Você está em
  1. > Home
  2. > Usuários
  3. > andretutunes_
21 years
Usuário desde Junho de 2022
Grau de compatibilidade cinéfila
Baseado em 0 avaliações em comum

Últimas opiniões enviadas

Nenhuma opinião enviada.

  • André Lucas Antunes Dias
    André Lucas Antunes Dias

    Barravento, de Glauber Rocha, trata do tema da alienação religiosa de maneira, talvez, bem próxima à de Carrie, a estranha. Ambos os filmes se envolvem em um jogo de aparências. No caso de Barravento, o personagem que se mostra como "outsider", "iluminado", toma decisões contra seu povo a partir de um contexto de significação religioso, isto é, investindo magias contra um dos seus integrantes. Essa ambivalência também é expressada em Carrie: Vemos os quadros sufocantes, escuros, domadores, de Carrie na casa de sua mãe. Ao mesmo tempo, o filme já inicia contrastando a figura das jovens estudantes jogando vôlei, felizes e engajadas, enquanto Carrie se mostra completamente alheia à situação. Se esse primeiro contraste - que aparece também na cena inicial em que Carrie toma banho, de forma quase angelical, nesse caso, invertendo a polaridade - poderia indicar uma crítica a um papel castrador da religião, posteriormente vemos que o diretor da escola e a própria professora de educação física - mesmo que "bem intencionada" - acabam por contribuir à estigmatização da garota, ao usarem seu poder de punição. Afinal, é o diretor da escola que a trata com indiferença indelicada, e é a professora de educação física que aplica a punição sobre as adversárias de Carrie, levando-as a um desejo de vingança.
    O que está sendo criticado aqui é, assim, as autoridades, ou melhor, os líderes dos aparelhos ideológicos de Estado, que reproduzem - essa palavra será importante - as relações de produção. A mãe aparece costurando, como um símbolo da reprodução da família ocidental burguesa, assim como a novela que a mãe importunada pela progenitora de Carrie assiste reproduz uma narrativa amorosa heteronormativa, evidenciando a atuação da indústria cultural.
    Por meio de perspectivas de câmera inventivas, e que escalam para um final extremamente macabro e bem conduzindo, com foco nos olhos de Carrie, na câmera que no baile dá um tom de esperança, evidenciando também o ulterior caos, a morte da progenitora de forma terrível, o uso dos símbolos até o seu limite, acreditando neles até o final - exemplo disso sendo a implosão surreal da casa de Carrie - o filme mostra o papel da ideologia, mantida, nas massas artificiais, por líderes, em colocar a metafísica sobre a materialidade. A mãe de Carrie não percebe seu papel no comportamento de Carrie, nem no caos final. A professora também não o percebe, inclusive atrapalhando uma das personagens em impedir o desastre. O final, com Carrie voltando oniricamente da morte, enquanto uma das poucas sobreviventes se contorce em medo indica que o "fenômeno Carrie" não acabou. Ele é material, se manifesta simbolicamente no real pela sua "telecinese", e se "reproduz" ainda a partir da família, da Escola, da Igreja, enfim, pela ideologia, que afeta o próprio desenvolvimento do "eu", como uma leitura integrada de Freud e Marx pode evidenciar.

Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.

Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.