"You saved my life. You made it... you made it beautiful. So it's okay."
Dava pra ouvir meu coração partindo nessa hora.
Se houver um Oscar esse ano onde não haja indicação do Riz Ahmed como ator em papel principal e Paul Raci em papel coadjuvante, é motivo de rebelião. Perfeito equilíbrio de cena entre os dois. Joe é aquela alma ancestral e sábia que traz paz para o maior dos desastres. E a performance do Riz como Ruben foi tão sensível e cheia de nuances. Em nenhum momento assume um tom exagerado de melodrama, mas não se deixa afetar pelo medo da vulnerabilidade. Ruben me emocionou em vários momentos e Riz soube transmitir mensagens com muita sutileza, em vários momentos apenas com um olhar podia-se entender o que estava pensando.
A forma como o filme se preocupa em tentar transmitir um pouco do mundo sensorial de Ruben é muito efetiva e faz toda a diferença.
Vi algumas pessoas comentarem que o final do filme é previsível, mas acho que o filme caminha para onde deveria ir. Nem sempre o óbvio é ruim. Vivemos em uma era onde praticamente tudo já foi feito e retratado, e não faz sentido fugir de um caminho coerente com a história e personagens apenas pelo prazer de dizer que inovou no desfecho. Para mim, o roteiro do filme é basicamente perfeito no que se propõe e deixou tudo bem amarradinho.
Que saudade eu estava de chorar desoladamente assistindo um filme. Belo e devastador na mesma medida. Com certeza o melhor e mais maduro trabalho do Karim.
Queria muito dizer que é outra obra-prima como Mommy, mas devo confessar que é o pior da carreira dele (ainda não vi o anterior que também não teve boa recepção). O filme tem uma boa atmosfera com boa fotografia e soundtrack, mas "it's all over the place", como se diria em inglês. A história não age em prol do seu plot principal e ao mesmo tempo não oferece outras narrativas para você embarcar. Resta divagar com belos visuais, momentos musicais interessantes e nada mais. Você de longe vê que é um trabalho sem inspiração. Dolan: não seja o novo Woody Allen que faz bomba atrás de bomba pra não dizer que está parado.
Dica: não viu trailer e não leu sinopse? Continue assim, porque a única coisa interessante do filme fica entregue no trailer e creio que não saber teria me proporcionado uma experiência melhor aproveitada.
“Love, Simon” não é o filme mais inovador que você vai assistir se analisado os pontos técnicos de cinematografia. Na realidade, em muitos momentos, ele é bastante clichê. O clima de cinema soft-teen permeia todo o filme. No entanto, “Love, Simon” é um filme que vai dialogar com qualquer jovem gay. Por que? Porque todos nós em algum momento fomos Simon. Negamos a nossa sexualidade e tentamos ser algo que não éramos. O medo da mudança é o que deixa tantos jovens no armário. Deixar de ser amado pela família e pelos amigos é o que paralisa todos nós. E não cabe a ninguém nos tirar de lá. O momento de assumir sua sexualidade é quando você se conhecer e se aceitar. Em tudo o que longa peca em falta de inovação cinematográfica ele ganha especificamente na abordagem otimista de uma história “gay”. Por muitos anos fomos acostumados a ver finais trágicos nos filmes que retrataram LGBTs. Fomos ensinados que ser gay no final das contas nos levará à um caminho de destruição e infelicidade. “Love, Simon” vem pra dizer: chega. Nem todas as histórias são trágicas. Os caminhos são diferentes, os meios são diferentes, e por isso mesmo, tudo pode ser diferente. Você pode sim imaginar a luz no fim do túnel. Você pode imaginar que tudo vai ficar bem. Haverá lágrimas, dor, desespero. Não vou mentir, vai ser difícil. Mas em algum momento você encontra consigo mesmo, estende a mão e diz: vamos, eu te aceito. E a partir desse momento não importa o que o mundo diga. Você levanta a cabeça e está pronto pra qualquer coisa. “Love, Simon” talvez seja um pouco otimista e ingênuo demais para os crescidos como eu. Com o tempo nós perdemos a inocência e nos tornamos cínicos. Mas quem dera se o Assis de 10 anos atrás tivesse sido representado dessa forma em algum grande filme de estúdio. Ou na novela. Ou na série de TV. Ou em qualquer lugar. Ser representado sem ser ridicularizado. Ter dimensão e sentimentos. Ser de fato uma pessoa, e não uma caricatura. Quem sabe a minha luta não teria sido um pouco mais fácil. Espero que os milhões de garotos gays possam assistir “Love, Simon” e se inspirarem. Espero que eles possam entender que pouco a pouco o mundo se torna mais tolerante. Acredite que você pode ser feliz, amar e ser amado.
“Você pode respirar agora, Simon. Você pode ser mais você mesmo como não tem sido há muito tempo. Você merece tudo o que você quiser.”
Para aqueles que leram o livro, toda a ambientação forçada no intuito de dar um background para Lena e Kane diminui bastante o ritmo do filme, o que se torna algo contra-produtivo, já que Alex Garland não é competente em manter o suspense em cima do shimmer e ficamos completamente desinteressados com o desenrolar da história nos três primeiros quartos. Explorar o universo mutante teria sido muito mais proveitoso do que tentar dar sentido para as ações das personagens principais. Além disso, retirar o antagonismo das companheiras de exploração foi um erro, já que o clima de tensão constante do livro em torno dessa trama era um dos pontos mais envolventes da história. Não ter a exploração da "torre" para mim também foi um equívoco, já que esse era o ponto alto do livro. Mas é como sabemos, livros livros, cinema a parte. O filme não é 100% eficaz em estabelecer seu terreno, e o diretor não traduz com sucesso a sua mensagem. No entanto, preciso bater palmas para o último quarto da obra do novato Garland. Ousado e original como eu não via desde Under the Skin. A trilha do Ben Salisbury e Geoff Barrow acompanham bem as cenas surreais e hipnóticas do desfecho do longa. Vai passar longe de se tornar um clássico do gênero, mas me deixa bastante esperançoso pelo futuro do diretor.
The Shape of Water é um primor técnico, ponto. Mas para conseguir se satisfazer, mesmo com a quantidade de furos do roteiro, você precisar abrir mão de todas as regras da lógica e embarcar no show de absurdos narrativos. O vilão é tão estereotipado a ponto de ficar ridículo em alguns momentos. Foi a decepção do ano.
"I’m trying to do this. Don’t you see that? I'm trying to sort it out. I've come all this way up here. And I want you to come back. With me. I want us to be together. I don't wanna be a fuck up anymore."
Eu sou uma pessoa que não se agrada com qualquer comédia. Faço literalmente cara de estátua com a maioria dos filmes "cômicos" (ou não cômicos) enquanto o resto da plateia se acaba nas risadas. E quando vi um comentário de uma pessoa dizendo que esse era um dos filmes mais engraçados que ela havia assistido nos últimos anos, pensei que seria a minha mais nova decepção. Mas para a minha grata surpresa, passei literalmente horas comentando o filme após o término da sessão, não só pelo seu lado cômico mas também por todo o seu conteúdo. E de fato é um dos filmes mais engraçados que eu assisti nos últimos tempos (talvez um dos mais cômicos). Mas claro, gosto e consequentemente, humor, é relativo e tenho certeza que muita gente vai odiar. Não é um humor pastelão, ele te fisga das formas mais inesperadas. E quanto ao filme como um todo, é definitivamente incrível. Sabe tecer seu lado teórico-crítico sem ser pedante ou enfadonho, e sabe prender o espectador a cada evento. Passa longe do paradigma clássico de cinema americano e cria uma estrutura narrativa própria de forma bastante original. Não é parecido com nada que você já tenha assistido. É um daqueles filmes onde você não sente desconforto na cadeira de cansaço ou se pergunta se já está acabando. Você quer mais, mais, e mais. Ruben Östlund entregar uma obra-prima desse calibre tão cedo em sua filmografia é realmente admirável. Não vai ser para todos os gostos, mas o espectador para quem ele foi endereçado vai sair do cinema em êxtase com essa obra tão provocativa e original.
The Edge of Seventeen tocou em questões parecidas com maior competência, ao meu ver. O que Lady Bird carrega é um feeling indie que deve ter agrado muita gente. Sinceramente achei um filme bastante comum. Trata de dilemas bastante saturados e não acho que traga algo de muito novo. Assistir Saoirse Ronan é sempre um deleite e Laurie Metcalf segue muito competente. Aplaudo Greta e seu time de edição por não querer estender a brincadeira além do necessário, deixando o longa bastante sucinto e direto. Certamente iniciei com expectativas muito altas, não atendidas no final das contas (embora mesmo assim tenha considerado um 4/5).
Essa foi a pergunta que assim como Little, eu tive de responder muito cedo. Antes mesmo de ter qualquer noção de sexualidade, eu tive de procurar entender uma palavra proferida para expressar ódio por pessoas que são apenas diferentes. Diferente de Little, eu nunca tive com quem conversar, não tive uma Teresa ou Juan para me guiar. Tive de lidar com toda a minha descoberta sozinho. E assim como com Black, os reflexos no terceiro ato da minha jornada foram marcantes.
PAULA You ever see the way he walk, Juan?
Lembro de um episódio de quando eu tinha mais ou menos 10 anos, e após chegar da rua, minha irmã me repreendeu dizendo: “Para de andar desse jeito”. Enquanto ela me imitava, eu fechei os olhos. Eu nunca fiquei sabendo afinal, que jeito era esse. A sociedade nos reconhece muito cedo, antes mesmo de nós mesmos. E a partir do momento que nosso comportamento sai fora do molde padrão, ela começa seu processo de exorcização. Temos de lidar com as ofensas e com as surras sem sequer entendermos o que fizemos de errado. É uma terra onde os fracos não têm vez, e somente os fortes viverão para contar sua jornada. Nos transformamos em muralhas para tentar minimizar os danos de tanta pancada.
Nós nascemos com o nosso script pronto para decorar e atuar. Essa projeção é um delírio coletivo, uma doutrinação em massa. Pessoas são moldadas para almejar o sonho da família nuclear. Para Little, essa fantasia não foi real desde a sua concepção. Little foi criado sem ninho, amparado por pessoas que sentiram a sua dor mas que não eram a sua família, não eram as pessoas supostas a lhe dar amor e amparo. E desde então, sua vida não poderia seguir mais fora do ideal social.
BLACK I’m me, man, ain’t tryna be nothin’else.
Alguns conservadores insistem em apontar o comportamento homossexual como não natural. Mas como pode minha natureza não ser natural? Não me diga que andar como eu ando, falar como eu falo, que sentir atração por quem eu sinto, não é natural. A repressão que eu sofro para ser algo que eu não sou, isso sim é inatural. Eu sou eu, não estou tentando ser outra coisa.
BLACK When we got to Atlanta... I started over. Built myself from the ground up. Built myself hard.
Toda reação traz junto uma reação. Precisamos nos reconstruir mais fortes todos dias, caso contrário, a vida te acerta, te derruba, e te deixa no chão. Chiron entendeu essa dura verdade e criou para si uma persona que o permitisse andar pelo mundo sem ser agredido de todas as formas possíveis. Quem pode dizer quem o real Black poderia ser? Como saber até que ponto essa sociedade opressora tirou Chiron de seu caminho? Quem é Little? Quem é Chiron? Quem é Black? São facetas de uma mesma pessoa? São um conjunto da bagunça que é ser e viver? São reflexos de sua real natureza ou um produto do seu meio? São afinal, uma pessoa só?
Berry Jenkins merece louvor só pelo fato de construir uma jornada de descoberta tão livre de clichês. Em nenhum momento ele apela para o melodrama ou por resoluções fáceis. É muito importante retratar personagens homossexuais que fogem do estereótipo. Não que haja qualquer problema com esse estereótipo, pois ele também é real. No entanto, o mundo precisa conhecer a história de outros personagens. Homossexuais estão em todo lugar, e são tão complexos e diversos como qualquer ser humano. Você com certeza conhece alguma pessoa que não teve a coragem para enfrentar a força da expectativa do seu meio e se transformar na pessoa que ela é em seu íntimo. O fardo social é mais pesado para alguns do que para outros. E não cabe a ninguém julgar. Portanto, palmas para quem bate a mão no peito e diz: esse sou eu, você pode aceitar ou não, mas esse sou eu.
Para finalizar, preciso elogiar a incrível trilha composta pelo Nicholas Britell que só fez maximizar o potencial dramáticio e emocional de cada cena. As faixas “The Middle of the World” e “Chef’s Special” são destaques belíssimos que aprofundaram a beleza visual destas cenas. As categorias de atuação coadjuvantes das premiações merecem certamente serem dominadas por Mahershala Ali e Naomie Harris. Do ponto de vista visual, esse filme reina em todos os aspectos, da direção de arte do material de divulgação à sua fotografia.
CHIRON I cry so much sometimes I think one day I’m gone just turn into drops.
Eu só queria saber quando as pessoas vão entender que o paradigma hollywoodiano de começo/meio/fim com cenas matematicamente calculadas não se aplica para todos os filmes do mundo. Aliás, essa é a beleza do cinema europeu mais voltado para o realismo de cenas longas e diálogos marcantes. Toni Erdmann é longo? Sim, é. Eu quase deixei de o ver hoje pois me tomaria muito tempo. Resolvi assistir e não me arrependo de sequer 10 segundos empregados ao filme. Se tudo o que você for fazer é reclamar da duração, definitivamente não deve sequer começar. Toni Erdmann é tragicamente cômico, mas acima de tudo, extremamente humano. Ele permeia por você de inúmeras formas durante sua projeção. Dá para se emocionar, rir, e se balançar desconfortavelmente na cadeira enquanto a história se desenrola. Eu ultimamente admiro muito mais diretores que conseguem transformar uma premissa básica em um baita filme como esse do que os que pegam roteiros cheios de plot twists mirabolantes e mesmo assim não atingem o espectador porque deixam de lado o fator humano. A Cena em que finalmente compreendemos esses pôster é de uma delicadeza sublime. Seria um bom momento para se encerrar o filme, caso uns outros pontos tivessem sido amarrados mais cedo.
É quando você termina um filme como American Honey que você para e pensa: é pra isso que existe o cinema. Cinema realista que te faz sair do seu universo para entrar de cabeça em outro. Fazia muito tempo que um filme não me deixava tão apaixonado. Você termina as quase 3 horas querendo mais. Você quer fazer parte daquele universo. Ao terminar, parece que estamos deixando para trás alguma coisa muito querida e valiosa. Eu juro estar literalmente sem palavras pra dissertar mais profundamente sobre o filme e seus recortes. Por enquanto vou ficar por aqui, atônito, tentando digerir essa experiência que foi tão intensa como qualquer uma que vivi pessoalmente. Isso é uma joia do cinema americano, uma obra-prima do cinema contemporâneo.
Muito bom ver um filme que não subestima e infantiliza a adolescência. É uma fase extremamente dolorosa para muitos jovens. Minnie aqui reflete as angústias desses seres em busca de respostas, construindo a sua identidade. A diretora sabe pontuar sua visão sobre sexualidade feminina sem emburrecer o ponto de vista da protagonista. O elenco possui um excelente entrosamento, mas o destaque definitivamente vai para Bel Powley, que entrega uma fantástica performance.
Vamos colocar as cartas na mesa? Anna Muylaert não estava inspirada para esse longa. Quem assistiu Que Horas Ela Volta sabe do que eu tô falando. Achei vários caminhos que o longa seguiu extremamente preguiçosos, incluindo o desfecho. Dava pra ter se aprofundado de tantas formas se ela realmente quisesse criar um drama do calibre do seu anterior. Os personagens aqui são tão profundos quanto um pires. Eu de fato não desgostei, mas o potencial desperdiçado não deixa de me incomodar e não vou ser condescendente só porque é um filme da Anna. Vai ficar para mim como um filme que poderia ter sido outro, mas como devo avaliar o que tenho em mãos, digo que não foi tudo o que eu imaginava.
Depois de assistir tive mais pesar ainda pela mudança de nome do longa. Para quem não sabe, primeiramente este filme se chamaria "Silencio". Como Scorsese lançaria um filme de mesmo nome em breve, Almodóvar resolveu trocar o título do seu. Para mim, os títulos dos filmes do diretor são a síntese exata das suas obras. Volver, Tudo Sobre Minha Mãe, Fale Com ela. E quando penso no título antigo, só consigo constatar que era perfeito para este filme! Quanto ao longa, vou ser sincero, eu esperava mais. Todos os elementos do diretor estão presentes, e não há dúvidas de que a fotografia, como sempre, está um primor. Mas Almodóvar está num patamar onde esperamos sempre o seu máximo, nada menos que obras-prima. E para mim, "Julieta" não é um dos filmes mais inspirados do diretor. Ele retorna ao drama em boa forma, depois da comédia mediana "Los Amantes Pasajeros", mas não é algo que marcará a sua carreira, assim como o anterior. Espero que este seja um aquecimento para um novo grande longa porque afinal, ninguém é obrigado ou sequer capaz de produzir sempre uma obra-prima. Perto de muitos diretores de vanguarda ainda na ativa, Almodóvar é um dos que continua fazendo o seu cinema autêntico e original, e por isso, ele vai ter sempre o meu respeito.
Somos uma geração triste. A geração que carrega consigo uma melancolia crônica. Não sabemos de onde viemos, muito menos para onde vamos. Não sabemos quem somos, muito menos quem seremos. Erramos demais. Aprendemos pouco com os nossos erros. Pensamos que como num filme, sempre poderemos recomeçar, tentar de novo. Se aquela faculdade não for pra mim, eu tranco e começo outra. Ah, beleza, se esse date não der certo, saio com aquele outro carinha do aplicativo, quem sabe aquele do Instagram. Cara, se meu chefe me encher, eu saio fora e procuro outra coisa. Somos a geração das possibilidades. Dizia-se que o ser humano era uma criatura angustiada pela iminência da morte. Mas parece que na era da tecnologia e da informação, nos tornamos angustiados exatamente por esse excesso de possibilidades. Nossos pais tinham de escolher um caminho, o caminho. Eles não se davam ao luxo de escolher a faculdade errada, ou de não se casar na casa dos vinte. Filhos, tinham de ser antes dos trinta. Nossos pais não tinham muita escolha, viver era um plano traçado desde sempre. Já nós, somos a geração que conquistou o mundo. Somos a geração que colhe os frutos dos que clamaram por liberdade. Nos deram essa tal liberdade. E agora, o que fazemos com ela? Não sabemos para onde correr, para quem correr. Parece que estamos sempre sozinhos, embora sempre acompanhados. Cadê o diálogo? Não conversa, não mensagem; onde foi parar o diálogo? À quem de fato serviu essa revolução digital? O que de fato ganhamos? Quanto nós perdemos? Dizem que hoje nós estamos conectados como nunca, mas eu te pergunto, à quê?
Sei que meu comentário é mais um devaneio da madrugada do que de fato uma resenha sobre o capítulo final de Looking. Mas sinceramente, não há muito o que se dizer, até porque não quero arruinar a experiência de ninguém. O longa não é um filme para se assistir sem ter acompanhado a série, ponto. O filme não inova no formato seguido na série, é um episódio como qualquer outro, só que, mais longo. Looking passa longe daquele padrão estilístico americano cheio de plot twists fantasiosos e ação pungente. Looking é um reflexo da vida. Lembra como cada capítulo acabava quase que de repente? Assim como é a vida. Nem sempre dormimos com a cabeça em cima daquele gancho para o episódio do dia seguinte. Acredito que esse longa encerrou com chave de ouro essa belíssima série. Embora mal compreendida por alguns, sei que será apreciada ainda por muitos. E a conclusão é que eu e você, estamos tão perdidos quanto Patrick, Dom, Agustín, Richie, Kevin ou Doris. Estamos todos tentando arrumar essa bagunça que nos deixaram. Estamos todos vivendo, um dia após o outro.
Que filme alucinante, literalmente! É como uma viagem dentro de uma caverna onde a escuridão se intensifica quanto mais adentramos nela. Falar que o filme continua atual nos dias de hoje é apenas chover no molhado. Vocês têm noção de que esse filme tem 33 anos? Dá pra acreditar? Olha que longo caminho percorremos! Só não sei bem ao certo dizer se para um lugar melhor ou pior dos que as perspectivas que Cronenberg apontava em 83. O filme me remeteu muito ao Black Swan do Aronofsky, onde a insanidade da personagem vai se intensificando ao percorrer do longa e no final estamos sem rumo. Será que Aronofsky bebeu dessa fonte? Cisne Negro é um dos meus, se não o meu filme favorito, e adorei esse tipo de atmosfera presente aqui também em Videodrome. Não me recordo de outro filme que tenha trilhado o mesmo caminho nem antes e nem depois de Videodrome. Aceito sugestões!
Coutinho começa o filme declarando suas preocupações com o teor desta obra. Na sua opinião, adolescentes já possuem uma bagagem que prejudica a genuinidade dos depoimentos. Esse filme não poderia se iniciar de forma mais elucidante. Afinal, é um filme dirigido por Coutinho, mas também dirigido para Coutinho. Os cortes já não são mais tão precisos, vemos um pouco do processo de instigamento dos entrevistados, vemos um microfone aparecer no topo da tela de vez em quando, vemos as conversas paralelas durante as cenas. Parece que de alguma forma, a intenção era quebrar a fantasia cinematográfica. Vemos que um documentário não é menos fictício do que qualquer outra obra de ficção. É um filme que busca ao mesmo tempo concluir a última obra do mestre Coutinho, mas também desnudar o seu processo. Coutinho deixou claro que gostaria de fazer um filme com as crianças, e é doloroso saber que um gênio como ele parte com tantas ideias e com tanto o que contribuir. Mas além do pesar de imaginar o que poderia ter sido, esse depoimento da Luísa no final do filme nos deixa com aquela dolorosa reflexão: em que exato momento a vida se torna tão doída? Em que momento deixamos de dizer que "Deus é um cara que morreu" para começarmos a não acreditar nesse tal Deus? Em que momento a nossa inocência parte para nos deixar tão marcados pela vida? A transição da infância para a adolescência é um período de muito sofrimento. É desolante ver seres humanos atormentados tão precocemente. Esses reflexos de desajuste são hereditários; pais despreparados ou incapacitados acabam por tornar seus filhos os reflexos de suas vidas desordenadas. Esses jovens no futuro, estarão também imprimindo suas angústias e falhas para além de sua geração. Uma criança é sim moldada pelos pais, como diria Elis Regina, "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". O coração aperta ao ouvir "esse foi o último", mas para quem contribuiu tanto como Coutinho, o último frame nunca será de fato o último.
-Ou amor ou morte. Ou você ama ou a vida não faz sentido. -Não, você ama e morre, não tem "ou". Isso que é a vida.
"Não consigo entender como algumas pessoas dizem que a infância é a época mais feliz das suas vidas. De qualquer forma, para mim não foi. E talvez por isso mesmo, não acredite num paraíso infantil, nem na inocência e nem na bondade natural das crianças. Lembro-me da minha infância como um longo período, interminável, triste, cheio de medo. Medo do desconhecido. Há coisas que não posso esquecer. Parece inacreditável como memórias podem ser tão, tão fortes."
O Som do Silêncio
4.1 985 Assista Agora"You saved my life. You made it... you made it beautiful. So it's okay."
Dava pra ouvir meu coração partindo nessa hora.
Se houver um Oscar esse ano onde não haja indicação do Riz Ahmed como ator em papel principal e Paul Raci em papel coadjuvante, é motivo de rebelião. Perfeito equilíbrio de cena entre os dois. Joe é aquela alma ancestral e sábia que traz paz para o maior dos desastres. E a performance do Riz como Ruben foi tão sensível e cheia de nuances. Em nenhum momento assume um tom exagerado de melodrama, mas não se deixa afetar pelo medo da vulnerabilidade. Ruben me emocionou em vários momentos e Riz soube transmitir mensagens com muita sutileza, em vários momentos apenas com um olhar podia-se entender o que estava pensando.
A forma como o filme se preocupa em tentar transmitir um pouco do mundo sensorial de Ruben é muito efetiva e faz toda a diferença.
Vi algumas pessoas comentarem que o final do filme é previsível, mas acho que o filme caminha para onde deveria ir. Nem sempre o óbvio é ruim. Vivemos em uma era onde praticamente tudo já foi feito e retratado, e não faz sentido fugir de um caminho coerente com a história e personagens apenas pelo prazer de dizer que inovou no desfecho. Para mim, o roteiro do filme é basicamente perfeito no que se propõe e deixou tudo bem amarradinho.
A Vida Invisível
4.3 642Que saudade eu estava de chorar desoladamente assistindo um filme. Belo e devastador na mesma medida. Com certeza o melhor e mais maduro trabalho do Karim.
Matthias & Maxime
3.4 132 Assista AgoraQueria muito dizer que é outra obra-prima como Mommy, mas devo confessar que é o pior da carreira dele (ainda não vi o anterior que também não teve boa recepção). O filme tem uma boa atmosfera com boa fotografia e soundtrack, mas "it's all over the place", como se diria em inglês. A história não age em prol do seu plot principal e ao mesmo tempo não oferece outras narrativas para você embarcar. Resta divagar com belos visuais, momentos musicais interessantes e nada mais. Você de longe vê que é um trabalho sem inspiração. Dolan: não seja o novo Woody Allen que faz bomba atrás de bomba pra não dizer que está parado.
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraDica: não viu trailer e não leu sinopse? Continue assim, porque a única coisa interessante do filme fica entregue no trailer e creio que não saber teria me proporcionado uma experiência melhor aproveitada.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente
3.4 66 Assista AgoraO filme me ganhou na hora que eu vi o poster do The Piano. Um daqueles que ao sair do cinema te dá vontade de viver.
Com Amor, Simon
4.0 1,2K Assista Agora“Love, Simon” não é o filme mais inovador que você vai assistir se analisado os pontos técnicos de cinematografia. Na realidade, em muitos momentos, ele é bastante clichê. O clima de cinema soft-teen permeia todo o filme. No entanto, “Love, Simon” é um filme que vai dialogar com qualquer jovem gay. Por que? Porque todos nós em algum momento fomos Simon. Negamos a nossa sexualidade e tentamos ser algo que não éramos. O medo da mudança é o que deixa tantos jovens no armário. Deixar de ser amado pela família e pelos amigos é o que paralisa todos nós. E não cabe a ninguém nos tirar de lá. O momento de assumir sua sexualidade é quando você se conhecer e se aceitar. Em tudo o que longa peca em falta de inovação cinematográfica ele ganha especificamente na abordagem otimista de uma história “gay”. Por muitos anos fomos acostumados a ver finais trágicos nos filmes que retrataram LGBTs. Fomos ensinados que ser gay no final das contas nos levará à um caminho de destruição e infelicidade. “Love, Simon” vem pra dizer: chega. Nem todas as histórias são trágicas. Os caminhos são diferentes, os meios são diferentes, e por isso mesmo, tudo pode ser diferente. Você pode sim imaginar a luz no fim do túnel. Você pode imaginar que tudo vai ficar bem. Haverá lágrimas, dor, desespero. Não vou mentir, vai ser difícil. Mas em algum momento você encontra consigo mesmo, estende a mão e diz: vamos, eu te aceito. E a partir desse momento não importa o que o mundo diga. Você levanta a cabeça e está pronto pra qualquer coisa. “Love, Simon” talvez seja um pouco otimista e ingênuo demais para os crescidos como eu. Com o tempo nós perdemos a inocência e nos tornamos cínicos. Mas quem dera se o Assis de 10 anos atrás tivesse sido representado dessa forma em algum grande filme de estúdio. Ou na novela. Ou na série de TV. Ou em qualquer lugar. Ser representado sem ser ridicularizado. Ter dimensão e sentimentos. Ser de fato uma pessoa, e não uma caricatura. Quem sabe a minha luta não teria sido um pouco mais fácil. Espero que os milhões de garotos gays possam assistir “Love, Simon” e se inspirarem. Espero que eles possam entender que pouco a pouco o mundo se torna mais tolerante. Acredite que você pode ser feliz, amar e ser amado.
“Você pode respirar agora, Simon. Você pode ser mais você mesmo como não tem sido há muito tempo. Você merece tudo o que você quiser.”
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraPara aqueles que leram o livro, toda a ambientação forçada no intuito de dar um background para Lena e Kane diminui bastante o ritmo do filme, o que se torna algo contra-produtivo, já que Alex Garland não é competente em manter o suspense em cima do shimmer e ficamos completamente desinteressados com o desenrolar da história nos três primeiros quartos. Explorar o universo mutante teria sido muito mais proveitoso do que tentar dar sentido para as ações das personagens principais. Além disso, retirar o antagonismo das companheiras de exploração foi um erro, já que o clima de tensão constante do livro em torno dessa trama era um dos pontos mais envolventes da história. Não ter a exploração da "torre" para mim também foi um equívoco, já que esse era o ponto alto do livro. Mas é como sabemos, livros livros, cinema a parte. O filme não é 100% eficaz em estabelecer seu terreno, e o diretor não traduz com sucesso a sua mensagem. No entanto, preciso bater palmas para o último quarto da obra do novato Garland. Ousado e original como eu não via desde Under the Skin. A trilha do Ben Salisbury e Geoff Barrow acompanham bem as cenas surreais e hipnóticas do desfecho do longa. Vai passar longe de se tornar um clássico do gênero, mas me deixa bastante esperançoso pelo futuro do diretor.
A Forma da Água
3.9 2,7KThe Shape of Water é um primor técnico, ponto. Mas para conseguir se satisfazer, mesmo com a quantidade de furos do roteiro, você precisar abrir mão de todas as regras da lógica e embarcar no show de absurdos narrativos. O vilão é tão estereotipado a ponto de ficar ridículo em alguns momentos. Foi a decepção do ano.
O Reino de Deus
4.1 335"I’m trying to do this. Don’t you see that? I'm trying to sort it out. I've come all this way up here. And I want you to come back. With me. I want us to be together. I don't wanna be a fuck up anymore."
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraSó eu achei que aquela cena do Martin comendo o macarrão foi inspirada na cena do macarrão na banheira em Gummo?
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraEu sou uma pessoa que não se agrada com qualquer comédia. Faço literalmente cara de estátua com a maioria dos filmes "cômicos" (ou não cômicos) enquanto o resto da plateia se acaba nas risadas. E quando vi um comentário de uma pessoa dizendo que esse era um dos filmes mais engraçados que ela havia assistido nos últimos anos, pensei que seria a minha mais nova decepção. Mas para a minha grata surpresa, passei literalmente horas comentando o filme após o término da sessão, não só pelo seu lado cômico mas também por todo o seu conteúdo. E de fato é um dos filmes mais engraçados que eu assisti nos últimos tempos (talvez um dos mais cômicos). Mas claro, gosto e consequentemente, humor, é relativo e tenho certeza que muita gente vai odiar. Não é um humor pastelão, ele te fisga das formas mais inesperadas. E quanto ao filme como um todo, é definitivamente incrível. Sabe tecer seu lado teórico-crítico sem ser pedante ou enfadonho, e sabe prender o espectador a cada evento. Passa longe do paradigma clássico de cinema americano e cria uma estrutura narrativa própria de forma bastante original. Não é parecido com nada que você já tenha assistido. É um daqueles filmes onde você não sente desconforto na cadeira de cansaço ou se pergunta se já está acabando. Você quer mais, mais, e mais. Ruben Östlund entregar uma obra-prima desse calibre tão cedo em sua filmografia é realmente admirável. Não vai ser para todos os gostos, mas o espectador para quem ele foi endereçado vai sair do cinema em êxtase com essa obra tão provocativa e original.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraO filme termina e tudo o que você pensa é:
EU PRECISO VIVER UM AMOR AVASSALADOR EM UMA CIDADE DO NORTE DA ITÁLIA E SOFRER MUITO EM MEIO A PÊSSEGOS E BEIJOS SAFADOS DE LÍNGUA
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraThe Edge of Seventeen tocou em questões parecidas com maior competência, ao meu ver. O que Lady Bird carrega é um feeling indie que deve ter agrado muita gente. Sinceramente achei um filme bastante comum. Trata de dilemas bastante saturados e não acho que traga algo de muito novo. Assistir Saoirse Ronan é sempre um deleite e Laurie Metcalf segue muito competente. Aplaudo Greta e seu time de edição por não querer estender a brincadeira além do necessário, deixando o longa bastante sucinto e direto. Certamente iniciei com expectativas muito altas, não atendidas no final das contas (embora mesmo assim tenha considerado um 4/5).
Maudie: Sua Vida e Sua Arte
4.1 192 Assista AgoraEsse é o ano da Sally Hawkins.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraLITTLE
What's a faggot?
Essa foi a pergunta que assim como Little, eu tive de responder muito cedo. Antes mesmo de ter qualquer noção de sexualidade, eu tive de procurar entender uma palavra proferida para expressar ódio por pessoas que são apenas diferentes. Diferente de Little, eu nunca tive com quem conversar, não tive uma Teresa ou Juan para me guiar. Tive de lidar com toda a minha descoberta sozinho. E assim como com Black, os reflexos no terceiro ato da minha jornada foram marcantes.
PAULA
You ever see the way he walk, Juan?
Lembro de um episódio de quando eu tinha mais ou menos 10 anos, e após chegar da rua, minha irmã me repreendeu dizendo: “Para de andar desse jeito”. Enquanto ela me imitava, eu fechei os olhos. Eu nunca fiquei sabendo afinal, que jeito era esse.
A sociedade nos reconhece muito cedo, antes mesmo de nós mesmos. E a partir do momento que nosso comportamento sai fora do molde padrão, ela começa seu processo de exorcização. Temos de lidar com as ofensas e com as surras sem sequer entendermos o que fizemos de errado. É uma terra onde os fracos não têm vez, e somente os fortes viverão para contar sua jornada. Nos transformamos em muralhas para tentar minimizar os danos de tanta pancada.
Nós nascemos com o nosso script pronto para decorar e atuar. Essa projeção é um delírio coletivo, uma doutrinação em massa. Pessoas são moldadas para almejar o sonho da família nuclear. Para Little, essa fantasia não foi real desde a sua concepção. Little foi criado sem ninho, amparado por pessoas que sentiram a sua dor mas que não eram a sua família, não eram as pessoas supostas a lhe dar amor e amparo. E desde então, sua vida não poderia seguir mais fora do ideal social.
BLACK
I’m me, man, ain’t tryna be nothin’else.
Alguns conservadores insistem em apontar o comportamento homossexual como não natural. Mas como pode minha natureza não ser natural? Não me diga que andar como eu ando, falar como eu falo, que sentir atração por quem eu sinto, não é natural. A repressão que eu sofro para ser algo que eu não sou, isso sim é inatural. Eu sou eu, não estou tentando ser outra coisa.
BLACK
When we got to Atlanta... I started over. Built myself from the ground up. Built myself hard.
Toda reação traz junto uma reação. Precisamos nos reconstruir mais fortes todos dias, caso contrário, a vida te acerta, te derruba, e te deixa no chão. Chiron entendeu essa dura verdade e criou para si uma persona que o permitisse andar pelo mundo sem ser agredido de todas as formas possíveis. Quem pode dizer quem o real Black poderia ser? Como saber até que ponto essa sociedade opressora tirou Chiron de seu caminho? Quem é Little? Quem é Chiron? Quem é Black? São facetas de uma mesma pessoa? São um conjunto da bagunça que é ser e viver? São reflexos de sua real natureza ou um produto do seu meio? São afinal, uma pessoa só?
Berry Jenkins merece louvor só pelo fato de construir uma jornada de descoberta tão livre de clichês. Em nenhum momento ele apela para o melodrama ou por resoluções fáceis. É muito importante retratar personagens homossexuais que fogem do estereótipo. Não que haja qualquer problema com esse estereótipo, pois ele também é real. No entanto, o mundo precisa conhecer a história de outros personagens. Homossexuais estão em todo lugar, e são tão complexos e diversos como qualquer ser humano. Você com certeza conhece alguma pessoa que não teve a coragem para enfrentar a força da expectativa do seu meio e se transformar na pessoa que ela é em seu íntimo. O fardo social é mais pesado para alguns do que para outros. E não cabe a ninguém julgar. Portanto, palmas para quem bate a mão no peito e diz: esse sou eu, você pode aceitar ou não, mas esse sou eu.
Para finalizar, preciso elogiar a incrível trilha composta pelo Nicholas Britell que só fez maximizar o potencial dramáticio e emocional de cada cena. As faixas “The Middle of the World” e “Chef’s Special” são destaques belíssimos que aprofundaram a beleza visual destas cenas. As categorias de atuação coadjuvantes das premiações merecem certamente serem dominadas por Mahershala Ali e Naomie Harris. Do ponto de vista visual, esse filme reina em todos os aspectos, da direção de arte do material de divulgação à sua fotografia.
CHIRON
I cry so much sometimes I think one day I’m gone just turn into drops.
As lágrimas diminuem, Chiron, aguenta firme.
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraEu só queria saber quando as pessoas vão entender que o paradigma hollywoodiano de começo/meio/fim com cenas matematicamente calculadas não se aplica para todos os filmes do mundo. Aliás, essa é a beleza do cinema europeu mais voltado para o realismo de cenas longas e diálogos marcantes. Toni Erdmann é longo? Sim, é. Eu quase deixei de o ver hoje pois me tomaria muito tempo. Resolvi assistir e não me arrependo de sequer 10 segundos empregados ao filme. Se tudo o que você for fazer é reclamar da duração, definitivamente não deve sequer começar. Toni Erdmann é tragicamente cômico, mas acima de tudo, extremamente humano. Ele permeia por você de inúmeras formas durante sua projeção. Dá para se emocionar, rir, e se balançar desconfortavelmente na cadeira enquanto a história se desenrola. Eu ultimamente admiro muito mais diretores que conseguem transformar uma premissa básica em um baita filme como esse do que os que pegam roteiros cheios de plot twists mirabolantes e mesmo assim não atingem o espectador porque deixam de lado o fator humano. A Cena em que finalmente compreendemos esses pôster é de uma delicadeza sublime. Seria um bom momento para se encerrar o filme, caso uns outros pontos tivessem sido amarrados mais cedo.
Docinho da América
3.5 215 Assista AgoraÉ quando você termina um filme como American Honey que você para e pensa: é pra isso que existe o cinema. Cinema realista que te faz sair do seu universo para entrar de cabeça em outro. Fazia muito tempo que um filme não me deixava tão apaixonado. Você termina as quase 3 horas querendo mais. Você quer fazer parte daquele universo. Ao terminar, parece que estamos deixando para trás alguma coisa muito querida e valiosa. Eu juro estar literalmente sem palavras pra dissertar mais profundamente sobre o filme e seus recortes. Por enquanto vou ficar por aqui, atônito, tentando digerir essa experiência que foi tão intensa como qualquer uma que vivi pessoalmente. Isso é uma joia do cinema americano, uma obra-prima do cinema contemporâneo.
O Diário de uma Adolescente
3.6 151 Assista AgoraMuito bom ver um filme que não subestima e infantiliza a adolescência. É uma fase extremamente dolorosa para muitos jovens. Minnie aqui reflete as angústias desses seres em busca de respostas, construindo a sua identidade. A diretora sabe pontuar sua visão sobre sexualidade feminina sem emburrecer o ponto de vista da protagonista. O elenco possui um excelente entrosamento, mas o destaque definitivamente vai para Bel Powley, que entrega uma fantástica performance.
Crescer dói.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraVamos colocar as cartas na mesa? Anna Muylaert não estava inspirada para esse longa. Quem assistiu Que Horas Ela Volta sabe do que eu tô falando. Achei vários caminhos que o longa seguiu extremamente preguiçosos, incluindo o desfecho. Dava pra ter se aprofundado de tantas formas se ela realmente quisesse criar um drama do calibre do seu anterior. Os personagens aqui são tão profundos quanto um pires. Eu de fato não desgostei, mas o potencial desperdiçado não deixa de me incomodar e não vou ser condescendente só porque é um filme da Anna. Vai ficar para mim como um filme que poderia ter sido outro, mas como devo avaliar o que tenho em mãos, digo que não foi tudo o que eu imaginava.
Julieta
3.8 529 Assista AgoraDepois de assistir tive mais pesar ainda pela mudança de nome do longa. Para quem não sabe, primeiramente este filme se chamaria "Silencio". Como Scorsese lançaria um filme de mesmo nome em breve, Almodóvar resolveu trocar o título do seu. Para mim, os títulos dos filmes do diretor são a síntese exata das suas obras. Volver, Tudo Sobre Minha Mãe, Fale Com ela. E quando penso no título antigo, só consigo constatar que era perfeito para este filme! Quanto ao longa, vou ser sincero, eu esperava mais. Todos os elementos do diretor estão presentes, e não há dúvidas de que a fotografia, como sempre, está um primor. Mas Almodóvar está num patamar onde esperamos sempre o seu máximo, nada menos que obras-prima. E para mim, "Julieta" não é um dos filmes mais inspirados do diretor. Ele retorna ao drama em boa forma, depois da comédia mediana "Los Amantes Pasajeros", mas não é algo que marcará a sua carreira, assim como o anterior. Espero que este seja um aquecimento para um novo grande longa porque afinal, ninguém é obrigado ou sequer capaz de produzir sempre uma obra-prima. Perto de muitos diretores de vanguarda ainda na ativa, Almodóvar é um dos que continua fazendo o seu cinema autêntico e original, e por isso, ele vai ter sempre o meu respeito.
Looking: O Filme
4.0 250 Assista AgoraSomos uma geração triste. A geração que carrega consigo uma melancolia crônica. Não sabemos de onde viemos, muito menos para onde vamos. Não sabemos quem somos, muito menos quem seremos. Erramos demais. Aprendemos pouco com os nossos erros. Pensamos que como num filme, sempre poderemos recomeçar, tentar de novo. Se aquela faculdade não for pra mim, eu tranco e começo outra. Ah, beleza, se esse date não der certo, saio com aquele outro carinha do aplicativo, quem sabe aquele do Instagram. Cara, se meu chefe me encher, eu saio fora e procuro outra coisa. Somos a geração das possibilidades. Dizia-se que o ser humano era uma criatura angustiada pela iminência da morte. Mas parece que na era da tecnologia e da informação, nos tornamos angustiados exatamente por esse excesso de possibilidades. Nossos pais tinham de escolher um caminho, o caminho. Eles não se davam ao luxo de escolher a faculdade errada, ou de não se casar na casa dos vinte. Filhos, tinham de ser antes dos trinta. Nossos pais não tinham muita escolha, viver era um plano traçado desde sempre. Já nós, somos a geração que conquistou o mundo. Somos a geração que colhe os frutos dos que clamaram por liberdade. Nos deram essa tal liberdade. E agora, o que fazemos com ela? Não sabemos para onde correr, para quem correr. Parece que estamos sempre sozinhos, embora sempre acompanhados. Cadê o diálogo? Não conversa, não mensagem; onde foi parar o diálogo? À quem de fato serviu essa revolução digital? O que de fato ganhamos? Quanto nós perdemos? Dizem que hoje nós estamos conectados como nunca, mas eu te pergunto, à quê?
Sei que meu comentário é mais um devaneio da madrugada do que de fato uma resenha sobre o capítulo final de Looking. Mas sinceramente, não há muito o que se dizer, até porque não quero arruinar a experiência de ninguém. O longa não é um filme para se assistir sem ter acompanhado a série, ponto. O filme não inova no formato seguido na série, é um episódio como qualquer outro, só que, mais longo. Looking passa longe daquele padrão estilístico americano cheio de plot twists fantasiosos e ação pungente. Looking é um reflexo da vida. Lembra como cada capítulo acabava quase que de repente? Assim como é a vida. Nem sempre dormimos com a cabeça em cima daquele gancho para o episódio do dia seguinte. Acredito que esse longa encerrou com chave de ouro essa belíssima série. Embora mal compreendida por alguns, sei que será apreciada ainda por muitos. E a conclusão é que eu e você, estamos tão perdidos quanto Patrick, Dom, Agustín, Richie, Kevin ou Doris. Estamos todos tentando arrumar essa bagunça que nos deixaram. Estamos todos vivendo, um dia após o outro.
And they're still looking.
Videodrome: A Síndrome do Vídeo
3.7 545 Assista AgoraQue filme alucinante, literalmente! É como uma viagem dentro de uma caverna onde a escuridão se intensifica quanto mais adentramos nela. Falar que o filme continua atual nos dias de hoje é apenas chover no molhado. Vocês têm noção de que esse filme tem 33 anos? Dá pra acreditar? Olha que longo caminho percorremos! Só não sei bem ao certo dizer se para um lugar melhor ou pior dos que as perspectivas que Cronenberg apontava em 83. O filme me remeteu muito ao Black Swan do Aronofsky, onde a insanidade da personagem vai se intensificando ao percorrer do longa e no final estamos sem rumo. Será que Aronofsky bebeu dessa fonte? Cisne Negro é um dos meus, se não o meu filme favorito, e adorei esse tipo de atmosfera presente aqui também em Videodrome. Não me recordo de outro filme que tenha trilhado o mesmo caminho nem antes e nem depois de Videodrome. Aceito sugestões!
Últimas Conversas
4.2 108Coutinho começa o filme declarando suas preocupações com o teor desta obra. Na sua opinião, adolescentes já possuem uma bagagem que prejudica a genuinidade dos depoimentos. Esse filme não poderia se iniciar de forma mais elucidante. Afinal, é um filme dirigido por Coutinho, mas também dirigido para Coutinho. Os cortes já não são mais tão precisos, vemos um pouco do processo de instigamento dos entrevistados, vemos um microfone aparecer no topo da tela de vez em quando, vemos as conversas paralelas durante as cenas. Parece que de alguma forma, a intenção era quebrar a fantasia cinematográfica. Vemos que um documentário não é menos fictício do que qualquer outra obra de ficção. É um filme que busca ao mesmo tempo concluir a última obra do mestre Coutinho, mas também desnudar o seu processo. Coutinho deixou claro que gostaria de fazer um filme com as crianças, e é doloroso saber que um gênio como ele parte com tantas ideias e com tanto o que contribuir. Mas além do pesar de imaginar o que poderia ter sido, esse depoimento da Luísa no final do filme nos deixa com aquela dolorosa reflexão: em que exato momento a vida se torna tão doída? Em que momento deixamos de dizer que "Deus é um cara que morreu" para começarmos a não acreditar nesse tal Deus? Em que momento a nossa inocência parte para nos deixar tão marcados pela vida? A transição da infância para a adolescência é um período de muito sofrimento. É desolante ver seres humanos atormentados tão precocemente. Esses reflexos de desajuste são hereditários; pais despreparados ou incapacitados acabam por tornar seus filhos os reflexos de suas vidas desordenadas. Esses jovens no futuro, estarão também imprimindo suas angústias e falhas para além de sua geração. Uma criança é sim moldada pelos pais, como diria Elis Regina, "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". O coração aperta ao ouvir "esse foi o último", mas para quem contribuiu tanto como Coutinho, o último frame nunca será de fato o último.
-Ou amor ou morte. Ou você ama ou a vida não faz sentido.
-Não, você ama e morre, não tem "ou". Isso que é a vida.
Cria Corvos
4.3 199 Assista Agora"Não consigo entender como algumas pessoas dizem que a infância é a época mais feliz das suas vidas. De qualquer forma, para mim não foi. E talvez por isso mesmo, não acredite num paraíso infantil, nem na inocência e nem na bondade natural das crianças. Lembro-me da minha infância como um longo período, interminável, triste, cheio de medo. Medo do desconhecido. Há coisas que não posso esquecer. Parece inacreditável como memórias podem ser tão, tão fortes."