O filme é legal, cria um clima bacana. Mas infelizmente já saquei qual seria o plot twist logo de cara. E olha que não costumo pegar assim, então creio que seja óbvio demais.
Não vou dizer que não me surpreendi. Esperava uma coisa e assisti a outra. Esperava um filme provocante. Foi. Mas de maneira diferente da impressão que eu tinha.
O personagem do Brando, por exemplo, é um cara depressivo, desesperado, com sérios problemas psicológicos. Ela é inocente, boba, com falsa autoconfiança, típica da idade. Só futuramente verá as coisas que aconteceram como deveria ver. Ou não verá. Esperava que os dois fossem seguros, completos, cúmplices, tivessem algo amistoso, provocante, bonito? Sim, antes de conhecê-los. Ao conhecer os personagens, não dá pra esperar algo menos prejudicial do que essa relação. Acho que inclusive a palavra é cumplicidade. A premissa, as capas, tudo remetem a cumplicidade. Mas não houve. Houve uma relação problemática onde ninguém se favorecia, ninguém estava feliz, ninguém estava livre, seja em relação a si ou seja em relação ao outro.
Mas o cinema não precisa ser otimista, é claro. Não precisa nem mesmo ser realista, mas ele retrata o feio também. O inconfortável. Mesmo com ares de beleza. Quantas relações péssimas não têm ares de beleza? É assim que as coisas ocorrem, infelizmente. As relações são idealizadas, como o filme é idealizado. A maneira provocante do Bertolucci fazer filme jamais esteve atrelada a uma visão saudável das coisas. O cinema não precisa ser saudável. Talvez não deva. A gente que precisa ser saudável. Mas somos? Talvez estejamos idealizando o que somos também.
Então, por fim, eu me apaixonei. Confesso que a única coisa que me decepcionou de verdade foi saber a história por trás da mais famosa cena do filme. É se decepcionar, sim. Daí entra aquela coisa de separar a arte do ator, filme do diretor, música do músico. É difícil, mas tento. Ou então quero, mas me culpo. Não sei.
Confesso que sou suspeita em falar do Iñárritu, e se ele viesse com algum filme na mesma fórmula da dor em Biutiful, Babel, 21 Gramas e Amores Brutos, eu ficaria muito grata. Mas ele alçou um voo completamente diferente com Birdman.
Com um ar meio 8 1/2 de Fellini, meio Cisne Negro, com muita metalinguagem e alegorias, aqui o filme é ágil, ansioso, cínico, perspicaz, perturbado, barulhento; tão diferente dos choros silenciosos, nós na garganta e os engolir a seco dos seus demais filmes, mas nem por isso menos arrebatador e humano. Aqui, também sangra.
Acontece que ele se afasta do microcosmo dos filmes anteriores, da delicadeza das relações pessoais, e atinge a universalização dos problemas contemporâneos (mas claro, tendo em mente que a coisa mais universal também serve de alegoria para as coisas singulares e vice-versa) como rede sociais, superexposição e banalização, estrelismo e decadência (como a estrela cadente no começo do filme), sucesso súbito e ao mesmo tempo um existir fadado ao esquecimento, crítica cruel e por vezes desleixada (mas tente se lembrar: uma coisa é uma coisa, e não o que é dito sobre ela), linha tênue entre popularidade/prestígio, amor/admiração, representação/verdade, ator/celebridade... enfim, apesar da sutileza e tom descompromissado e até bem humorado (faceta inédita), Iñárritu fala sobre muita coisa e de uma forma inteligente e recheada de referências.
Uma sacada legal foi ter escolhido o Keaton como protagonista, quando esse também teve seus tempos mais populares quando interpretou o Batman de Tim Burton (vale destacar que o ano de 92, quando lançaram Birdman 3, Keaton viveu o Batman em Batman - O Retorno). Então o protagonista contém Keaton, contém Riggan e contém Birdman, dando um efeito meio "inception".
Edward Norton mandou muito bem também na pele de um personagem que só consegue viver plenamente a verdade em cima dos palcos, sendo que fora dele até seu bronzeado é falso e teme não conseguir ficar de pau duro (o que não é um problema pra ele no palco). Aliás, a realidade e a encenação são sempre mescladas e confundidas no filme, partindo da trilha sonora que pertence e está sendo reproduzida justamente no ambiente.
Outra coisa curiosa é o fato de que a maioria dos atores citados no filme, como Downey Jr., Fassbender e Jeremy Renner, já viveram ou vivem super-heróis (nos filmes Homem de Ferro, X - Men e Os Vingadores respectivamente). Inclusive o Edward Norton já viveu o Incrível Hulk. "Merda. Colocaram uma capa nele? Não acredito nisso". Uma alfinetada na produção em massa de filmes de super-heróis, sem dúvida.
Fora a referência a Lynch, numa certa cena da Naomi Watts, parecida com Cidade dos Sonhos - filme inclusive que se trata de atuar, fracassar, sonhar.
Enfim, termino o mais-desabafo-que-comentário, com dezenas de coisas que esqueci de comentar mas que me fizeram viajar, com a certeza de que esse filme foi um dos melhores que já vi na vida! Sinto como um presente. Obrigada mestre Iñárritu!
Foi muito emocionante para mim, que também tenho 20 anos, ver esses 12 anos na vida do Mason, pois consegui ver muito da minha infância e juventude estampados ali, no que se diz a moda, a música, jogos, estreias de Harry Potter (quase chorei nessa parte porque me vi lá), incertezas, descobertas... fora a identificação comum da idade independente da geração: necessidade de diferenciar-se, revolta momentânea e as vezes gratuita, ambição que não combina com a preguiça e vice-versa.
Tem uma simplicidade cotidiana muito bonita e não há nenhum baita desenrolar, mas quem disse que é preciso de um dramalhão em todo filme que retrata a vida de alguém? Os problemas na família do Mason são comuns, quase banais por serem tão comuns, mas sensibilizam porque dentro dessa generalidade que mora a beleza da coisa: talvez não importe tanto pra quem vê de fora, mas este é meu drama porque é minha vida. E por esse motivo ela é mais triste do que parece, mas mais feliz do que parece também.
E eu não achei o personagem apático, mas sim introspectivo, com olhar saudoso desde a infância. Isso até ajudou a sensibilizar mais a passagem de tempo. Corro o risco de estar me projetando, mas acontece que como protagonista, Mason às vezes soa como um belo coadjuvante da própria vida, o que causa uma sensação de cumplicidade com quem assiste, como quem pra ti abre as portas da casa ou um álbum de fotografia. Como nas fotografias tiradas por Mason, o sempre é o agora, e não aproveitamos o momento: o momento é que nos aproveita.
Sinceramente poderia ter mais duas horas que eu veria muito agradecida. Linklater é grandioso.
Os filmes-fetiches do Crona me fazem me sentir meio culpada por estar achando essas cenas grotescas tão sensuais, mas tudo bem. É maravilhosa essa combinação de futurismo e primitivismo, tecnologia e carne, beleza e bizarrice, atração e repulsa dos filmes desse cara. Sempre dá aquela sensação de "tá, mas o que ele pretendia com isso?" e logo depois de "ah, não precisa pretender nada, a criatividade e elegância em tramar uma obra dessa faz a existência dela valer a pena". Não tentem achar um objetivo, se deixem levar pela loucura do Cronenberg que ele te levará num mundo de tesão psicológico sem igual!
Achei o roteiro meio óbvio e ao mesmo tempo meio inverossímil e o romance não me agradou - fora a atuação da Nathália Dill que não chega a ser péssima, mas incomoda bastante. Porém a ideia do filme é ótima, a forma que abordou as drogas foi bem interessante e verdadeira, sem muitos tabus, porém com algum respeito e consciência. O resultado é que a história acabou me prendendo, somando a questão das drogas ao visual do filme e ao personagem Mark (as cenas com ele foram sem dúvida o melhor do filme).
Bem que podia rolar mesmo Jared Leto de Joker, heim. Aposto que seria insano - Jared tem potencial e é um baita dum camaleão. No aguardo de mais notícias e torcendo por isso!
A personagem da Evelyn é muito interessante. É uma transexual que não cai no esteriótipo caricato, e ao mesmo tempo, também não faz questão de se encaixar nos bons costumes e na moralidade. É uma trans, sim senhora, e estudada, informada. E consegue conciliar tudo isso com a vida noturna. É puta. Puta é uma palavra que só quer dizer coisa boa.
A presença calada de Lwei é curiosa, e me fez pensar se ele buscava se encaixar em alguma coisa, ou simplesmente estava encaixado em tudo. Ao contrário do que li em alguns comentários abaixo, não achei o personagem fraco. Ele é sereno. Daquele tipo de gente que a gente convive e não faz ideia do que se passa na mente.
O escritor me incomodou. Eu o achei um covarde. Seja por ter abandonado o filho, seja por deixar a mãe o sustentar, seja pela conversa sobre o suicídio. Fui fraca e o julguei. Talvez por infelizmente me ver nele de algum modo.
Esse filme é a prova de que não tem coisa mais interessante que gente. É como viajar de ônibus sem fone de ouvido. Você ouve cada história e fica meio comovido, meio hilariado. Três histórias de pessoas completamente diferentes que só o que tem em comum é o céu sobre os ombros. Mas com esse céu sobre os ombros, vem os pés sobre a terra, e com os pés sobre a terra vem todos os medos, incertezas, contradições, desesperanças... mas também os sonhos e a força.
Dá vontade de sentar com os atores e com o diretor e bater o maior papo.
Linda essa capa, esse nome e a trilha sonora. As atuações estão magníficas também: Emily Watson tá visceral e Stellan Skarsgård nunca decepciona. Essa parceria Skarsgård - Von Trier só rende coisa boa, e isso é desde sempre.
Nunca pensei que uma das histórias de amor mais bonitas que já vi seria feita pelo Lars. Apesar de que é aquele tipo de coisa que você - como não poderia deixar de ser, tratando-se do brother Lars - não sabe se é de fato bonito, ou simplesmente terrível; não sabe se te deixa com borboletas na barriga ou esse desconforto é literalmente enjoo causado pelas coisas que ele escancara sem dó; não sabe se o que mais te marcou no filme é o que ele tem a dizer sobre a bondade, ou o que te mais marcou é justamente o que ele tem a dizer sobre a maldade. Se desperta fé ou a descrença na humanidade. Se é grotesco ou sublime. Se anda na linha tênue ou se atinge os extremos.
Só sei que funcionou comigo e eu estou completamente encantada.
Babenco é sensacional. Definitivamente é um dos meus diretores preferidos. Gosto muito desse fraco que ele tem por contar histórias sob a perspectiva do marginal, humanizá-los (sem demagogia) e escancarar a podridão dos poderosos. E ele faz isso sem muitos artifícios, na honestidade, secura, nudez e crueza, mas consegue deixar isso bonito, até lírico. As cenas dos sonhos me lembraram muito Buñuel - o que me fez gostar ainda mais do filme.
Pixote foi onde ele ganhou meu coração, mas Lúcio Flávio também não decepciona. A injustiça social é tão grande que é difícil o filme não despertar um certo banditismo - mesmo que somente de forma "artística", claro. Me peguei torcendo pelo vilão, e então percebi que quase já não sabia quem era o "vilão". Mas nós sabemos.
Detalhe para a trilha sonora feita por John Neschling. Lindona demais.
Não gosto e evito comparar duas mídias diferentes, como a literatura e o cinema, e além disso, não costumo ser exigente quanto as adaptações. Mas acredito que esse filme é o típico caso daquelas adaptações que são rasas pra quem não conhece a história do livro, e ainda mais rasa pra quem a conhece. O filme é indiscutivelmente bonito, mas não faz jus a obra prima do Milan. Porém adorei as escolhas dos atores principais. O jeito de raposa e a manha do Day-Lewis e o olhar carregado, doloroso e embargado da Binoche ilustram bem a oposição peso/leveza que propõe a história. Me encheu de vontade reler... um dos meus livros preferidos, inesquecível e emocionante.
O discurso final é de ouro... útil até hoje, e sempre será. Dizer que Chaplin é gênio é uma coisa óbvia, porém não cansa repetir. Esse cara foi tão incrível em filmes mudos e soube usar muito bem, e num ótimo momento, o poder da voz.
Documentário incrível, que soube inevitavelmente ser forte e ao mesmo tempo bonito, ao passo que o narrador contextualiza suas filmagens com o crescimento do filhinho mais novo e suas câmeras destruídas. Com naturalidade, desconstrói aquela imagem de terroristas barbudos fanáticos e violentos que nossa mídia fascista puxa saco dos Estados Unidos - que está sem dúvidas à favor do Israel, visando somente os próprios interesses em nome do "free world" - nos passa, e mostra como é cruel o sionismo e desigual essa luta. Ah! Detalhe para a presença de bandeiras do Brasil (especialmente na parte que eles estão vendo a Copa). Achei tão legal!
Ótimo documentário! Interessante para compreender como se sucedeu o golpe. Essencial para qualquer pessoa interessada em História. Essa história não pode ser esquecida! Nós precisamos conhecer nosso passado que, aliás, nem é tão passado assim. Essa noite durou 21 anos, mas sofremos resquícios dela ainda hoje, depois de 50 anos, sem contar os muitos que saíram impunes e os que até hoje defendem o golpe.
Inacreditável a cara dura dos EUA para intervir da maneira que bem entendem, manipulando e comprando a mídia, tudo para favorece-los. E cara, esse embaixador Lincoln Gordon é a cara do Ian Holm.
O ambiente é frio, chega a ser agressivo, as pessoas são estranhas com sotaques esquisitos, etc., e essas coisas contribuíram muito para o clima que causa estranhamento, fazendo com que a gente se sinta mais "Sob a Pele" da alienígena do que sob a pele "deles". Como quando ela anda na rua e se sente totalmente desencaixada, porém a tudo observa, seja notando alguma hostilidade grátis, ou então nas surpreendentes bondades instintivas das pessoas. E foram nesses detalhes que o filme se tornou tão sensível, apesar da trilha sonora (genial, diga-se de passagem) totalmente creepy. Lindo e assustador - destaque para as cenas da "sala negra" -, aliás, são características que combinadas só dão em coisa boa, vide Kubrick e Lynch, prováveis influências de Jonathan Glazer.
Foi no mínimo curiosa a facilidade de me sentir na pele dela, porque no começo ela é uma perigosa predadora, e isso não atrai, mas causa repulsa (ao menos em mim). Usa sua pele para atrair as presas. E isso se repete, e se repete. Porém, sutilmente ela vira a presa, uma frágil presa, e isso é inevitável (tão inevitável quanto me faz sentir, não em vão, a inesquecível faixa "Death", da trilha sonora).
Sob a pele. No começo do filme ela teve a preocupação excessiva com as roupas, para que depois de um tempo, quando começou a ter um problema de identidade, deixasse de usar o casado, passando frio e etc. No momento que aflora a empatia na alienígena, ela tem a oportunidade de usar roupa dos outros (a jaqueta daquele homem que cuidou dela).
Já no fim do filme, a cena dela com a própria pele nas mãos é muito significativa. Ela logo percebe que a pele e aquelas roupas não eram nada, da mesma forma que o rapaz deformado não se resumia na sua deformidade. Ao meu ver, ela aos poucos (durante as suas duradouras encaradas no espelho) já não se reconhecia em sua pele, afinal, aprendeu, para bem ou para mal, com esse curto contato com os humanos, que a identidade que temos na pele não é nada comparado ao interior - que ela tanto buscava nos homens para se alimentar, mas acabou sendo contaminada, ao chegar no âmago dos homens, pela a dor, a solidão e até mesmo uma espécie de amor.
Mas tragicamente parece que, quando enfim ela abaixa a guarda, e ao deixar de ser uma predadora, ela se encontra com a pior espécie do ser humano, aquele que a machucou por desejar sua pele, somente sua pele, e desconsiderar qualquer interior. Porém, quando assustado com seu lado de dentro, a censura e extermina sem pensar duas vezes. No mínimo um soco no estômago.
Estava eu olhando nomes de anjos e seus significados (insônia dá nisso) quando encontro o nome "Barman", que significa "anjo da inteligência". Na hora eu lembrei do Donnie, que não somente se apaixonou por um barman, como foi um "anjo da inteligência", uma criança cognitivamente explorada pelos pais para conseguir dinheiro em programas de auditório. Isso sem falar da conversa do Donnie com o outro senhor que estava disputando a atenção do barman "É perigoso confundir crianças com anjos" (afirmação a qual Donnie responde que "não é perigoso..."). Anjos, aliás, estão bem presentes na história. Inclusive no programa de auditório, onde Stanley está sentado na frente de uma parede onde há o logo do programa, que curiosamente faz com ele pareça ter asas, como dá pra ver nessa imagem https://imlg.files.wordpress.com/2009/12/magnolia_stanley.jpg) É uma coisa pequena, mas fiquei fascinada quando notei! Esse negócio do "anjo da inteligência" pode ser só coincidência, eu pensei, mas o mais louco é que Magnólia trata muito de coincidências. Coincidência ou uma força superior (no caso, intenção do PT Anderson)? Não sei. Deve ser apenas viagem minha.
Filmaço! Clima desesperador mesmo, totalmente camusiano (principalmente os cinco minutos finais). Uma história aparentemente simples, mas que é um soco no estômago mesmo aplicada a qualquer época além da Grande Depressão. Sem contar a coletânea de personagens muito bem escolhidos: entre eles Sailor, que depois da Primeira Guerra Mundial não tinha nada, provavelmente nem esposa, filhos, etc., se agarrava tão fortemente à sua certeza (seu uniforme) que passa o filme todo sendo chamado apenas por "marinheiro"; a grávida que pelo menos carregava no ventre o motivo para tentar resistir até o final da maratona; Alice que, na esperança de ser "descoberta" por algum olheiro de Hollywood, tentava ostentar toda o glamour que já não mais poderia ter através dos vestidos; Gloria que frustrada com a vida se agarrava a competição como última esperança para seu bruto desespero; e por último o personagem mais curioso: Robert, participando da maratona "por estar por ali por acaso", sendo levado pelo andar da carruagem até o último segundo - uma espécie de Meursault -, através da leveza da casualidade expressa o máximo peso do absurdo da situação, da falta de sentido e insanidade (dos participantes, organizadores e do público) no decorrer da história.
E o fato da gente ficar sem saber quem é que ganhou a maratona (torço para o casal com a mulher grávida!) só mostra o quão sem sentido é aquilo ali. O vencedor não importa, contando que tenha sofrimento pra entreter e aliviar a miséria do público.
Tenho que comentar também sobre essa capa: belíssima. O título também, tanto o original (que a princípio é uma incógnita, mas quando faz sentido se torna fantástico) quanto o escolhido na tradução.
Eu estou completamente apaixonada por esse filme! O cinema pernambucano já era meu xodó, então já esperava coisa boa, principalmente vinda do Hilton Lacerda, mas superou todas as minhas expectativas. É pura arte! Ri, me arrepiei e até tive vontade de chorar pela boniteza do filme em diversas cenas. Que felicidade que senti depois de vê-lo!
Ambientação muito boa! Tudo nesse filme transborda anos 70. Além disso, uma linda homenagem ao teatro, a liberdade, ao amor, as cores, aos corpos, a tudo! Atuações maravilhosas de todo o elenco, e, bem, Irandhir Santos é um dos melhores da atualidade sem dúvida alguma! Já havia me conquistado pela sua entrega total em A Febre do Rato (que também tem esse ar de liberdade tão gostoso e transgressor), e aqui ele está de encher os olhos, só prova o quão versátil, ousado e livre ele é! Tudo bem natural, cru e nu. Cinema lindo, esse nosso. Um orgulho. Ah, Recife. Se já não fosse apaixonada por ti, mesmo que a distância, estaria agora.
E pra deixar a coisa ainda mais apaixonante, maravilhosa apresentação do lindo do Johnny Hooker!
Vi esse filme há umas duas semanas, eu acho, mas tenho que dizer: a cena final da dança da Ana adornada com as lembranças das prostitutas do irmão é uma das cenas mais marcantes que já vi. Coisa linda. Dança com o diabo no corpo, com fúria!
Lindo demais. Esse tema já mexe comigo, e não tinha como esperar algo menos "escancarador" vindo de Buñuel. Achei maravilhoso, porque pra mim foi uma mistura da beleza de Les quatre cents coups com a feiura de Pixote - dois filmes importantes pra mim!
Rever esse filme me fez aproveitar cada minuto dele! Já havia gostado na primeira vez que vi, porém me limitei a admirar as interpretações, porque não tinha uma opinião muito formada sobre o filme. Mas se por acaso achei um pouco arrastado, desconexo e muito estranho numa primeira assistida, digo que se o filme tivesse dez horas de cenas desconexas com essa atuação do Joaquin Phoenix, eu veria sem pensar duas vezes.
Personagens estranhos, de fato. Temperamentos odiosos. E muito incômodos - principalmente quando de súbito e com estranhamento percebemos que há uma certa identificação, mas logo rejeitamos a ideia - afinal, a história parece distante, num espaço distante, numa época um pouco distante. O filme em si causa incômodo, porque Anderson flerta com os lados mais fracos e desesperados (numa roupagem cintilante de líder, de mestre, de pai) e animalescos (Quell, um exemplo vivo) da mente humana. Mesmo que tentemos negar. Negação é algo terrível. Causa antipatia, e julgamos com rapidez, tentamos caracterizar os personagens como algo bom ou ruim, sendo que essa posição maniqueísta é precipitada, uma vez que somos ambíguos.
As interpretações estão fascinantes. PT Anderson sonda a mente humana e dela consegue absorver ângulos tão sutis quanto deformados. E os escancara, e é feio. E ele flerta com isso. É um dos melhores diretores da atualidade, sem dúvida alguma, e acho que talvez o melhor em matéria de dirigir atuações: consegue extrair com sucesso o que há de melhor e mais adoentado em cada ator, além de parecer dar espaço o suficiente e liberdade pros caras se expressarem e criarem.
Philip Seymour Hoffman fará muita falta pro cinema, o cara era realmente bom. Mas o fato dele ter morrido lançou uma certa luz mórbida quase metafísica pro iluminado Mestre, não vou saber explicar direito essa sensação, mas achei foda. Acho que o tornou mais inatingível, então sua desconstrução e momentos em que alguém o questionava também me afetaram bastante. Sobre o Joaquin, eu realmente não sei o que dizer! Atuação MONSTRUOSA, de arrepiar! Disforme, perturbado e desagradável. Uma construção completa e desconstrutora! Desde a voz sempre embargada, respiração pesada, aos esgares e a postura.
Pensei num turbilhão de coisa pra comentar (isso aqui serve pra mim mais ou menos como um desabafo!) mas não conseguiria dizer tudo, ainda bem. Foi um prazer rever! Não sei se mudei muito desde a primeira vez que vi, há mais ou menos um ano, ou se desta vez assisti em um bom momento, enfim, arrisco dizer que agora é meu preferido do PT Anderson.
Fritadíssimo! Visual bacana, ótima participação do De Niro, excelente atuação do Jonathan Pryce e, apesar de ter achado um pouco arrastada, gostei bastante da história.
Além de ser uma homenagem às mais diversas distopias da literatura, vale também pelas belas metáforas, tanto do personagem do De Niro sendo engolido e pela burocracia e desaparecer nos papéis no final do filme, quanto pelo protagonista lutando com aquele monstro gigante - que com certeza é uma alusão ao sistema, grande e opressor e podador de asas, mas que, já que ver um filme do Terry é uma licença pra viajar na maionese, confesso que a sombra do "monstro" me fez lembrar (de forma exagerada e patética, mas que combinaria com o tom do filme) a Estátua da Liberdade. Curiosamente, a estátua tem como nome oficial A Liberdade Iluminando o Mundo. E se tem uma coisa que é mais opressora que a prisão, é viver à sombra repressiva de uma falsa liberdade.
Sobre o título, li que Gilliam pretendia que o filme se chamasse "1984 and a 1/2", como forma de homenagear Otto e Mezzo, do diretor Federico Fellini, além da clara homenagem ao 1984 do George Orwell. Mas daí lançaram o filme 1984 (baseado na distopia do Orwell) e Gilliam desistiu da ideia.
Então pra mim o fato do filme se chamar "Brazil" não tem nenhum sentido diretamente ligado a uma crítica ao país-Brasil - a não ser, é claro, à burocracia, mas essa não é uma característica restrita ao nosso país, e sim universal. Acho que o nome "Brazil" entra mais como referencia a música Aquarela do Brasil (que é tocada diversas vezes ao longo do filme, principalmente nas divagações/sonhos do protagonista), como uma espécie de Pasárgada. Principalmente porque o ambiente em que se passa o filme é todo cinzento, empoeirado, sufocante, eletrônico e automático, e a "aquarela" acaba colorindo um pouco as utopias do protagonista, seus sonhos, seu voo.
Aliás, falando nisso, o protagonista parecia meio alienado (entre várias características, aumenta o volume da música em cima das notícias, enquanto dirige) pela imaginação, mas no meio desse caos, a imaginação da liberdade não seria uma forma de subversão?
Uma mistura de Kafka, Orwell, Kubrick, Dalí, Júpiter Maçã... isso é Terry Gilliam!
Não somente pelo barulho que fez, mas principalmente em comparação aos outros trabalhos do Lars, achei esse o mais light. Digo não em relação a cenas fortes ou algo assim, mas no efeito que causou em mim. Não senti o "soco no estômago" que o Lars costuma me dar e que eu tanto amo, mas ainda assim é um filme denso, reflexivo, sensível e lindíssimo, que não merece menos que cinco estrelas, Amanhã verei o Volume II!
O Mistério das Duas Irmãs
3.5 1,5K Assista AgoraO filme é legal, cria um clima bacana. Mas infelizmente já saquei qual seria o plot twist logo de cara. E olha que não costumo pegar assim, então creio que seja óbvio demais.
Alex não interage com mais ninguém além da Anna.
Mas mesmo assim gostei!
Último Tango em Paris
3.5 569Não vou dizer que não me surpreendi. Esperava uma coisa e assisti a outra. Esperava um filme provocante. Foi. Mas de maneira diferente da impressão que eu tinha.
O personagem do Brando, por exemplo, é um cara depressivo, desesperado, com sérios problemas psicológicos. Ela é inocente, boba, com falsa autoconfiança, típica da idade. Só futuramente verá as coisas que aconteceram como deveria ver. Ou não verá. Esperava que os dois fossem seguros, completos, cúmplices, tivessem algo amistoso, provocante, bonito? Sim, antes de conhecê-los. Ao conhecer os personagens, não dá pra esperar algo menos prejudicial do que essa relação. Acho que inclusive a palavra é cumplicidade. A premissa, as capas, tudo remetem a cumplicidade. Mas não houve. Houve uma relação problemática onde ninguém se favorecia, ninguém estava feliz, ninguém estava livre, seja em relação a si ou seja em relação ao outro.
Mas o cinema não precisa ser otimista, é claro. Não precisa nem mesmo ser realista, mas ele retrata o feio também. O inconfortável. Mesmo com ares de beleza. Quantas relações péssimas não têm ares de beleza? É assim que as coisas ocorrem, infelizmente. As relações são idealizadas, como o filme é idealizado. A maneira provocante do Bertolucci fazer filme jamais esteve atrelada a uma visão saudável das coisas. O cinema não precisa ser saudável. Talvez não deva. A gente que precisa ser saudável. Mas somos? Talvez estejamos idealizando o que somos também.
Então, por fim, eu me apaixonei. Confesso que a única coisa que me decepcionou de verdade foi saber a história por trás da mais famosa cena do filme. É se decepcionar, sim. Daí entra aquela coisa de separar a arte do ator, filme do diretor, música do músico. É difícil, mas tento. Ou então quero, mas me culpo. Não sei.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraConfesso que sou suspeita em falar do Iñárritu, e se ele viesse com algum filme na mesma fórmula da dor em Biutiful, Babel, 21 Gramas e Amores Brutos, eu ficaria muito grata. Mas ele alçou um voo completamente diferente com Birdman.
Com um ar meio 8 1/2 de Fellini, meio Cisne Negro, com muita metalinguagem e alegorias, aqui o filme é ágil, ansioso, cínico, perspicaz, perturbado, barulhento; tão diferente dos choros silenciosos, nós na garganta e os engolir a seco dos seus demais filmes, mas nem por isso menos arrebatador e humano. Aqui, também sangra.
Acontece que ele se afasta do microcosmo dos filmes anteriores, da delicadeza das relações pessoais, e atinge a universalização dos problemas contemporâneos (mas claro, tendo em mente que a coisa mais universal também serve de alegoria para as coisas singulares e vice-versa) como rede sociais, superexposição e banalização, estrelismo e decadência (como a estrela cadente no começo do filme), sucesso súbito e ao mesmo tempo um existir fadado ao esquecimento, crítica cruel e por vezes desleixada (mas tente se lembrar: uma coisa é uma coisa, e não o que é dito sobre ela), linha tênue entre popularidade/prestígio, amor/admiração, representação/verdade, ator/celebridade... enfim, apesar da sutileza e tom descompromissado e até bem humorado (faceta inédita), Iñárritu fala sobre muita coisa e de uma forma inteligente e recheada de referências.
Uma sacada legal foi ter escolhido o Keaton como protagonista, quando esse também teve seus tempos mais populares quando interpretou o Batman de Tim Burton (vale destacar que o ano de 92, quando lançaram Birdman 3, Keaton viveu o Batman em Batman - O Retorno). Então o protagonista contém Keaton, contém Riggan e contém Birdman, dando um efeito meio "inception".
Edward Norton mandou muito bem também na pele de um personagem que só consegue viver plenamente a verdade em cima dos palcos, sendo que fora dele até seu bronzeado é falso e teme não conseguir ficar de pau duro (o que não é um problema pra ele no palco). Aliás, a realidade e a encenação são sempre mescladas e confundidas no filme, partindo da trilha sonora que pertence e está sendo reproduzida justamente no ambiente.
Outra coisa curiosa é o fato de que a maioria dos atores citados no filme, como Downey Jr., Fassbender e Jeremy Renner, já viveram ou vivem super-heróis (nos filmes Homem de Ferro, X - Men e Os Vingadores respectivamente). Inclusive o Edward Norton já viveu o Incrível Hulk. "Merda. Colocaram uma capa nele? Não acredito nisso". Uma alfinetada na produção em massa de filmes de super-heróis, sem dúvida.
Fora a referência a Lynch, numa certa cena da Naomi Watts, parecida com Cidade dos Sonhos - filme inclusive que se trata de atuar, fracassar, sonhar.
Enfim, termino o mais-desabafo-que-comentário, com dezenas de coisas que esqueci de comentar mas que me fizeram viajar, com a certeza de que esse filme foi um dos melhores que já vi na vida! Sinto como um presente. Obrigada mestre Iñárritu!
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraFoi muito emocionante para mim, que também tenho 20 anos, ver esses 12 anos na vida do Mason, pois consegui ver muito da minha infância e juventude estampados ali, no que se diz a moda, a música, jogos, estreias de Harry Potter (quase chorei nessa parte porque me vi lá), incertezas, descobertas... fora a identificação comum da idade independente da geração: necessidade de diferenciar-se, revolta momentânea e as vezes gratuita, ambição que não combina com a preguiça e vice-versa.
Tem uma simplicidade cotidiana muito bonita e não há nenhum baita desenrolar, mas quem disse que é preciso de um dramalhão em todo filme que retrata a vida de alguém? Os problemas na família do Mason são comuns, quase banais por serem tão comuns, mas sensibilizam porque dentro dessa generalidade que mora a beleza da coisa: talvez não importe tanto pra quem vê de fora, mas este é meu drama porque é minha vida. E por esse motivo ela é mais triste do que parece, mas mais feliz do que parece também.
E eu não achei o personagem apático, mas sim introspectivo, com olhar saudoso desde a infância. Isso até ajudou a sensibilizar mais a passagem de tempo. Corro o risco de estar me projetando, mas acontece que como protagonista, Mason às vezes soa como um belo coadjuvante da própria vida, o que causa uma sensação de cumplicidade com quem assiste, como quem pra ti abre as portas da casa ou um álbum de fotografia. Como nas fotografias tiradas por Mason, o sempre é o agora, e não aproveitamos o momento: o momento é que nos aproveita.
Sinceramente poderia ter mais duas horas que eu veria muito agradecida. Linklater é grandioso.
Crash: Estranhos Prazeres
3.6 328 Assista AgoraOs filmes-fetiches do Crona me fazem me sentir meio culpada por estar achando essas cenas grotescas tão sensuais, mas tudo bem. É maravilhosa essa combinação de futurismo e primitivismo, tecnologia e carne, beleza e bizarrice, atração e repulsa dos filmes desse cara. Sempre dá aquela sensação de "tá, mas o que ele pretendia com isso?" e logo depois de "ah, não precisa pretender nada, a criatividade e elegância em tramar uma obra dessa faz a existência dela valer a pena". Não tentem achar um objetivo, se deixem levar pela loucura do Cronenberg que ele te levará num mundo de tesão psicológico sem igual!
Paraísos Artificiais
3.2 1,8K Assista AgoraAchei o roteiro meio óbvio e ao mesmo tempo meio inverossímil e o romance não me agradou - fora a atuação da Nathália Dill que não chega a ser péssima, mas incomoda bastante. Porém a ideia do filme é ótima, a forma que abordou as drogas foi bem interessante e verdadeira, sem muitos tabus, porém com algum respeito e consciência. O resultado é que a história acabou me prendendo, somando a questão das drogas ao visual do filme e ao personagem Mark (as cenas com ele foram sem dúvida o melhor do filme).
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraBem que podia rolar mesmo Jared Leto de Joker, heim. Aposto que seria insano - Jared tem potencial e é um baita dum camaleão. No aguardo de mais notícias e torcendo por isso!
O Céu Sobre Os Ombros
3.6 49A personagem da Evelyn é muito interessante. É uma transexual que não cai no esteriótipo caricato, e ao mesmo tempo, também não faz questão de se encaixar nos bons costumes e na moralidade. É uma trans, sim senhora, e estudada, informada. E consegue conciliar tudo isso com a vida noturna. É puta. Puta é uma palavra que só quer dizer coisa boa.
A presença calada de Lwei é curiosa, e me fez pensar se ele buscava se encaixar em alguma coisa, ou simplesmente estava encaixado em tudo. Ao contrário do que li em alguns comentários abaixo, não achei o personagem fraco. Ele é sereno. Daquele tipo de gente que a gente convive e não faz ideia do que se passa na mente.
O escritor me incomodou. Eu o achei um covarde. Seja por ter abandonado o filho, seja por deixar a mãe o sustentar, seja pela conversa sobre o suicídio. Fui fraca e o julguei. Talvez por infelizmente me ver nele de algum modo.
Esse filme é a prova de que não tem coisa mais interessante que gente. É como viajar de ônibus sem fone de ouvido. Você ouve cada história e fica meio comovido, meio hilariado. Três histórias de pessoas completamente diferentes que só o que tem em comum é o céu sobre os ombros. Mas com esse céu sobre os ombros, vem os pés sobre a terra, e com os pés sobre a terra vem todos os medos, incertezas, contradições, desesperanças... mas também os sonhos e a força.
Dá vontade de sentar com os atores e com o diretor e bater o maior papo.
Ondas do Destino
4.2 335 Assista AgoraLinda essa capa, esse nome e a trilha sonora. As atuações estão magníficas também: Emily Watson tá visceral e Stellan Skarsgård nunca decepciona. Essa parceria Skarsgård - Von Trier só rende coisa boa, e isso é desde sempre.
Nunca pensei que uma das histórias de amor mais bonitas que já vi seria feita pelo Lars. Apesar de que é aquele tipo de coisa que você - como não poderia deixar de ser, tratando-se do brother Lars - não sabe se é de fato bonito, ou simplesmente terrível; não sabe se te deixa com borboletas na barriga ou esse desconforto é literalmente enjoo causado pelas coisas que ele escancara sem dó; não sabe se o que mais te marcou no filme é o que ele tem a dizer sobre a bondade, ou o que te mais marcou é justamente o que ele tem a dizer sobre a maldade. Se desperta fé ou a descrença na humanidade. Se é grotesco ou sublime. Se anda na linha tênue ou se atinge os extremos.
Só sei que funcionou comigo e eu estou completamente encantada.
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia
3.7 105Babenco é sensacional. Definitivamente é um dos meus diretores preferidos. Gosto muito desse fraco que ele tem por contar histórias sob a perspectiva do marginal, humanizá-los (sem demagogia) e escancarar a podridão dos poderosos. E ele faz isso sem muitos artifícios, na honestidade, secura, nudez e crueza, mas consegue deixar isso bonito, até lírico. As cenas dos sonhos me lembraram muito Buñuel - o que me fez gostar ainda mais do filme.
Pixote foi onde ele ganhou meu coração, mas Lúcio Flávio também não decepciona. A injustiça social é tão grande que é difícil o filme não despertar um certo banditismo - mesmo que somente de forma "artística", claro. Me peguei torcendo pelo vilão, e então percebi que quase já não sabia quem era o "vilão". Mas nós sabemos.
Detalhe para a trilha sonora feita por John Neschling. Lindona demais.
A Insustentável Leveza do Ser
3.8 338 Assista AgoraNão gosto e evito comparar duas mídias diferentes, como a literatura e o cinema, e além disso, não costumo ser exigente quanto as adaptações. Mas acredito que esse filme é o típico caso daquelas adaptações que são rasas pra quem não conhece a história do livro, e ainda mais rasa pra quem a conhece. O filme é indiscutivelmente bonito, mas não faz jus a obra prima do Milan. Porém adorei as escolhas dos atores principais. O jeito de raposa e a manha do Day-Lewis e o olhar carregado, doloroso e embargado da Binoche ilustram bem a oposição peso/leveza que propõe a história. Me encheu de vontade reler... um dos meus livros preferidos, inesquecível e emocionante.
O Grande Ditador
4.6 804 Assista AgoraO discurso final é de ouro... útil até hoje, e sempre será. Dizer que Chaplin é gênio é uma coisa óbvia, porém não cansa repetir. Esse cara foi tão incrível em filmes mudos e soube usar muito bem, e num ótimo momento, o poder da voz.
Cinco Câmeras Quebradas
4.5 58Documentário incrível, que soube inevitavelmente ser forte e ao mesmo tempo bonito, ao passo que o narrador contextualiza suas filmagens com o crescimento do filhinho mais novo e suas câmeras destruídas. Com naturalidade, desconstrói aquela imagem de terroristas barbudos fanáticos e violentos que nossa mídia fascista puxa saco dos Estados Unidos - que está sem dúvidas à favor do Israel, visando somente os próprios interesses em nome do "free world" - nos passa, e mostra como é cruel o sionismo e desigual essa luta. Ah! Detalhe para a presença de bandeiras do Brasil (especialmente na parte que eles estão vendo a Copa). Achei tão legal!
O Dia que Durou 21 Anos
4.3 226Ótimo documentário! Interessante para compreender como se sucedeu o golpe. Essencial para qualquer pessoa interessada em História. Essa história não pode ser esquecida! Nós precisamos conhecer nosso passado que, aliás, nem é tão passado assim. Essa noite durou 21 anos, mas sofremos resquícios dela ainda hoje, depois de 50 anos, sem contar os muitos que saíram impunes e os que até hoje defendem o golpe.
Inacreditável a cara dura dos EUA para intervir da maneira que bem entendem, manipulando e comprando a mídia, tudo para favorece-los. E cara, esse embaixador Lincoln Gordon é a cara do Ian Holm.
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraEsperava ver algo bem original, mas não esperava me apaixonar tanto. Puramente sensorial e perceptivo, tudo nesse filme é bizarro! E isso é um elogio.
O ambiente é frio, chega a ser agressivo, as pessoas são estranhas com sotaques esquisitos, etc., e essas coisas contribuíram muito para o clima que causa estranhamento, fazendo com que a gente se sinta mais "Sob a Pele" da alienígena do que sob a pele "deles". Como quando ela anda na rua e se sente totalmente desencaixada, porém a tudo observa, seja notando alguma hostilidade grátis, ou então nas surpreendentes bondades instintivas das pessoas. E foram nesses detalhes que o filme se tornou tão sensível, apesar da trilha sonora (genial, diga-se de passagem) totalmente creepy. Lindo e assustador - destaque para as cenas da "sala negra" -, aliás, são características que combinadas só dão em coisa boa, vide Kubrick e Lynch, prováveis influências de Jonathan Glazer.
Foi no mínimo curiosa a facilidade de me sentir na pele dela, porque no começo ela é uma perigosa predadora, e isso não atrai, mas causa repulsa (ao menos em mim). Usa sua pele para atrair as presas. E isso se repete, e se repete. Porém, sutilmente ela vira a presa, uma frágil presa, e isso é inevitável (tão inevitável quanto me faz sentir, não em vão, a inesquecível faixa "Death", da trilha sonora).
Sob a pele. No começo do filme ela teve a preocupação excessiva com as roupas, para que depois de um tempo, quando começou a ter um problema de identidade, deixasse de usar o casado, passando frio e etc. No momento que aflora a empatia na alienígena, ela tem a oportunidade de usar roupa dos outros (a jaqueta daquele homem que cuidou dela).
Já no fim do filme, a cena dela com a própria pele nas mãos é muito significativa. Ela logo percebe que a pele e aquelas roupas não eram nada, da mesma forma que o rapaz deformado não se resumia na sua deformidade. Ao meu ver, ela aos poucos (durante as suas duradouras encaradas no espelho) já não se reconhecia em sua pele, afinal, aprendeu, para bem ou para mal, com esse curto contato com os humanos, que a identidade que temos na pele não é nada comparado ao interior - que ela tanto buscava nos homens para se alimentar, mas acabou sendo contaminada, ao chegar no âmago dos homens, pela a dor, a solidão e até mesmo uma espécie de amor.
Mas tragicamente parece que, quando enfim ela abaixa a guarda, e ao deixar de ser uma predadora, ela se encontra com a pior espécie do ser humano, aquele que a machucou por desejar sua pele, somente sua pele, e desconsiderar qualquer interior. Porém, quando assustado com seu lado de dentro, a censura e extermina sem pensar duas vezes. No mínimo um soco no estômago.
Magnólia
4.1 1,3K Assista AgoraUma observação:
Estava eu olhando nomes de anjos e seus significados (insônia dá nisso) quando encontro o nome "Barman", que significa "anjo da inteligência". Na hora eu lembrei do Donnie, que não somente se apaixonou por um barman, como foi um "anjo da inteligência", uma criança cognitivamente explorada pelos pais para conseguir dinheiro em programas de auditório. Isso sem falar da conversa do Donnie com o outro senhor que estava disputando a atenção do barman "É perigoso confundir crianças com anjos" (afirmação a qual Donnie responde que "não é perigoso..."). Anjos, aliás, estão bem presentes na história. Inclusive no programa de auditório, onde Stanley está sentado na frente de uma parede onde há o logo do programa, que curiosamente faz com ele pareça ter asas, como dá pra ver nessa imagem https://imlg.files.wordpress.com/2009/12/magnolia_stanley.jpg) É uma coisa pequena, mas fiquei fascinada quando notei! Esse negócio do "anjo da inteligência" pode ser só coincidência, eu pensei, mas o mais louco é que Magnólia trata muito de coincidências. Coincidência ou uma força superior (no caso, intenção do PT Anderson)? Não sei. Deve ser apenas viagem minha.
A Noite dos Desesperados
4.2 112 Assista AgoraFilmaço! Clima desesperador mesmo, totalmente camusiano (principalmente os cinco minutos finais). Uma história aparentemente simples, mas que é um soco no estômago mesmo aplicada a qualquer época além da Grande Depressão. Sem contar a coletânea de personagens muito bem escolhidos: entre eles Sailor, que depois da Primeira Guerra Mundial não tinha nada, provavelmente nem esposa, filhos, etc., se agarrava tão fortemente à sua certeza (seu uniforme) que passa o filme todo sendo chamado apenas por "marinheiro"; a grávida que pelo menos carregava no ventre o motivo para tentar resistir até o final da maratona; Alice que, na esperança de ser "descoberta" por algum olheiro de Hollywood, tentava ostentar toda o glamour que já não mais poderia ter através dos vestidos; Gloria que frustrada com a vida se agarrava a competição como última esperança para seu bruto desespero; e por último o personagem mais curioso: Robert, participando da maratona "por estar por ali por acaso", sendo levado pelo andar da carruagem até o último segundo - uma espécie de Meursault -, através da leveza da casualidade expressa o máximo peso do absurdo da situação, da falta de sentido e insanidade (dos participantes, organizadores e do público) no decorrer da história.
E o fato da gente ficar sem saber quem é que ganhou a maratona (torço para o casal com a mulher grávida!) só mostra o quão sem sentido é aquilo ali. O vencedor não importa, contando que tenha sofrimento pra entreter e aliviar a miséria do público.
Tenho que comentar também sobre essa capa: belíssima. O título também, tanto o original (que a princípio é uma incógnita, mas quando faz sentido se torna fantástico) quanto o escolhido na tradução.
Tatuagem
4.2 923 Assista AgoraEu estou completamente apaixonada por esse filme! O cinema pernambucano já era meu xodó, então já esperava coisa boa, principalmente vinda do Hilton Lacerda, mas superou todas as minhas expectativas. É pura arte! Ri, me arrepiei e até tive vontade de chorar pela boniteza do filme em diversas cenas. Que felicidade que senti depois de vê-lo!
Ambientação muito boa! Tudo nesse filme transborda anos 70. Além disso, uma linda homenagem ao teatro, a liberdade, ao amor, as cores, aos corpos, a tudo! Atuações maravilhosas de todo o elenco, e, bem, Irandhir Santos é um dos melhores da atualidade sem dúvida alguma! Já havia me conquistado pela sua entrega total em A Febre do Rato (que também tem esse ar de liberdade tão gostoso e transgressor), e aqui ele está de encher os olhos, só prova o quão versátil, ousado e livre ele é! Tudo bem natural, cru e nu. Cinema lindo, esse nosso. Um orgulho. Ah, Recife. Se já não fosse apaixonada por ti, mesmo que a distância, estaria agora.
E pra deixar a coisa ainda mais apaixonante, maravilhosa apresentação do lindo do Johnny Hooker!
Lavoura Arcaica
4.2 381 Assista AgoraVi esse filme há umas duas semanas, eu acho, mas tenho que dizer: a cena final da dança da Ana adornada com as lembranças das prostitutas do irmão é uma das cenas mais marcantes que já vi. Coisa linda. Dança com o diabo no corpo, com fúria!
Os Esquecidos
4.3 109Lindo demais. Esse tema já mexe comigo, e não tinha como esperar algo menos "escancarador" vindo de Buñuel. Achei maravilhoso, porque pra mim foi uma mistura da beleza de Les quatre cents coups com a feiura de Pixote - dois filmes importantes pra mim!
O Mestre
3.7 1,0K Assista AgoraRever esse filme me fez aproveitar cada minuto dele! Já havia gostado na primeira vez que vi, porém me limitei a admirar as interpretações, porque não tinha uma opinião muito formada sobre o filme. Mas se por acaso achei um pouco arrastado, desconexo e muito estranho numa primeira assistida, digo que se o filme tivesse dez horas de cenas desconexas com essa atuação do Joaquin Phoenix, eu veria sem pensar duas vezes.
Personagens estranhos, de fato. Temperamentos odiosos. E muito incômodos - principalmente quando de súbito e com estranhamento percebemos que há uma certa identificação, mas logo rejeitamos a ideia - afinal, a história parece distante, num espaço distante, numa época um pouco distante. O filme em si causa incômodo, porque Anderson flerta com os lados mais fracos e desesperados (numa roupagem cintilante de líder, de mestre, de pai) e animalescos (Quell, um exemplo vivo) da mente humana. Mesmo que tentemos negar. Negação é algo terrível. Causa antipatia, e julgamos com rapidez, tentamos caracterizar os personagens como algo bom ou ruim, sendo que essa posição maniqueísta é precipitada, uma vez que somos ambíguos.
As interpretações estão fascinantes. PT Anderson sonda a mente humana e dela consegue absorver ângulos tão sutis quanto deformados. E os escancara, e é feio. E ele flerta com isso. É um dos melhores diretores da atualidade, sem dúvida alguma, e acho que talvez o melhor em matéria de dirigir atuações: consegue extrair com sucesso o que há de melhor e mais adoentado em cada ator, além de parecer dar espaço o suficiente e liberdade pros caras se expressarem e criarem.
Philip Seymour Hoffman fará muita falta pro cinema, o cara era realmente bom. Mas o fato dele ter morrido lançou uma certa luz mórbida quase metafísica pro iluminado Mestre, não vou saber explicar direito essa sensação, mas achei foda. Acho que o tornou mais inatingível, então sua desconstrução e momentos em que alguém o questionava também me afetaram bastante. Sobre o Joaquin, eu realmente não sei o que dizer! Atuação MONSTRUOSA, de arrepiar! Disforme, perturbado e desagradável. Uma construção completa e desconstrutora! Desde a voz sempre embargada, respiração pesada, aos esgares e a postura.
Pensei num turbilhão de coisa pra comentar (isso aqui serve pra mim mais ou menos como um desabafo!) mas não conseguiria dizer tudo, ainda bem. Foi um prazer rever! Não sei se mudei muito desde a primeira vez que vi, há mais ou menos um ano, ou se desta vez assisti em um bom momento, enfim, arrisco dizer que agora é meu preferido do PT Anderson.
Brazil, o Filme
3.8 403 Assista AgoraFritadíssimo! Visual bacana, ótima participação do De Niro, excelente atuação do Jonathan Pryce e, apesar de ter achado um pouco arrastada, gostei bastante da história.
Além de ser uma homenagem às mais diversas distopias da literatura, vale também pelas belas metáforas, tanto do personagem do De Niro sendo engolido e pela burocracia e desaparecer nos papéis no final do filme, quanto pelo protagonista lutando com aquele monstro gigante - que com certeza é uma alusão ao sistema, grande e opressor e podador de asas, mas que, já que ver um filme do Terry é uma licença pra viajar na maionese, confesso que a sombra do "monstro" me fez lembrar (de forma exagerada e patética, mas que combinaria com o tom do filme) a Estátua da Liberdade. Curiosamente, a estátua tem como nome oficial A Liberdade Iluminando o Mundo. E se tem uma coisa que é mais opressora que a prisão, é viver à sombra repressiva de uma falsa liberdade.
Sobre o título, li que Gilliam pretendia que o filme se chamasse "1984 and a 1/2", como forma de homenagear Otto e Mezzo, do diretor Federico Fellini, além da clara homenagem ao 1984 do George Orwell. Mas daí lançaram o filme 1984 (baseado na distopia do Orwell) e Gilliam desistiu da ideia.
Então pra mim o fato do filme se chamar "Brazil" não tem nenhum sentido diretamente ligado a uma crítica ao país-Brasil - a não ser, é claro, à burocracia, mas essa não é uma característica restrita ao nosso país, e sim universal. Acho que o nome "Brazil" entra mais como referencia a música Aquarela do Brasil (que é tocada diversas vezes ao longo do filme, principalmente nas divagações/sonhos do protagonista), como uma espécie de Pasárgada. Principalmente porque o ambiente em que se passa o filme é todo cinzento, empoeirado, sufocante, eletrônico e automático, e a "aquarela" acaba colorindo um pouco as utopias do protagonista, seus sonhos, seu voo.
Aliás, falando nisso, o protagonista parecia meio alienado (entre várias características, aumenta o volume da música em cima das notícias, enquanto dirige) pela imaginação, mas no meio desse caos, a imaginação da liberdade não seria uma forma de subversão?
Uma mistura de Kafka, Orwell, Kubrick, Dalí, Júpiter Maçã... isso é Terry Gilliam!
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraHey, Joe, where you goin' with that gun in your hand?
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraNão somente pelo barulho que fez, mas principalmente em comparação aos outros trabalhos do Lars, achei esse o mais light. Digo não em relação a cenas fortes ou algo assim, mas no efeito que causou em mim. Não senti o "soco no estômago" que o Lars costuma me dar e que eu tanto amo, mas ainda assim é um filme denso, reflexivo, sensível e lindíssimo, que não merece menos que cinco estrelas, Amanhã verei o Volume II!