O começo do filme estava me incomodando, porque eu pensei que seguiria aquele velho caminho mentiroso da "meritocracia", do "tudo o que vc quiser vc consegue" puramente. Mas o desenrolar do filme vai como que desmascarando essa ideia inicial, da pessoa que basta ser persistente, ou, até que ponto ela é realmente persistente e quando esse limite se rompe, tornando-se, na realidade, uma ambição cruel que atropela e desrespeita outros indivíduos em prol daquilo que ele quer. O Ray já demonstrava uma mentalidade absurdamente capitalista,
roubar a ideia dos irmãos e expandi-la sem coletivizar. Isso foi roubo, gente! Como que alguém aqui pode dizer que esse filme passa o recado de persistência, de nunca ser tarde para começar, se o que o Ray faz é passar a perna nas pessoas para ter o seu sonho concretizado? É justo, portanto, o que ele fez? Sem o mínimo de ética? Fora a crueldade de Ray ao construir um Mc Donald's em frente ao original, levando o original à falência.
Isso não é sobre persistência, mas sobre limites, sobre egoísmo e ganância. Quais os limites para você realizar aquilo que você quer? Vale a pena passar por cima de princípios éticos?
Enquanto ao "terror" em si, não me agradou, talvez por não ser o meu tipo de filme favorito. Esses "sustos" que ele causa não assusta, só acho cansativo. Mas esse filme merece uma nota alta por toda a reflexão que possui por trás e acho que isso sobressai os sustos de personagens fantasmagóricos. A reflexão acerca da imigração é pesadíssima. São detalhes que flutuam entre o místico e o real. Entre o imaginário e o cotidiano frio de pessoas que deixam a sua terra natal para ir para um lugar que na realidade, lhes é hostil. A violência da terra natal daqueles/as jovens é consequência de atos de países como o da Inglaterra no período de neocolonialismo africano. Eles fogem daquela violência para o país que foi um daqueles a alimentar essa estratégia quando tinham interesses no continente africano.
E vale lembrar que no desespero de fugir das violências de sua terra natal, o rapaz pega uma criança sem o consentimento da mãe, para conseguir viajar.
O rapaz me lembrou muito as reflexões de Frantz Fanon em "Peles negras, máscaras brancas", numa tentativa vã de adaptação no país.
Por tudo isso, eu gostei muito do filme. Não é só susto. Tem muita reflexão por trás, junto com o susto, pra quem gosta dessa pegada! :)
A imigração ilegal é necessária como mão de obra barata e sem proteção para países como os EUA, assim como as gangues no meio do caminho, que também atendem automaticamente enquanto ferramenta de obstáculo para que tenha um limite de quem conseguirá atravessar a fronteira. “Ninguém liga” se haverá tráfico de mulheres ou mortes pelo caminho da travessia. É o retrato da desumanização de indivíduos, da dor de perder amigos no trajeto, e do vazio, no fim das contas. O filme retrata isso de uma maneira impecável. Emocionante.
Tão brasileiro, em cada detalhe. Na cervejinha e nas histórias, nos pequenos rituais do dia-a-dia, nas mobílias. O filme é lindo tanto em sua fotografia como em sua história. O tema é pesado demais, mas tratado com delicadeza, sobre como lidar com dores e perdas. É também sobre uma realidade muito dolorosa e, infelizmente, muito característica do nosso país:
Não se sabe o motivo de nenhuma das mortes, porque o foco é em quem fica, em quem continua sentindo a angústia de perder. A dificuldade dos recomeços. A vida com um pedaço arrancado.
Chorei de soluçar. Que filme! Realista, extremamente crítico. Me lembrou muito um livro de Dostoiévski, chamado “Gente Pobre”. Apesar de ser outro contexto e outro tempo, gente pobre fala sobre um senhor e uma moça que são amigos, e esse senhor sempre tenta ajudá-la como pode, mesmo sendo pobre. Eles se comunicam por cartas e tal. O final do livro é seco, bruto, como o final desse filme. E não há algo de mais realista quanto isso: a vida não é fácil, nem justa. E o capitalismo cria o mito da meritocracia (por exemplo aquele discurso da palestra do currículo), mas sempre alguém vai sair perdendo.
Poxa, fui sedenta, com muita expectativa por conta da sinopse. Mas não me prendeu, eu gosto de filmes com poucos diálogos e que quando ocorrem são precisos, o que não é o caso, porque os poucos diálogos são muito aleatórios. As cenas parecem que são todas muito soltas, entedia, parece desconexo. Eu não tava entendendo o que tava rolando. Uma pena. Talvez se some ao fato de que também não sou muito fã de ficção científica e não sabia que o filme era nessa pegada.
Eu fui sem expectativa porque imaginei que seria muito difícil ter algo no mesmo nível do que foi breaking bad. E acertei. O filme é meio nhé. Não que seja ruim, talvez até seja bom, mas pra quem acompanhou a série durante anos e amou cada temporada, porque aconteciam muitas coisas que te prendiam no processo, o filme sumiu, ficou apagado, fraco.
Que filme maravilhoso. Apesar da trajetória tão dolorida de Saroo, ele encontrou famílias maravilhosas em seu caminho: a sua de sangue, e a que o adotou.
Achei que peca na história, porque começa do nada e termina do nada. Você é apresentado superficialmente pra situação vivida pelos personagens. E o pior: são duas horas de filme que não são bem exploradas. O ponto forte do filme são as cenas mais violentas, que dão BASTANTE aflição. Mas é só. O final ficou meio ??????. Acho que quis forçar em alguma reflexão sobre a natureza e o homem tentando dominá-la, mas falhou.
Pô, o pessoal aqui tá exigente demais. Achei muito bom, muito bom mesmo. Conseguiram dar uma visão panorâmica da vida de Shante, desde sua relação com a mãe, até o seu amadurecimento completo.
O retrato da guerra é assim: repleto de anônimos com suas particularidades e histórias anuladas para enfrentar um inimigo. Vê-los presos em Dunkirk é angustiante, desesperador, sufocante. O som dos aviões se aproximando para soltar os torpedos dá um nó na garganta. Os navios afundando, dá vontade de chorar. É um baita filme, tanto em termos de fotografia, quanto da história por um outro viés: focando especificamente nos soldados e no que eles passaram e não sobre o contexto político da Segunda Guerra Mundial. Mostra o outro lado; o lado dos que combateram o nazismo, dos sem nome, dos pilotos, cabos, dos civis que foram ajudar a resgatar os soldados etc. Por isso é rico. Porque é uma narrativa tão importante quanto todas as outras, para não nos esquecermos o que é a guerra e o que ela causa, o quanto destrói.
Fantástico. O personagem de Anthony Hopkins perde toda a sua autonomia em função de sua profissão. Perde sua vida. Não consegue ter uma opinião que seja sua. Vive em função de seu patrão.
Tenta mudar isso, mas não consegue, porque enraizou. Perde o amor de sua vida, porque tornou-se alguém retraído, com muita dificuldade em ter opinião própria e personalidade própria. É triste, porque é real. Quantas pessoas não abdicam de suas vidas em busca de uma perfeição profissional que no final das contas só serve ao seu patrão?
A poesia do submundo, dos ignorados, das putas, dos ladrões. Há poesia? Há sim. Há muita. Nos que não são vistos, mas que também amam. Nos que são considerados escórias, mas conseguem se manter fiel à quem amam, à verdade. Não é romantizar o submundo, mas sim, olhá-lo sob um outro viés, distinto do viés de distanciamento, de generalizações e repugnância. Poesia não é só digna dos padrões de beleza, do lúdico, do mágico, do amor perfeito. Poesia é crua, é dor, é violenta porque arde no peito, dá nó na garganta, faz chorar.
Zach é um menino totalmente fora das disciplinas normativas, que não segue nenhuma regra social, que pula muros, que foge, que rouba, mas principalmente demonstra sua lealdade quando muitos não mostrariam:
quando recebe aquela oferta tão sonhada por sua mãe, pedindo para ele não depor porque agora ela conseguiu um emprego e o quer de volta, ele mesmo assim é justo, tem honra, defende sua companheira pela atrocidade que seus colegas cometem com ela, estuprando-a.
Isso me lembra a literatura de Dostoiévski, quando escreve Gente Pobre, por exemplo. Ele olhava pra onde ninguém olhava e encontrava beleza, muita beleza na vida daquelas pessoas anônimas e miseráveis. No filme, a linha é semelhante, porque mostra um amor belíssimo (mesmo que torto, problemático, machista) de fazer chorar em cada demonstração sutil e fora dos nossos padrões,
como quando ele diz, pela primeira vez no filme, que a ama, no meio de um depoimento para a justiça. Ou no final, quando Sheherazade vai visitá-lo e leva um doce pra ele, e ele diz que parece um sonho. E ela diz que irá esperá-lo. Há algo mais belo que isso? Em meio à lama, amor, sonhos.
As atuações são naturais, reparei até no jeito que tossem, tentando ao máximo repassar o tom de realidade nua e crua, tanto dos gestos cotidianos, quanto das relações uns com os outros. Uma naturalidade que convence. Retrata, além de tudo o que coloquei aqui, a questão da juventude perdida, da menina que é prostituta e chupa o dedo como um bebê na hora de dormir, uma infância e adolescência que foi arrancada brutalmente, tendo que se maquiar e se prostituir para garantir sua sobrevivência. Ou um menino tão esperto, ousado, audacioso como o Zach, que não tem perspectiva alguma de futuro.
Fome de Poder
3.6 830 Assista AgoraO começo do filme estava me incomodando, porque eu pensei que seguiria aquele velho caminho mentiroso da "meritocracia", do "tudo o que vc quiser vc consegue" puramente. Mas o desenrolar do filme vai como que desmascarando essa ideia inicial, da pessoa que basta ser persistente, ou, até que ponto ela é realmente persistente e quando esse limite se rompe, tornando-se, na realidade, uma ambição cruel que atropela e desrespeita outros indivíduos em prol daquilo que ele quer. O Ray já demonstrava uma mentalidade absurdamente capitalista,
principalmente quando a esposa pergunta: "você já tem uma boa casa, etc, não é o suficiente?" e ele responde convictamente que não.
O filme é uma crítica. É uma crítica à esse discurso todo lindo que o capitalismo nos vende o tempo inteiro, já que, na realidade o que Ray faz é
roubar a ideia dos irmãos e expandi-la sem coletivizar. Isso foi roubo, gente! Como que alguém aqui pode dizer que esse filme passa o recado de persistência, de nunca ser tarde para começar, se o que o Ray faz é passar a perna nas pessoas para ter o seu sonho concretizado? É justo, portanto, o que ele fez? Sem o mínimo de ética? Fora a crueldade de Ray ao construir um Mc Donald's em frente ao original, levando o original à falência.
Isso não é sobre persistência, mas sobre limites, sobre egoísmo e ganância. Quais os limites para você realizar aquilo que você quer? Vale a pena passar por cima de princípios éticos?
O Que Ficou Para Trás
3.6 510 Assista AgoraEnquanto ao "terror" em si, não me agradou, talvez por não ser o meu tipo de filme favorito. Esses "sustos" que ele causa não assusta, só acho cansativo. Mas esse filme merece uma nota alta por toda a reflexão que possui por trás e acho que isso sobressai os sustos de personagens fantasmagóricos. A reflexão acerca da imigração é pesadíssima. São detalhes que flutuam entre o místico e o real. Entre o imaginário e o cotidiano frio de pessoas que deixam a sua terra natal para ir para um lugar que na realidade, lhes é hostil. A violência da terra natal daqueles/as jovens é consequência de atos de países como o da Inglaterra no período de neocolonialismo africano. Eles fogem daquela violência para o país que foi um daqueles a alimentar essa estratégia quando tinham interesses no continente africano.
E vale lembrar que no desespero de fugir das violências de sua terra natal, o rapaz pega uma criança sem o consentimento da mãe, para conseguir viajar.
O rapaz me lembrou muito as reflexões de Frantz Fanon em "Peles negras, máscaras brancas", numa tentativa vã de adaptação no país.
Por tudo isso, eu gostei muito do filme. Não é só susto. Tem muita reflexão por trás, junto com o susto, pra quem gosta dessa pegada! :)
Tropa Zero
4.0 170 Assista AgoraQue filme lindo! Quantas mensagens importantes sobre a vida.
E pra melhorar, David Bowie na trilha sonora 🖤🪐✨
A Jaula de Ouro
4.2 84A imigração ilegal é necessária como mão de obra barata e sem proteção para países como os EUA, assim como as gangues no meio do caminho, que também atendem automaticamente enquanto ferramenta de obstáculo para que tenha um limite de quem conseguirá atravessar a fronteira. “Ninguém liga” se haverá tráfico de mulheres ou mortes pelo caminho da travessia.
É o retrato da desumanização de indivíduos, da dor de perder amigos no trajeto, e do vazio, no fim das contas.
O filme retrata isso de uma maneira impecável. Emocionante.
Rastros de um Sequestro
3.8 563 Assista AgoraNão é ruim. Na verdade, o começo prende bastante, é envolvente. Mas na metade do filme, começa a virar uma grande novelona.
Café com Canela
4.1 164Tão brasileiro, em cada detalhe. Na cervejinha e nas histórias, nos pequenos rituais do dia-a-dia, nas mobílias. O filme é lindo tanto em sua fotografia como em sua história. O tema é pesado demais, mas tratado com delicadeza, sobre como lidar com dores e perdas. É também sobre uma realidade muito dolorosa e, infelizmente, muito característica do nosso país:
mães pretas que perdem seus filhos.
Não se sabe o motivo de nenhuma das mortes, porque o foco é em quem fica, em quem continua sentindo a angústia de perder. A dificuldade dos recomeços. A vida com um pedaço arrancado.
Frantz Fanon - Black Skin, White Mask
4.0 5 Assista Agora“Minha oração final é o meu corpo.
Faça de mim um homem que sempre questiona.”
Mary Shelley
3.7 224Eu não fazia ideia de como o Lord Byron era escroto!
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraO trecho em que ele fala sobre a cultura é muito massa!
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista AgoraChorei de soluçar. Que filme! Realista, extremamente crítico. Me lembrou muito um livro de Dostoiévski, chamado “Gente Pobre”. Apesar de ser outro contexto e outro tempo, gente pobre fala sobre um senhor e uma moça que são amigos, e esse senhor sempre tenta ajudá-la como pode, mesmo sendo pobre. Eles se comunicam por cartas e tal. O final do livro é seco, bruto, como o final desse filme. E não há algo de mais realista quanto isso: a vida não é fácil, nem justa. E o capitalismo cria o mito da meritocracia (por exemplo aquele discurso da palestra do currículo), mas sempre alguém vai sair perdendo.
“Eu não sou um cão”.
Anos 90
3.9 502Que filme incrível! ❤️
Branco Sai, Preto Fica
3.5 173Poxa, fui sedenta, com muita expectativa por conta da sinopse. Mas não me prendeu, eu gosto de filmes com poucos diálogos e que quando ocorrem são precisos, o que não é o caso, porque os poucos diálogos são muito aleatórios. As cenas parecem que são todas muito soltas, entedia, parece desconexo. Eu não tava entendendo o que tava rolando. Uma pena. Talvez se some ao fato de que também não sou muito fã de ficção científica e não sabia que o filme era nessa pegada.
Rota da Morte
3.1 280 Assista AgoraPerdi meu tempo assistindo isso. Que horror. Que diálogos fracos. Que trilha sonora tosca.
A Trincheira Infinita
3.9 67 Assista AgoraFilmaço!!!!
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia
3.7 105Críticas que permanecem atuais com relação a polícia: o racismo, a milícia.
Um pouco arrastado, poderia ser mais curto. Contudo, um bom filme!
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista AgoraEu fui sem expectativa porque imaginei que seria muito difícil ter algo no mesmo nível do que foi breaking bad. E acertei. O filme é meio nhé. Não que seja ruim, talvez até seja bom, mas pra quem acompanhou a série durante anos e amou cada temporada, porque aconteciam muitas coisas que te prendiam no processo, o filme sumiu, ficou apagado, fraco.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraQue filme maravilhoso. Apesar da trajetória tão dolorida de Saroo, ele encontrou famílias maravilhosas em seu caminho: a sua de sangue, e a que o adotou.
Apóstolo
3.0 426Achei que peca na história, porque começa do nada e termina do nada. Você é apresentado superficialmente pra situação vivida pelos personagens. E o pior: são duas horas de filme que não são bem exploradas.
O ponto forte do filme são as cenas mais violentas, que dão BASTANTE aflição. Mas é só.
O final ficou meio ??????. Acho que quis forçar em alguma reflexão sobre a natureza e o homem tentando dominá-la, mas falhou.
Roxanne, Roxanne
3.4 29 Assista AgoraPô, o pessoal aqui tá exigente demais. Achei muito bom, muito bom mesmo. Conseguiram dar uma visão panorâmica da vida de Shante, desde sua relação com a mãe, até o seu amadurecimento completo.
A cena final, do menininho que era nada mais nada menos que o NAS, me fez ir a loucuraaaaaaa
Será que foi quente isso? Porque se foi, que UAU <3
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraO retrato da guerra é assim: repleto de anônimos com suas particularidades e histórias anuladas para enfrentar um inimigo. Vê-los presos em Dunkirk é angustiante, desesperador, sufocante.
O som dos aviões se aproximando para soltar os torpedos dá um nó na garganta. Os navios afundando, dá vontade de chorar.
É um baita filme, tanto em termos de fotografia, quanto da história por um outro viés: focando especificamente nos soldados e no que eles passaram e não sobre o contexto político da Segunda Guerra Mundial. Mostra o outro lado; o lado dos que combateram o nazismo, dos sem nome, dos pilotos, cabos, dos civis que foram ajudar a resgatar os soldados etc. Por isso é rico. Porque é uma narrativa tão importante quanto todas as outras, para não nos esquecermos o que é a guerra e o que ela causa, o quanto destrói.
Vestígios do Dia
3.8 219 Assista AgoraFantástico. O personagem de Anthony Hopkins perde toda a sua autonomia em função de sua profissão. Perde sua vida. Não consegue ter uma opinião que seja sua. Vive em função de seu patrão.
Tenta mudar isso, mas não consegue, porque enraizou. Perde o amor de sua vida, porque tornou-se alguém retraído, com muita dificuldade em ter opinião própria e personalidade própria. É triste, porque é real. Quantas pessoas não abdicam de suas vidas em busca de uma perfeição profissional que no final das contas só serve ao seu patrão?
Shéhérazade
3.6 12A poesia do submundo, dos ignorados, das putas, dos ladrões. Há poesia? Há sim. Há muita. Nos que não são vistos, mas que também amam. Nos que são considerados escórias, mas conseguem se manter fiel à quem amam, à verdade. Não é romantizar o submundo, mas sim, olhá-lo sob um outro viés, distinto do viés de distanciamento, de generalizações e repugnância. Poesia não é só digna dos padrões de beleza, do lúdico, do mágico, do amor perfeito. Poesia é crua, é dor, é violenta porque arde no peito, dá nó na garganta, faz chorar.
Zach é um menino totalmente fora das disciplinas normativas, que não segue nenhuma regra social, que pula muros, que foge, que rouba, mas principalmente demonstra sua lealdade quando muitos não mostrariam:
quando recebe aquela oferta tão sonhada por sua mãe, pedindo para ele não depor porque agora ela conseguiu um emprego e o quer de volta, ele mesmo assim é justo, tem honra, defende sua companheira pela atrocidade que seus colegas cometem com ela, estuprando-a.
Isso me lembra a literatura de Dostoiévski, quando escreve Gente Pobre, por exemplo. Ele olhava pra onde ninguém olhava e encontrava beleza, muita beleza na vida daquelas pessoas anônimas e miseráveis. No filme, a linha é semelhante, porque mostra um amor belíssimo (mesmo que torto, problemático, machista) de fazer chorar em cada demonstração sutil e fora dos nossos padrões,
como quando ele diz, pela primeira vez no filme, que a ama, no meio de um depoimento para a justiça. Ou no final, quando Sheherazade vai visitá-lo e leva um doce pra ele, e ele diz que parece um sonho. E ela diz que irá esperá-lo. Há algo mais belo que isso? Em meio à lama, amor, sonhos.
As atuações são naturais, reparei até no jeito que tossem, tentando ao máximo repassar o tom de realidade nua e crua, tanto dos gestos cotidianos, quanto das relações uns com os outros. Uma naturalidade que convence.
Retrata, além de tudo o que coloquei aqui, a questão da juventude perdida, da menina que é prostituta e chupa o dedo como um bebê na hora de dormir, uma infância e adolescência que foi arrancada brutalmente, tendo que se maquiar e se prostituir para garantir sua sobrevivência. Ou um menino tão esperto, ousado, audacioso como o Zach, que não tem perspectiva alguma de futuro.
É um filme incrível, incrível, incrível.
A História Oficial
4.1 140 Assista AgoraBelíssimo filme. Um registro importante sobre as cicatrizes do autoritarismo, da ditadura militar.
O Menino que Descobriu o Vento
4.3 741Emocionante. Chorei demais. Que menino incrível, que família maravilhosa.