o Nicholas Stoller, que dirigiu também o primeiro filme, ficou ainda mais doido e ousado aqui, principalmente na cena do roubo de maconha. o Zac Efron é incrível fazendo com que o público se identifique com o sofrimento de um personagem meio ridículo. a Rose Byrne é uma das melhores comediantes do mundo. com tanta gente boa, talvez não seja justo considerar o Seth Rogen o autor do filme, mas pra mim a personalidade dele é a que mais aparece aqui.
essa continuação é quase uma versão feminista do primeiro Vizinhos, e é nisso que se percebe o que o Seth Rogen traz pro filme. ele faz piada com todos os lados e talvez passe dos limites às vezes, mas a intenção é sempre boa. ele conta uma história que, no final das contas, é bem progressista, e estende a compaixão dele pra todos os personagens. as vizinhas da irmandade podem não ter se integrado tão bem ao elenco principal, mas os problemas e desejos delas são tratados com empatia e levados a sério. e isso serve pra todas as pessoas de uma narrativa que aos poucos se torna bem tocante, porque Seth Rogen e companhia enxergam todo mundo como pessoas de verdade, com medos, neuroses e bizarrices bem reais.
o mais impressionante é como as comédias nesse estilo popularizado pelo Judd Apatow têm sintonia com o mundo atual e refletem tão bem uma forma de pensar e um estilo de vida contemporâneos. esses caras fazem filmes que servem como um retrato cada vez mais inclusivo do seu próprio público-alvo. acaba por ser uma visão bem otimista e generosa da juventude dos Estados Unidos. Vizinhos 2 é uma história sobre personagens que se unem e se tornam melhores por isso, mas essa história acaba por unir também o público, porque eu não sei como alguém poderia não gostar de um filme tão engraçado.
a Greta Garbo parece que veio de outro planeta. ela tem uma estranheza que faz com que até os momentos mais exageradamente sentimentais dessa história funcionem. e a atuação dela aqui é sensacional: ela tem um ar enigmático, mas mostra perfeitamente e sutilmente todas as indecisões e dilemas da personagem. ela é alma e coração desse grande melodrama do George Cukor. tudo isso culmina naquele final bastante efetivo e devastador de tão triste.
eu não sei se eu entendi a conclusão dessa investigação, nem se era pra eu ter entendido, mas o caminho todo foi bem instigante. além disso, o Raúl Ruiz usa a forma do cinema de um jeito que eu nunca vi antes, recriando esses quadros como forma de retratar um mistério a ser desvendado. tudo isso se mistura com um pouco de intrigas mirabolantes, cerimônias secretas e teorias da conspiração. e a câmera passeia por aí, entrando dentro dessas pinturas vivas, o que cria um efeito inesperado e muito bonito.
é uma chatice interminável, mas tem seus méritos. o Homem de Ferro sério e sensato é bem menos irritante que o normal, é um alívio quando o Homem Aranha aparece e o Paul Rudd é muito carismático. talvez a melhor cena do filme seja aquela luta no aeroporto, que consegue ser verdadeiramente inventiva, criando conflitos entre os poderes de cada personagem. foi a única vez que eu vi a Marvel usando a ação de forma criativa e isso mostra o limite desses filmes todos iguais, porque eu não consigo imaginar como alguma cena de ação com heróis pode ser legal de verdade depois dessa.
de resto, não tem nada de interessante acontecendo. parece feito em laboratório pra agradar o maior número de pessoas possível, mas acaba sendo bem desagradável. é tudo sem graça, não tem nenhuma imagem memorável. eu nem sei isso é um filme de verdade, ou se é só um monte de barulho e tédio.
essa continuação tem as mesmas qualidades do primeiro filme: o foco no drama humano dos personagens, uma história concisa, bem contada, com poucos vilões. mesmo assim, o tom é mais sério e as coisas se tornam maiores e melhores: tem algumas sequências de ação muito boas, tipo o carro voando pela janela e a cena sensacional do trem.
uma coisa que diferencia esse filme do antecessor e da maioria dos filmes de herói é que o vilão é tão bom. o Alfred Molina interpreta um cara bem legal que se torna um monstro e o momento em que isso acontece é muito inventivo e surpreendente. logo depois, tem uma cena no hospital em que o Sam Raimi fica doido e transforma essa historinha de heróis adolescentes em um filme de terror insano. toda essa sequência é uma das melhores coisas que eu já vi em filmes desse tipo.
é uma coisa bem americana essa ideia do indivíduo altruísta que muda a realidade sozinho e com muita força de vontade. o Longfellow Deeds chega a dizer que só nos Estados Unidos um homem que vem da pobreza pode subir na vida e chegar a fazer coisas importantes. o filme parece aderir totalmente ao ponto de vista do personagem principal, então é meio ingênuo por isso. mas a sinceridade sentimental do Frank Capra cria momentos muito bonitos entre os personagens e faz com que essa história se torne uma coisa linda, uma ode ao homem comum e honesto, que não se deixa influenciar por uma sociedade rica, corrupta e interesseira.
claro que eu não entendi completamente a história, mas talvez isso não importe, porque esse filme é beleza pura. e a beleza não vem só da fotografia, que é obviamente das mais bonitas que existem, mas também do ritmo, da encenação, da coreografia das cenas de ação, da trilha sonora inesperada e da especificidade cultural da narrativa.
muito provavelmente eu vou ter que assistir de novo pra conseguir entender tudo que aconteceu na trama, o que não incomoda tanto porque é um filme que dá vontade de rever muitas vezes. é bem prazeroso pro público ficar imerso nesse mundo tão perfeitamente recriado, mas, pros personagens, viver nesse meio e nessa época é muito sofrimento. o conflito vem da tentativa de ruptura com os papéis sociais rígidos definidos pela sociedade, pela família, pelos mestres.
o que o Hou Hsiao-Hsien e a assassina fazem aqui é sobrenatural, misterioso e heroico.
é um filme envolvente e às vezes bem triste, mas achei meio boboca também. o conceito e as reviravoltas da história são absurdos e inacreditáveis, mas levados a sério como se fossem a coisa mais inteligente do mundo. em alguns momentos funciona, mas muitas vezes esbarra no ridículo. a Penélope Cruz e a personagem dela são bem cativantes, é uma pena que ela é coadjuvante e o protagonista é um cara insuportável com aquela maquiagem muito ruim.
Josey Wales é fora da lei porque a lei é forjada em sangue. esse é o tipo de faroeste que esconde por trás do mero entretenimento uma crítica profunda do passado de um país. Sul e Norte, brancos e índios, homens e mulheres se juntam pra resistir à violência e à injustiça que são base da história dos Estados Unidos. no meio dos tiros, surge uma mensagem de paz e união.
esse Homem Aranha é meio familiar e não parece fazer nada novo, mas se diferencia dos filmes de super-herói atuais por ser um filme bastante do seu tempo. talvez até tenha envelhecido mal. o tom da direção do Sam Raimi é surpreendentemente brincalhão, mais próximo dos filmes do Batman do Tim Burton e Joel Schumacher do que os filmes da Marvel atuais, talvez por não ter influência do Christopher Nolan.
uma diferença desse pra maior parte dos blockbusters recentes é que tem uma história relativamente contida, no início focando mais na trama de dois personagens (o Homem Aranha e o Willem Dafoe), que depois se juntam em uma trama só. o roteiro se baseia mais nos conflitos entre os personagens, no drama às vezes cotidiano deles, do que em grandes cenas de ação e explosão, e se torna bem mais envolvente por isso.
acaba sendo um filme bem legalzinho e mais econômico, menos enrolado do que os filmes do seu gênero. é criativo às vezes, mas parece bem determinado a contar a própria história, sem nada desnecessário, e funciona melhor por isso. uma pena que o Tobey Maguire seja tão péssimo e tenha sido instruído a interpretar o personagem que nem um burraldo, ele quase estraga tudo.
ideologicamente, é meio questionável. o filme é uma sátira bem ácida da burguesia, em que os ricos são fúteis e mimados, e a pessoa mais sã e moral da história é um homem que vive no lixão.
então por que existe uma reviravolta na trama que torna esse homem pobre em um homem na verdade muito rico, bem educado e desapegado até demais que decidiu largar tudo e ir morar na rua?
parece ser um filme sobre os "homens esquecidos", mas não tem nenhum personagem importante que seja pobre de verdade. o filme parece dizer que a classe alta não presta e que a classe baixa merece ter sua humanidade reconhecida, mas aí muda de ideia no meio do caminho.
mas além disso, é incrível. um roteiro muito engraçado, uma piada ótima atrás da outra, um elenco em sintonia perfeita - a Alice Brady rouba todas as cenas em que aparece, mas ninguém deixa de chamar a atenção. cada momento é cheio de energia, os diálogos e os acontecimentos vêm naquele ritmo frenético de screwball comedy. é sensacional a ridicularização daquela família rica, o clima de loucura, os personagens doidos, estúpidos, histéricos, um circo, um zoológico. a Irene é uma personagem muito boa, porque de início parece ser a mocinha sensata de bom coração, e com o tempo se revela tão maluca quanto os outros. ninguém está a salvo na família tradicional burguesa. por isso o filme acaba sendo também uma desconstrução das histórias de amor tradicionais. a sátira perde um pouco da acidez do meio pro final, mas não deixa de ser muito divertida.
a Sofia Coppola é uma cronista de angústias nunca expressadas e não compreendidas. esse primeiro filme dela funciona então exatamente como um mistério sobre as causas pra essa melancolia que é difícil explicar, mas também como uma crítica às pessoas que não conseguem entender. é sobre um desejo por algo que talvez não exista, um desespero que não aparenta ter motivo nenhum, e que parece que ninguém entende. ninguém entende o que é ser uma garota de 13 anos, ninguém entende depressão, ninguém entende como é difícil crescer no mundo, ninguém entende a importância da liberdade.
mas parece que a Sofia Coppola entende. é difícil falar sobre os próprios sentimentos, mas ela consegue ver e mostrar esses sentimentos nas personagens. esse filme é até menos enigmático do que os filmes posteriores dela, as emoções aqui são mais acessíveis e explícitas. talvez isso seja por causa da narração, que interpreta e confunde ao mesmo tempo. o narrador não é uma das virgens suicidas e não entra na mente delas, então ele tenta explicar e não consegue, porque talvez nada tenha explicação mesmo. aos poucos, essa história se torna um retrato de como a dor em alguém reverbera e causa marcas nas outras pessoas.
nos filmes do Fred Astaire e da Ginger Rogers, música e dança reconciliam as pessoas e resolvem qualquer problema. os números musicais parecem que importam mais do que a história, mas é porque as duas coisas são essenciais, uma complementando a outra. Swing Time é divertido demais, cheio de ritmo, a direção do George Stevens traz um monte de energia e musicalidade. além de ser muito engraçado (principalmente Helen Broderick e Victor Moore), usa muito bem o carisma do Fred Astaire e é romântico de um jeito convincente. as danças são mais incríveis do que nunca e bem consistentes com o resto do filme. só uma pena aquele uso de blackface, dos mais ofensivos que eu já vi.
a aparência desse filme é menos abstrata e experimental do que as coisas que o Michael Mann viria a fazer depois com a fotografia digital. isso não quer dizer que não seja um filme tecnicamente perfeito, não quer dizer que não tenha imagens lindas e surpreendentes, não quer dizer que não use a música e a fotografia noturna de forma magistral, não quer dizer que não brinque com gênero e não tire um monte de suspense de uma história em que nenhuma arma é disparada. não quer dizer que não seja um filme do Michael Mann.
uma coisa que diferencia The Insider é que esse é um filme que leva a própria história muito a sério, talvez porque se funda num roteiro tão bom, apesar do personagem ingrato da esposa reclamona. é uma narrativa sobre indivíduos fortes, íntegros e dispostos a fazer a coisa certa. é também a história do poder que tem a resiliência dessas pessoas contra o poder econômico das grandes corporações. é um filme bem crítico de um mundo controlado por esses grandes grupos endinheirados, mas acima de tudo é uma trama muito envolvente e bem contada.
talvez esse filme tenha perdido um pouco o impacto pra mim por ser um daqueles filmes que sempre passam na escola, mas quem pode culpar os professores de quererem mostrar um filme tão populista e tão inteligente ao mesmo tempo? tem uma hora na história em que o Chaplin se apresenta como um revolucionário por acidente, mas a verdade é que nada é sem querer aqui. ele faz um monte de piada e usa essa linguagem do humor pra fazer um retrato desses tempos modernos muito mais crítico e questionador do que quase tudo o que se fazia no cinema da época. as condições de trabalho, o sistema de produção, a desigualdade social, a crise econômica, nada foge ao olhar inconformado do Chaplin, mas o tom do filme é alegre e funciona muito bem essa retomada do estilo do cinema mudo, já fora de moda nos tempos da Depressão vivida pelos personagens. o filme todo é uma desconstrução profunda e até raivosa do sistema capitalista, mas é também uma história de empatia e compaixão verdadeiras. a mensagem do Chaplin é esperançosa e esperança é o que sobra naquele final tão encantador, quando a comunhão de duas almas é suficiente pra que as pessoas mantenham o sorriso em tempos de crise.
a Andrea Arnold consegue usar esse estilo meio austero e realista pra fazer um filme que é ao mesmo tempo um thriller de vigilância envolvente e um estudo de personagens inteligente emocionalmente. não achei muito bonito esteticamente, mas é interessante como a fotografia às vezes fica meio abstrata mesmo contando uma história mundana (a cena de dança na festa), e esse bairro onde fica o Red Road se torna quase um cenário de ficção científica. assustador e comovente ao mesmo tempo.
tenso, tenso, infinitamente tenso. mas também terno e intimista. apesar de ser um thriller quase pós-apocalíptico, consegue se manter na maior parte do tempo confinado num único espaço e focado em personagens e interações humanas, e daí tira toda sua graça e suspense. pra que as emoções causadas pelas relações entre personagens se tornassem verdadeiras, esse filme precisava ter um elenco bom, então ainda bem que o elenco é ótimo. o John Goodman está monstruoso em vários sentidos da palavra e o John Gallagher Jr. é sensacional como o melhor amigo que se poderia ter em um quartinho debaixo da terra, mas o filme é da Mary Elizabeth Winstead, que traz um monte de complexidade pra uma mulher comum obrigada a virar uma Ripley. o Dan Trachtenberg é um talento muito surpreendente e promissor, sempre mantendo ritmo, controle e tensão dessa narrativa que podia se perder facilmente com tantas reviravoltas e tantas mudanças abruptas de tom. é um filme bem feito demais, que começa entregando informação de um jeito inteligente, evitando diálogos e exposição inútil. o final poderia ser ridículo, mas a essa altura eu estava envolvido demais pra me importar.
é tudo impressionantemente de mentirinha nesse filme, os efeitos especiais dando origem a um mundo. quase tudo se passa numa floresta toda criada em computador, o que lembra aqueles filmes da era de ouro de Hollywood, que imitavam lugares do mundo todo nuns cenários em Los Angeles. mas lembra também um filme bem mais antigo pela falta de ironia, pela seriedade, pela confiança na própria história. isso só funciona porque os animais são reais demais, tanto na estética quanto na personalidade. eles aparentam ter mais humanidade do que o único humano da história, talvez porque o menino não seja muito bom ator. ele sofre principalmente comparado com o Bill Murray, que é incrível aqui, combinando perfeitamente com a personalidade do Baloo, trazendo um monte de leveza e graça pra história. o maior problema do filme pra mim é ele seguir tão à risca essa fórmula de aventura infantil e acabar ficando meio cansativo e bastante familiar, que nem muita coisa que a Disney anda fazendo recentemente.
a trama desse filme é muito besta. várias coincidências improváveis levam a uma confusão que seria facilmente resolvida se os personagens sentassem e conversassem entre si. ainda bem que nada disso importa. quando Fred Astaire e Ginger Rogers dançam, é só alegria. a cena do Cheek to Cheek é linda.
é muito difícil entender os Irmãos Coen. o que exatamente eles querem dizer com Ave, César? ao mesmo tempo em que eles fazem uma crítica bem ácida dos estúdios de cinema dos anos 50, eles criam uma homenagem apaixonada aos filmes que saíam desses estúdios. o sistema é horrível, falta talento, é tudo ridículo e falso, mas o resultado final às vezes é lindo. talvez tudo valha a pena, né, deve ser melhor do que trabalhar com a bomba. e aí vêm várias paródias dos filmes de vários gêneros da época, que eu não sei ainda se são sinceras ou irônicas, mas sei que são incríveis.
ainda bem então que a gente se diverte muito enquanto tenta decifrar as ideias do filme sobre religião, sobre comunismo, sobre cinema e sobre um Josh Brolin em conflito com essas coisas todas. talvez seja tudo uma piada dos diretores, mas é engraçado demais. e o elenco é ótimo: tem vários personagens pequenos, um mais legal que o outro, e alguns deles são interpretados por atores muito famosos em participações bem curtas, mas ninguém é desperdiçado, todo mundo faz o seu melhor naquele estilo exagerado e satírico dos Irmãos Coen. é por isso que funciona tão bem e tem várias cenas sensacionais, tipo quando o Ralph Fiennes contracena com o Alden Ehrenreich e quando a Tilda Swinton não contracena com a outra Tilda Swinton. o Channing Tatum tem duas cenas só pra ele, uma delas é a melhor do filme, e a outra é bizarra e quase tão boa quanto. a Frances McDormand deveria tomar mais cuidado na sala de edição, e eu acho que eu nunca na minha vida vou parar de rir disso.
é um filme que poderia ser só uma sucessão de momentos mágicos do cinema, e de certa forma é um pouco disso. tem uma estrutura meio bagunçada, desfocada, a trama principal parece que não importa muito e é sempre esquecida por causa de uma digressão qualquer. mas isso combina com a confusão temática da narrativa, e eu ainda não sei o que é sério e o que é piada nessa história. talvez seja tudo uma coisa só, ou as duas coisas ao mesmo tempo. eu sei que esse filme não poderia ter sido feito por mais ninguém que não fosse os Irmãos Coen e que a cada novo trabalho eles provam de novo que são dois dos autores mais inteligentes do cinema.
tem muita porcaria e algumas coisas lindas, mas é legal demais assistir vários filmes de grandes diretores (e outros nem tanto) seguidos. é interessante também ver como eles lidam com a limitação de tempo e o que eles tentam passar - ideias, beleza, humor, etc. - quando falam sobre cinema. não sei se existem muitos outros filmes desse tipo, mas eu assistiria todos.
esse é o filme que quase todos os blockbusters de estúdio queriam ser, mas não conseguem. uma aventura perfeita, sempre envolvente e inventiva, e baseada em personagens bem desenvolvidos e carismáticos. aquela primeira cena engana de propósito, parece que o filme vai ser uma daquelas continuações que perdem o controle, adicionam elementos demais e tentam alcançar o espaço sideral, mas logo o filme volta pra Terra. os personagem passam por situações incríveis e perigosas, tipo a cena ótima deles atravessando a rua, mas a escala da história continua sendo pequena como no primeiro filme, até porque é um filme sobre brinquedos, que se passa em quartos, lojas, carros, em que qualquer coisa se torna um perigo gigante. isso é um dos principais motivos pra essa história funcionar tão perfeitamente do início ao fim.
além disso, é essencial a empatia que a Pixar tem por esses personagens tão bem feitos e bem escritos. muitas vezes, os conflitos dos personagens emocionam demais, porque é tudo muito sincero e bonito, então a história de uma boneca abandonada por uma criança de repente se torna a história de rejeição mais triste do mundo. mas na maior parte do tempo, só é bom demais assistir esses brinquedos interagindo, porque eles têm personalidades tão ótimas. é característica da Pixar desde o início o talento pra trazer uma humanidade bem verdadeira pra personagens não-humanos, mas Toy Story 2 é um dos melhores filmes deles por conseguir juntar isso com uma narrativa tão prazerosa e divertida.
essa continuação do Frankenstein explora os mesmos temas que o James Whale já tinha desenvolvido no primeiro filme, mas de forma mais aprofundada. é um estudo de um personagem bom mas inocente, jogado em um mundo ruim e que acaba então por tomar atitudes muito erradas, feito de forma ainda mais inteligente e cheia de nuances. o filme estende empatia pra todos os personagens, e até os mais malvados têm humanidade. e acaba por ser uma história muito comovente, principalmente por causa da amizade linda entre o monstro e o violinista cego, em que o filme alcança uma bondade bem sincera, um humanismo puro, difícil de encontrar.
o mais legal é que é uma tragédia bem complexa, que mostra como a hostilidade e a gentileza da sociedade se refletem no comportamento de um personagem ainda despreparado pro mundo, mas tudo isso é filmado num tom divertidíssimo, exagerado, bizarro. a história parece se passar numa realidade mais gótica e melodramática, o que aparece principalmente nas atuações sensacionais do Ernest Thesiger e da Una O'Connor. a estranheza doida do filme fica sempre no limite do aceitável, mas nunca ultrapassa esse limite, e estabelece um contraste delicioso com o drama bonito dos personagens. esse filme tem tudo.
o mundo do Hal Hartley é um mundo em que coisas muito estranhas podem acontecer e acontecem a qualquer momento, um sonho com aparência de realidade. em Amateur, ele brinca com o gênero de uma forma diferente e incrível, empregando aquele estilo meio frio e distante típico desse cinema americano independente dos anos 90 junto com uma trama absurda de espionagem e, assim, atinge emoções bem profundas. no meio de tiros inesperados, roupas de couro e furadeiras, ele retrata os traumas causados pelos homens nas mulheres por meio do sexo, a repressão e a exploração. esse filme é uma conspiração internacional de corpos proibidos, abusados e abandonados. é difícil não se identificar com a ex-freira supostamente ninfomaníaca que fracassa escrevendo pornografia por ser poética demais, e o final dela é muito poderoso, coerente e emocionante. eu gosto do Hal Hartley e a Isabelle Huppert é talvez a maior atriz do mundo, mas eu nunca imaginei que esse filme seria sensacional assim.
Vizinhos 2
3.0 379 Assista Agorao Nicholas Stoller, que dirigiu também o primeiro filme, ficou ainda mais doido e ousado aqui, principalmente na cena do roubo de maconha. o Zac Efron é incrível fazendo com que o público se identifique com o sofrimento de um personagem meio ridículo. a Rose Byrne é uma das melhores comediantes do mundo. com tanta gente boa, talvez não seja justo considerar o Seth Rogen o autor do filme, mas pra mim a personalidade dele é a que mais aparece aqui.
essa continuação é quase uma versão feminista do primeiro Vizinhos, e é nisso que se percebe o que o Seth Rogen traz pro filme. ele faz piada com todos os lados e talvez passe dos limites às vezes, mas a intenção é sempre boa. ele conta uma história que, no final das contas, é bem progressista, e estende a compaixão dele pra todos os personagens. as vizinhas da irmandade podem não ter se integrado tão bem ao elenco principal, mas os problemas e desejos delas são tratados com empatia e levados a sério. e isso serve pra todas as pessoas de uma narrativa que aos poucos se torna bem tocante, porque Seth Rogen e companhia enxergam todo mundo como pessoas de verdade, com medos, neuroses e bizarrices bem reais.
o mais impressionante é como as comédias nesse estilo popularizado pelo Judd Apatow têm sintonia com o mundo atual e refletem tão bem uma forma de pensar e um estilo de vida contemporâneos. esses caras fazem filmes que servem como um retrato cada vez mais inclusivo do seu próprio público-alvo. acaba por ser uma visão bem otimista e generosa da juventude dos Estados Unidos. Vizinhos 2 é uma história sobre personagens que se unem e se tornam melhores por isso, mas essa história acaba por unir também o público, porque eu não sei como alguém poderia não gostar de um filme tão engraçado.
A Dama das Camélias
4.0 61 Assista Agoraa Greta Garbo parece que veio de outro planeta. ela tem uma estranheza que faz com que até os momentos mais exageradamente sentimentais dessa história funcionem. e a atuação dela aqui é sensacional: ela tem um ar enigmático, mas mostra perfeitamente e sutilmente todas as indecisões e dilemas da personagem. ela é alma e coração desse grande melodrama do George Cukor. tudo isso culmina naquele final bastante efetivo e devastador de tão triste.
A Hipótese do Quadro Roubado
4.2 11eu não sei se eu entendi a conclusão dessa investigação, nem se era pra eu ter entendido, mas o caminho todo foi bem instigante. além disso, o Raúl Ruiz usa a forma do cinema de um jeito que eu nunca vi antes, recriando esses quadros como forma de retratar um mistério a ser desvendado. tudo isso se mistura com um pouco de intrigas mirabolantes, cerimônias secretas e teorias da conspiração. e a câmera passeia por aí, entrando dentro dessas pinturas vivas, o que cria um efeito inesperado e muito bonito.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista Agoraé uma chatice interminável, mas tem seus méritos. o Homem de Ferro sério e sensato é bem menos irritante que o normal, é um alívio quando o Homem Aranha aparece e o Paul Rudd é muito carismático. talvez a melhor cena do filme seja aquela luta no aeroporto, que consegue ser verdadeiramente inventiva, criando conflitos entre os poderes de cada personagem. foi a única vez que eu vi a Marvel usando a ação de forma criativa e isso mostra o limite desses filmes todos iguais, porque eu não consigo imaginar como alguma cena de ação com heróis pode ser legal de verdade depois dessa.
de resto, não tem nada de interessante acontecendo. parece feito em laboratório pra agradar o maior número de pessoas possível, mas acaba sendo bem desagradável. é tudo sem graça, não tem nenhuma imagem memorável. eu nem sei isso é um filme de verdade, ou se é só um monte de barulho e tédio.
Homem-Aranha 2
3.6 1,1K Assista Agoraessa continuação tem as mesmas qualidades do primeiro filme: o foco no drama humano dos personagens, uma história concisa, bem contada, com poucos vilões. mesmo assim, o tom é mais sério e as coisas se tornam maiores e melhores: tem algumas sequências de ação muito boas, tipo o carro voando pela janela e a cena sensacional do trem.
uma coisa que diferencia esse filme do antecessor e da maioria dos filmes de herói é que o vilão é tão bom. o Alfred Molina interpreta um cara bem legal que se torna um monstro e o momento em que isso acontece é muito inventivo e surpreendente. logo depois, tem uma cena no hospital em que o Sam Raimi fica doido e transforma essa historinha de heróis adolescentes em um filme de terror insano. toda essa sequência é uma das melhores coisas que eu já vi em filmes desse tipo.
O Galante Mr. Deeds
4.0 68 Assista Agoraé uma coisa bem americana essa ideia do indivíduo altruísta que muda a realidade sozinho e com muita força de vontade. o Longfellow Deeds chega a dizer que só nos Estados Unidos um homem que vem da pobreza pode subir na vida e chegar a fazer coisas importantes. o filme parece aderir totalmente ao ponto de vista do personagem principal, então é meio ingênuo por isso. mas a sinceridade sentimental do Frank Capra cria momentos muito bonitos entre os personagens e faz com que essa história se torne uma coisa linda, uma ode ao homem comum e honesto, que não se deixa influenciar por uma sociedade rica, corrupta e interesseira.
A Assassina
3.3 94 Assista Agoraclaro que eu não entendi completamente a história, mas talvez isso não importe, porque esse filme é beleza pura. e a beleza não vem só da fotografia, que é obviamente das mais bonitas que existem, mas também do ritmo, da encenação, da coreografia das cenas de ação, da trilha sonora inesperada e da especificidade cultural da narrativa.
muito provavelmente eu vou ter que assistir de novo pra conseguir entender tudo que aconteceu na trama, o que não incomoda tanto porque é um filme que dá vontade de rever muitas vezes. é bem prazeroso pro público ficar imerso nesse mundo tão perfeitamente recriado, mas, pros personagens, viver nesse meio e nessa época é muito sofrimento. o conflito vem da tentativa de ruptura com os papéis sociais rígidos definidos pela sociedade, pela família, pelos mestres.
o que o Hou Hsiao-Hsien e a assassina fazem aqui é sobrenatural, misterioso e heroico.
Preso na Escuridão
4.2 497 Assista Agoraé um filme envolvente e às vezes bem triste, mas achei meio boboca também. o conceito e as reviravoltas da história são absurdos e inacreditáveis, mas levados a sério como se fossem a coisa mais inteligente do mundo. em alguns momentos funciona, mas muitas vezes esbarra no ridículo. a Penélope Cruz e a personagem dela são bem cativantes, é uma pena que ela é coadjuvante e o protagonista é um cara insuportável com aquela maquiagem muito ruim.
Josey Wales: O Fora da Lei
4.0 99 Assista AgoraJosey Wales é fora da lei porque a lei é forjada em sangue. esse é o tipo de faroeste que esconde por trás do mero entretenimento uma crítica profunda do passado de um país. Sul e Norte, brancos e índios, homens e mulheres se juntam pra resistir à violência e à injustiça que são base da história dos Estados Unidos. no meio dos tiros, surge uma mensagem de paz e união.
Homem-Aranha
3.7 1,3K Assista Agoraesse Homem Aranha é meio familiar e não parece fazer nada novo, mas se diferencia dos filmes de super-herói atuais por ser um filme bastante do seu tempo. talvez até tenha envelhecido mal. o tom da direção do Sam Raimi é surpreendentemente brincalhão, mais próximo dos filmes do Batman do Tim Burton e Joel Schumacher do que os filmes da Marvel atuais, talvez por não ter influência do Christopher Nolan.
uma diferença desse pra maior parte dos blockbusters recentes é que tem uma história relativamente contida, no início focando mais na trama de dois personagens (o Homem Aranha e o Willem Dafoe), que depois se juntam em uma trama só. o roteiro se baseia mais nos conflitos entre os personagens, no drama às vezes cotidiano deles, do que em grandes cenas de ação e explosão, e se torna bem mais envolvente por isso.
acaba sendo um filme bem legalzinho e mais econômico, menos enrolado do que os filmes do seu gênero. é criativo às vezes, mas parece bem determinado a contar a própria história, sem nada desnecessário, e funciona melhor por isso. uma pena que o Tobey Maguire seja tão péssimo e tenha sido instruído a interpretar o personagem que nem um burraldo, ele quase estraga tudo.
Irene, a Teimosa
3.8 81 Assista Agoraideologicamente, é meio questionável. o filme é uma sátira bem ácida da burguesia, em que os ricos são fúteis e mimados, e a pessoa mais sã e moral da história é um homem que vive no lixão.
então por que existe uma reviravolta na trama que torna esse homem pobre em um homem na verdade muito rico, bem educado e desapegado até demais que decidiu largar tudo e ir morar na rua?
mas além disso, é incrível. um roteiro muito engraçado, uma piada ótima atrás da outra, um elenco em sintonia perfeita - a Alice Brady rouba todas as cenas em que aparece, mas ninguém deixa de chamar a atenção. cada momento é cheio de energia, os diálogos e os acontecimentos vêm naquele ritmo frenético de screwball comedy. é sensacional a ridicularização daquela família rica, o clima de loucura, os personagens doidos, estúpidos, histéricos, um circo, um zoológico. a Irene é uma personagem muito boa, porque de início parece ser a mocinha sensata de bom coração, e com o tempo se revela tão maluca quanto os outros. ninguém está a salvo na família tradicional burguesa. por isso o filme acaba sendo também uma desconstrução das histórias de amor tradicionais. a sátira perde um pouco da acidez do meio pro final, mas não deixa de ser muito divertida.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista Agoraa Sofia Coppola é uma cronista de angústias nunca expressadas e não compreendidas. esse primeiro filme dela funciona então exatamente como um mistério sobre as causas pra essa melancolia que é difícil explicar, mas também como uma crítica às pessoas que não conseguem entender. é sobre um desejo por algo que talvez não exista, um desespero que não aparenta ter motivo nenhum, e que parece que ninguém entende. ninguém entende o que é ser uma garota de 13 anos, ninguém entende depressão, ninguém entende como é difícil crescer no mundo, ninguém entende a importância da liberdade.
mas parece que a Sofia Coppola entende. é difícil falar sobre os próprios sentimentos, mas ela consegue ver e mostrar esses sentimentos nas personagens. esse filme é até menos enigmático do que os filmes posteriores dela, as emoções aqui são mais acessíveis e explícitas. talvez isso seja por causa da narração, que interpreta e confunde ao mesmo tempo. o narrador não é uma das virgens suicidas e não entra na mente delas, então ele tenta explicar e não consegue, porque talvez nada tenha explicação mesmo. aos poucos, essa história se torna um retrato de como a dor em alguém reverbera e causa marcas nas outras pessoas.
Ritmo Louco
3.9 59 Assista Agoranos filmes do Fred Astaire e da Ginger Rogers, música e dança reconciliam as pessoas e resolvem qualquer problema. os números musicais parecem que importam mais do que a história, mas é porque as duas coisas são essenciais, uma complementando a outra. Swing Time é divertido demais, cheio de ritmo, a direção do George Stevens traz um monte de energia e musicalidade. além de ser muito engraçado (principalmente Helen Broderick e Victor Moore), usa muito bem o carisma do Fred Astaire e é romântico de um jeito convincente. as danças são mais incríveis do que nunca e bem consistentes com o resto do filme. só uma pena aquele uso de blackface, dos mais ofensivos que eu já vi.
O Informante
3.8 244a aparência desse filme é menos abstrata e experimental do que as coisas que o Michael Mann viria a fazer depois com a fotografia digital. isso não quer dizer que não seja um filme tecnicamente perfeito, não quer dizer que não tenha imagens lindas e surpreendentes, não quer dizer que não use a música e a fotografia noturna de forma magistral, não quer dizer que não brinque com gênero e não tire um monte de suspense de uma história em que nenhuma arma é disparada. não quer dizer que não seja um filme do Michael Mann.
uma coisa que diferencia The Insider é que esse é um filme que leva a própria história muito a sério, talvez porque se funda num roteiro tão bom, apesar do personagem ingrato da esposa reclamona. é uma narrativa sobre indivíduos fortes, íntegros e dispostos a fazer a coisa certa. é também a história do poder que tem a resiliência dessas pessoas contra o poder econômico das grandes corporações. é um filme bem crítico de um mundo controlado por esses grandes grupos endinheirados, mas acima de tudo é uma trama muito envolvente e bem contada.
Tempos Modernos
4.4 1,1K Assista Agoratalvez esse filme tenha perdido um pouco o impacto pra mim por ser um daqueles filmes que sempre passam na escola, mas quem pode culpar os professores de quererem mostrar um filme tão populista e tão inteligente ao mesmo tempo?
tem uma hora na história em que o Chaplin se apresenta como um revolucionário por acidente, mas a verdade é que nada é sem querer aqui. ele faz um monte de piada e usa essa linguagem do humor pra fazer um retrato desses tempos modernos muito mais crítico e questionador do que quase tudo o que se fazia no cinema da época.
as condições de trabalho, o sistema de produção, a desigualdade social, a crise econômica, nada foge ao olhar inconformado do Chaplin, mas o tom do filme é alegre e funciona muito bem essa retomada do estilo do cinema mudo, já fora de moda nos tempos da Depressão vivida pelos personagens.
o filme todo é uma desconstrução profunda e até raivosa do sistema capitalista, mas é também uma história de empatia e compaixão verdadeiras. a mensagem do Chaplin é esperançosa e esperança é o que sobra naquele final tão encantador, quando a comunhão de duas almas é suficiente pra que as pessoas mantenham o sorriso em tempos de crise.
Marcas da Vida
3.6 26a Andrea Arnold consegue usar esse estilo meio austero e realista pra fazer um filme que é ao mesmo tempo um thriller de vigilância envolvente e um estudo de personagens inteligente emocionalmente. não achei muito bonito esteticamente, mas é interessante como a fotografia às vezes fica meio abstrata mesmo contando uma história mundana (a cena de dança na festa), e esse bairro onde fica o Red Road se torna quase um cenário de ficção científica. assustador e comovente ao mesmo tempo.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9Ktenso, tenso, infinitamente tenso. mas também terno e intimista. apesar de ser um thriller quase pós-apocalíptico, consegue se manter na maior parte do tempo confinado num único espaço e focado em personagens e interações humanas, e daí tira toda sua graça e suspense.
pra que as emoções causadas pelas relações entre personagens se tornassem verdadeiras, esse filme precisava ter um elenco bom, então ainda bem que o elenco é ótimo. o John Goodman está monstruoso em vários sentidos da palavra e o John Gallagher Jr. é sensacional como o melhor amigo que se poderia ter em um quartinho debaixo da terra, mas o filme é da Mary Elizabeth Winstead, que traz um monte de complexidade pra uma mulher comum obrigada a virar uma Ripley.
o Dan Trachtenberg é um talento muito surpreendente e promissor, sempre mantendo ritmo, controle e tensão dessa narrativa que podia se perder facilmente com tantas reviravoltas e tantas mudanças abruptas de tom. é um filme bem feito demais, que começa entregando informação de um jeito inteligente, evitando diálogos e exposição inútil. o final poderia ser ridículo, mas a essa altura eu estava envolvido demais pra me importar.
Mogli: O Menino Lobo
3.8 1,0K Assista Agoraé tudo impressionantemente de mentirinha nesse filme, os efeitos especiais dando origem a um mundo. quase tudo se passa numa floresta toda criada em computador, o que lembra aqueles filmes da era de ouro de Hollywood, que imitavam lugares do mundo todo nuns cenários em Los Angeles. mas lembra também um filme bem mais antigo pela falta de ironia, pela seriedade, pela confiança na própria história. isso só funciona porque os animais são reais demais, tanto na estética quanto na personalidade. eles aparentam ter mais humanidade do que o único humano da história, talvez porque o menino não seja muito bom ator. ele sofre principalmente comparado com o Bill Murray, que é incrível aqui, combinando perfeitamente com a personalidade do Baloo, trazendo um monte de leveza e graça pra história. o maior problema do filme pra mim é ele seguir tão à risca essa fórmula de aventura infantil e acabar ficando meio cansativo e bastante familiar, que nem muita coisa que a Disney anda fazendo recentemente.
O Picolino
4.1 110 Assista Agoraa trama desse filme é muito besta. várias coincidências improváveis levam a uma confusão que seria facilmente resolvida se os personagens sentassem e conversassem entre si. ainda bem que nada disso importa. quando Fred Astaire e Ginger Rogers dançam, é só alegria. a cena do Cheek to Cheek é linda.
Ave, César!
3.2 311 Assista Agoraé muito difícil entender os Irmãos Coen. o que exatamente eles querem dizer com Ave, César? ao mesmo tempo em que eles fazem uma crítica bem ácida dos estúdios de cinema dos anos 50, eles criam uma homenagem apaixonada aos filmes que saíam desses estúdios. o sistema é horrível, falta talento, é tudo ridículo e falso, mas o resultado final às vezes é lindo. talvez tudo valha a pena, né, deve ser melhor do que trabalhar com a bomba. e aí vêm várias paródias dos filmes de vários gêneros da época, que eu não sei ainda se são sinceras ou irônicas, mas sei que são incríveis.
ainda bem então que a gente se diverte muito enquanto tenta decifrar as ideias do filme sobre religião, sobre comunismo, sobre cinema e sobre um Josh Brolin em conflito com essas coisas todas. talvez seja tudo uma piada dos diretores, mas é engraçado demais. e o elenco é ótimo: tem vários personagens pequenos, um mais legal que o outro, e alguns deles são interpretados por atores muito famosos em participações bem curtas, mas ninguém é desperdiçado, todo mundo faz o seu melhor naquele estilo exagerado e satírico dos Irmãos Coen. é por isso que funciona tão bem e tem várias cenas sensacionais, tipo quando o Ralph Fiennes contracena com o Alden Ehrenreich e quando a Tilda Swinton não contracena com a outra Tilda Swinton. o Channing Tatum tem duas cenas só pra ele, uma delas é a melhor do filme, e a outra é bizarra e quase tão boa quanto. a Frances McDormand deveria tomar mais cuidado na sala de edição, e eu acho que eu nunca na minha vida vou parar de rir disso.
é um filme que poderia ser só uma sucessão de momentos mágicos do cinema, e de certa forma é um pouco disso. tem uma estrutura meio bagunçada, desfocada, a trama principal parece que não importa muito e é sempre esquecida por causa de uma digressão qualquer. mas isso combina com a confusão temática da narrativa, e eu ainda não sei o que é sério e o que é piada nessa história. talvez seja tudo uma coisa só, ou as duas coisas ao mesmo tempo. eu sei que esse filme não poderia ter sido feito por mais ninguém que não fosse os Irmãos Coen e que a cada novo trabalho eles provam de novo que são dois dos autores mais inteligentes do cinema.
Cada Um Com Seu Cinema
3.8 160tem muita porcaria e algumas coisas lindas, mas é legal demais assistir vários filmes de grandes diretores (e outros nem tanto) seguidos. é interessante também ver como eles lidam com a limitação de tempo e o que eles tentam passar - ideias, beleza, humor, etc. - quando falam sobre cinema. não sei se existem muitos outros filmes desse tipo, mas eu assistiria todos.
Toy Story 2
4.0 711 Assista Agoraesse é o filme que quase todos os blockbusters de estúdio queriam ser, mas não conseguem. uma aventura perfeita, sempre envolvente e inventiva, e baseada em personagens bem desenvolvidos e carismáticos. aquela primeira cena engana de propósito, parece que o filme vai ser uma daquelas continuações que perdem o controle, adicionam elementos demais e tentam alcançar o espaço sideral, mas logo o filme volta pra Terra. os personagem passam por situações incríveis e perigosas, tipo a cena ótima deles atravessando a rua, mas a escala da história continua sendo pequena como no primeiro filme, até porque é um filme sobre brinquedos, que se passa em quartos, lojas, carros, em que qualquer coisa se torna um perigo gigante. isso é um dos principais motivos pra essa história funcionar tão perfeitamente do início ao fim.
além disso, é essencial a empatia que a Pixar tem por esses personagens tão bem feitos e bem escritos. muitas vezes, os conflitos dos personagens emocionam demais, porque é tudo muito sincero e bonito, então a história de uma boneca abandonada por uma criança de repente se torna a história de rejeição mais triste do mundo. mas na maior parte do tempo, só é bom demais assistir esses brinquedos interagindo, porque eles têm personalidades tão ótimas. é característica da Pixar desde o início o talento pra trazer uma humanidade bem verdadeira pra personagens não-humanos, mas Toy Story 2 é um dos melhores filmes deles por conseguir juntar isso com uma narrativa tão prazerosa e divertida.
A Noiva de Frankenstein
3.9 146essa continuação do Frankenstein explora os mesmos temas que o James Whale já tinha desenvolvido no primeiro filme, mas de forma mais aprofundada. é um estudo de um personagem bom mas inocente, jogado em um mundo ruim e que acaba então por tomar atitudes muito erradas, feito de forma ainda mais inteligente e cheia de nuances. o filme estende empatia pra todos os personagens, e até os mais malvados têm humanidade. e acaba por ser uma história muito comovente, principalmente por causa da amizade linda entre o monstro e o violinista cego, em que o filme alcança uma bondade bem sincera, um humanismo puro, difícil de encontrar.
o mais legal é que é uma tragédia bem complexa, que mostra como a hostilidade e a gentileza da sociedade se refletem no comportamento de um personagem ainda despreparado pro mundo, mas tudo isso é filmado num tom divertidíssimo, exagerado, bizarro. a história parece se passar numa realidade mais gótica e melodramática, o que aparece principalmente nas atuações sensacionais do Ernest Thesiger e da Una O'Connor. a estranheza doida do filme fica sempre no limite do aceitável, mas nunca ultrapassa esse limite, e estabelece um contraste delicioso com o drama bonito dos personagens. esse filme tem tudo.
Amateur
3.5 18o mundo do Hal Hartley é um mundo em que coisas muito estranhas podem acontecer e acontecem a qualquer momento, um sonho com aparência de realidade. em Amateur, ele brinca com o gênero de uma forma diferente e incrível, empregando aquele estilo meio frio e distante típico desse cinema americano independente dos anos 90 junto com uma trama absurda de espionagem e, assim, atinge emoções bem profundas. no meio de tiros inesperados, roupas de couro e furadeiras, ele retrata os traumas causados pelos homens nas mulheres por meio do sexo, a repressão e a exploração. esse filme é uma conspiração internacional de corpos proibidos, abusados e abandonados. é difícil não se identificar com a ex-freira supostamente ninfomaníaca que fracassa escrevendo pornografia por ser poética demais, e o final dela é muito poderoso, coerente e emocionante. eu gosto do Hal Hartley e a Isabelle Huppert é talvez a maior atriz do mundo, mas eu nunca imaginei que esse filme seria sensacional assim.