O filme é um retrato da incompatibilidade de interesses entre patrão e empregado. Nem mesmo Lulu, operário favorito da indústria B.A.N. (que produz motores cuja utilidade nem seus próprios fabricantes conhecem, retomando a sátira ao fordismo inaugurada no cinem por Chaplin com Tempos Modernos), dedicado e avesso às movimentacões sindicais, resiste à pressão a que são submetidos os trabalhadores sob o modo de produção capitalista. O filme retrata sua trajetória partindo da condição de empregado infeliz, mas conformado, passando por sua radicalização política cada vez mais ensandecida, após a perda de um dedo num acidente de trabalho. O filme tem cenas antológicas, como o primeiro diálogo entre Lulu e o insano operário aposentado Militina, no manicômio; a revolta de Lulu na frente da fábrica quando da sua demissão; a cena do sonho no manicômio, com os delirantes ataques a um “muro” indefinido; e mesmo a cena final, quando Lulu relata esse sonho aos colegas em meio à linha de montagem. É interessante notar também o paralelo entre a sexualidade do protagonista e sua condição psicológica em cada momento do filme. No princípio, apático e inconformado, Lulu demonstra nenhuma libido em relação à sua companheira em casa. Por outro lado, no trabalho, é a fantasia erótica em relação a uma colega que move seu ritmo de trabalho insano - o que mostra que nesse determinado momento o trabalho catártico e absorvedor de toda a energia do indivíduo é a sua única fonte de estímulo. Após as turbulências na fábrica, entretanto, Lulu consegue transar com a colega (virgem) fonte de suas fantasias - o que evidencia um novo sentido para a vida do operário além do trabalho. Entretanto, o ato sexual em si é extremamente seco, mecânico até, e mesmo pode ser considerado um estupro (a filmagem da cena, nada romântica, desajeitada e tosca, reforça esse caráter), retomando a comparação entre os operários e máquinas. Quando a moça, decepcionada com sua primeira vez, pergunta se aquilo era o amor, Lulu se limita a responder: “o amor se faz, e quando está feito, está feito”. Logo após, ambos concordam que, entre humanos e bestas, a diferença é pouca ou nenhuma, confirmando o estado de embrutecimento absoluto do proletariado. [spoiler][/spoiler]
Pra quem acompanha o trabalho do Iñarritu, esse filme foi uma surpresa, das ótimas. Consolidando uma carreira de gênio, o diretor mostrou que a sua marca vai muito além das sequências temporais invertidas e soltas ao longo do filme: a construção do plano sequência único ao longo do filme é um frenético contraste com tudo que ele já fez. Além disso, a temática e a vibe do filme são também diametralmente opostas aos seus demais filmes. Pela primeira vez o diretor não optou por temáticas e cenários carregados, dramáticos: através de uma atmosfera leve e caricata o diretor tira o conflito da realidade para colocá-lo dentro da mente de Riggan Thomson, representado com maestria pelo Keaton. Enfim, premiações merecedíssimas para o que talvez seja o melhor filme do seu ano.
Fez jus ao que eu esperava. Além das tradicionais cenas de ação muito bem feitas, com uma montagem de som simplesmente sensacional (o que faz com o que filme valha a pena ser visto no cinema), a crítica feminista, ainda que sutil, começa a adentrar alguns dos ícones da figura clássica do "machão". Nesse sentido, a cena em que o Mad deixa a Rainha Furiosa atirar por ele é emblemática: ao contrário da maioria dos filmes, nos quais esse tipo de ação é inserida em algum tipo de cena cômica para desmerecer o homem por ser "pior que uma menininha" ou algo assim, no Mad Max esse tipo de cena é encarada com a naturalidade que falta no mundo real.
Imperdível pra quem quer entender como realmente funciona o mundo e o sistema no qual vivemos, para ir além da ilusão da meritocracia e da democracia: ao analisar profundamente, a verdade é que todos vivemos uma ditadura do capital, por mais que isso nem sempre seja percebido a olho nu. A dinâmica colocada por Costa Gravas é sensacional, fotografia impecável para o que se propõe: alia rapidez, movimentos bruscos e uma relativa distância dos personagens, atribuindo ao filme um tom de impessoalidade que é tão típico do capitalismo. O personagem principal Marc Tourneuil, soturno e frio, é uma verdadeira encarnação do capitalismo.
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A Classe Operária Vai ao Paraíso
4.1 60O filme é um retrato da incompatibilidade de interesses entre patrão e empregado. Nem mesmo Lulu, operário favorito da indústria B.A.N. (que produz motores cuja utilidade nem seus próprios fabricantes conhecem, retomando a sátira ao fordismo inaugurada no cinem por Chaplin com Tempos Modernos), dedicado e avesso às movimentacões sindicais, resiste à pressão a que são submetidos os trabalhadores sob o modo de produção capitalista. O filme retrata sua trajetória partindo da condição de empregado infeliz, mas conformado, passando por sua radicalização política cada vez mais ensandecida, após a perda de um dedo num acidente de trabalho.
O filme tem cenas antológicas, como o primeiro diálogo entre Lulu e o insano operário aposentado Militina, no manicômio; a revolta de Lulu na frente da fábrica quando da sua demissão; a cena do sonho no manicômio, com os delirantes ataques a um “muro” indefinido; e mesmo a cena final, quando Lulu relata esse sonho aos colegas em meio à linha de montagem.
É interessante notar também o paralelo entre a sexualidade do protagonista e sua condição psicológica em cada momento do filme. No princípio, apático e inconformado, Lulu demonstra nenhuma libido em relação à sua companheira em casa. Por outro lado, no trabalho, é a fantasia erótica em relação a uma colega que move seu ritmo de trabalho insano - o que mostra que nesse determinado momento o trabalho catártico e absorvedor de toda a energia do indivíduo é a sua única fonte de estímulo. Após as turbulências na fábrica, entretanto, Lulu consegue transar com a colega (virgem) fonte de suas fantasias - o que evidencia um novo sentido para a vida do operário além do trabalho. Entretanto, o ato sexual em si é extremamente seco, mecânico até, e mesmo pode ser considerado um estupro (a filmagem da cena, nada romântica, desajeitada e tosca, reforça esse caráter), retomando a comparação entre os operários e máquinas. Quando a moça, decepcionada com sua primeira vez, pergunta se aquilo era o amor, Lulu se limita a responder: “o amor se faz, e quando está feito, está feito”. Logo após, ambos concordam que, entre humanos e bestas, a diferença é pouca ou nenhuma, confirmando o estado de embrutecimento absoluto do proletariado.
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Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraGostei muito mais que a minha irmã de doze anos hahahah é sensacional!! Vale muito
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraPra quem acompanha o trabalho do Iñarritu, esse filme foi uma surpresa, das ótimas. Consolidando uma carreira de gênio, o diretor mostrou que a sua marca vai muito além das sequências temporais invertidas e soltas ao longo do filme: a construção do plano sequência único ao longo do filme é um frenético contraste com tudo que ele já fez. Além disso, a temática e a vibe do filme são também diametralmente opostas aos seus demais filmes. Pela primeira vez o diretor não optou por temáticas e cenários carregados, dramáticos: através de uma atmosfera leve e caricata o diretor tira o conflito da realidade para colocá-lo dentro da mente de Riggan Thomson, representado com maestria pelo Keaton. Enfim, premiações merecedíssimas para o que talvez seja o melhor filme do seu ano.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraFez jus ao que eu esperava. Além das tradicionais cenas de ação muito bem feitas, com uma montagem de som simplesmente sensacional (o que faz com o que filme valha a pena ser visto no cinema), a crítica feminista, ainda que sutil, começa a adentrar alguns dos ícones da figura clássica do "machão". Nesse sentido, a cena em que o Mad deixa a Rainha Furiosa atirar por ele é emblemática: ao contrário da maioria dos filmes, nos quais esse tipo de ação é inserida em algum tipo de cena cômica para desmerecer o homem por ser "pior que uma menininha" ou algo assim, no Mad Max esse tipo de cena é encarada com a naturalidade que falta no mundo real.
O Capital
3.8 96Imperdível pra quem quer entender como realmente funciona o mundo e o sistema no qual vivemos, para ir além da ilusão da meritocracia e da democracia: ao analisar profundamente, a verdade é que todos vivemos uma ditadura do capital, por mais que isso nem sempre seja percebido a olho nu. A dinâmica colocada por Costa Gravas é sensacional, fotografia impecável para o que se propõe: alia rapidez, movimentos bruscos e uma relativa distância dos personagens, atribuindo ao filme um tom de impessoalidade que é tão típico do capitalismo. O personagem principal Marc Tourneuil, soturno e frio, é uma verdadeira encarnação do capitalismo.