Um fiapo de roteiro amarra este "bromance", agindo mais como desculpa para a estonteante fotografia do gigante Vilmos Zsigmond ao som da magnífica trilha sonora original de Bruce Langhorne.
Uma bagunça só: o crocodilo é mostrado como um monstro devorador de criancinhas e depois tem que ser protegido pelo guarda florestal e os nativos. Não se decide se é Tubarão ou Free Willy.
Ponto positivo: o sempre lindo outback australiano como cenário.
- Sabe o que significa Comanche? Significa “Inimigos para sempre” - Sabe o que isso faz de mim? Um Comanche.
Dois caras encapuzados começam uma série de assaltos a banco no oeste do Texas, antigo território dominado por Comanches e atualmente devastado pela crise. As quantias são tão irrisórias que o FBI recusa o caso e joga no colo dos Texas Rangers. Jeff Bridges faz o Ranger encarregado de pegar os criminosos e capricha na boca-de-gaveta-de-caipira-mascador-de-fumo e nos insultos racistas contra seu parceiro descendente de índios. Eles têm de capturar Chris Pine e Ben Foster (em atuação irrepreensível), assaltantes que estão roubando bancos para pagar a hipoteca da fazenda da família... ao banco! Cowboys e índios se misturam neste western moderno.
Acompanhamos essas duas duplas durante todo o filme, peregrinando por cidades desoladas onde se destacam os outdoors oferecendo empréstimos e os cavalos mecânicos sugando petróleo das planícies sem fim. Os personagens encontram moradores desiludidos, com suas próprias hipotecas lhes enforcando... Alguns se surpreendem com os assaltantes (“Vocês vão roubar o banco? Mas vocês não são nem mexicanos!?”), enquanto outros parecem torcer pelos Jesse James modernos. Nesta mistura de drama criminoso com road movie, os personagens se encaminham para um choque iminente, mas, no caminho, acabam descobrindo quem é seu verdadeiro inimigo.
Não apenas o parceiro de Jeff Bridges tem sangue índio, como os assaltantes tem uma ótima sequência em um casino indígena. As feridas da disputa pelo território no oeste selvagem ainda estão abertas e isto rende alguns dos melhores diálogos de 2016, como o índio apontando para o cowboy que este território está sendo roubado mais uma vez “e eles não estão nem usando um exército desta vez...”
Um forte subtexto político permeia o novo filme de David Mackenzie (diretor do ótimo drama de presídio Starred Up) e o roteiro de Taylor Sheridan (também roteirista de Sicario). Subversivo como uma vertente hillbilly do Occupy Wall Street, Hell Or High Water é um western moderno, de cunho social e língua afiada (“Sabe, eu fui pobre a minha vida inteira. Meus pais eram pobres e os pais deles também. Pobreza é como uma doença congênita” – John Steinbeck ficaria orgulhoso dessa linha!) que coloca o dedo na ferida de onde jorra petróleo.
Scott Glenn (com cabelo de playmobil parecendo o Johnny Ramone) faz o texano marrento nessa trama insossa que se arrasta até o ato final, ganhando um pouco de fôlego quando Toshiro Mifune sai da letargia e resolve moer gente com uma katana. Decepcionante. Nível American Ninja da Cannon...
Escatológico (tem gente cagando, lavando a bunda em close, animais copulando e uma mulher se masturbando com uma montanha), nudez gratuita aos montes (pornochanchada perde...), esoterismo bobo (um veículo para a pregação inútil de mais um falso "guru" dos anos 60), exploração de deficientes físicos (os deficientes aqui não são humanizados e são explorados como em um freak show) e até kung fu (um sujeito reclama do chulé de alguém e leva uma surra do Jodorowski-alquimista-shaolim). Como ponto positivo, alguém pode dizer que gostou das composições de cena, mas não passam de pessoas nuas acompanhadas por algum animal exótico em um cenário colorido. Repetitivo ao extremo.
Você continua assistindo ao filme na esperança de que algo interessante aconteça - algo que valha as ótimas resenhas que li em diversos sites -, mas nada aproveitável jamais acontece. Ao final de tudo, lá se foram duas horas de sua vida e você está prostrado em frente a tv, sentindo-se um imbecil, vendo o Jodorowski aplicar a última "pegadinha do malandro" travestida de ensinamento transcendental.
Gostei de El Topo. Filme feito na raça, baixo orçamento, brincando/desconstruindo o mito do cowboy americano... Mas, sinto dizer que deram um caminhão de grana pro Jodorowski e ele fez merda. The Holy Mountain é capenga como um filme dos Trapalhões - só que entupido de lsd.
O cinema policial francês vive uma fase iluminada: fIlmes eletrizantes, rápidos; tramas simples, mas bem desenvolvidas e protagonistas humanos são a receita para essa incrível leva de filmes que vêm deixando hollywood no chinelo. À Queima Roupa é um dos melhores dessa leva.
John WIntergreen é um policial baixinho fotografado no meio das formações rochosas do Monument Valley, ele sonha alto, grande, ele quer ser um cowboy.
Electra Glide In Blue é mais um exemplar do ótimo cinema de contra-cultura dos anos 70 e pode ser colocado na estante ao lado de filmes renomados, tais como Vanishing Point ou Um Estranho No Ninho.
Aqui vemos uma série de personagens lidando com ilusões: Wintergreen quer ser um investigador (e usar um chapéu Stetson), Zipper quer uma grande moto cromada, Jolene queria ser dançarina na Broadway... Todos os personagens são conectados por um aparente caso de suicídio que serve apenas como McGuffin para este filme totalmente devotado ao seu herói diminuto, mas de grande valor. Uma cena emblemática mostra Wintergreen vestindo seus novos terno e chapéu: ele se empolga dançando pela porta afora para depois nos ser revelado que ele está sem calças e sozinho. Não existem mais cowboys no Arizona.
O filme não é um primor e parece ser meio desconjuntado em alguns momentos, mas, se você é fã de fotografia, este filme talvez carregue a melhor fotografia do Monument Valley desde The Searches. Trabalho espetacular de Conrad Hall que ficará impresso em sua retina por semanas - especialmente a belíssima cena final.
Daria um rim pra assistir o corte com 3 horas de duração do Michael Mann, pois a sensação que tive é que The keep é um excelente filme que não sobreviveu às mutilações dos produtores.
Scott Eastwood afirma receber 50 roteiros de western todos os meses e escolheu justamente o mais furado de todos:
1. O personagem está sempre um passo atrás da gangue mexicana, mesmo perdendo o cavalo, dormindo, e passando dias num "retiro espiritual indígena". 2. Por que mostrar as pistolas prateadas se não são usadas em momento algum? 3. O personagem Jackson dorme num terreno nevado montanhoso e acorda num terreno seco à beira de um rio. 4. Alexandra é vista fugindo para campo aberto e reaparece misteriosamente trancada em um quarto.
2015 teve uma ótima safra de westerns: Bone Tomahawk, The Keeping Room, the Hateful Eight, Slow West... Este é, sem sombra de dúvida, o pior.
Muitos culpam unicamente Jar Jar Binks por este filme imbecil, mas - apesar de Jar Jar Binks ser um dos personagens mais ridículos já criados - o verdadeiro culpado é George Lucas. Destaco 4 pontos negativos:
1) Jar Jar Binks, obviamente, pois ninguém consegue imergir em uma trama que pára a cada 5 min pra mostrar uma trapalhada desta criatura. 2) O monocórdico Anakin, que mais parece o Charlinho do Hermes & Renato. 3) Todo mundo tem uma "carta de saída livre da prisão": sempre existe um truque que salva os heróis em toda situação de perigo, o que nos leva ao próximo item... 4) Não existe perigo: O exército de robôs inúteis (até o design foi equivocado, se compararmos ao design clássico e ameaçador dos stormtroopers), os monstros ("sempre existe um peixe maior", disse Liam Neeson ao ser salvo por mais uma "carta de saída livre da prisão"), as situações... O único item realmente ameaçador é Darth Maul. Ele é a única verdadeira ameaça deste filme (que carrega "ameaca" até no nome, mas não assusta ninguém): derrotá-lo foi um verdadeiro desafio e até um personagem importante faleceu em suas mãos. Não é à toa que o personagem é o único ponto lembrado com carinho pelos fãs... Não apenas por seu design, mas também por ser o único ponto positivo do filme.
E pra fechar com chave de ouro...
5) Os midiclorians: ao tentar explicar a Força, Geroge Lucas a desmistificou.
Mas a explicação da Força não desmistificou apenas a Força, mas também George Lucas. Ep 1 é uma tentativa pálida de replicar uma fórmula - um golpe de sorte de 40 anos atrás, mas que se perdeu em tanto cgi.
Ao ser apresentado, o personagem de Spencer Tracy é perguntado se é um "homem de Deus" e responde ser apenas "um homem de úlceras". A úlcera norteou a interpretação de Tracy, lembrando o personagem de Paulo Leminski no poema Dor Elegante: "Um homem com uma dor/ É muito mais elegante/ Caminha assim de lado/ Com se chegando atrasado/ Chegasse mais adiante". Uma atuação incrível e muito superior aos seus companheiros de cena, que ainda declamavam textos como se estivessem no teatro.
O Vento Será tua Herança é um filme terrívelmente atual e pertinente.
The Unforgiven meets Cannibal Holocaust. Tudo isto com um orçamento minúsculo (digna de um episódio de Hermes & Renato) nas mãos de um diretor estreante. Após apontar estes obstáculos, regozijo-me em afirmar que Bone Tomahawk é um filmaço.
Apesar do schock horror do ato final, Bone Tomahawk é um western revisionista em seu core, com um índio sendo mostrado como um personagem extremamente inteligente e a reveladora linha "vocês não conquistaram a fronteira por causa dos índios ou o terreno, não conquistaram porquê são estúpidos". Os 4 personagens centrais são estereótipos (o xerife abnegado, o cowboy romântico, o almofadinha civilizado e o colono inocente), mas tem várias dimensões, com o texto deixando à cargo da platéia a tarefa de descobrir a verdade sobre suas motivações: Seria o xerife vaidoso? O almofadinha era motivado por desejo, culpa ou vingança? O filme começa com 4 desbravadores cavalgando ao poente e termina com 4 seres humanos.
Li algumas reviews que apontaram os dois primeiros atos como lentos, mas a ausência de tiroteios carrega um texto afiado em dimensionar seus personagens e seu tempo. O personagem de Russel, por exemplo, é definido em apenas uma cena: após ficar sabendo de uma ocorrência ele desvira uma cadeira que estava caída no saloom e a coloca de volta no lugar, com força. O diretor estava mostrando que o xerife (Russel) não gosta que a paz seja abalada em sua cidadezinha (com a cadeira caída representando o caos) e iria resolver a situação. Disse tudo isso sem palavras. O texto é bom até quando não tem falas.
Pontos negativos: Os atores são limitados (Matthew Fox é horrível) e destaco apenas Richard Jenkins (Kurt Russel está apenas interpretando o que sabe interpretar melhor: Kurt Russel). Outro ponto negativo são os horríveis bonecos utilizados (não convencem de forma alguma, mas podem ser perdoados pelo notório baixo orçamento) e a falta de master shots grandiosos (que também pode ser justificada pelo tom revisionista que desmistifica o western).
Seja fã de western ou horror, o filme agrada aos dois públicos. E agrada ainda mais ao ver que um diretor estreante fez um ousado western revisionista com um orçamento baixíssimo. O verdadeiro cowboy desbravador é o Craig Zahler.
Li uma resenha positiva sobre esse filme e pensei "vamos lá, é um filme do John Huston com um jovem Jeff Bridges. Merece uma chance!". Apertei o play e o filme iniciou com um clipe mostrando o lado bucólico da cidade de Stockton/CA, com todos os personagens anônimos levando suas vidas anônimas, e o boxeador interpretado por Stacy Keach levantando da cama em busca de sua glória. Tudo isso ao som de Kris Kristofferson e sua inesquecível balada Help Me Make It Trough The Night. Se o autor da resenha tivesse mencionado Kris Kristofferson eu teria assistido só por isso.
Stacy Keach faz um velho pugilista que encontra um jovem Jeff Bridges e enxerga uma faísca de sucesso. Após seu encontro inicial os dois personagens seguem vidas paralelas, encontrando-se de tempos em tempos, e vemos como os dois se comportam diante das surras que levam - sejam elas da vida ou dos oponentes no ringue. Ninguém quer ser medíocre em Stockton e todos estão dispostos a sangrar por isso.
Apesar de ser um filme de boxe, a película não guarda semelhanças com filmes esportivos de superação e mais parece com filmes da nova hollywood, como Midnight Cowboy. Um dos pontos positivos foi não vilanizar os oponentes (muito comum em filmes de boxe). Em uma cena chave
Stacy keach reclama que sua carreira acabou quando seu treinador não o acompanhou em uma luta no Panamá. Momentos depois nós o vemos ganhar a luta seguinte e sair acompanhado de sua entourage enquanto seu oponente deixa o local sozinho.
. Não há glamour no mundo do boxe amador mostrado por Huston. Todos são perdedores dentro e fora dos ringues, mas o verdadeiro derrotado é aquele que volta sozinho pra casa. É como diz a canção de Kris Kristofferson, brilhantemente escolhida como tema do filme: "O ontem está morto e enterrado/ o amanhã está fora de questão/ É horrível estar sozinho/ Me ajude a suportar esta noite."
Vi a cinebiografia do Doors na época do lançamento, com uns 11 ou 12 anos e me tornei fã desde então. Mais tarde apresentei o filme para vários amigos que também se tornaram fãs incondicionais. Uma das melhores cinebiografias musicais já realizadas.
Duvido que Somos Tão Jovens consiga formar um fã sequer. É um filme tão ruim que presta um desserviço à banda.
Filmes passados em um único ambiente (os chamados “single set”), de baixo orçamento, sempre despertam minha curiosidade. Primeiro porque o texto tem que ser muito afiado para prender o público em uma discussão interminável entre personagens, segundo porque costuma mostrar o potencial dos diretores na condução da narrativa. Temos vários exemplos de valor: clássicos eternos como 12 Angry Men, metáforas de seu tempo como The Mist ( uma metáfora para a paranoia pós 11 de setembro), discussões teológicas como The Sunset Limited e The Man From Earth e até experiências sensoriais como o ótimo (e pouco visto) Berberian Sound Studio. Pontypool acaba de entrar neste seleto grupo.
A premissa é simples: radialistas isolados em uma estação de rádio de uma pequena cidade canadense recebem relatos de fatos estranhos e tentam entender o que está acontecendo. Tudo o que sabemos do que ocorre na cidade provém de relatos e da interpretação irresponsável do âncora, que nos faz lembrar o famoso caso da transmissão de Guerra Dos Mundos do Orson Welles.
Minha definição rudimentar de “terror” é: “está acontecendo algo HORRÍVEL AQUI e preciso FUGIR”, já a minha definição rudimentar de “horror” é: “está acontecendo algo HORRÍVEL LÁ FORA e não posso deixá-la ENTRAR”. Pontypool se encaixa nesta segunda definição - apesar de alguns gores ocasionais – e vai além: é uma metáfora muito pertinente para a manipulação midiática.
Grant Mazzy, o amargurado âncora local, repassa informações não comprovadas e transforma pequenas situações em casos alarmantes (como quando questiona, ao vivo, se os policiais estão bêbados). Seu mote é “As pessoas precisam ficar zangadas porque pessoas zangadas não mudam de estação”, indo de encontro à linha editorial adotada pela emissora que preza pelo status quo da pacata cidadezinha. Na ficção de Pontypool, palavras são assimiladas e propagadas como vírus, mas isto não difere do mundo real em que pessoas são xingadas de “comunistas” (desde quando “comunista” é xingamento!?) e batem panelas seguindo um sujeito que se diz “revoltado”. Após os créditos temos uma cena curiosa que levanta questionamentos que não vou mencionar para evitar spoilers, mas que todos devem fazer após ouvir a transmissão de Grant Mazzy na CSLY da pequena cidade de Pontypool/Ontário, como também após assistir o noticiário de certas emissoras brasileiras.
E lembrem-se: Isto não é o fim do mundo, é apenas o fim do dia.
Porcamente produzido: Os helicópteros não tem lançadores de foguetes, mas são mostrados disparando foguetes (provavelmente algum stunt com um rojão do lado de fora da aeronava), não havia festim suficiente para os inimigos (eles nunca são mostrados disparando em conjunto, só isoladamente), não houve coreografia (um caos com pessoas correndo de um lado para o outro), os atores não tiveram treinamento de combate (o único que sabe segurar uma arma é o Lee Ermey) e a locação é uma praia simulando uma floresta asiática (tem um momento em que eles parecem estar no jardim de um resort. juro.). Mas o pior de tudo ainda é o roteiro que não se detém por 10 segundos sequer nos personagens. Este filme é um desastre completo.
Após Richard Donner fazer os dois primeiros filmes do Superman, abraçou este projeto pequeno sobre um cara que tenta suicídio saltando de um edifício. Ele saiu de duas produções milionárias sobre um homem indestrutível, capaz de voar, e entrou em um filme sobre um cara que pula de um prédio, sobrevive, mas acaba com sequelas físicas e psicológicas. Donner estava interessado em um novo tipo de Superman.
Roary é interpretado por John Savage em uma atuação forte: Roary teve as pernas destruídas e precisa de um aparato para se sustentar em pé, anda com dificuldade e seu psicológico está em frangalhos após a tentativa frustrada e os 8 meses de recuperação. Roary quer uma cerveja e ele segue para o Max’s Bar, um boteco de bairro com uma clientela especial: Blue Lou é paraplégico, Stinky é cego, Wings não tem os braços, Anne é viciada e se prostitui, Jerry é o ás do basquete que não pode mais jogar por não ter mais cartilagem no joelho, Benny é um gigolô... Todos aleijados – seja fisicamente, moralmente ou emocionalmente.
Inside Moves é um filme sobre amizade e acertadamente posiciona os acontecimentos em um bar com toda sua fauna de desajustados. Nós não sabemos como Lou foi parar em uma cadeira de rodas, se Stinky já nasceu cego ou se Wings perdeu os braços na guerra , só conhecemos o background de Roary a partir da tentativa de suicídio (nem sequer o motivo nos é mostrado com antecedência), mas somos convidados a sentar no balcão junto à eles e entender como enxergam o mundo. É uma experiência quase tão real quanto ir a um bar de verdade e conversar trivialidades com o desconhecido ao seu lado. Todos são amigos no balcão de bar, não importa se acabamos de conhecer o sujeito e mal sabemos seu nome. “como são belas as pessoas que pouco conhecemos”...
Os personagens se apoiam uns nos outros para superar seus problemas: seja o gigolô Benny emprestando o carro a alguém ou o cego Stinky empurrando a cadeira de rodas de blue Lou, seja o barman Burt alcovitando namoros ou Max se endividando para não repassar a inflação para os clientes. O bar do Max é uma família disfuncional onde não existe espaço pra pena, “Você fez tudo errado, garoto: primeiro você fica aleijado e só então você comete suicídio.”, disse Stinky ao ouvir a resposta de Roary sobre o que aconteceu com suas pernas. Todos gargalham e pedem mais uma cerveja. Não tem espaço para depressão no balcão do Max – o que é impressionante vindo de um filme sobre um suicida e seu grupo de amigos cachaceiros e portadores de necessidades especiais.
Donner já afirmou em entrevistas que Inside Moves é seu filme preferido, o que é bastante curioso, vindo de um diretor que passou a carreira inteira fazendo blockbusters. Ao final do filme, durante os créditos, surge uma foto do elenco e equipe na frente do bar do Max, todos sorrindo em frente ao bar, abraçados, como se tivessem passado a noite inteira bebendo e saíram com o nascer do sol pra fazer aquela foto. Assim como os personagens do filme, eles também se conheceram e se tornaram amigos no Max. Eu recomendo Inside Moves assim como recomendo uma ida ao bar, afinal “Há BARES que vem para o bem”. Cheers.
Caso famoso em que presidiário no corredor da morte abre mão de suas apelações e pede para que adiantem sua execução. Vemos os últimos meses de Gary Gilmore, do dia em que ele sai em condicional (Gary contava 35 anos após uma pena de 12 anos e mais um passado em casas de correção juvenil) até o dia de sua execução por ter matado dois homens em dois diferentes assaltos, por motivo nenhum. O filme tenta não vitimizar o personagem, mas acaba mostrando Gary como fruto de um sistema prisional que não prepara o preso para voltar a sociedade: Ele é ajudado por muitos familiares e amigos, mas seus códigos de conduta são diferentes (se ele quer algo ele simplesmente pega - seja uma cerveja ou um carro) e simplesmente não consegue se encaixar, já que a prisão o acompanha até em pequenos detalhes da vida - seja devorando o almoço o mais rápido possível ou chamando a namorada de "parceiro" na cama. Ao final, o telespectador fica em dúvida se Gary escolheu a morte por se arrepender de seus pecados e enxergar que não serve para a sociedade, ou se apenas está tomando o caminho mais fácil e abrindo mão de cumprir sua pena. Apesar de tudo, o residual que fica na memória são os questionamentos levantados sobre o sistema prisional. Bastante efetivo.
A atuação de Tommy Lee Jones foi celebrada neste telefilme e. apesar de parecer overacting em alguns momentos, ele mostra maneirismos diferentes dos que vem usando desde que foi estereotipado como o homem duro e anacrônico que vem representa nos últimos 25 anos. Recomendado aos liberais e fãs do Tommy Lee Jones.
Em 1971 os Rolling Stones viraram fugitivos fiscais e precisaram abandonar a terra da Rainha. O lugar escolhido para o exílio foi a Riviera Francesa. Por causa do clima? Das belas praias? Dos cassinos? Todos estes fatores influenciaram, mas o fator determinante para Keith Richards foi o inesgotável suprimento de drogas. Marselha era a capital mundial da heroína.
Hollywood já contou a história da maior apreensão de heroína dos anos 70 em Operação França, com Popeye Doyle caçando os marselheses em solo americano. La French mostra a operação em solo francês: Um jogo de xadrez que atravessa décadas entre o juiz Michel e o chefe do cartel francês, Tany Zampa. O bem e o mal banhados pelo sol da côte d’azur . Existe até uma cena em que um policial questiona o porquê do juiz continuar prendendo pequenos gigolôs, traficantes e viciados, e o juiz retruca que estes são os peões que movimentam o cartel. Foi estabelecida a estratégia de jogo das peças brancas.
Uma escolha interessante foi mostrar as transações tomando lugar em galpões e apartamentos escuros e o corte só ser realizado após algum personagem abrir uma porta e ser iluminado pelo sol; outra foi ter mostrado os assassinatos à luz do dia, filmados à distância, com o matador e a vítima no mesmo quadro (assim como em O Poderoso Chefão), posicionando a plateia como testemunhas do ocorrido. O mal conspira no escuro, mas sai à luz do dia para cometer seus crimes e implantar o terror. A surpresa é a estratégia das peças negras.
Além de O Chefão, outra influência foi Os Bons Companheiros, com os clipes musicais pontuando cenas e denotando o psicológico dos personagens. Ao final da partida de xadrez, após ter misturando estes 3 clássicos do cinema de crime, Cédric Jimenez nos entrega um produto que parece ter saído diretamente dos anos 70. Um filme policial à moda antiga e com pedigree.
A descoberta de um corpo enterrado no deserto é o estopim deste "Chinatown texano" de John Sayles. O diretor não se prende apenas à trama detetivesca, mas a usa como pano de fundo para discutir a formação do Texas. A escolha em ambientar seu filme em uma cidade fronteiriça denota o real tema do filme, que são as linhas imaginárias: sejam elas a linha de uma fronteira ou a linha que separa o bem do mal, o certo do errado, a verdade da mentira, o amor da raiva... Existe até uma cena bastante ilustrativa, mostrando uma linha sendo marcada na areia com uma garrafa de coca-cola.
Kriss Kritofferson rouba a cena como o xerife Wade - o cowboy durão, maquiavélico - e Matthew McConaughey é o xerife Deeds - sua antítese - o poço de bondade, sabedoria e justiça que alicerçou a construção da cidade em questão. As lendas sobre estes dois personagens movem a trama enquanto somos apresentados à uma série de personagens secundários e de diferentes etnias que ajudaram na construção da identidade texana: Cowboys brancos, negros rebeldes e aventureiros mexicanos - Country, blues e baladas de mariachi se digladiam pela estrela solitária no peito de um xerife, assim como pela estrela solitária da bandeira texana.
As Aventuras de Buckaroo Banzai
2.9 26 Assista AgoraTaika Waititi certamente bebeu desta fonte.
Pistoleiro sem destino
3.4 7Um fiapo de roteiro amarra este "bromance", agindo mais como desculpa para a estonteante fotografia do gigante Vilmos Zsigmond ao som da magnífica trilha sonora original de Bruce Langhorne.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraHorrendo. Pra ficar no mesmo patamar dos filmes do Batman do Joel Schumacher só faltaram os mamilos nos uniformes.
O Segredo de Malparinka
2.5 7Uma bagunça só: o crocodilo é mostrado como um monstro devorador de criancinhas e depois tem que ser protegido pelo guarda florestal e os nativos. Não se decide se é Tubarão ou Free Willy.
Ponto positivo: o sempre lindo outback australiano como cenário.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraO Rapto Do Menino Dourado > Doutor Estranho.
>:D
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista Agora- Sabe o que significa Comanche? Significa “Inimigos para sempre”
- Sabe o que isso faz de mim? Um Comanche.
Dois caras encapuzados começam uma série de assaltos a banco no oeste do Texas, antigo território dominado por Comanches e atualmente devastado pela crise. As quantias são tão irrisórias que o FBI recusa o caso e joga no colo dos Texas Rangers. Jeff Bridges faz o Ranger encarregado de pegar os criminosos e capricha na boca-de-gaveta-de-caipira-mascador-de-fumo e nos insultos racistas contra seu parceiro descendente de índios. Eles têm de capturar Chris Pine e Ben Foster (em atuação irrepreensível), assaltantes que estão roubando bancos para pagar a hipoteca da fazenda da família... ao banco! Cowboys e índios se misturam neste western moderno.
Acompanhamos essas duas duplas durante todo o filme, peregrinando por cidades desoladas onde se destacam os outdoors oferecendo empréstimos e os cavalos mecânicos sugando petróleo das planícies sem fim. Os personagens encontram moradores desiludidos, com suas próprias hipotecas lhes enforcando... Alguns se surpreendem com os assaltantes (“Vocês vão roubar o banco? Mas vocês não são nem mexicanos!?”), enquanto outros parecem torcer pelos Jesse James modernos. Nesta mistura de drama criminoso com road movie, os personagens se encaminham para um choque iminente, mas, no caminho, acabam descobrindo quem é seu verdadeiro inimigo.
Não apenas o parceiro de Jeff Bridges tem sangue índio, como os assaltantes tem uma ótima sequência em um casino indígena. As feridas da disputa pelo território no oeste selvagem ainda estão abertas e isto rende alguns dos melhores diálogos de 2016, como o índio apontando para o cowboy que este território está sendo roubado mais uma vez “e eles não estão nem usando um exército desta vez...”
Um forte subtexto político permeia o novo filme de David Mackenzie (diretor do ótimo drama de presídio Starred Up) e o roteiro de Taylor Sheridan (também roteirista de Sicario). Subversivo como uma vertente hillbilly do Occupy Wall Street, Hell Or High Water é um western moderno, de cunho social e língua afiada (“Sabe, eu fui pobre a minha vida inteira. Meus pais eram pobres e os pais deles também. Pobreza é como uma doença congênita” – John Steinbeck ficaria orgulhoso dessa linha!) que coloca o dedo na ferida de onde jorra petróleo.
The Challenge
3.1 6Scott Glenn (com cabelo de playmobil parecendo o Johnny Ramone) faz o texano marrento nessa trama insossa que se arrasta até o ato final, ganhando um pouco de fôlego quando Toshiro Mifune sai da letargia e resolve moer gente com uma katana. Decepcionante. Nível American Ninja da Cannon...
A Última Festa de Solteiro
3.4 179 Assista AgoraA melhor atuação do filme foi entregue por um jumento cheirador de cocaína.
A Montanha Sagrada
4.3 465Escatológico (tem gente cagando, lavando a bunda em close, animais copulando e uma mulher se masturbando com uma montanha), nudez gratuita aos montes (pornochanchada perde...), esoterismo bobo (um veículo para a pregação inútil de mais um falso "guru" dos anos 60), exploração de deficientes físicos (os deficientes aqui não são humanizados e são explorados como em um freak show) e até kung fu (um sujeito reclama do chulé de alguém e leva uma surra do Jodorowski-alquimista-shaolim). Como ponto positivo, alguém pode dizer que gostou das composições de cena, mas não passam de pessoas nuas acompanhadas por algum animal exótico em um cenário colorido. Repetitivo ao extremo.
Você continua assistindo ao filme na esperança de que algo interessante aconteça - algo que valha as ótimas resenhas que li em diversos sites -, mas nada aproveitável jamais acontece. Ao final de tudo, lá se foram duas horas de sua vida e você está prostrado em frente a tv, sentindo-se um imbecil, vendo o Jodorowski aplicar a última "pegadinha do malandro" travestida de ensinamento transcendental.
Gostei de El Topo. Filme feito na raça, baixo orçamento, brincando/desconstruindo o mito do cowboy americano... Mas, sinto dizer que deram um caminhão de grana pro Jodorowski e ele fez merda. The Holy Mountain é capenga como um filme dos Trapalhões - só que entupido de lsd.
À Queima Roupa
3.4 48O cinema policial francês vive uma fase iluminada: fIlmes eletrizantes, rápidos; tramas simples, mas bem desenvolvidas e protagonistas humanos são a receita para essa incrível leva de filmes que vêm deixando hollywood no chinelo. À Queima Roupa é um dos melhores dessa leva.
A Polícia da Estrada
3.5 9John WIntergreen é um policial baixinho fotografado no meio das formações rochosas do Monument Valley, ele sonha alto, grande, ele quer ser um cowboy.
Electra Glide In Blue é mais um exemplar do ótimo cinema de contra-cultura dos anos 70 e pode ser colocado na estante ao lado de filmes renomados, tais como Vanishing Point ou Um Estranho No Ninho.
Aqui vemos uma série de personagens lidando com ilusões: Wintergreen quer ser um investigador (e usar um chapéu Stetson), Zipper quer uma grande moto cromada, Jolene queria ser dançarina na Broadway... Todos os personagens são conectados por um aparente caso de suicídio que serve apenas como McGuffin para este filme totalmente devotado ao seu herói diminuto, mas de grande valor. Uma cena emblemática mostra Wintergreen vestindo seus novos terno e chapéu: ele se empolga dançando pela porta afora para depois nos ser revelado que ele está sem calças e sozinho. Não existem mais cowboys no Arizona.
O filme não é um primor e parece ser meio desconjuntado em alguns momentos, mas, se você é fã de fotografia, este filme talvez carregue a melhor fotografia do Monument Valley desde The Searches. Trabalho espetacular de Conrad Hall que ficará impresso em sua retina por semanas - especialmente a belíssima cena final.
A Fortaleza Infernal
2.7 61Daria um rim pra assistir o corte com 3 horas de duração do Michael Mann, pois a sensação que tive é que The keep é um excelente filme que não sobreviveu às mutilações dos produtores.
Diablo
2.4 63 Assista AgoraScott Eastwood afirma receber 50 roteiros de western todos os meses e escolheu justamente o mais furado de todos:
1. O personagem está sempre um passo atrás da gangue mexicana, mesmo perdendo o cavalo, dormindo, e passando dias num "retiro espiritual indígena".
2. Por que mostrar as pistolas prateadas se não são usadas em momento algum?
3. O personagem Jackson dorme num terreno nevado montanhoso e acorda num terreno seco à beira de um rio.
4. Alexandra é vista fugindo para campo aberto e reaparece misteriosamente trancada em um quarto.
2015 teve uma ótima safra de westerns: Bone Tomahawk, The Keeping Room, the Hateful Eight, Slow West... Este é, sem sombra de dúvida, o pior.
Star Wars, Episódio I: A Ameaça Fantasma
3.6 1,2K Assista AgoraMuitos culpam unicamente Jar Jar Binks por este filme imbecil, mas - apesar de Jar Jar Binks ser um dos personagens mais ridículos já criados - o verdadeiro culpado é George Lucas. Destaco 4 pontos negativos:
1) Jar Jar Binks, obviamente, pois ninguém consegue imergir em uma trama que pára a cada 5 min pra mostrar uma trapalhada desta criatura.
2) O monocórdico Anakin, que mais parece o Charlinho do Hermes & Renato.
3) Todo mundo tem uma "carta de saída livre da prisão": sempre existe um truque que salva os heróis em toda situação de perigo, o que nos leva ao próximo item...
4) Não existe perigo: O exército de robôs inúteis (até o design foi equivocado, se compararmos ao design clássico e ameaçador dos stormtroopers), os monstros ("sempre existe um peixe maior", disse Liam Neeson ao ser salvo por mais uma "carta de saída livre da prisão"), as situações... O único item realmente ameaçador é Darth Maul. Ele é a única verdadeira ameaça deste filme (que carrega "ameaca" até no nome, mas não assusta ninguém): derrotá-lo foi um verdadeiro desafio e até um personagem importante faleceu em suas mãos. Não é à toa que o personagem é o único ponto lembrado com carinho pelos fãs... Não apenas por seu design, mas também por ser o único ponto positivo do filme.
E pra fechar com chave de ouro...
5) Os midiclorians: ao tentar explicar a Força, Geroge Lucas a desmistificou.
Mas a explicação da Força não desmistificou apenas a Força, mas também George Lucas. Ep 1 é uma tentativa pálida de replicar uma fórmula - um golpe de sorte de 40 anos atrás, mas que se perdeu em tanto cgi.
O Vento Será Tua Herança
4.4 104 Assista AgoraAo ser apresentado, o personagem de Spencer Tracy é perguntado se é um "homem de Deus" e responde ser apenas "um homem de úlceras". A úlcera norteou a interpretação de Tracy, lembrando o personagem de Paulo Leminski no poema Dor Elegante: "Um homem com uma dor/ É muito mais elegante/ Caminha assim de lado/ Com se chegando atrasado/ Chegasse mais adiante". Uma atuação incrível e muito superior aos seus companheiros de cena, que ainda declamavam textos como se estivessem no teatro.
O Vento Será tua Herança é um filme terrívelmente atual e pertinente.
E Spencer Tracy era um gigante.
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista AgoraThe Unforgiven meets Cannibal Holocaust. Tudo isto com um orçamento minúsculo (digna de um episódio de Hermes & Renato) nas mãos de um diretor estreante. Após apontar estes obstáculos, regozijo-me em afirmar que Bone Tomahawk é um filmaço.
Apesar do schock horror do ato final, Bone Tomahawk é um western revisionista em seu core, com um índio sendo mostrado como um personagem extremamente inteligente e a reveladora linha "vocês não conquistaram a fronteira por causa dos índios ou o terreno, não conquistaram porquê são estúpidos". Os 4 personagens centrais são estereótipos (o xerife abnegado, o cowboy romântico, o almofadinha civilizado e o colono inocente), mas tem várias dimensões, com o texto deixando à cargo da platéia a tarefa de descobrir a verdade sobre suas motivações: Seria o xerife vaidoso? O almofadinha era motivado por desejo, culpa ou vingança? O filme começa com 4 desbravadores cavalgando ao poente e termina com 4 seres humanos.
Li algumas reviews que apontaram os dois primeiros atos como lentos, mas a ausência de tiroteios carrega um texto afiado em dimensionar seus personagens e seu tempo. O personagem de Russel, por exemplo, é definido em apenas uma cena: após ficar sabendo de uma ocorrência ele desvira uma cadeira que estava caída no saloom e a coloca de volta no lugar, com força. O diretor estava mostrando que o xerife (Russel) não gosta que a paz seja abalada em sua cidadezinha (com a cadeira caída representando o caos) e iria resolver a situação. Disse tudo isso sem palavras. O texto é bom até quando não tem falas.
Pontos negativos: Os atores são limitados (Matthew Fox é horrível) e destaco apenas Richard Jenkins (Kurt Russel está apenas interpretando o que sabe interpretar melhor: Kurt Russel). Outro ponto negativo são os horríveis bonecos utilizados (não convencem de forma alguma, mas podem ser perdoados pelo notório baixo orçamento) e a falta de master shots grandiosos (que também pode ser justificada pelo tom revisionista que desmistifica o western).
Seja fã de western ou horror, o filme agrada aos dois públicos. E agrada ainda mais ao ver que um diretor estreante fez um ousado western revisionista com um orçamento baixíssimo. O verdadeiro cowboy desbravador é o Craig Zahler.
Cidade das Ilusões
3.6 26Li uma resenha positiva sobre esse filme e pensei "vamos lá, é um filme do John Huston com um jovem Jeff Bridges. Merece uma chance!". Apertei o play e o filme iniciou com um clipe mostrando o lado bucólico da cidade de Stockton/CA, com todos os personagens anônimos levando suas vidas anônimas, e o boxeador interpretado por Stacy Keach levantando da cama em busca de sua glória. Tudo isso ao som de Kris Kristofferson e sua inesquecível balada Help Me Make It Trough The Night. Se o autor da resenha tivesse mencionado Kris Kristofferson eu teria assistido só por isso.
Stacy Keach faz um velho pugilista que encontra um jovem Jeff Bridges e enxerga uma faísca de sucesso. Após seu encontro inicial os dois personagens seguem vidas paralelas, encontrando-se de tempos em tempos, e vemos como os dois se comportam diante das surras que levam - sejam elas da vida ou dos oponentes no ringue. Ninguém quer ser medíocre em Stockton e todos estão dispostos a sangrar por isso.
Apesar de ser um filme de boxe, a película não guarda semelhanças com filmes esportivos de superação e mais parece com filmes da nova hollywood, como Midnight Cowboy. Um dos pontos positivos foi não vilanizar os oponentes (muito comum em filmes de boxe). Em uma cena chave
Stacy keach reclama que sua carreira acabou quando seu treinador não o acompanhou em uma luta no Panamá. Momentos depois nós o vemos ganhar a luta seguinte e sair acompanhado de sua entourage enquanto seu oponente deixa o local sozinho.
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KVi a cinebiografia do Doors na época do lançamento, com uns 11 ou 12 anos e me tornei fã desde então. Mais tarde apresentei o filme para vários amigos que também se tornaram fãs incondicionais. Uma das melhores cinebiografias musicais já realizadas.
Duvido que Somos Tão Jovens consiga formar um fã sequer. É um filme tão ruim que presta um desserviço à banda.
Pontypool
3.1 222 Assista AgoraFilmes passados em um único ambiente (os chamados “single set”), de baixo orçamento, sempre despertam minha curiosidade. Primeiro porque o texto tem que ser muito afiado para prender o público em uma discussão interminável entre personagens, segundo porque costuma mostrar o potencial dos diretores na condução da narrativa. Temos vários exemplos de valor: clássicos eternos como 12 Angry Men, metáforas de seu tempo como The Mist ( uma metáfora para a paranoia pós 11 de setembro), discussões teológicas como The Sunset Limited e The Man From Earth e até experiências sensoriais como o ótimo (e pouco visto) Berberian Sound Studio. Pontypool acaba de entrar neste seleto grupo.
A premissa é simples: radialistas isolados em uma estação de rádio de uma pequena cidade canadense recebem relatos de fatos estranhos e tentam entender o que está acontecendo. Tudo o que sabemos do que ocorre na cidade provém de relatos e da interpretação irresponsável do âncora, que nos faz lembrar o famoso caso da transmissão de Guerra Dos Mundos do Orson Welles.
Minha definição rudimentar de “terror” é: “está acontecendo algo HORRÍVEL AQUI e preciso FUGIR”, já a minha definição rudimentar de “horror” é: “está acontecendo algo HORRÍVEL LÁ FORA e não posso deixá-la ENTRAR”. Pontypool se encaixa nesta segunda definição - apesar de alguns gores ocasionais – e vai além: é uma metáfora muito pertinente para a manipulação midiática.
Grant Mazzy, o amargurado âncora local, repassa informações não comprovadas e transforma pequenas situações em casos alarmantes (como quando questiona, ao vivo, se os policiais estão bêbados). Seu mote é “As pessoas precisam ficar zangadas porque pessoas zangadas não mudam de estação”, indo de encontro à linha editorial adotada pela emissora que preza pelo status quo da pacata cidadezinha. Na ficção de Pontypool, palavras são assimiladas e propagadas como vírus, mas isto não difere do mundo real em que pessoas são xingadas de “comunistas” (desde quando “comunista” é xingamento!?) e batem panelas seguindo um sujeito que se diz “revoltado”. Após os créditos temos uma cena curiosa que levanta questionamentos que não vou mencionar para evitar spoilers, mas que todos devem fazer após ouvir a transmissão de Grant Mazzy na CSLY da pequena cidade de Pontypool/Ontário, como também após assistir o noticiário de certas emissoras brasileiras.
E lembrem-se: Isto não é o fim do mundo, é apenas o fim do dia.
Comando de Heróis
3.4 7Porcamente produzido: Os helicópteros não tem lançadores de foguetes, mas são mostrados disparando foguetes (provavelmente algum stunt com um rojão do lado de fora da aeronava), não havia festim suficiente para os inimigos (eles nunca são mostrados disparando em conjunto, só isoladamente), não houve coreografia (um caos com pessoas correndo de um lado para o outro), os atores não tiveram treinamento de combate (o único que sabe segurar uma arma é o Lee Ermey) e a locação é uma praia simulando uma floresta asiática (tem um momento em que eles parecem estar no jardim de um resort. juro.). Mas o pior de tudo ainda é o roteiro que não se detém por 10 segundos sequer nos personagens. Este filme é um desastre completo.
Bar Max
3.2 5Após Richard Donner fazer os dois primeiros filmes do Superman, abraçou este projeto pequeno sobre um cara que tenta suicídio saltando de um edifício. Ele saiu de duas produções milionárias sobre um homem indestrutível, capaz de voar, e entrou em um filme sobre um cara que pula de um prédio, sobrevive, mas acaba com sequelas físicas e psicológicas. Donner estava interessado em um novo tipo de Superman.
Roary é interpretado por John Savage em uma atuação forte: Roary teve as pernas destruídas e precisa de um aparato para se sustentar em pé, anda com dificuldade e seu psicológico está em frangalhos após a tentativa frustrada e os 8 meses de recuperação. Roary quer uma cerveja e ele segue para o Max’s Bar, um boteco de bairro com uma clientela especial: Blue Lou é paraplégico, Stinky é cego, Wings não tem os braços, Anne é viciada e se prostitui, Jerry é o ás do basquete que não pode mais jogar por não ter mais cartilagem no joelho, Benny é um gigolô... Todos aleijados – seja fisicamente, moralmente ou emocionalmente.
Inside Moves é um filme sobre amizade e acertadamente posiciona os acontecimentos em um bar com toda sua fauna de desajustados. Nós não sabemos como Lou foi parar em uma cadeira de rodas, se Stinky já nasceu cego ou se Wings perdeu os braços na guerra , só conhecemos o background de Roary a partir da tentativa de suicídio (nem sequer o motivo nos é mostrado com antecedência), mas somos convidados a sentar no balcão junto à eles e entender como enxergam o mundo. É uma experiência quase tão real quanto ir a um bar de verdade e conversar trivialidades com o desconhecido ao seu lado. Todos são amigos no balcão de bar, não importa se acabamos de conhecer o sujeito e mal sabemos seu nome. “como são belas as pessoas que pouco conhecemos”...
Os personagens se apoiam uns nos outros para superar seus problemas: seja o gigolô Benny emprestando o carro a alguém ou o cego Stinky empurrando a cadeira de rodas de blue Lou, seja o barman Burt alcovitando namoros ou Max se endividando para não repassar a inflação para os clientes. O bar do Max é uma família disfuncional onde não existe espaço pra pena, “Você fez tudo errado, garoto: primeiro você fica aleijado e só então você comete suicídio.”, disse Stinky ao ouvir a resposta de Roary sobre o que aconteceu com suas pernas. Todos gargalham e pedem mais uma cerveja. Não tem espaço para depressão no balcão do Max – o que é impressionante vindo de um filme sobre um suicida e seu grupo de amigos cachaceiros e portadores de necessidades especiais.
Donner já afirmou em entrevistas que Inside Moves é seu filme preferido, o que é bastante curioso, vindo de um diretor que passou a carreira inteira fazendo blockbusters. Ao final do filme, durante os créditos, surge uma foto do elenco e equipe na frente do bar do Max, todos sorrindo em frente ao bar, abraçados, como se tivessem passado a noite inteira bebendo e saíram com o nascer do sol pra fazer aquela foto. Assim como os personagens do filme, eles também se conheceram e se tornaram amigos no Max. Eu recomendo Inside Moves assim como recomendo uma ida ao bar, afinal “Há BARES que vem para o bem”. Cheers.
A Canção do Carrasco
3.2 2Caso famoso em que presidiário no corredor da morte abre mão de suas apelações e pede para que adiantem sua execução. Vemos os últimos meses de Gary Gilmore, do dia em que ele sai em condicional (Gary contava 35 anos após uma pena de 12 anos e mais um passado em casas de correção juvenil) até o dia de sua execução por ter matado dois homens em dois diferentes assaltos, por motivo nenhum. O filme tenta não vitimizar o personagem, mas acaba mostrando Gary como fruto de um sistema prisional que não prepara o preso para voltar a sociedade: Ele é ajudado por muitos familiares e amigos, mas seus códigos de conduta são diferentes (se ele quer algo ele simplesmente pega - seja uma cerveja ou um carro) e simplesmente não consegue se encaixar, já que a prisão o acompanha até em pequenos detalhes da vida - seja devorando o almoço o mais rápido possível ou chamando a namorada de "parceiro" na cama. Ao final, o telespectador fica em dúvida se Gary escolheu a morte por se arrepender de seus pecados e enxergar que não serve para a sociedade, ou se apenas está tomando o caminho mais fácil e abrindo mão de cumprir sua pena. Apesar de tudo, o residual que fica na memória são os questionamentos levantados sobre o sistema prisional. Bastante efetivo.
A atuação de Tommy Lee Jones foi celebrada neste telefilme e. apesar de parecer overacting em alguns momentos, ele mostra maneirismos diferentes dos que vem usando desde que foi estereotipado como o homem duro e anacrônico que vem representa nos últimos 25 anos. Recomendado aos liberais e fãs do Tommy Lee Jones.
A Conexão Francesa
3.6 43 Assista AgoraEm 1971 os Rolling Stones viraram fugitivos fiscais e precisaram abandonar a terra da Rainha. O lugar escolhido para o exílio foi a Riviera Francesa. Por causa do clima? Das belas praias? Dos cassinos? Todos estes fatores influenciaram, mas o fator determinante para Keith Richards foi o inesgotável suprimento de drogas. Marselha era a capital mundial da heroína.
Hollywood já contou a história da maior apreensão de heroína dos anos 70 em Operação França, com Popeye Doyle caçando os marselheses em solo americano. La French mostra a operação em solo francês: Um jogo de xadrez que atravessa décadas entre o juiz Michel e o chefe do cartel francês, Tany Zampa. O bem e o mal banhados pelo sol da côte d’azur . Existe até uma cena em que um policial questiona o porquê do juiz continuar prendendo pequenos gigolôs, traficantes e viciados, e o juiz retruca que estes são os peões que movimentam o cartel. Foi estabelecida a estratégia de jogo das peças brancas.
Uma escolha interessante foi mostrar as transações tomando lugar em galpões e apartamentos escuros e o corte só ser realizado após algum personagem abrir uma porta e ser iluminado pelo sol; outra foi ter mostrado os assassinatos à luz do dia, filmados à distância, com o matador e a vítima no mesmo quadro (assim como em O Poderoso Chefão), posicionando a plateia como testemunhas do ocorrido. O mal conspira no escuro, mas sai à luz do dia para cometer seus crimes e implantar o terror. A surpresa é a estratégia das peças negras.
Além de O Chefão, outra influência foi Os Bons Companheiros, com os clipes musicais pontuando cenas e denotando o psicológico dos personagens. Ao final da partida de xadrez, após ter misturando estes 3 clássicos do cinema de crime, Cédric Jimenez nos entrega um produto que parece ter saído diretamente dos anos 70. Um filme policial à moda antiga e com pedigree.
A Estrela Solitária
3.5 24A descoberta de um corpo enterrado no deserto é o estopim deste "Chinatown texano" de John Sayles. O diretor não se prende apenas à trama detetivesca, mas a usa como pano de fundo para discutir a formação do Texas. A escolha em ambientar seu filme em uma cidade fronteiriça denota o real tema do filme, que são as linhas imaginárias: sejam elas a linha de uma fronteira ou a linha que separa o bem do mal, o certo do errado, a verdade da mentira, o amor da raiva... Existe até uma cena bastante ilustrativa, mostrando uma linha sendo marcada na areia com uma garrafa de coca-cola.
Kriss Kritofferson rouba a cena como o xerife Wade - o cowboy durão, maquiavélico - e Matthew McConaughey é o xerife Deeds - sua antítese - o poço de bondade, sabedoria e justiça que alicerçou a construção da cidade em questão. As lendas sobre estes dois personagens movem a trama enquanto somos apresentados à uma série de personagens secundários e de diferentes etnias que ajudaram na construção da identidade texana: Cowboys brancos, negros rebeldes e aventureiros mexicanos - Country, blues e baladas de mariachi se digladiam pela estrela solitária no peito de um xerife, assim como pela estrela solitária da bandeira texana.