectador como se estivesse falando "Sou inteligente demais para você me compreender, sua anta" na nossa cara. O interessante é quando o roteiro mostra apenas o essencial/necessário, deixando o resto para posterior interpretação, que podemos desenvolver não apenas a partir das falas, mas também da fotografia, do som, da direção de arte etc. (Vale lembrar que tudo isso é válido para qualquer gênero de filme). No caso de Interestelar, isso é, no mínimo, polêmico. Todavia, terei que ser sincero sobre esse filme, a começar pelo roteiro e pela narrativa. Na trama, a Terra passa por problemas devido à falta de recursos (basicamente uma distopia), e para salvar a humanidade, um grupo de astronautas vai em busca de um novo planeta para preservar a continuidade da espécie humana. Só de ler a sinopse, a curiosidade (em especial de fãs de ficção, como eu) já é despertada. Portanto, sim, é interessante. Quanto ao roteiro e à narrativa, não posso dizer o mesmo. O primeiro ato até começa bem explorando a relação entre o pai (Cooper) e a filha (Murph), que é bem construída no primeiro ato, já demonstrando um quê de Steven Spielberg, que também gosta de explorar relações entre pais e filhos. O problema mesmo está no segundo ato em diante, quando Cooper e outros astronautas recebem a missão de encontrar outro planeta para salvar a humanidade. Posso resumir esse ato em duas palavras: frieza e indiferença. Sério, como é que Cooper e os outros não demonstram nenhuma reação quando estão no espaço, atravessam o buraco de minhoca ou chegam em determinado lugar? Para tudo reagem com a maior frieza, como se já tivessem feito aquilo umas 500 vezes. Sem contar a parte em que a personagem da Anne Hathaway fala que "o amor transcende o tempo e o espaço", que soa descontextualizado e estranho. Claro, o problema não é a fala em si, mas a maneira como foi jogada naquela cena e o fato de os outros não questionarem. E o que dizer daquele final? Resumo novamente em duas palavras: ridículo e lastimável. Eu até me pergunto: "como é que o Christopher Nolan não teve noção desse ridículo?". Enfim, no tocante ao roteiro, concluo da seguinte forma: é muito arrogante, ou seja, explica demais de maneira desnecessária como se o espectador não fosse entender absolutamente nada. Uma explicação ou outra até que não faria mal, mas precisava ser mais didático que uma bula de remédio? Todo esse didatismo exacerbado e o excesso de sentimentalismo acabam por causar inconsistência e desequilíbrio na trama, fazendo o roteiro mais parecer um tutorial. Recomendo que leiam o artigo Interestelar e a inconsistência tonal para tentarem entender o que disse acima. Agora, em relação aos aspectos visuais e sonoros, não posso negar: são de deixar qualquer um de queixo caído. Quem gosta e admira o trabalho de Christopher Nolan sabe muito bem que ele não gosta de utilizar muito CGI em seus filmes, e não é diferente em Interestelar: desde a cena de tempestade de areia na Terra no primeiro ato até quando Cooper entra pelo buraco negro foram feitas da maneira mais realista possível, sendo melhor que muitos filmes por aí que exageram no CGI, mas acabam ficando uma porcaria. O que mais impressiona nesse filme (e me faz gostar bastante dele, apesar do roteiro) é justamente esse realismo característico dos filmes do Nolan. Percebe-se isso, por exemplo, no formato das naves: não é surreal demais, dando a impressão de ser mais palpável, mais próximo da realidade. Quanto à trilha sonora, composta por ninguém menos que Hans Zimmer, é com certeza uma das mais lindas de sua carreira e casa bem com os lugares pelos quais os personagens passam no espaço. Um exemplo disso é quando os personagens param naquele planeta assolado por tsunamis e quando a câmera foca numa onda de baixo para cima, dando a impressão de insignificância/pequenez diante de algo desconhecido. Nessa parte, a música se intensifica, deixando-nos vislumbrados e, ao mesmo tempo, com uma sensação de perigo. É simplesmente lindo demais. Outro elemento que chama a atenção em Interestelar é o aspecto científico. Percebe-se um certo rigor em relação a isso, uma vez que Nolan buscou ao máximo retratar tudo (ou quase) da maneira mais realista possível, fugindo da fantasia. Durante a produção do filme, inclusive, o diretor teve uma colaboração de um físico para isso. E esse rigor podemos ver principalmente na cena do buraco negro. Sério, QUE CENA MARAVILHOSA! Sua representação no filme chega a ser considerada a mais próxima da realidade por físicos e astrofísicos, sendo até utilizada para pesquisas da área. É realmente magnífico! Conclusão: Interestelar não chega a ser o suprassumo da ficção científica, mas ainda assim impressiona com seu visual (fotografia e direção de arte), trilha sonora e algumas boas atuações (em especial a de Matthew McConaughey), além do rigor científico adotado por Christopher Nolan. Tudo isso me faz gostar do filme, mas me decepciona o fato de a narrativa ser fria e inconsistente principalmente a partir do segundo ato, sem falar no didatismo do roteiro, que chega a ser ridículo e arrogante. Por isso me recuso a colocar Interestelar no mesmo patamar dos filmes que citei acima. Mas ainda assim, repito, amo esse filme pelo seu visual realista e pelo rigor científico, que me deixam boquiaberto. Nota: 8/10.
Recontar um clássico conto de fada realmente não é uma má ideia, principalmente quando recontada como uma história de terror (afinal, muitas versões originais dos contos de fada se aproximavam do terror, como Chapeuzinho Vermelho). Esse é o caso de Maria e João: O conto das bruxas, dirigido por Osgood Perkins, filho de Anthony Perkins, conhecido por sua icônica atuação como Norman Bates em Psicose (1960). Juro para vocês que estava ansioso para assistir a esse filme por duas razões: primeiro por recontar um clássico conto de fada publicado pela primeira vez há mais de duzentos anos, e segundo porque a atmosfera do longa me fez lembrar um pouco filmes de terror atuais como A Bruxa e Hereditário, filmes esses que possuem uma atmosfera macabra pesada e agonizante, com cenários escuros em que o perigo/mal pode estar em qualquer lugar. E Maria e João consegue, nesse quesito, recriar um cenário onde predominam cores mortas para transmitir a sensação de que os personagens se encontram num lugar perigoso e sombrio. Logo, a paleta de cores do filme é certeira para tal objetivo, colaborando assim com uma fotografia que realmente chama a atenção A direção de arte é competente ao recriar principalmente a casa da bruxa: no conto clássico, a casa é feita de doce, dando a entender que é um lugar bonito e "delicioso" por fora, mas que por dentro ocorre algo que ninguém imaginaria que poderia acontecer num lugar desses; já no filme, a casa já transmite uma sensação de ser um lugar hostil e sombrio, com uma coloração bastante preta por fora e por dentro uma iluminação amarela bem saturada. Percebe-se, portanto, uma influência de Guillermo del Toro e Tim Burton na construção do cenário, já que ambos os diretores são conhecidos por usarem cenários fantásticos sombrios para contar suas histórias. Já a trilha sonora é, ao lado das direções de arte e de fotografia, o que mais me chamou a atenção, pois faz lembrar as trilhas sonoras de filmes como Halloween, A Hora do Pesadelo e Corrente do Mal, devido ao uso de sintetizadores, que buscam intensificar acentuar a tensão em determinados momentos... mas no caso de Maria e João, isso não ocorre tão bem quanto o esperado. E é aqui que começo a realmente apontar o maior defeito do filme (e que defeito!): o roteiro. Vamos lá: o filme busca contar a clássica história de João e Maria, o que não é problema nenhum, já que visa apresentar uma nova versão da história. Eu particularmente gosto disso, ainda mais quando acrescentam no filme temas atuais, como foi o caso de O Homem Invisível, que busca abordar o tema da violência contra a mulher, e faz com precisão e sem enrolar, assim modernizando um clássico da literatura sem abandoná-lo completamente. Mas o caso de Maria e João é o contrário. O roteiro só se sai bem de fato bem no quesito que acabei de abordar, ou seja, na modernização do conto. É até legal ver a história se passar provavelmente num ambiente medieval enquanto um tema atual é tratado (embora se tenha o perigo de se cair em anacronismos, sendo necessário muito cuidado). Mas o que vem depois disso no filme é ladeira abaixo. O filme tem uma hora e meia, mas a impressão que tive foi de que durou mais de duas horas, pois a história não ia para frente, além de muitas outras coisas que acontecem no meio do filme que não levam a lugar algum. E tudo isso na tentativa de abordar o tema do amadurecimento/independência, que é bagunçada e confusa. Chegou um momento em que não estava entendendo mais nada devido ao monte de coisas desnecessárias acontecendo. E o final é tão corrido que quando o filme acabou, fiquei tipo: "Beleza, e daí? É só isso? Sério?" Com isso, o filme acaba se achando mais do que realmente é: uma grande massa amorfa confusa e perdida. Portanto, minha conclusão é a seguinte: o filme não é inteiramente ruim, mas seu roteiro, que tinha tudo para ser bem escrito e planejado, acaba sendo tão frágil e bagunçado que não consegue sustentar a história por muito tempo. O que realmente carrega o filme nas costas são a trilha sonora e as direções de arte e de fotografia (as atuações se saíram regulares), sendo assim um tripé que podia ser um "quadripé", não fosse a incompetência de um roteiro que atira para todos os lados, que tenta fazer do filme muitas coisas ao mesmo tempo e que acha que é super inteligente, mas não passa de algo sem forma e sem identidade. Nota: 6,5/10
Só tenho duas críticas a esse longa de James Gray:
1º A maneira como as cenas que envolvem ação foram colocadas no filme. (Não quero dizer que elas foram mal executadas. Afinal, todas as cenas são bem dirigidas). O que quero dizer com isso é que, pelo menos para mim, essas cenas (principalmente
a da perseguição na lua e a do babuíno que ataca Roy numa nave à deriva no espaço
) foram "jogadas" de qualquer maneira no filme apenas para impressionar o espectador. Independente se ocorressem ou não, muito provavelmente não iriam fazer diferença alguma para a história.
2º Todo filme que se passa no espaço apresenta uma questão existencialista para fazer o espectador refletir (isso se este gostar de reflexões desse tipo, e não apenas assistir a um filme para se divertir): Alien, o oitavo passageiro (1979), de Ridley Scott, mostra o desespero e o medo do homem diante do desconhecido (clara influência lovecraftiana); 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, apresenta o homem como um ser que sempre buscou se aperfeiçoar, indo também atrás de respostas para complexas questões; Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón, aborda o instinto de sobrevivência e autopreservação do ser humano a qualquer custo, mesmo em momentos de isolamento ou quando sofre uma perda; Interestelar (2014), de Christopher Nolan, apresenta o amor que se tem por alguém como um sentimento capaz de transcender o tempo e o espaço, não importando a distância que se está daquele(a) que se ama; entre outros exemplos. Ad Astra - Rumo às Estrelas não é diferente: o expansionismo humano (sua vontade de se expandir e de dominar) e sua vontade de ir em busca de respostas sem que nada que venha de fora o abale emocional e psicologicamente (não falarei mais para não dar spoilers) são as principais questões levantadas no filme. Enquanto a primeira se sai bem, mostrando as instalações na lua e em Marte, a segunda, embora interessante num primeiro momento, começa, a partir do segundo ato, a ser entregue de bandeja ao espectador devido ao uso excessivo da narração em off, tornando tal questão simples demais de entender.
Mesmo com esses problemas, o filme apresenta muitos méritos: a atuação de Brad Pitt, como sempre, está excelente (na minha opinião, merece uma indicação ao Óscar de melhor ator); a fotografia, assim como na maioria dos filmes que se passam no espaço, é exuberante; James Gray executa uma ótima direção; os efeitos visuais e a mixagem e edição de som estão igualmente incríveis. Enfim, mesmo tendo alguns problemas mais ligados ao roteiro, o filme é ótimo tecnicamente. Uma boa recomendação para quem gosta de ficção científica com toques de suspense.
Creio que o filme receba, no máximo, umas oito ou nove indicações ao Óscar (agora se vai levar alguma, aí já não sei dizer, já que haverá nomes de peso nesse Óscar): Melhor filme Melhor direção Melhor ator principal Melhor edição de som Melhor mixagem de som Melhor direção de arte Melhor fotografia Melhor figurino Melhor efeitos visuais
Umas das melhores representações do espaço na história do cinema, assim como Uma Odisseia no Espaço, Alien - O Oitavo Passageiro, a saga Star Wars, entre muitos e muitos outros. Sandra Bullock entrega uma atuação impressionante. CGI surreal, de deixar qualquer um de queixo caído. A direção de Alfonso Cuarón é espetacular, utilizando longos planos para mostrar o ambiente no qual os personagens estão inseridos (os primeiros dez minutos do filme me impressionaram ao apresentar a Terra vista do espaço e logo em seguida os personagens e os problemas pelos quais passam). Ou seja, a câmera caminha suavemente pelo local ao invés de pular de uma cena para outra com cortes excessivos e desnecessários, deixando tudo um pouco mais claro e nos fazendo sentir como se estivéssemos vivendo aquilo. E a trilha sonora? Sem comentários. Apenas brilhante. Em suma, Gravidade é um filme de tirar o fôlego a cada minuto que passa misturando suspense e ficção científica, além de aludir às fragilidades do ser humano e sua insignificância diante das forças do universo, mas ao mesmo tempo mostra como ele pode pelo menos superar a si mesmo. Uma verdadeira obra-prima do cinema do século XXI.
Diferente de boa parte do público, essa nova versão de Cemitério Maldito me convenceu bastante, levando-me inclusive a preferir esse ao original (minha opinião; por favor, não me condenem kkkkkk). Explico-me. Entendo perfeitamente a preferência da maioria pela primeira versão (não vejo problema nenhum nisso) por ser fiel ao romance de Stephen King (pelo menos em relação aos acontecimentos, mas explicarei isso abaixo), pela visceralidade e devido à música dos Ramones, Pet Sematary (um clássico!). Também acho esses três elementos muito bons (pelo menos em partes, com exceção da música) para o filme, porém este peca (e feio!) em outros aspectos: as atuações são fracas a ponto de serem ridículas e superficiais (com duas exceções: Fred Gwynne, que interpreta o vizinho dos Creed, Jud Crandall, e Church, o gato, que para falar a verdade, atua melhor que os outros) e a direção de Mary Lambert é caótica no geral, mas principalmente nas cenas de confronto, o que impossibilita perceber o que diabos está acontecendo (aliás, as coreografias também são estúpidas). Já em relação ao fato de o longa-metragem ser fiel à obra de Stephen King, eu acho questionável. Explico isso também. (Para quem acha que eu não gosto da versão de 1989, na verdade não acho ruim. Apenas não simpatizo tanto quanto outras pessoas. Aliás, há filmes muito piores que esse). King redigiu o livro numa época em que sentia medo de perder sua família devido aos seus vícios (álcool principalmente). Na história - e isso vale também para os filmes -, acompanhamos a família Creed, que se mudou para uma casa mais afastada da cidade e próxima da natureza. Ao chegarem ao local, percebem que há no terreno próximo à casa um cemitério de animais que carrega uma lenda macabra: todo ser que é lá enterrado retorna dos mortos, porém não como era antes. Aqui o autor aborda com maestria o medo de se perder um ente querido, ou seja, o medo da morte, sua não aceitação e o luto. É esplêndida a maneira como Stephen King explora o psicológico dos personagens, seus traumas e dúvidas, principalmente de Louis Creed e sua esposa, Rachel: o primeiro, por ser médico, vê a morte no aspecto científico e se mostra cético quanto a outras visões, enquanto a última carrega um trauma de infância relacionado à irmã. Somos levados a pensar que as tragédias que ocorrem no livro - e nos filmes - são devido à aura macabra que o local em que todos se encontram apresenta (o cemitério em si, o terreno atrás da casa dos Creed, a estrada, etc.), fazendo os personagens parecerem meras peças de um jogo de uma força maligna maior e mais forte que eles, tornando-os insignificantes e fracos psicologicamente e os levando à beira de um abismo chamado loucura (dá para ver aí a influência de Lovecraft exercida sobre Stephen King para escrever essa obra - e outras, óbvio). Enfim, por que eu acho questionável o fato de o longa-metragem de 1989 ser fiel ao livro de King? Respondo-lhes: o problema não é ser fiel à obra, mas ser tão fiel apenas aos acontecimentos a ponto de não se aprofundar tanto no aspecto psicológico dos personagens que foram afetados por algum acontecimento em maior ou menor grau. É como se algo terrível tivesse acontecido, mas os personagens pouco se importaram com a tragédia. Chamo isso de fidelidade rasa ou, às vezes, falsa, ou seja, quando um filme é mais fiel àquilo que ocorre externamente ao personagem sem, contudo, se aprofundar muito no lado interno deste através de elementos como diálogos bem escritos e proferidos e expressões faciais que possam demonstrar perfeitamente o que o indivíduo está sentindo (como ocorre em Hereditário, em que as expressões de Toni Collette chegam a dar medo por adotarem perfeitamente um aspecto expressionista), o que torna o filme algo sem essência. E é aí que entra o remake de Cemitério Maldito. Essa nova versão realmente apresenta mudanças, porém elas não comprometem o filme (mudanças essas que o próprio Stephen King elogiou). Esse remake é um novo olhar sobre o romance. Diferente do original, que era mais gore, a versão de 2019 foca mais no terror psicológico. A atmosfera macabra do filme já nos é apresentada antes mesmo do cemitério de animais, dando a entender logo de cara que o lugar para o qual os Creed se mudaram não emana humanidade, mas medo, loucura, desespero. No geral, as atuações estão excelentes: Jason Clark (Louis Creed) apresenta muito bem as diversas faces de seu personagem (alegria, medo, preocupação, desespero, loucura); a personagem de Jeté Laurence (Ellie Creed) emana amabilidade e, diferente do original, recebe mais atenção do roteiro, entregando uma atuação que dispensa comentários; John Lithgow (Jud Crandall) demonstra confiança e bastante conhecimento em relação àquele lugar, já que vive lá há mais de 70 anos; e Amy Seimetz (Rachel Creed) nos mostra uma personalidade instável devido ao trauma que mencionei acima. Enfim, nenhuma atuação me decepcionou: todas me convenceram, principalmente as citadas acima. A fotografia é “nublada”, o que nos convence ainda mais da escuridão que aquele local emana. O cenário da floresta ficou mais bem encaixado com a história em comparação ao original de 1989, cujo mesmo cenário não chega a ser ruim ou mal feito, mas para mim apenas não me incomodou psicologicamente, parecendo uma floresta genérica. Já a floresta dessa nova versão possui uma atmosfera mais sombria e enevoada, emana mais mistério e perturba psicologicamente. E destaque para a edição de som: os sons que são ouvidos na floresta (galhos quebrando e urros) dão a impressão de que há algo maligno rondando por ali e observando sorrateiramente os personagens, o que causa ainda mais aflição. Como disse anteriormente, aquele local não emana, em momento nenhum, humanidade, mas sentimentos negativos, o que contribuiu para a decadência gradual dos personagens que lá vivem (mais ou menos como ocorre em Requiem para um Sonho, de Darren Aronofsky, em que os personagens vão decaindo cada vez mais até perderem a esperança). Em suma, o grande diferencial desse longa, em comparação ao original de 1989, é a conservação da essência. Como disse, o original (pelo menos para mim) parece que dá mais importância aos acontecimentos em si, deixando de lado o psicológico dos personagens e apelando demais para o aspecto visceral apenas para impressionar. Muita gente pode acabar pensando: “Mas na obra de Stephen King também há visceralidade”. Claro que tem, e é até chocante quando o autor descreve, por exemplo, o que aconteceu com Victor Pascow. King, porém, dá maior atenção ao psicológico dos personagens (principalmente ao de Louis Creed) e ao impacto que estes sofrem quando uma tragédia acontece (principalmente quando Gage, o filho mais novo, é atropelado por um caminhão). O aspecto visceral, portanto, é um elemento secundário na obra, assim como o jumpscare nos filmes de terror. Voltemos à questão da conservação da essência: o que quero dizer com isso? Primeiramente, isso é importante principalmente para remakes e adaptações de obras literárias. Segundo, quando digo conservar a essência, é mais ou menos como conservar um museu: para que nada de ruim aconteça com ele, é necessário que passe por reformas (parte elétrica, pintura, etc.) sem, contudo, que sua estrutura original seja comprometida, ou seja, o prédio em si. Ou melhor, sua estética. No caso de remakes e adaptações de livros (alguns exemplos: It – A Coisa, O Iluminado, O Exorcista, A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Bela e a Fera, entre muitos outros), a história pode passar por modificações? Sim, desde que não comprometa o essencial, sua estética (e é o que acontece com os exemplos que citei acima). Aliás, mudanças são necessárias muitas vezes para apresentar ao público uma nova visão de uma determinada história (o que funciona algumas vezes, em outras não), senão o filme pode acabar sendo o mais do mesmo, sem graça. Voltando ao remake de Cemitério Maldito, percebe-se, como disse, um maior foco no terror psicológico através – volto a dizer – da aura macabra que o ambiente emana (e seu impacto sobre os que vivem por perto) e da forma como o lado psicológico dos personagens é explorado (em especial, o de Louis Creed, que expressa perfeitamente seus sentimentos, indo desde uma alegria otimista até a loucura total). Quanto às mudanças, eu as achei necessárias (e até interessantes) para o filme principalmente para não ser um mais do mesmo. Com essa maior preocupação ao que é psicológico e invisível, e não físico e visual, combinado com um ambiente hostil e maligno, vê-se aí, portanto, maior conservação da estética da obra original de Stephen King e mais foco na temática da história: a morte e seu impacto sobre as pessoas. Nota: 8.8/10
Ótima temática, roteiro bem escrito, uma atmosfera aterrorizante (consegue dar mais medo que muitos filmes entupidos de jumpscares), ótimas atuações, excelente direção de Ari Aster, trilha sonora espetacular (uma das melhores que já ouvi) e um final que me deixou sem palavras. Esse realmente foi um dos melhores filmes de terror que já vi na minha vida e o segundo melhor de 2018, ficando apenas atrás de Um Lugar Silencioso. Já estou ansioso para o próximo filme de Ari Aster: Midsommar.
Meu filme de terror favorito!!!! Michael Myers>>>>>>>>>>Leatherface>>>>>>>>>>>Jason>>>>>>>>>>>>>Freddy Krueger>>>>>>>>>>Chucky>>>>>>>>>Jigsaw>>>>>>>>>>>Ghostface
A animação de 1941 é, para mim, ao lado de Rei Leão (1994), a melhor que a Disney já fez. Ainda guardo grandes lembranças dela. Dumbo (1941) consegue intercalar momentos alegres e tristes, trazendo consigo uma magia capaz de fazer nossos olhos brilharem. Simpatizamo-nos tanto com o elefantinho que é humilhado por ter orelhas grandes demais quanto com o seu amigo e ajudante Timothy. O mais interessante ainda é o fato de os animais serem os principais personagens desse filme, deixando os humanos em um segundo plano (não que sejam irrelevantes). Em apenas uma hora e pouquinho, Dumbo (1941) consegue encantar, cativar e alegrar. No final das contas, a animação mostra que por mais que as pessoas te critiquem e te humilhem por causa de um defeito, você pode usar esse "defeito" a favor de si mesmo, fazendo-o voar, ou seja, superar os limites. É como dizia Nietzsche: O que não me mata me fortalece. Já em relação ao remake, eu achei que seria um desafio para o diretor Tim Burton fazer uma releitura desse clássico, acrescentando novos elementos e uma nova cara ao filme, como a Disney tem feito em seus remakes anteriores, como Mogli - O Menino Lobo (2016) e A Bela e a Fera (2017) (na minha opinião, os melhores remakes feitos pela Disney até agora). Dumbo (2019) é visualmente lindo, com ambientes muito bem detalhados, coloridos e impressionantes. Na primeira metade, vemos um circo simples, que vai de cidade em cidade de trem para realizar suas apresentações. Na segunda metade, temos agora um ambiente ainda mais detalhado e complexo, chegando a ser assustador. O figurino, assim como os ambientes, é bem feito e, além disso, contextualizado (vale lembrar que o filme é ambientado após a Primeira Guerra Mundial). O filme possui um elenco bem composto (Colin Farrell, Danny DeVito, Michael Keaton e Eva Green), porém o roteiro se mostra superficial demais, tornando boa parte das atuações fracas (com exceção do personagem de Danny DeVito, que até me cativou), embora em alguns momentos possamos sentir uma certa emoção no ar. Dar uma cara nova a um clássico realmente é um desafio e tanto, como disse anteriormente. Mudar algumas coisas para que a nova versão não fique o mais do mesmo, para mim, não é problema nenhum. Na animação de 1941, vemos o ponto de vista dos animais, enquanto os humanos, como disse, são deixados em segundo plano. Nessa nova versão, vemos o contrário: os humanos agora são o foco do filme e são eles quem fazem o longa andar, o que achei, em partes, um ponto negativo para o filme ao tirar o protagonismo do elefantinho orelhudo e entregá-lo principalmente ao personagem de Colin Farrell. Como disse acima, achei boa parte das atuações fracas e sem muita emoção, o que não quer dizer que eu esteja falando que não deveria ter seres humanos nesse longa. Apenas acho que o roteiro poderia ter sido melhor escrito. Já os animais estão lá como um "bônus". Falando nos animais, não posso deixar de falar aqui do elefante mais fofo do mundo: o Dumbo. Como disse, os ambientes e o figurino são espetaculares e bem detalhados (realmente um ótimo trabalho da equipe técnica do filme). O mesmo falo do elefantinho voador. Nesse filme, ele está bem realista, apresenta um olhar que cativa bastante, um jeitinho atrapalhado que diverte e uma fofura que me deixou sem palavras. A relação dele com a mãe é relativamente bem explorada (embora pudesse ter sido mais). Já a relação com os seres humanos, principalmente com as crianças que o ajudam, interpretados por Nico Parker e Finley Hobbins, para mim infelizmente não foi tão aprofundada assim, o que é mais um ponto negativo. Outro ponto negativo é o Dumbo conseguir, do nada, criar uma capacidade cognitiva para entender o que os personagens falam, o que achei forçado demais por parte do roteiro. Dumbo (2019) não é um remake grandioso por não ter uma magia muito forte que paire no ar, como o original de 1941, mas também não é horrível: tem seus altos e baixos, diverte em alguns momentos, decepciona em outros, faz referências ao original - o que eu também achei muito legal -, mas infelizmente efêmeras, e parece não ter tanta inspiração quanto os remakes anteriores. Ainda assim, a experiência pode valer a pena para muita gente. Para mim, mesmo sendo o remake da Disney mais fraco que já vi até agora, valeu a pena - parcialmente. Minha nota ao filme é 6,2/10.
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A Cor que Caiu do Espaço
3.1 350Howard Philips Lovecraft é, com toda certeza, um dos maiores autores de histórias de terror da história da literatura. Porém não qualquer tipo de terror, mas o terror cósmico: o medo do desconhecido, criaturas que fazem o ser humano parecer um mero grão de areia e que podem levá-lo à loucura, entre outras coisas inomináveis (para quem nunca leu um conto dele, essa é uma das palavras que ele mais usa). Lovecraft conseguiu, com isso, criar uma mitologia de seres de outros lugares do universo e que aqui estão há muito mais tempo que o ser humano, seres esses considerados deuses. O autor se opõe a outras vertentes literárias/filosóficas como o romantismo, o racionalismo e o humanismo para expor uma visão pessimista da existência: a de que nós, meros mortais, somos insignificantes perante os desafios do universo, o que torna a vida ainda mais incompreensível, resultando em loucura e desespero. Além disso, seus contos ainda exerceram forte influência sobre autores como Stephen King, bandas como Metallica e filmes como Alien – O Oitavo Passageiro (1979), O Enigma de Outro Mundo (1982), À Beira da Loucura (1994), It – A Coisa (2017) e Aniquilação (2018). Entre seus principais contos estão O Chamado de Ctulhu, Nas Montanhas da Loucura, Herbert West – Reanimador, O Horror de Dunwich e o conto que é adaptado nesse filme, A Cor que Caiu do Espaço.
A primeira pergunta que um leitor de Lovecraft (como eu) provavelmente faria (ou não) diante de uma adaptação cinematográfica de um conto do autor é: como diabos vão adaptar isso? E realmente: como se adapta o “desconhecido” para o cinema? É uma tarefa difícil (e até perigosa), mas dois recursos que os realizadores podem usar – e têm liberdade para isso – são a imaginação e a interpretação, e nesse filme isso funciona bem. Uma marca registrada nos contos de Lovecraft, assim como na maioria das histórias de terror e suspense, é o mistério em torno de alguma coisa, nesse caso a tal cor que veio do espaço. E como retratar aquilo que é desconhecido/misterioso se não através da cor? Portanto, começo falando brevemente da paleta de cores desse filme. A predominância do roxo, rosa-choque e magenta serve para acentuar o mistério em torno da cor, enquanto o vermelho é quase imperceptível para ressaltar o perigo que essa cor carrega, perigo este que se torna mais claro gradualmente à medida que o ambiente em que se encontram os Gardner muda, além do fato de as cores trazerem uma atmosfera psicodélica, assim como é feito em Mandy – Sede de Vingança, acentuando a loucura que vai ganhando força entre os Gardner. E falando em mudança, o que essa misteriosa cor faz ao atingir a propriedade daquela família é justamente alterar/interferir tudo ao seu redor (plantação, animais, o comportamento de cada membro da família, aparelhos eletrônicos e até a percepção de tempo e espaço), e é por isso que a situação só vai piorando, criando um clima de tensão constante. O caos se torna realidade aos poucos, assim como nos contos do Lovecraft. Tanto o roteiro quanto a trilha sonora ajudam na construção desse clima: o primeiro busca ao máximo não ser muito explicativo a ponto de parecer uma bula de remédio ou um tutorial, contentando-se apenas em mostrar o que está acontecendo e deixando o espectador pensar por si mesmo sobre o mistério da cor, enquanto a trilha se aprofunda na medida em que as coisas vão ficando mais caóticas utilizando sons eletrônicos que lembram outras trilhas sonoras como as de Hereditário (o compositor, Colin Stetson, é o mesmo inclusive) e Corrente do Mal. As atuações estão boas de forma geral, embora Nicolas Cage dê umas exageradas em alguns momentos, o que, por outro lado, não nos deixa de interpretar esses exageros como o efeito da cor sobre o comportamento dos personagens.
Quanto à estética do filme (além das cores, claro), ela nos faz lembrar outros longas de terror e suspense: O Iluminado, pela claustrofobia que sufoca os personagens por estarem isolados em um lugar do qual não podem ir embora; O Enigma de Outro Mundo, por conta dos efeitos práticos muito bem feitos e do tema do medo do desconhecido; Aniquilação, devido ao ambiente que muda com o passar do tempo e à loucura que assola aqueles que topam com o “desconhecido”; e À Beira da Loucura, pelos mesmos motivos citados anteriormente. Agora, se posso apontar um problema no filme é o exagero no CGI principalmente no terceiro ato, já que no restante do filme ele é mais moderado e controlado apenas para pontuar algumas mudanças no ambiente. Quanto a Nicolas Cage, já o abordei anteriormente, mas creio que sua atuação nesse longa poderá dividir a opinião das pessoas. Eu, particularmente, achei que ele até se saiu bem, apesar dos exageros.
No final das contas, A Cor que Caiu do Espaço se sai muito bem como uma adaptação do conto de Lovecraft, preservando sua essência mesmo sendo trazido para os dias de hoje (o que não é uma péssima ideia), mostrando o quão os realizadores foram competentes em retratar o famigerado desconhecido/inominável tão presente na obra desse grande mestre do terror. Sinceramente espero que outros contos dele sejam adaptados para o cinema, embora isso vá requerer muita imaginação e muito cuidado por parte dos realizadores, já que a mitologia lovecraftiana é muita rica em detalhes e mistérios que nos deixam na ponta da cadeira.
Nota: 9/10
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraFicção científica é um dos meus gêneros de filme favoritos. Entre meus favoritos estão 2001 - Uma odisseia no Espaço (a melhor ficção para mim), Metrópoles, Planeta dos Macacos, as trilogias De volta para o futuro e Star Wars (episódios IV a VI), Blade Runner, Matrix, Distrito 9, A Chegada, Avatar... é filme que não acaba mais. Cada longa, na maioria das vezes, busca transmitir um determinado ponto de vista sobre certo tema, e cada espectador pode tirar suas próprias conclusões sobre ele. Para isso, porém, o filme necessita de um roteiro bem construído e que busque não explicar tudo, entregar tudo (ou quase tudo) de bandeja para o espectador como se estivesse falando "Sou inteligente demais para você me compreender, sua anta" na nossa cara. O interessante é quando o roteiro mostra apenas o essencial/necessário, deixando o resto para posterior interpretação, que podemos desenvolver não apenas a partir das falas, mas também da fotografia, do som, da direção de arte etc. (Vale lembrar que tudo isso é válido para qualquer gênero de filme). No caso de Interestelar, isso é, no mínimo, polêmico. Todavia, terei que ser sincero sobre esse filme, a começar pelo roteiro e pela narrativa.
Na trama, a Terra passa por problemas devido à falta de recursos (basicamente uma distopia), e para salvar a humanidade, um grupo de astronautas vai em busca de um novo planeta para preservar a continuidade da espécie humana. Só de ler a sinopse, a curiosidade (em especial de fãs de ficção, como eu) já é despertada. Portanto, sim, é interessante. Quanto ao roteiro e à narrativa, não posso dizer o mesmo. O primeiro ato até começa bem explorando a relação entre o pai (Cooper) e a filha (Murph), que é bem construída no primeiro ato, já demonstrando um quê de Steven Spielberg, que também gosta de explorar relações entre pais e filhos. O problema mesmo está no segundo ato em diante, quando Cooper e outros astronautas recebem a missão de encontrar outro planeta para salvar a humanidade. Posso resumir esse ato em duas palavras: frieza e indiferença. Sério, como é que Cooper e os outros não demonstram nenhuma reação quando estão no espaço, atravessam o buraco de minhoca ou chegam em determinado lugar? Para tudo reagem com a maior frieza, como se já tivessem feito aquilo umas 500 vezes. Sem contar a parte em que a personagem da Anne Hathaway fala que "o amor transcende o tempo e o espaço", que soa descontextualizado e estranho. Claro, o problema não é a fala em si, mas a maneira como foi jogada naquela cena e o fato de os outros não questionarem. E o que dizer daquele final? Resumo novamente em duas palavras: ridículo e lastimável. Eu até me pergunto: "como é que o Christopher Nolan não teve noção desse ridículo?". Enfim, no tocante ao roteiro, concluo da seguinte forma: é muito arrogante, ou seja, explica demais de maneira desnecessária como se o espectador não fosse entender absolutamente nada. Uma explicação ou outra até que não faria mal, mas precisava ser mais didático que uma bula de remédio? Todo esse didatismo exacerbado e o excesso de sentimentalismo acabam por causar inconsistência e desequilíbrio na trama, fazendo o roteiro mais parecer um tutorial. Recomendo que leiam o artigo Interestelar e a inconsistência tonal para tentarem entender o que disse acima.
Agora, em relação aos aspectos visuais e sonoros, não posso negar: são de deixar qualquer um de queixo caído. Quem gosta e admira o trabalho de Christopher Nolan sabe muito bem que ele não gosta de utilizar muito CGI em seus filmes, e não é diferente em Interestelar: desde a cena de tempestade de areia na Terra no primeiro ato até quando Cooper entra pelo buraco negro foram feitas da maneira mais realista possível, sendo melhor que muitos filmes por aí que exageram no CGI, mas acabam ficando uma porcaria. O que mais impressiona nesse filme (e me faz gostar bastante dele, apesar do roteiro) é justamente esse realismo característico dos filmes do Nolan. Percebe-se isso, por exemplo, no formato das naves: não é surreal demais, dando a impressão de ser mais palpável, mais próximo da realidade. Quanto à trilha sonora, composta por ninguém menos que Hans Zimmer, é com certeza uma das mais lindas de sua carreira e casa bem com os lugares pelos quais os personagens passam no espaço. Um exemplo disso é quando os personagens param naquele planeta assolado por tsunamis e quando a câmera foca numa onda de baixo para cima, dando a impressão de insignificância/pequenez diante de algo desconhecido. Nessa parte, a música se intensifica, deixando-nos vislumbrados e, ao mesmo tempo, com uma sensação de perigo. É simplesmente lindo demais. Outro elemento que chama a atenção em Interestelar é o aspecto científico. Percebe-se um certo rigor em relação a isso, uma vez que Nolan buscou ao máximo retratar tudo (ou quase) da maneira mais realista possível, fugindo da fantasia. Durante a produção do filme, inclusive, o diretor teve uma colaboração de um físico para isso. E esse rigor podemos ver principalmente na cena do buraco negro. Sério, QUE CENA MARAVILHOSA! Sua representação no filme chega a ser considerada a mais próxima da realidade por físicos e astrofísicos, sendo até utilizada para pesquisas da área. É realmente magnífico!
Conclusão: Interestelar não chega a ser o suprassumo da ficção científica, mas ainda assim impressiona com seu visual (fotografia e direção de arte), trilha sonora e algumas boas atuações (em especial a de Matthew McConaughey), além do rigor científico adotado por Christopher Nolan. Tudo isso me faz gostar do filme, mas me decepciona o fato de a narrativa ser fria e inconsistente principalmente a partir do segundo ato, sem falar no didatismo do roteiro, que chega a ser ridículo e arrogante. Por isso me recuso a colocar Interestelar no mesmo patamar dos filmes que citei acima. Mas ainda assim, repito, amo esse filme pelo seu visual realista e pelo rigor científico, que me deixam boquiaberto.
Nota: 8/10.
Maria e João: O Conto das Bruxas
2.6 527Recontar um clássico conto de fada realmente não é uma má ideia, principalmente quando recontada como uma história de terror (afinal, muitas versões originais dos contos de fada se aproximavam do terror, como Chapeuzinho Vermelho). Esse é o caso de Maria e João: O conto das bruxas, dirigido por Osgood Perkins, filho de Anthony Perkins, conhecido por sua icônica atuação como Norman Bates em Psicose (1960). Juro para vocês que estava ansioso para assistir a esse filme por duas razões: primeiro por recontar um clássico conto de fada publicado pela primeira vez há mais de duzentos anos, e segundo porque a atmosfera do longa me fez lembrar um pouco filmes de terror atuais como A Bruxa e Hereditário, filmes esses que possuem uma atmosfera macabra pesada e agonizante, com cenários escuros em que o perigo/mal pode estar em qualquer lugar.
E Maria e João consegue, nesse quesito, recriar um cenário onde predominam cores mortas para transmitir a sensação de que os personagens se encontram num lugar perigoso e sombrio. Logo, a paleta de cores do filme é certeira para tal objetivo, colaborando assim com uma fotografia que realmente chama a atenção A direção de arte é competente ao recriar principalmente a casa da bruxa: no conto clássico, a casa é feita de doce, dando a entender que é um lugar bonito e "delicioso" por fora, mas que por dentro ocorre algo que ninguém imaginaria que poderia acontecer num lugar desses; já no filme, a casa já transmite uma sensação de ser um lugar hostil e sombrio, com uma coloração bastante preta por fora e por dentro uma iluminação amarela bem saturada. Percebe-se, portanto, uma influência de Guillermo del Toro e Tim Burton na construção do cenário, já que ambos os diretores são conhecidos por usarem cenários fantásticos sombrios para contar suas histórias. Já a trilha sonora é, ao lado das direções de arte e de fotografia, o que mais me chamou a atenção, pois faz lembrar as trilhas sonoras de filmes como Halloween, A Hora do Pesadelo e Corrente do Mal, devido ao uso de sintetizadores, que buscam intensificar acentuar a tensão em determinados momentos... mas no caso de Maria e João, isso não ocorre tão bem quanto o esperado. E é aqui que começo a realmente apontar o maior defeito do filme (e que defeito!): o roteiro.
Vamos lá: o filme busca contar a clássica história de João e Maria, o que não é problema nenhum, já que visa apresentar uma nova versão da história. Eu particularmente gosto disso, ainda mais quando acrescentam no filme temas atuais, como foi o caso de O Homem Invisível, que busca abordar o tema da violência contra a mulher, e faz com precisão e sem enrolar, assim modernizando um clássico da literatura sem abandoná-lo completamente. Mas o caso de Maria e João é o contrário. O roteiro só se sai bem de fato bem no quesito que acabei de abordar, ou seja, na modernização do conto. É até legal ver a história se passar provavelmente num ambiente medieval enquanto um tema atual é tratado (embora se tenha o perigo de se cair em anacronismos, sendo necessário muito cuidado). Mas o que vem depois disso no filme é ladeira abaixo. O filme tem uma hora e meia, mas a impressão que tive foi de que durou mais de duas horas, pois a história não ia para frente, além de muitas outras coisas que acontecem no meio do filme que não levam a lugar algum. E tudo isso na tentativa de abordar o tema do amadurecimento/independência, que é bagunçada e confusa. Chegou um momento em que não estava entendendo mais nada devido ao monte de coisas desnecessárias acontecendo. E o final é tão corrido que quando o filme acabou, fiquei tipo: "Beleza, e daí? É só isso? Sério?" Com isso, o filme acaba se achando mais do que realmente é: uma grande massa amorfa confusa e perdida.
Portanto, minha conclusão é a seguinte: o filme não é inteiramente ruim, mas seu roteiro, que tinha tudo para ser bem escrito e planejado, acaba sendo tão frágil e bagunçado que não consegue sustentar a história por muito tempo. O que realmente carrega o filme nas costas são a trilha sonora e as direções de arte e de fotografia (as atuações se saíram regulares), sendo assim um tripé que podia ser um "quadripé", não fosse a incompetência de um roteiro que atira para todos os lados, que tenta fazer do filme muitas coisas ao mesmo tempo e que acha que é super inteligente, mas não passa de algo sem forma e sem identidade.
Nota: 6,5/10
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 852 Assista AgoraSó tenho duas críticas a esse longa de James Gray:
1º A maneira como as cenas que envolvem ação foram colocadas no filme. (Não quero dizer que elas foram mal executadas. Afinal, todas as cenas são bem dirigidas). O que quero dizer com isso é que, pelo menos para mim, essas cenas (principalmente
a da perseguição na lua e a do babuíno que ataca Roy numa nave à deriva no espaço
2º Todo filme que se passa no espaço apresenta uma questão existencialista para fazer o espectador refletir (isso se este gostar de reflexões desse tipo, e não apenas assistir a um filme para se divertir): Alien, o oitavo passageiro (1979), de Ridley Scott, mostra o desespero e o medo do homem diante do desconhecido (clara influência lovecraftiana); 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, apresenta o homem como um ser que sempre buscou se aperfeiçoar, indo também atrás de respostas para complexas questões; Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón, aborda o instinto de sobrevivência e autopreservação do ser humano a qualquer custo, mesmo em momentos de isolamento ou quando sofre uma perda; Interestelar (2014), de Christopher Nolan, apresenta o amor que se tem por alguém como um sentimento capaz de transcender o tempo e o espaço, não importando a distância que se está daquele(a) que se ama; entre outros exemplos. Ad Astra - Rumo às Estrelas não é diferente: o expansionismo humano (sua vontade de se expandir e de dominar) e sua vontade de ir em busca de respostas sem que nada que venha de fora o abale emocional e psicologicamente (não falarei mais para não dar spoilers) são as principais questões levantadas no filme. Enquanto a primeira se sai bem, mostrando as instalações na lua e em Marte, a segunda, embora interessante num primeiro momento, começa, a partir do segundo ato, a ser entregue de bandeja ao espectador devido ao uso excessivo da narração em off, tornando tal questão simples demais de entender.
Mesmo com esses problemas, o filme apresenta muitos méritos: a atuação de Brad Pitt, como sempre, está excelente (na minha opinião, merece uma indicação ao Óscar de melhor ator); a fotografia, assim como na maioria dos filmes que se passam no espaço, é exuberante; James Gray executa uma ótima direção; os efeitos visuais e a mixagem e edição de som estão igualmente incríveis. Enfim, mesmo tendo alguns problemas mais ligados ao roteiro, o filme é ótimo tecnicamente. Uma boa recomendação para quem gosta de ficção científica com toques de suspense.
Creio que o filme receba, no máximo, umas oito ou nove indicações ao Óscar (agora se vai levar alguma, aí já não sei dizer, já que haverá nomes de peso nesse Óscar):
Melhor filme
Melhor direção
Melhor ator principal
Melhor edição de som
Melhor mixagem de som
Melhor direção de arte
Melhor fotografia
Melhor figurino
Melhor efeitos visuais
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraUmas das melhores representações do espaço na história do cinema, assim como Uma Odisseia no Espaço, Alien - O Oitavo Passageiro, a saga Star Wars, entre muitos e muitos outros. Sandra Bullock entrega uma atuação impressionante. CGI surreal, de deixar qualquer um de queixo caído. A direção de Alfonso Cuarón é espetacular, utilizando longos planos para mostrar o ambiente no qual os personagens estão inseridos (os primeiros dez minutos do filme me impressionaram ao apresentar a Terra vista do espaço e logo em seguida os personagens e os problemas pelos quais passam). Ou seja, a câmera caminha suavemente pelo local ao invés de pular de uma cena para outra com cortes excessivos e desnecessários, deixando tudo um pouco mais claro e nos fazendo sentir como se estivéssemos vivendo aquilo. E a trilha sonora? Sem comentários. Apenas brilhante. Em suma, Gravidade é um filme de tirar o fôlego a cada minuto que passa misturando suspense e ficção científica, além de aludir às fragilidades do ser humano e sua insignificância diante das forças do universo, mas ao mesmo tempo mostra como ele pode pelo menos superar a si mesmo. Uma verdadeira obra-prima do cinema do século XXI.
Cemitério Maldito
2.7 891Diferente de boa parte do público, essa nova versão de Cemitério Maldito me convenceu bastante, levando-me inclusive a preferir esse ao original (minha opinião; por favor, não me condenem kkkkkk). Explico-me. Entendo perfeitamente a preferência da maioria pela primeira versão (não vejo problema nenhum nisso) por ser fiel ao romance de Stephen King (pelo menos em relação aos acontecimentos, mas explicarei isso abaixo), pela visceralidade e devido à música dos Ramones, Pet Sematary (um clássico!). Também acho esses três elementos muito bons (pelo menos em partes, com exceção da música) para o filme, porém este peca (e feio!) em outros aspectos: as atuações são fracas a ponto de serem ridículas e superficiais (com duas exceções: Fred Gwynne, que interpreta o vizinho dos Creed, Jud Crandall, e Church, o gato, que para falar a verdade, atua melhor que os outros) e a direção de Mary Lambert é caótica no geral, mas principalmente nas cenas de confronto, o que impossibilita perceber o que diabos está acontecendo (aliás, as coreografias também são estúpidas). Já em relação ao fato de o longa-metragem ser fiel à obra de Stephen King, eu acho questionável. Explico isso também. (Para quem acha que eu não gosto da versão de 1989, na verdade não acho ruim. Apenas não simpatizo tanto quanto outras pessoas. Aliás, há filmes muito piores que esse).
King redigiu o livro numa época em que sentia medo de perder sua família devido aos seus vícios (álcool principalmente). Na história - e isso vale também para os filmes -, acompanhamos a família Creed, que se mudou para uma casa mais afastada da cidade e próxima da natureza. Ao chegarem ao local, percebem que há no terreno próximo à casa um cemitério de animais que carrega uma lenda macabra: todo ser que é lá enterrado retorna dos mortos, porém não como era antes. Aqui o autor aborda com maestria o medo de se perder um ente querido, ou seja, o medo da morte, sua não aceitação e o luto. É esplêndida a maneira como Stephen King explora o psicológico dos personagens, seus traumas e dúvidas, principalmente de Louis Creed e sua esposa, Rachel: o primeiro, por ser médico, vê a morte no aspecto científico e se mostra cético quanto a outras visões, enquanto a última carrega um trauma de infância relacionado à irmã. Somos levados a pensar que as tragédias que ocorrem no livro - e nos filmes - são devido à aura macabra que o local em que todos se encontram apresenta (o cemitério em si, o terreno atrás da casa dos Creed, a estrada, etc.), fazendo os personagens parecerem meras peças de um jogo de uma força maligna maior e mais forte que eles, tornando-os insignificantes e fracos psicologicamente e os levando à beira de um abismo chamado loucura (dá para ver aí a influência de Lovecraft exercida sobre Stephen King para escrever essa obra - e outras, óbvio).
Enfim, por que eu acho questionável o fato de o longa-metragem de 1989 ser fiel ao livro de King? Respondo-lhes: o problema não é ser fiel à obra, mas ser tão fiel apenas aos acontecimentos a ponto de não se aprofundar tanto no aspecto psicológico dos personagens que foram afetados por algum acontecimento em maior ou menor grau. É como se algo terrível tivesse acontecido, mas os personagens pouco se importaram com a tragédia. Chamo isso de fidelidade rasa ou, às vezes, falsa, ou seja, quando um filme é mais fiel àquilo que ocorre externamente ao personagem sem, contudo, se aprofundar muito no lado interno deste através de elementos como diálogos bem escritos e proferidos e expressões faciais que possam demonstrar perfeitamente o que o indivíduo está sentindo (como ocorre em Hereditário, em que as expressões de Toni Collette chegam a dar medo por adotarem perfeitamente um aspecto expressionista), o que torna o filme algo sem essência. E é aí que entra o remake de Cemitério Maldito.
Essa nova versão realmente apresenta mudanças, porém elas não comprometem o filme (mudanças essas que o próprio Stephen King elogiou). Esse remake é um novo olhar sobre o romance. Diferente do original, que era mais gore, a versão de 2019 foca mais no terror psicológico. A atmosfera macabra do filme já nos é apresentada antes mesmo do cemitério de animais, dando a entender logo de cara que o lugar para o qual os Creed se mudaram não emana humanidade, mas medo, loucura, desespero. No geral, as atuações estão excelentes: Jason Clark (Louis Creed) apresenta muito bem as diversas faces de seu personagem (alegria, medo, preocupação, desespero, loucura); a personagem de Jeté Laurence (Ellie Creed) emana amabilidade e, diferente do original, recebe mais atenção do roteiro, entregando uma atuação que dispensa comentários; John Lithgow (Jud Crandall) demonstra confiança e bastante conhecimento em relação àquele lugar, já que vive lá há mais de 70 anos; e Amy Seimetz (Rachel Creed) nos mostra uma personalidade instável devido ao trauma que mencionei acima. Enfim, nenhuma atuação me decepcionou: todas me convenceram, principalmente as citadas acima. A fotografia é “nublada”, o que nos convence ainda mais da escuridão que aquele local emana. O cenário da floresta ficou mais bem encaixado com a história em comparação ao original de 1989, cujo mesmo cenário não chega a ser ruim ou mal feito, mas para mim apenas não me incomodou psicologicamente, parecendo uma floresta genérica. Já a floresta dessa nova versão possui uma atmosfera mais sombria e enevoada, emana mais mistério e perturba psicologicamente. E destaque para a edição de som: os sons que são ouvidos na floresta (galhos quebrando e urros) dão a impressão de que há algo maligno rondando por ali e observando sorrateiramente os personagens, o que causa ainda mais aflição. Como disse anteriormente, aquele local não emana, em momento nenhum, humanidade, mas sentimentos negativos, o que contribuiu para a decadência gradual dos personagens que lá vivem (mais ou menos como ocorre em Requiem para um Sonho, de Darren Aronofsky, em que os personagens vão decaindo cada vez mais até perderem a esperança).
Em suma, o grande diferencial desse longa, em comparação ao original de 1989, é a conservação da essência. Como disse, o original (pelo menos para mim) parece que dá mais importância aos acontecimentos em si, deixando de lado o psicológico dos personagens e apelando demais para o aspecto visceral apenas para impressionar. Muita gente pode acabar pensando: “Mas na obra de Stephen King também há visceralidade”. Claro que tem, e é até chocante quando o autor descreve, por exemplo, o que aconteceu com Victor Pascow. King, porém, dá maior atenção ao psicológico dos personagens (principalmente ao de Louis Creed) e ao impacto que estes sofrem quando uma tragédia acontece (principalmente quando Gage, o filho mais novo, é atropelado por um caminhão). O aspecto visceral, portanto, é um elemento secundário na obra, assim como o jumpscare nos filmes de terror.
Voltemos à questão da conservação da essência: o que quero dizer com isso? Primeiramente, isso é importante principalmente para remakes e adaptações de obras literárias. Segundo, quando digo conservar a essência, é mais ou menos como conservar um museu: para que nada de ruim aconteça com ele, é necessário que passe por reformas (parte elétrica, pintura, etc.) sem, contudo, que sua estrutura original seja comprometida, ou seja, o prédio em si. Ou melhor, sua estética. No caso de remakes e adaptações de livros (alguns exemplos: It – A Coisa, O Iluminado, O Exorcista, A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Bela e a Fera, entre muitos outros), a história pode passar por modificações? Sim, desde que não comprometa o essencial, sua estética (e é o que acontece com os exemplos que citei acima). Aliás, mudanças são necessárias muitas vezes para apresentar ao público uma nova visão de uma determinada história (o que funciona algumas vezes, em outras não), senão o filme pode acabar sendo o mais do mesmo, sem graça. Voltando ao remake de Cemitério Maldito, percebe-se, como disse, um maior foco no terror psicológico através – volto a dizer – da aura macabra que o ambiente emana (e seu impacto sobre os que vivem por perto) e da forma como o lado psicológico dos personagens é explorado (em especial, o de Louis Creed, que expressa perfeitamente seus sentimentos, indo desde uma alegria otimista até a loucura total). Quanto às mudanças, eu as achei necessárias (e até interessantes) para o filme principalmente para não ser um mais do mesmo. Com essa maior preocupação ao que é psicológico e invisível, e não físico e visual, combinado com um ambiente hostil e maligno, vê-se aí, portanto, maior conservação da estética da obra original de Stephen King e mais foco na temática da história: a morte e seu impacto sobre as pessoas.
Nota: 8.8/10
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraÓtima temática, roteiro bem escrito, uma atmosfera aterrorizante (consegue dar mais medo que muitos filmes entupidos de jumpscares), ótimas atuações, excelente direção de Ari Aster, trilha sonora espetacular (uma das melhores que já ouvi) e um final que me deixou sem palavras. Esse realmente foi um dos melhores filmes de terror que já vi na minha vida e o segundo melhor de 2018, ficando apenas atrás de Um Lugar Silencioso. Já estou ansioso para o próximo filme de Ari Aster: Midsommar.
Halloween: A Noite do Terror
3.7 1,2K Assista AgoraMeu filme de terror favorito!!!! Michael Myers>>>>>>>>>>Leatherface>>>>>>>>>>>Jason>>>>>>>>>>>>>Freddy Krueger>>>>>>>>>>Chucky>>>>>>>>>Jigsaw>>>>>>>>>>>Ghostface
Dumbo
3.4 611 Assista AgoraA animação de 1941 é, para mim, ao lado de Rei Leão (1994), a melhor que a Disney já fez. Ainda guardo grandes lembranças dela. Dumbo (1941) consegue intercalar momentos alegres e tristes, trazendo consigo uma magia capaz de fazer nossos olhos brilharem. Simpatizamo-nos tanto com o elefantinho que é humilhado por ter orelhas grandes demais quanto com o seu amigo e ajudante Timothy. O mais interessante ainda é o fato de os animais serem os principais personagens desse filme, deixando os humanos em um segundo plano (não que sejam irrelevantes). Em apenas uma hora e pouquinho, Dumbo (1941) consegue encantar, cativar e alegrar. No final das contas, a animação mostra que por mais que as pessoas te critiquem e te humilhem por causa de um defeito, você pode usar esse "defeito" a favor de si mesmo, fazendo-o voar, ou seja, superar os limites. É como dizia Nietzsche: O que não me mata me fortalece.
Já em relação ao remake, eu achei que seria um desafio para o diretor Tim Burton fazer uma releitura desse clássico, acrescentando novos elementos e uma nova cara ao filme, como a Disney tem feito em seus remakes anteriores, como Mogli - O Menino Lobo (2016) e A Bela e a Fera (2017) (na minha opinião, os melhores remakes feitos pela Disney até agora). Dumbo (2019) é visualmente lindo, com ambientes muito bem detalhados, coloridos e impressionantes. Na primeira metade, vemos um circo simples, que vai de cidade em cidade de trem para realizar suas apresentações. Na segunda metade, temos agora um ambiente ainda mais detalhado e complexo, chegando a ser assustador. O figurino, assim como os ambientes, é bem feito e, além disso, contextualizado (vale lembrar que o filme é ambientado após a Primeira Guerra Mundial). O filme possui um elenco bem composto (Colin Farrell, Danny DeVito, Michael Keaton e Eva Green), porém o roteiro se mostra superficial demais, tornando boa parte das atuações fracas (com exceção do personagem de Danny DeVito, que até me cativou), embora em alguns momentos possamos sentir uma certa emoção no ar.
Dar uma cara nova a um clássico realmente é um desafio e tanto, como disse anteriormente. Mudar algumas coisas para que a nova versão não fique o mais do mesmo, para mim, não é problema nenhum. Na animação de 1941, vemos o ponto de vista dos animais, enquanto os humanos, como disse, são deixados em segundo plano. Nessa nova versão, vemos o contrário: os humanos agora são o foco do filme e são eles quem fazem o longa andar, o que achei, em partes, um ponto negativo para o filme ao tirar o protagonismo do elefantinho orelhudo e entregá-lo principalmente ao personagem de Colin Farrell. Como disse acima, achei boa parte das atuações fracas e sem muita emoção, o que não quer dizer que eu esteja falando que não deveria ter seres humanos nesse longa. Apenas acho que o roteiro poderia ter sido melhor escrito. Já os animais estão lá como um "bônus". Falando nos animais, não posso deixar de falar aqui do elefante mais fofo do mundo: o Dumbo. Como disse, os ambientes e o figurino são espetaculares e bem detalhados (realmente um ótimo trabalho da equipe técnica do filme). O mesmo falo do elefantinho voador. Nesse filme, ele está bem realista, apresenta um olhar que cativa bastante, um jeitinho atrapalhado que diverte e uma fofura que me deixou sem palavras. A relação dele com a mãe é relativamente bem explorada (embora pudesse ter sido mais). Já a relação com os seres humanos, principalmente com as crianças que o ajudam, interpretados por Nico Parker e Finley Hobbins, para mim infelizmente não foi tão aprofundada assim, o que é mais um ponto negativo. Outro ponto negativo é o Dumbo conseguir, do nada, criar uma capacidade cognitiva para entender o que os personagens falam, o que achei forçado demais por parte do roteiro.
Dumbo (2019) não é um remake grandioso por não ter uma magia muito forte que paire no ar, como o original de 1941, mas também não é horrível: tem seus altos e baixos, diverte em alguns momentos, decepciona em outros, faz referências ao original - o que eu também achei muito legal -, mas infelizmente efêmeras, e parece não ter tanta inspiração quanto os remakes anteriores. Ainda assim, a experiência pode valer a pena para muita gente. Para mim, mesmo sendo o remake da Disney mais fraco que já vi até agora, valeu a pena - parcialmente. Minha nota ao filme é 6,2/10.