"Matrix" envelheceu... muito bem, obrigado! Vinte anos após seu lançamento, essa ficção científica continua mais atual do que nunca! O visual, a sonoridade, o estilo, as inúmeras concepções filosóficas entrelaçadas, as metáforas e todos os elementos (textuais ou cinematográficos) que o fizeram revolucionário no final dos anos 90 estão irretocáveis.
Rever "Matrix" no cinema para comemorar seu 20° aniversário foi uma experiência deliciosa e contemplativa. A nostalgia de rever as cenas favoritas e recordar outros tantos momentos épicos culminaram em diversos arrepios!
A qualidade do áudio e da imagem, muito bem remasterizados, deixa muito longa atual comendo poeira. Os efeitos visuais, ainda que tenha um detalhe ou outro de artificialidade, seguem, no geral, impecáveis.
O inovador efeito bullet time implantado aqui, e copiado por centenas de outras produções, é o mais bem executado nas telonas até hoje e impressiona por sua criatividade. Incluem-se, também, as cenas de ação pontualmente insuperáveis.
E a fotografia exemplar de enquadramentos, planos e ângulos incomuns? E as câmeras lentas extraordinárias que espetaculariza os movimentos em cena? E a edição perfeita que costura tudo de forma eficaz? Muito f...!
Em tempo de recessão de obras-primas no cinema, a saga de Neo, Trinity e Morpheus contra o domínio das máquinas se torna o 'melhor filme de 2019', inclusive no quesito super-herói 😜.
20 anos é um tempo considerável para mudanças. Os diretores Wachowski se tornaram diretoras, os fãs que se deslumbraram em 1999 estão mais 'experientes' e Neo virou John Wick, mas o conceito sobre manipulação de realidade está longe de ser velho ou obsoleto.
Epidemias virais fazem, ou tem feito, mais sucesso no gênero terror. Vírus mortal que transforma pessoas em zumbis é o principal argumento para críticas sociais ao 'sistema'. No campo dramático, o melhor filme sobre essas críticas em cenário apocalíptico é “Contágio”, que encena o caos mundial de forma realista e repleta de mistério e conspiração.
Dirigido por Steven Soderbergh, “Contágio” tem uma estrutura narrativa já bastante utilizada no cinema, o de reunir várias tramas que se interligam por um mesmo tema (numa pegada semelhante, o cineasta já havia feito o excelente “Traffic”). Há diversos dramas que mostram diferentes pontos de vista sobre uma epidemia viral no planeta: médicos que vivenciam o caos; pai de família imune que perde a mulher e protege a filha; cientistas em busca da origem da contaminação e da cura; jornalista que investiga os bastidores dessa pandemia e as ações políticas das autoridades.
O roteiro de Scott Z. Burns faz uma alusão aos recentes surtos de gripes suína e aviária que preocupou a população mundial por causa das várias mortes relacionadas a essas doenças. Em "Contágio", esse panorama foi colocado em um nível catastrófico muito bem ensaiado por Soderbergh, que conseguiu criar, por meio da fotografia melancólica e enquadramentos de câmera detalhistas, uma atmosfera extremamente densa, alarmista e desesperançosa.
Além de sugerir convincentes situações de emergência, principalmente nas ações das autoridades, nos procedimentos científicos e nos comportamentos sociais frente ao caos, a figura do jornalista interpretada por Jude Law é a mais interessante delas. Essa história é a responsável ao dar o tom crítico ao longa por valorizar e expor intrigas que geram conspirações contra o sistema político controlador em relação aos acontecimentos.
O restante das pequenas tramas, que também são bem conduzidas e interpretadas por atores consagrados, apenas serve para enriquecer o tenso cenário do desespero, do confinamento e da anarquia diante de milhões de mortes. Apesar do tratamento brando de alguns detalhes, como no curto tempo decorrido para as soluções (em proporções apocalípticas seriam anos ao invés de meses) e no clímax ameno e pouco político, “Contágio” faz refletir sobre o quanto que a humanidade está despreparada para qualquer tipo de pandemia.
“O Exterminador do Futuro” foi um ícone da ficção científica em 1985. Sua continuação, “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” (1991), se tornou um marco para o cinema, principalmente pela evolução dos efeitos digitais e pela direção criativa de James Cameron. É um filme que impressiona até hoje! As carreiras de Cameron e Arnold Schwarzenegger (não há um ator melhor para interpretar um robô como ele) foram impulsionadas após o sucesso desses longas.
O destino da franquia mudou de rumo quando James Cameron se divorciou de Linda Hamilton no final dos anos 90, atriz que interpreta a protagonista Sarah Connor nas primeiras produções. Com isso, Hamilton ganhou os direitos dos filmes em um acordo de divórcio e os vendeu. Após passar por diversas empresas, os direitos foram aproveitados pela Skydance Productions e Annapurna Pictures, que acabaram fazendo uma trilogia (“A Rebelião das Máquinas”, “A Salvação” e “Gênesis”). Após 20 anos, o controle criativo da franquia voltou para as mãos de James Cameron, que resolveu produzir “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”.
Ocupando o cargo de produtor, Cameron informou que “Destino Sombrio” ignora a nova trilogia e é uma continuação direta de “O Julgamento Final” trazendo, inclusive, Linda Hamilton para reviver Sarah Connor e Arnold Schwarzenegger para interpretar o memorável robô T-800. Impossível não ter uma boa expectativa com esses nomes vinculados ao novo 'Exterminador'. Porém, entretanto, contudo, todavia...
Apesar das conjunções adversativas que finaliza o parágrafo anterior, “Destino Sombrio” está longe de ser ruim, mas, também, está aquém das expectativas criadas. O problema é que o longa está engessado em uma cartilha repetitiva, com uma jornada semelhante aos seus antecessores sem se preocupar com a evolução narrativa: um exterminador é enviado do futuro pela Skynet para matar uma pessoa que será importante; um soldado da resistência é enviado do futuro para proteger a pessoa ameaçada; e muitas perseguições acontecem.
E é assim que a trama se desenvolve, sem grandes mudanças. A estrutura continua a mesma, o que muda são alguns detalhes, como um novo e mais avançado exterminador (REV-9) capaz de se multiplicar, uma nova personagem que é perseguida (mexicana, diga-se de passagem) e uma soldado (mulher) da resistência com impressionantes habilidades militares.
O que poderá incomodar aos mais exigentes é o roteiro que não oferece novidades satisfatórias em relação ao progresso da, digamos, macro-história. Além disso, o texto não dá uma devida importância para a participação de Sarah Connor e nem de T-800. Eles estão na trama mais como fan service. São meros ajudantes, com pouca essência para narrativa. Claro, é divertido vê-los no filme, gera nostalgia, contemplação (com diálogos emblemáticos) e roubam a cena por serem icônicos, mas nada mudaria se fossem outros personagens de apoio para os protagonistas.
É curioso observar que mesmo ignorando os eventos da trilogia nova, “Destino Sombrio” parece se inspirar nela para dar forma aos seus personagens. O novo exterminador REV-9 aparenta ser uma mistura do T-1000 com a T-X, vistos em “O Julgamento Final” e “Rebelião das Máquinas”, respectivamente.
A soldado da resistência que deve proteger o novo alvo da Skynet se assemelha ao híbrido visto em “A Salvação”
. A própria presença de um T-800 'vovô', embora não tenha uma explicação direta sobre seu envelhecimento, se ancora indiretamente na justificativa convincente que teve em “Gênesis”.
O filme começa com bastante vigor na primeira meia hora, com longos e tensos momentos ininterruptos de ação. Há muito ‘tiro, porrada e bomba’ e perseguição ‘gato-e-rato’ para nenhum fã da franquia botar defeito. As cenas, inclusive, são muito bem conduzidas pelo diretor Tim Miller (“Deadpool”). O cineasta utiliza muita câmera lenta, faz bom uso dos eficientes efeitos visuais, evita que a geografia das cenas fique confusa e proporciona algum impacto em momentos que exigem uma escala maior de ameaça. Nesse quesito, a produção capricha mesmo proporcionando um exagerado terceiro ato.
O fato de não progredir tanto narrativamente pode ser proposital para que isso seja melhor explorado nas possíveis continuações, caso o filme fature bem nas bilheterias. O jeito é esperar e torcer por um sucesso de “Destino Sombrio”. Ah, os dois primeiros 'Exterminadores' ainda continuam inesquecíveis e intocáveis!
Inspirado em livro de mesmo nome do escritor Stephen King, lançado em 2013, o longa “Doutor Sono” é considerado a continuação do terror cult “O Iluminado” (1980), de Stanley Kubrick. Há muita reverência ao filme oitentista, mas, também, desequilíbrios de concepções entre as obras, os quais poderão frustrar os fãs do clássico.
Existem três situações em “Doutor Sono”: um grupo de ciganos/bruxos que possui um estranho poder sobrenatural que se alimenta da ‘energia’ das pessoas; uma garota com poderes telepáticos e Danny Torrance (interpretado pelo competente Ewan McGregor), o garotinho de “O Iluminado”, que vive atormentado pelos eventos ocorridos no mal assombrado Hotel Overlook. Há quase 40 anos, Danny e sua mãe sobreviveram a uma tentativa de homicídio por parte do pai, que havia sido possuído por espíritos malignos.
A dinâmica da história é a seguinte: os ciganos matam pessoas, a garota telepata sente as mortes e compartilha todas as informações com Danny, que também desenvolve uma telepatia/mediunidade. Os ciganos percebem que estão sendo ‘vigiados’ e vão atrás da garota que, por sua vez, pede a ajuda a Danny.
“Doutor Sono” parece dois filmes em um. Ao mesmo tempo em que é um trilher com toques sobrenaturais, também é um suspense contemplativo recheado de fan service de “O Iluminado”. O problema é que a junção disso tudo pode não agradar aos fãs do longa de Kubrick. O motivo? O simples fato de o sobrenatural não ser trabalhado da mesma forma como no clássico.
Os tais espíritos malignos do longa original são abstratos e existem, apenas, no imaginário dos personagens, o que gera uma pegada de terror psicológico. Em “Doutor Sono”, o sobrenatural é retratado de maneira inversa, é real para todos, o que faz os novos vilões (mal desenvolvidos, diga-se de passagem) destoarem das concepções vistas na produção de 1980. Com isso, o tal terror psicológico perde força, é pouco crível e não assusta como deveria.
Entretanto, “Doutor Sono” não é 100% decepcionante. Ainda que a interação de poderes sobrenaturais entre os protagonistas seja interessante e de não apressar as ações da trama, o filme é assertivo na contemplação ao clássico de Kubrick. Nesse quesito, o diretor e roteirista Mike Flanagan (“A Maldição da Residência Hill”) fez um trabalho eficiente. As referências são inúmeras, a começar pela fotografia (há semelhanças nas transições sobrepostas, nos movimentos e ângulos de câmera), pela trilha sonora de acordes graves prolongados, pelo ritmo cadenciado e pelas diversas cenas refeitas que se tornaram icônicas. A nostalgia é um fator contagiante, principalmente na meia hora final.
Somente homenagem não é suficiente. Faltou coesão no roteiro para que os eventos fluíssem com uma melhor sintonia. Por isso, “Doutor Sono” perdeu a chance de ser original. Há elementos que poderiam funcionar sem depender de conexões com “O Iluminado”. Ligações que valorizam mais a promoção ao invés da ampliação da narrativa. Infelizmente, o terceiro ato destrói tudo com soluções rasas e com pouco impacto. É uma pena que a desarmonia de ideias tenha desonrado o legado do cultuado clássico de 1980.
A premissa de “Projeto Gemini” é bem legal. O melhor assassino de todos (vivido por Will Smith) decide se aposentar, mas acaba sendo exposto a um segredo que o faz virar o alvo principal da organização em que trabalha. Ele é tão bom e preciso que nenhum outro assassino altamente treinado consegue matá-lo. A solução? Utilizar um clone, uma ‘cópia’ mais jovem do maior assassino, para (tentar) eliminá-lo.
Uma ‘boa premissa’ não é sinônimo de bom filme. Infelizmente, “Projeto Gemini” erra mais que acerta. Os erros não fazem o longa ser execrável, mas torna-o burocrático e pouco criativo. O roteiro desenvolve mal a ideia, ou melhor, as ideias. Uma delas é explorar pouco a potencialidade do tal assassino, cujas habilidades de luta e precisão de tiro beiram a perfeição. Praticamente, há um breve momento de ação para construir esse empoderamento. Vemos o quanto ele é tão bom quando é perseguido pelo clone, mas isso não é o suficiente para se criar empatia. Não há uma jornada para que ele possa demonstrar suas aptidões. Nem o carisma de Will Smith consegue fazer seu personagem ser empolgante. A título de comparação, nesse quesito, John Wick é um acerto inquestionável.
A outra ideia mal explorada é a do clone e todo o contexto que envolve sua criação. Tudo é muito raso, não debate conceitos e o pouco que mostra não convence como deveria. Há um grande potencial desperdiçado. O filme poderia ter sido uma baita ficção científica, mas acaba ficando apenas no ‘tiro, porrada e bomba’. Isso me faz questionar o porquê deste projeto, que seria interpretado por Clint Eastwood e depois substituído por Mel Gibson, ter sido cancelado no final dos anos 90 por ser ‘tecnologicamente impossível’ de ser feito. Se o problema era a limitação dos efeitos visuais da época para rejuvenescer o protagonista em 28 anos, não teria sido melhor Eastwood, por exemplo, contracenar com um sósia? “Cowboys do Espaço”, em 2000, fez isso, utilizou sósias para retratar os protagonistas em fases mais joviais e funcionou muito bem.
Se o texto não funciona bem, pelo menos, duas coisas são bem-vindas: a direção de Ang Lee e a novidade high frame rate (HFR), traduzindo, alta taxa de quadros, que foi divulgada no lançamento do filme. Lee é um bom cineasta. Em 2012, ele ganhou o Oscar de Melhor Diretor por “As Aventuras de Pi”. Na época, ele pegou um roteiro problemático e o transformou em um belíssimo trabalho, principalmente pelo que fez ao retratar a parte do naufrágio que envolve Pi. Em “Projeto Gemini”, ele não teve a mesma sorte. Ainda que proporcione bom ritmo e trabalhe com poucos cortes de câmera nas sequências de ação (há vários pequenos planos-sequências ao longo da projeção), a maioria das cenas criadas é muito simples, carece de complexidade e, em muitas delas, de emoção. O que Lee fez de relevante na produção foi na utilização do tal HFR.
Sejamos francos, o ‘high frame rate’ não é tão novidade assim no cinema. O cineasta Peter Jackson já havia rodado “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, em 2012, em 48 quadros por segundo (um filme tradicional é feito com 24qps – para os leigos, um segundo de filmagem é equivalente a 24 fotos). Ang Lee foi além e fez “Projeto Gemini” com inéditos 120qps, mas, na maioria dos cinemas, o HFR esteve disponível em 60qps apenas na versão 3D para o exibidor utiliza projetores em 4k. A distribuidora Paramount vendeu essa ideia como 3D+.
Que diferença faz esse HFR? As imagens ficam mais nítidas e mais dinâmicas. Fazendo uma comparação com a TV (guardadas as devidas proporções, obviamente), quanto maior a frequência em Hertz (Hz), ou taxa de atualização da imagem, menos ‘motion blur’ ou movimento borrado terá na tela (dê um ‘Google’ aí para entender mais sobre isso).
O HFR nas cenas de ação ficou bastante interessante. Além de possibilitar a utilização de câmeras lentas (poderia ter sido mais utilizada aqui, diga-se de passagem), os movimentos nunca ficam confusos e as cenas ganham mais impacto, mais realismo. Exemplo disso é a boa sequência da perseguição de motos. Ah, sem falar em uma melhora considerável da profundidade do 3D utilizando esse recurso. O ponto negativo é revelar a artificialidade dos efeitos visuais. Embora os efeitos sejam bem aplicados aqui, alguns detalhes podem se tornar perceptíveis. São poucos, mas há determinados momentos que percebemos que há uma ‘maquiagem digital’ no jovem Will Smith.
Claro, não é o HFR que fará o filme ser bom. Isso é apenas uma ferramenta para ajudar na imersão do espectador na história que está sendo contada. Ang Lee acerta no HFR, mas derrapa ao não conseguir se safar se um roteiro ruim. No geral, “Projeto Gemini” é uma sessão da tarde descompromissada, principalmente para aqueles que curtem o estilo de ação ‘gato-e-rato’.
Esqueça, ou melhor, tente esquecer os super-heróis, eles não existem em “Coringa”. Eu sei que será difícil não associar o protagonista e toda a ambientação do longa ao Batman, mas, mesmo assim, é importante deixar de lado o homem-morcego. O que você verá, aqui, são dramas que retratam a origem daquele que foi um cidadão comum e que se tornou um dos mais icônicos vilões das histórias em quadrinhos (da DC Comics).
É importante salientar que “Coringa” é uma releitura do personagem e não faz parte, pelo menos por enquanto, do ‘universo estendido’ da DC Comics no cinema. Segundo os produtores e diretor, é um filme isolado e que não haverá conexão com o atual (e futuro) cenário dos longas baseados nos personagens da editora.
Inclusive, o roteiro do filme não é adaptado de nenhuma obra específica. Seu conteúdo é original e inspirado em inúmeros recortes e fontes, como algumas HQs (“A piada Mortal”, histórias assinadas por Frank Miller, entre outras) e determinados produtos cinematográficos, como “Clube da Luta”, “O Cavaleiro das Trevas” e filmes de Martin Scorsese, em especial “Taxi Driver”, sua maior e notável influência.
A narrativa nos mostra Arthur Fleck já adulto e tentando ganhar a vida com muita dificuldade. Além de conviver com problemas neurológicos por causa de seu passado e de contratempos que enfrenta no trabalho como palhaço, ele ainda tem a incumbência de cuidar sozinho da mãe doente. Como diz o ditado ‘desgraça pouca é bobagem’, Fleck sofre bullying, preconceitos e descaso das autoridades o que faz aflorar, lentamente, a psicopatia que conhecemos.
“Coringa” é um estudo de personagem brilhante e perturbador! Sua subversão mostrada no filme tornou-se polêmica justamente pelo fato de associarem o vitimismo social ao protagonista, o que não deixa de ser uma meia verdade. Fleck sofre de todas as violências, físicas e, principalmente, psicológicas, causadas por seu passado de abusos e por desigualdades políticas e econômicas desencadeadas pelos interesses da sociedade elitista.
Fleck é ‘gente como a gente’ e isso gera uma estranha empatia. Nos identificamos com seu sofrimento, mas, ao mesmo tempo, sabemos o quão implacável e assustador ele se tornará no final das contas. O Coringa se torna um conceito, fruto de uma consequência. É o limbo que alimenta seu sentimento de vingança e anarquia dentro de uma ficção. A violência, inclusive, é inserida de maneira pontual na narrativa.
O longa é otimamente dirigido por Todd Phillips (“Cães de Guerra” e “Se Beber, Não Case!”). Seu trabalho se destaca por proporcionar um equilíbrio eficiente em relação a todos os aspectos do filme, seja visualmente (fotografia), sonoramente (trilha sonora), textualmente (roteiro e edição) e na direção de elenco. Além do ritmo cadenciado, o cineasta investe em uma estética fria, realista e com cores mais escuras, ora desbotadas ora acinzentadas (que ganha coloração em um terceiro ato espetacular) para retratar uma Gotham City com ares sombrios e com atmosfera sempre hostil. Phillips ainda harmoniza a imagem com uma trilha sonora visceral de acordes graves que valoriza a inquietude do personagem.
Falando em personagem, que atuação de Joaquin Phoenix! Sua interpretação nos faz sentir todo o peso dramático que Fleck carrega. A tal empatia, citada anteriormente, também se deve pelo desempenho de Phoenix. Ele nos faz acreditar que Fleck realmente existe. Sua magreza (que passa a sensação de ser frágil), sua expressão corporal, o jeito de seu caminhar e seu comportamento diante do transtorno neurológico, afeto pseudobulbar, que o faz rir de maneira descontrolada (para cada situação há uma risada diferente) são assustadoramente convincentes. Um trabalho impressionante digno de Oscar.
“Coringa” é um exercício de gênero diferente dentro do universo de super-heróis que estamos acostumados a ver. O filme poderia funcionar perfeitamente sem que houvesse conexões com Batman (há boas e inacreditáveis reviravoltas, diga-se de passagem). No entanto, que graça teria se não existisse o Coringa para antagonizar o homem-morcego?
“Ad Astra”, cujo significado em latim é basicamente o subtítulo que o longa ganhou no Brasil (para as estrelas), é uma ficção científica para poucos. Para se ter uma ideia do que o espectador encontrará, o filme tem a simplicidade estética e a qualidade sonora que remete a “Gravidade”, a busca pela sobrevivência lembra “Interestelar”, há um conflito psicológico a lá “Apocalipse Now” e o ritmo lento e a essência filosófica da narrativa faz referência a produções como “Solaris” e “2001 - Uma odisseia no espaço”. Apesar de ser bem menos complexo em relação aos dois últimos longas citados, “Ad Astra” utiliza a imensidão do universo para passar uma mensagem familiar que é maior do que imaginamos.
Roy McBride é o astronauta mais bem preparado da SpaceCom. Após misteriosos flashes espaciais ameaçarem a vida dos seres humanos, Roy é recrutado para uma missão no intuito de desvendar os tais eventos e resgatar seu pai Clifford McBride, que pode estar por trás de tudo isso. Clifford, inclusive, está em uma base espacial desaparecida a anos após comandar o desastroso Projeto Lima, que visa procurar sinais de vida alienígena no espaço.
O longa apresenta uma temática grandiosa, porém com uma estética mais simplista, pouco futurista, ou melhor, menos fantasiosa. A concepção do design de produção parece estar mais próxima do que conhecemos hoje, no presente, do que pensamos ser no futuro. Claro, como se trata de uma ficção científica, há vislumbres de futurismo, como a gigantesca ‘torre espacial’ com suas bases cravadas na Terra e as estações lunar e marciana, cenários da jornada do protagonista. Há uma tecnologia evoluída, mas ela nunca rouba a cena.
Essa ideia de ser pouco fantasiosa é trabalhada de maneira brilhante pelo diretor James Gray (“Z: A Cidade Perdida”). O cineasta concede um visual minimalista ímpar, imprime um ritmo frio e cadenciado e dirige ações pontuais ao longo da projeção para quebrar a lentidão narrativa. Há, pelo menos, três ótimas sequências mais movimentadas que farão o espectador se agarrar de tensão na poltrona. Além disso, salvo as licenças poéticas, o longa obedece alguns conceitos científicos da física e não apela para a complexidade relativista, como aquelas que vimos em “Interestelar”, por exemplo. Isso traz certa leveza ao roteiro e faz o público absorver mais a história que está sendo contada (é o que mais importa) ao invés de focar no didatismo científico sobre a verossimilhança das ações.
A grande virtude de Gray em “Ad Astra” talvez seja a harmonia que ele proporcionou em todos os aspectos do projeto. Prova disso, é o seu domínio na utilização da excelente parte técnica. A edição, os efeitos visuais, a cinematografia, a engenharia de som (em especial, a mixagem) e, principalmente, a espetacular trilha sonora são os propulsores da imersão do espectador ao filme. O silêncio é preenchido com acordes hipnotizantes do compositor Max Richter.
É impressionante o resultado disso tudo. A sensação é de que estamos flutuando junto com o protagonista. Claro, outro fator que agrega na regularidade da produção é a atuação irretocável de Brad Pitt. O desempenho minimalista do ator está em uma perfeita sintonia com a proposta do filme. Pitt transborda talento ao ‘dizer muito com pouco’ em meio ao silêncio e a solidão do espaço.
A narrativa demonstra ter alguma ambição, mas quando as ações afunilam para o clímax há um intimismo que freia a expectativa daqueles que esperam uma grande reviravolta. Apesar de soar negativo, esse tom intimista nos faz refletir sobre a discussão familiar presente em todo o longa (o filho em busca do pai) e mostra que os sentimentos são mais grandiloquentes que a missão do Projeto Lima ou da própria exploração do espaço sideral. Muitas vezes, barreiras internas do ser humano podem ser mais desafiadoras e importantes do que um desbravamento espacial.
Enfim, “Ad Astra” é uma ficção científica grandiosa que valoriza mais a ‘contemplação’ que o ‘movimento’. Não tem a complexidade de produções icônicas do passado, mas é um ótimo exemplar do gênero para os tempos atuais. Um espetáculo visual que, embora seja recomendado para a minoria por causa de sua vagarosidade, merece ser apreciado. Oscar? Eu ouvi indicações ao Oscar?
O diretor Danny Boyle nunca foi de se aventurar no gênero da comédia. Tudo bem que a maioria de seus filmes possui humor, mas não são considerados comédias, de fato. Talvez, “Por uma vida menos ordinária” tenha sido, até então, o único título cômico do cineasta. Agora, com “Yesterday”, Boyle aumenta seu repertório no gênero em um filme leve e com uma premissa genial.
Se a banda The Beatles não existisse, como seria? Essa é a ideia do roteiro que brinca com a não existência do quarteto de Liverpool e do efeito dominó que isso causa sobre suas influências na cultura pop.
Essa brincadeira afeta um (frustrado) aspirante a músico. Após sofrer um acidente, Jack acorda no dia seguinte e descobre que a famosa banda nunca existiu. Somente ele tem conhecimento do grupo musical e, também, de suas icônicas canções. Diante disso, ele aproveita para lançar as famosas músicas dos ‘besouros’ como se fossem suas para alavancar sua tão sonhada carreira e ganhar fama. Entretanto, todo esse cenário e o conflito de dilemas podem trazer consequências desagradáveis para Jack.
O roteiro equilibra pontualmente os momentos dramáticos e cômicos vividos pelo protagonista. A ideia da inexistência de The Beatles gera inúmeras situações interessantes e divertidas que contagiam o público. Ainda que tenha discussões convencionais relacionadas ao preço da fama, o problema é a subtrama romântica que fica cada vez mais deslocada com a aproximação do clímax. Ao final, a empolgação criada pela narrativa pode frustrar aquele espectador que espera ‘aquela’ reviravolta que não acontece, não surpreende. Fica a sensação de que o potencial da premissa foi desperdiçado em uma conclusão vazia, previsível e politicamente correta.
Apesar disso, os primeiros dois atos são suficientes para que o espectador crie simpatia com o filme. Claro, a excelente seleção de músicas de The Beatles (o título é uma menção a uma delas) e a maneira com que elas foram executadas pesam bem a favor desse veredito. Bom trabalho de mixagem som, diga-se de passagem!
“Yesterday” é uma comédia despretensiosa, bonitinha, bem interpretada (destaque para Himesh Patel, Lily James e Joel Fry) e de humor rasteiro agradável. Tecnicamente, é bem feita, só não espere tanto do estilo frenético consagrador de Danny Boyle. Mesmo assim, o diretor ainda deixa um pouco de sua assinatura ao utilizar enquadramentos assimétricos e diagonais e rápidos movimentos de câmera em determinadas cenas.
Longa é a nona produção dirigida e roteirizada por Quentin Tarantino. Segundo ele, o penúltimo de sua carreira antes de se ‘aposentar’ (será?). “Era uma vez em... Hollywood” é um dos filmes mais simples e um dos menos ousados do cineasta. Mesmo assim, é uma obra competente, muito bem filmada e otimamente interpretada.
A narrativa é, na verdade, uma sátira que homenageia os bastidores de Hollywood no final dos anos 60. Assim como fez em “Bastardos Inglórios”, Tarantino reinventa situações utilizando cenários reais. Prova disso é quando a história dos protagonistas (o ator Rick Dalton e seu dublê Cliff Booth) se cruza com a atriz Sharon Tate, esposa do diretor Roman Polanski, que, na vida real, foi assassinada pelo famoso psicopata Charles Manson.
Apesar da simplicidade do enredo, “Era uma vez em... Hollywood” traz a qualidade cinematográfica exigida pelo diretor: ótimos diálogos, roteiro bem humorado recheado de (auto)referências a outras produções, ritmo cadenciado, trilha sonora harmoniosa e muita entrega do elenco. Destaque para as atuações dos carismáticos Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, ambos estão em uma ótima sintonia.
Como o filme retrata os bastidores da indústria do entretenimento estadunidense, ainda há espaços para os bons momentos de metalinguagem. É o cinema mostrando ele mesmo com boas doses de nostalgia. A nostalgia, inclusive, é bem fotografada. Há alguns planos-sequências e muitas tomadas com câmera estática que valorizam a excelente reconstituição de época.
No final das contas, ainda que tenha faltado uma abordagem mais aprofundada dos hippies, que são retratados de maneira bem caricata, “Era uma vez em... Hollywood” contempla os profissionais que fazem funcionar as engrenagens do cinema e da televisão, vide o violento clímax que metaforiza o assunto de forma espetacular. Sem eles no backstage, os atores não seriam celebridades, mesmo sendo fantásticos em cena e ocos longe das câmeras.
As primeiras imagens desta versão live action (?) de "O Rei Leão" são espetaculares! O visual dos trailers promocionais é incrivelmente belo e realista. Parecem, inclusive, cenas de algum episódio sobre a vida selvagem exibidos nos canais da TV a cabo, tais como Animal Planet, Discovery Channel e National Geographic. Se a ideia é conquistar o público pela primeira impressão, isso foi um tiro certeiro.
Para os fãs da animação 2D dos anos 90, fiquem tranquilos! A história (e seus toques shakespeariano) não foi, essencialmente, alterada. Ainda que tenha quase 30 minutos a mais de duração em relação ao desenho, o filme é um repeteco do que conhecemos e, portanto, não se trata de uma releitura da fábula. Claro, como é uma adaptação, algumas coisinhas sofreram mudanças/inserções ou contextualizações para que certos detalhes tenham coerência em relação a proposta de ser, digamos, 'realista'. Até os números musicais são os mesmos e contextualizados com novas vozes.
O problema da produção fica por conta da falta de expressividade dos personagens. Com o hiperrealismo do visual, os trejeitos faciais ficaram mais contidos, mais frios. Com isso, o filme perde dramaticidade na interpretação. As emoções são expressadas de maneira tímida, como leves movimentos na musculatura da boca ou movimentações corporais que imitam o comportamento natural dos animais. As manifestações sentimentais ficam mais evidentes por causa da entonação da dublagem dos atores (todas as vozes originais estão ótimas, diga-se de passagem). Sem uma harmonização com a imagem, apenas a voz não é suficiente para proporcionar o carisma ideal que cada personagem merece.
Apesar disso, essa estranha impressão de ver animais 'de verdade' falando ou cantando sem expressar emoção não afeta tanto para quem se encantou com a magia e o traço caricato do clássico. Falando em emoção, essa sensação é proporcionada pelas boas execuções das canções e pela ótima trilha sonora, também contextualiza, de Hans Zimmer. O compositor, inclusive, levou o Oscar na categoria ao assinar as músicas da animação de 1995. Há cenas que dão bons arrepios, principalmente aquelas que sugerem a imponência leonina. Isso acontece devido ao uso pontual da ótima música de Zimmer.
E aí, vale a pena? Claro que vale, especialmente pela estética apurada deste ‘live action’ sem humanos. Calma aí, live action? O filme é vendido assim, mas é meio que enganoso. Todo o processo de gravação foi em realidade virtual e com acabamentos de CGI (efeitos gráficos) e de animação 3D computadorizada. É um trabalho ímpar de fotorrealismo que pode ser revolucionário para as produções futuras (cheiro de Oscar 2020 no ar?). Os detalhes de pelos dos mamíferos, os insetos e o movimento da musculatura dos animais são incríveis!
Diria que tudo em "O Rei Leão" é uma evolução de "Mogli - O Menino Lobo", ambos dirigidos pelo competente Jon Favreau. "Mogli", certamente, serviu de laboratório para Favreau realizar esta nova versão da icônica animação que encantou a todos nos anos 90. O diretor utilizou as tais quase 'meia hora a mais' para esticar diversas cenas, valorizar as belas paisagens bucólicas e espetacularizar as boas sequências de tensão. Além disso, Favreau homenageia, a todo instante, a obra original com enquadramentos semelhantes.
A magia do desenho é insubstituível e marcante. Neste novo "O Rei Leão", a magia é proporcionada pela tecnologia que deixará o espectador deslumbrado pela extraordinária parte técnica.
Se você acha os filmes da saga "Velozes & Furiosos" exagerados é porque você não viu este derivado da franquia "Hobbs & Shaw". A produção, estrelada e produzida por Dwayne Johnson e Jason Statham (ambos reprisam seus personagens), ignora qualquer regra da física nas sequências de ação. Apesar disso, o longa é muito divertido!
"Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw" é absurdo ao extremo. Só não é ruim porque nada é levado a sério. Isso fica claro desde o início quando a pegada galhofa toma conta da atmosfera que contorna o filme. Portanto, recomendo desligar o cérebro por duas horas para que o entretenimento funcione.
Ser despretensioso é a melhor coisa que o roteiro oferece. Isso beneficia o carisma dos protagonistas que destilam diálogos ácidos e engraçadíssimos. Quem conhece, já sabe que os personagens se odeiam. Mas, como diz o ditado: 'os opostos se atraem'. Nada melhor que o humor e suas inúmeras gags situacionais (as disputas de comparações entre eles são as melhores) para fazer essa fusão de forças.
Sim, galhofa! Tudo é em tom de brincadeira. Inclusive, o filme parece uma comédia de ação dos anos 90. E brincar com 200 milhões de dólares de orçamento nas mãos pode ser bastante divertido. Foi o que fez o diretor David Leitch ao aliar muita grana com sua experiência em comandar cenas de ação mirabolantes. Não é atoa que ele é uma das atuais referências do gênero ao lado de Chad Stahelski, ambos dirigiram o primeiro "John Wick". Depois, o cineasta se aventurou em "Atômica" e "Deadpool 2".
Ainda que não sejam marcantes, as sequências em "Hobbs & Shaw" são espalhafatosas e, muitas vezes, ilógicas, mas sempre bem dirigidas. A boa direção de Leitch faz a diferença. Há bom uso de câmeras lentas, o senso de escala é bem trabalhado e a edição, embora tenha momentos frenéticos, não prejudica a geografia das cenas (nada fica confuso). Além disso, os efeitos visuais são eficientes e contribuem para que o exagero fique bem feito. A absurdidade é tão grande que tudo se torna cômico e aceitável.
Ah, sim, a história. Hobbs e Shaw são convocados por suas agências para deter Brixton (bem interpretado por Idris Elba), um anarquista geneticamente aprimorado que está atrás de uma arma biológica perigosa que pode alterar a humanidade para sempre! Ah... outra parte legal do roteiro é mostrar um pouco da origem dos personagens. Atente para algumas participações especiais durante a projeção.
Se fizer dinheiro nas bilheterias, pode ter certeza que "Hobbs & Shaw" ganhará uma continuação. Se isso acontecer, Dwayne Johnson e Jason Statham adorariam ter uma franquia longe de Vin Diesel, não é mesmo? Quero o próximo desafio no espaço, pode ser? (rs...)
Filmes que retratam fatos verídicos, com realismo, me remetem a dois bons diretores: Peter Berg e Paul Greengrass. Na verdade há mais Greengrass que Berg no ótimo “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, do estreante Anthony Maras. Certamente, o cineasta e roteirista australiano bebeu da mesma fonte que as figuras citadas para retratar o atentado terrorista ao luxuoso Hotel Taj Mahal em Mumbai, uma das maiores (se não a maior) cidade da Índia.
O episódio, ocorrido em 2008, deixou 166 mortos e centenas de feridos em diversos locais da cidade em um ataque comando por uma célula islamista. Somente no hotel, 31 vidas foram eliminadas durante as 60 horas de terror. Para contar a história do trágico acontecimento, o roteiro foca em algumas pessoas que realizaram pequenos atos heroicos, como o renomado chef Hemant Oberoi e o garçom Arjun, ambos otimamente interpretados por Anupam Kher e Dev Patel, respectivamente.
Dentre as vítimas, cinco eram dos Estados Unidos. No filme, o ator Armie Hammer faz o papel do estadunidense que precisa salvar a vida de seu filho recém-nascido. Inclusive, até o final de 2018, os norte-americanos haviam atualizado a recompensa de 10 milhões de dólares pela detenção dos organizadores dos atentados.
O diretor Anthony Maras consegue proporcionar uma eficiência técnica semelhante ao que Greengrass fez em alguns de seus longas, como “Vôo United 93” e “Capitão Phillips”. A fotografia imprime um tom documental assertivo. Além disso, a câmera inquieta, o ritmo ágil, a fidelidade das locações, a atmosfera claustrofóbica e o uso de imagens de notícias reais em televisões de fundo valorizam o suspense. A ação crua e a hostilidade sanguinolenta dos terroristas também colaboram para que o filme tenha boas doses de tensão. Talvez tenha faltado uma trilha sonora melhor, para que as situações ficassem ainda mais emocionantes.
Sabemos o que aconteceu, mas não sabemos como aconteceu. Essa é a prerrogativa convencional que o roteiro utiliza para chamar a atenção do espectador e jogar na tela peculiaridades do atentado, sejam representações fidedignas ou fictícias que ajudam a dar dramaticidade ao longa. Exemplo disso são questões religiosas e financeiras sutilmente abordadas ou até a possível retratação da condição de pobreza de um dos personagens que, apesar das dificuldades, é honesto e convicto de suas crenças.
O sentimento de heroísmo é coletivo entre os funcionários do hotel. Embora estejam atordoados e preocupados, a maioria dos empregados não perde a elegante postura profissional (ou ‘gourmet’) de ajudar e servir os hospedes. Isso proporciona empatia e emoção no clímax do filme. Claro, não sobram críticas às autoridades locais. É impressionante como há falta de infraestrutura em segurança na cidade indiana.
Enfim, “Atentado ao Hotel Taj Mahal” é uma ótima pedida de suspense para quem curte longas baseados em tragédias reais. Certamente, Anthony Maras é um dos destaques positivos da nova safra de cineastas australianos. Outro diretor do país que ganhou notoriedade recentemente foi Garth Davis, responsável pelo espetacular “Lion: Uma Jornada para Casa”.
"Homem-Aranha: Longe de Casa" não é ruim, mas, dependendo do ponto de vista, pode ser uma experiência frustrante. Para quem não assistiu ao trailer, o filme entrega o que promete, uma aventura de tom adolescente para se divertir em uma sessão da tarde despretensiosa. Já para quem ficou animado com o trailer, o longa pode deixar a desejar, principalmente para os fãs do MCU (traduzindo, Universo Cinematográfico da Marvel).
Como projeto, Homem-Aranha é o filme que finaliza a fase 3 da Marvel no cinema. Como narrativa, o ‘gran finale’ foi, de fato, em "Vingadores: Ultimato".
E isso pode gerar alguma frustração no público que anseia por novidades sobre o futuro dos heróis nas telonas. Quem viu os trailers perceberá que quase nada do MCU avança. Talvez, somente as duas cenas pós-créditos trazem algum vislumbre do futuro, o que é muito pouco para quem estava com altas expectativas.
Vamos ao filme. Peter Parker retorna para a escola e volta a lidar com seus ideais e, claro, problemas que todo adolescente enfrenta na vida pessoal. Além disso, Parker ainda carrega a dor da perda de Stark, que salvou o mundo em "Ultimato". Em uma excursão escolar pela Europa, ele se depara com novas ameaças, os Elementais, e um novo herói, nomeado de Mysterio, que se une a Nick Fury para combater as tais criaturas feitas de água, terra, vento e fogo. Com muito custo, Fury consegue recrutar Parker para ajudar o misterioso paladino.
Analisando como ‘copo meio cheio’, há virtudes peculiares referentes à Marvel Studios, como as conexões coerentes com outros longas e a manutenção da velha cartilha utilizada em todos os filmes. As consequências do estalo de Thanos são repercutidas aqui, a falta de Tony Stark é sentida durante toda a projeção, as motivações de Mysterio estão bem contextualizadas, easter eggs e referências aos montes sobre o MCU e, claro, participações de personagens conhecidos, como Happy e Nick Fury.
Novamente roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers e dirigido por Jon Watts, todos trabalharam juntos em "De volta ao lar", o longa investe em um tom bem adolescente. Com isso, espere a retratação de diversas peculiaridades do ‘cabeça de teia’, como sua personalidade meio atrapalhada para resolver problemas, sua timidez aparente no interesse amoroso com MJ e os conflitos na transição de sua maturidade como um inocente garoto e a responsabilidade de um herói. Tudo isso é banhado por um humor rasteiro que não está tão em sintonia como deveria. Algumas passagens cômicas funcionam, mas a maioria parece estar deslocada na narrativa, infantilizando diversas quebras de texto (é até mais infantil que "De volta ao lar").
As melhores piadas (principalmente as situacionais) aparecem na primeira metade da projeção que, inclusive, é a melhor parte do filme. Há bom ritmo e um desenvolvimento interessante da trama. Entretanto, quando ocorre a primeira grande reviravolta, a partir da segunda metade, o longa passa a dar mais espaço ao seu antagonista. A partir daí, tudo que acontece até a conclusão pode não convencer os mais exigentes.
Ainda que tudo pareça estar encaixado, o plot twist e suas resoluções não empolgam tanto. Nada tenho a reclamar da competente parte técnica e do bom elenco (o carismático Tom Holland está ótimo assim como Jake Gyllenhaal que está muito bem como Mysterio – talvez a ressalva seja para Zendaya, que está meio ‘sem sal’). Mas, como disse, somente as ótimas cenas pós-créditos trazem alguma novidade.
Com o "Ultimato" ainda fervendo na mente dos espectadores, o marketing de "Homem-Aranha: Longe de Casa" é quase enganoso. Por isso poderá haver frustrações por parte do público pelo fato de o filme prometer algo e não entregar (ahhh trailer @#$%&).
Como disse Galvão Bueno na Copa do Mundo de 1994: "Acabôoo, é tetraaa"! Sim, meus amigos, a saga dos "X-Men" (e seus derivados) nos cinemas acabou... por enquanto. Foram 19 anos e 13 filmes produzidos pela Fox, sendo sete deles comandados pela trupe do Professor Xavier, três longas sobre Wolverine, duas produções protagonizadas por Deadpool e um que já está pronto há muito tempo ("X-Men: Novos Mutantes", outro proveniente desse universo), mas seu lançamento foi adiado inúmeras vezes e ainda há uma previsão de estreia para 2 de abril de 2020.
"Fênix Negra" faz parte da 'narrativa principal' dos mutantes nas telonas e que 'apagou as luzes e fechou a porta' desse universo cinematográfico. É o quarto (péssimo trocadilho com o 'tetra' acima, me desculpem) da nova série de filmes sobre mutantes da Marvel que foi reiniciada em "Primeira Classe", com um elenco carismático estrelado por James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult.
"Fênix Negra" não é abominável como dizem. Embora tenha lá seus defeitos, o longa é 'OK', divertidamente assistível, ou melhor, uma boa sessão da tarde. Convenhamos, nenhum longa sobre esses mutantes conseguiu ser espetacular como merecia, de fato. No entanto, cinco deles são muito bons: os dois primeiros, "Primeira Classe", "Dias de um futuro esquecido" (sim, eu gosto!) e "Logan".
A verdade é que a saga dos "X-Men" no cinema foi uma bagunça em sua linha temporal. Quanto mais mexiam na tentativa de alinhar os fatos mais atrapalhavam as conexões narrativas. E o pior, muitas produções não obedeciam a determinados critérios para que a linha temporal tivesse alguma coesão. Isso contribuiu para o desinteresse do público. "Dias de um Futuro Esquecido" tentou consertar e conseguiu em partes, mas não foi satisfatório como um todo. Outra crítica pertinente à saga é o contexto social metafórico sobre a existência dos mutantes, sempre explorado de maneira rasa e aqui não é diferente.
"Fênix Negra", como disse, não é execrável, embora seja convencional (qual não é?). Não dá para esperar tanto de uma franquia que nunca entregou um produto de excelência sobre os mutantes. Por isso, prefiro avaliar o filme com a perspectiva (apenas cinematográfica, sem entrar do mérito e na importância da Fênix Negra das HQs) do 'copo meio cheio'. Apesar de muitas falhas, há alguma qualidade neste último episódio dos X-Men. A premissa não é de se jogar fora, tem algum potencial, mas...
A narrativa foca na personagem Jean Grey e em Charles Xavier no primeiro ato. No segundo, o assunto é a nova ameaça clichê de 'destruição do planeta'. No terceiro, 'a união faz a força' e... você verá.
Todos já sabemos que Jean conseguiu atingir o ápice de seu poder transformando-a na Fênix Negra ao derrotar o vilão Apocalypse no longa anterior. Em uma missão de resgate a um ônibus espacial fora da Terra, Jean absorve uma poderosa energia cósmica que tem capacidade de ampliar seus poderes, mas, também, deixá-los descontrolados. Com isso, ela se torna uma ameaça a todos.
O que uma boa e velha história faz? Coloca a heroína em um drama existencialista que a obriga a lidar e superar seus problemas. E é isso que o roteiro faz ao retratar o passado da protagonista e ao mostrar a influência duvidosa de Charles em sua vida.
Em determinado momento, Charles é tratado como um antagonista e é o responsável por moldar a personalidade ameaçadora de Jean. Ela deixa os X-Men em busca de verdades sobre seu passado e, paralelamente a isso, extraterrestres, que monitoravam a tal energia cósmica, procuram-na por acreditarem que a mutante seja a chave para viabilizar um plano catastrófico para a humanidade. Todos estão à sua busca, seja para explicar um 'mal entendido' ou para ser manipulada e utilizada como uma poderosa arma capaz de destruir o planeta inteiro.
O primeiro ato é muito bom. Os X-Men, enfim, se tornam 'amigos de todo o mundo', em especial do governo norte-americano. São respeitados e tratados como heróis. No entanto, toda essa paz se desmorona com a hostilidade de Jean. E aí começam os problemas de roteiro. Algumas decisões textuais soam infantis. Além disso, há inconsistências dramáticas e argumentos repentinos nas transições de ações/reviravoltas. Tudo isso faz com o que roteiro seja frágil, com passagens mal desenvolvidas e com desperdício de personagens (Mercúrio e Magneto, por exemplo, tem pouca presença de cena).
Essas falhas de roteiro não são novidades nesse tipo de filme. A maioria deixa a desejar nesse quesito. O que faz isso não ser tão grave é uma boa direção que, aqui, infelizmente, é pecaminosa. Simon Kinberg, que dirige e roteiriza "Fênix Negra" (também escreveu os dois últimos X-Men), é burocrático. Ele desenha boas cenas, há ideias interessantes, mas não consegue realizá-las com criatividade. O uso de câmeras lentas não impressiona. Falta vigor, ambição, descontração.
A melhor cena é aquela que abre o longa e é bem competente, diga-se de passagem. A trilha sonora de Hans Zimmer contribui para que essa sequência tenha impacto positivo. Falando nisso, a trilha de Zimmer é a melhor coisa que tem em toda a projeção e é uma importante ferramenta que ajuda no ritmo de quase tudo. O problema é que só a trilha não faz milagre.
No final das contas, tudo termina sem o 'gosto de quero mais' e uma estranha incerteza de definir se o filme é ruim ou bom. Pelo menos é melhor que "X-Men 3", outro longa, como "Fênix Negra", que teve seu potencial desperdiçado. Tá bom, tenho que decidir, né... apesar das críticas aparentemente duras, é legalzinho!
O futuro dos X-Men nos cinemas vai depender da Disney, que comprou a Fox por um valor bilionário e adquiriu os direitos de utilizá-los nas telonas. E como o Mickey é, também, o dono da Marvel Studios, fica a esperança de ver os X-Men participando do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) ao lado dos Vingadores e, claro, sendo comandado por pessoas mais qualificadas que adaptem as HQs de Jack Kirby e Stan Lee com a excelência que os mutantes merecem.
Ahhh Pixar! Você dificilmente erra. Aliás, ainda não errou. Talvez os longas menos prestigiados - que tem lá seus defeitos, mas não são ruins - sejam “Carros 2 e 3”. Quando eu achava que a saga dos famosos brinquedos que ganham vida já tinha se encerrado brilhantemente em sua terceira parte, vocês me aparecem com “Toy Story 4”. É... vocês conseguiram novamente!
O quarto longa de Woody e sua trupe é tão fantástico quanto seus antecessores. Todos os quatro filmes seguem a mesma cartilha moral na narrativa. O primeiro mostra o drama de um brinquedo que tem medo de ser trocado por outro mais novo. O segundo mostra uma jornada de autoconhecimento de Woody ao ser sequestrado por um colecionador de brinquedos. O terceiro entra de cabeça em questões familiares e na compreensão de valores enquanto brinquedo aliando a despedida e a aceitação de novos ‘donos’.
Em “Toy Story 4” mostra o amadurecimento por completo do cowboy em uma jornada especial: resgatar o novo ‘amigo’ de sua dona e fazer com que ele saiba a sua importância como brinquedo. Assim como nos outros longas, há uma repetência na aventura (resgate e ‘volta para casa’), em alguns diálogos e na discussão de valores. Isso, no entanto, não se torna cansativo devido ao macro ambiente estabelecido pelo roteiro. A cada nova animação, a geometria dos eventos é ainda maior e com cenários mais desafiadores (vide o parque de diversões e o sombrio antiquário). É a velha receita feita de uma forma diferente, mas que resulta no mesmo e delicioso produto de sempre.
Desta vez, a trama fica estritamente centrada em Woody e no Garfinho, o novo brinquedo que servirá de inspiração para uma nova e bela lição. Buzz e os outros brinquedos são meros coadjuvantes, porém com alguma relevância nos acontecimentos do enredo. Vemos em Woody uma figura completamente madura e sabendo lidar com os conflitos coletivos que teve nos longas anteriores. Mesmo assim, com a ajuda de uma importante personagem (que representa a parcela ‘girl power’ do filme), ainda resta um espaço em seu interior para se discutir outros valores e atribuições.
Os temas também se repetem, porém continuam importantes, como a união, o respeito, fazer o bem, a compreensão de mundo e a missão como brinquedo (criar memórias na infância da criança), entre outros. Entretanto, o roteiro dá prioridade a novos conteúdos, como sacrifício, cumplicidade, a importância do acolhimento e sua inserção social, a busca da felicidade, do amor e a realização de um sonho.
O que faz a Pixar ser assertiva nesta quarta aventura é que tudo é bem amarrado e bem feito mesmo sendo repetitivo na maioria de seu material. A visão de mundo dos personagens e suas humanizações são tratadas com sensibilidade e dramaticidade inquestionáveis. Isso proporciona empatia e emoção (e como tem emoção!). Aliado a isso, há vários e divertidos easter eggs (sejam eles brinquedos nostálgicos ou referências a outros filmes da franquia) e um bom humor equilibrado que agradam crianças e adultos.
Por fim, vale mencionar o visual de cair o queixo! A qualidade técnica da animação impressiona, principalmente nas texturas, seja nos brinquedos, na paisagem, nos objetos em cena ou nos ‘cenários externos’. Há momentos que tudo parece ser real e só damos conta que se trata de animação quando aparecem os traços cartunescos dos seres humanos. Além disso, a luz está mais vibrante aqui, com muitos tons coloridos em harmonia, o que deixa o longa ainda mais bonito de se ver.
É Pixar, você conseguiu mais uma vez! Não sei se “Toy Story 4” finalizou um ciclo e reiniciou outro, mas só sei que se tiver uma quinta parte vou estar no cinema para prestigiar, seja com velhos ou novos brinquedos.
"MIB: Homens de Preto - Internacional" possui uma coisa legal: em cada parte do mundo há uma agência de vigilância e controle de extraterrestre na Terra. Sendo assim, a narrativa aborda a 'filial' de Londres onde vemos outra dupla de agentes que terá a missão de salvar o planeta de ameaças externas.
Até aí, tudo 'Ok', já sabemos que estamos diante de um quarto filme da franquia com um conteúdo 'mais do mesmo'. Entretanto, esse clichê é mal trabalhado. Não se trata se a história é boa ou ruim ou se as atuações são convincentes ou deixam a desejar. O problema está nas decisões por trás do 'neuralizador', digo, câmeras.
"MIB" não é para se levar a sério. Não podemos exigir tanto dos elementos fantásticos e da premissa clássica de 'salvar o mundo' que existem para divertir o espectador. Apesar disso, esse universo e suas minúcias absurdas ainda funcionam, como as novas engenhocas, os novos alienígenas bizarros (e outros fofos), os exageros das cenas de ação, entre outras coisas. O que não funciona é o fraco roteiro, que desenvolve mal determinadas situações, e a direção ruim de F. Gary Gray, que não consegue dar ritmo e criatividade ao longa.
Uma das ferramentas cinematográficas que inicia o processo de convencimento do público sobre a trama é o roteiro. É ele quem vai, digamos, atrair outras peças para que o diretor faça uma montagem harmônica das engrenagens com a finalidade de se contar uma boa história nas telonas. Como isso é percebido? De um modo geral e resumido, é por meio de diálogos e pela exposição de situações definidas que devem acontecer em tela. As decisões dessas características afetam os rumos da narrativa, sejam eles coerentes ou não.
Diálogos confusos ou com excesso de exposição, o humor e seu encaixe no texto, personagens mal/pouco desenvolvidos e pequenas reviravoltas repentinas ('Deus ex-máquina') que ditam as ações dos protagonistas são alguns dos problemas recorrentes de roteiros ruins. Esses aspectos soam como deméritos em "MIB: Homens de Preto - Internacional". Se o roteiro não ajuda, a direção deve ter uma autonomia para contornar as adversidades.
E o diretor, como faz para melhorar o filme? Trabalhando em conjunto com o montador para cortar diálogos ou eliminar cenas desnecessárias ou deslocá-las dentro da linha narrativa e fazer alterações no texto de algumas cenas sem fugir da ideia principal do roteiro. Dependendo de como foram feitas as intervenções, o diretor pode proporcionar um ritmo mais dinâmico, qualidade que faltou aqui nos atos finais.
Ahhh, claro, o mais importante: criatividade. Além de ser primordial para os processos citados anteriormente, ser criativo no desenvolvimento do visual e nas sequências de ação podem abafar a ruindade do script. Entretanto, F. Gary Gray não obteve êxito nesse quesito. O primeiro terço do longa é bem objetivo e divertido. No entanto, à medida que o filme avança, a direção parece perder a harmonia de quase tudo resultando em longa arrastado, com emoção nula e com cenas de ação pouco empolgantes.
O que dá certo no filme? As poucas referências aos longas anteriores são sempre bem vindas, duas ou três piadinhas funcionam e a dupla de protagonista não decepciona (apesar de achar que Will Smith e Tommy Lee Jones são mais afinados). Falando nisso, os carismáticos Chris Hemsworth e Tessa Thompson reeditam a parceria que foi sucesso em "Thor: Ragnarok".
E os efeitos visuais? Há uma oscilação de verossimilhança e artificialidade, mas, no geral, os efeitos não chegam a ser um problema. Acerta mais do que erra.
Enfim, esse novo "MIB" é o mais descartável dentre os antecessores. Parece que foi feito as pressas para aproveitar a moda de 'expansão de universos cinematográficos'. Os produtores perderam a chance de revitalizar a franquia e prepará-la para um crossover com os personagens dos filmes anteriores. Já imaginou? Seria legal demais! Contudo, não coloque o óculos escuro e olhe direto para a parte superior do neuralizador. Preste a atenção... 3, 2, 1... "MIB: Homens de Preto - Internacional" não existe, o que você viu foi apenas uma boa ideia que colocaram na sua cabeça.
"John Wick" se tornou a melhor referência do gênero ação nos últimos anos. É o 'cinema pipoca' quase perfeito, principalmente por ser bem trabalhado. O primeiro, nominado no Brasil como "De volta ao jogo", fascina por sua simplicidade textual e nos excelentes momentos de pancadaria. Os dois longas subsequentes aumentam a dose de violência, aprimora a plasticidade das cenas, melhoram a qualidade cinematográfica na execução das coreografias e se destaca por apresentar um universo 'underground' de assassinos que nos faz interessar por tudo que vemos.
John Wick, um respeitado assassino profissional, decide se aposentar para viver uma vida normal ao lado de sua esposa. Ao falecer em função de uma doença, ela deixa de presente para seu marido um cachorrinho para lhe fazer companhia. Em um belo dia, 'arruaceiros' roubam o seu carro e mata o presente deixado por sua esposa, forçando-o a 'voltar ao jogo'.
Um dos 'arruaceiros' é o filho do chefe da máfia russa nos Estados Unidos. John Wick caça o rapaz, provoca toda a cúpula da tal máfia, mata o delinquente russo e consegue sua vingança. Entretanto, sua intenção também gera uma caçada dos russos por sua cabeça o que provoca uma série de ações. No fim das contas, Wick extermina quase toda a máfia russa, adota um novo cachorro e 'vence' a parada.
O argumento é simples, é bom e de arco dramático redondinho. Aliado a isso, temos um filme de pancadaria de respeito que investe em coreografias de lutas bem feitas (assim como a edição dessas cenas), bons tiroteios, tiros à queima roupa e violência caricatamente extrema. A verossimilhança é um trunfo e isso cativa o espectador. "De volta ao jogo" é estiloso e John Wick se torna um anti-herói carismático ao aliar amor e vingança como ponto de inspiração para suas ações. Além disso, há todo um interessante cânone sobre assassinos profissionais que é mostrado como pano de fundo e que ganha mais força no segundo filme.
Em "John Wick: Um novo dia para matar", o famoso matador espera se aposentar de vez, tranquilo... só que não. Um mafioso italiano o procura para lhe cobrar uma promissória, um pacto de sangue que Wick havia feito por ter sido beneficiado por algum motivo no passado. Essa dívida obriga Wick a realizar sua 'última missão'. Ele nega o pedido do mafioso e, por consequência, é espancado e tem sua casa destruída. Desta vez, o cachorro sobrevive! Pronto, 'de volta ao jogo' novamente!
Wick acaba aceitando a missão: matar a atual chefe da máfia italiana, a irmã do 'mandante'. Ele executa a missão, mas é perseguido por capangas italianos, inclusive, por Santino, o que lhe cobrou a promissória. Tiro pra lá, tiro pra cá, socos e pontapés aos montes, muita correria, muito estrago e... a briga acaba dentro do Hotel Continental, o local neutro entre os assassinos e que é estritamente proibido matar nas dependências do lugar. Se alguém descumprir as regras, estará ferindo a 'constituição' da entidade e assinará sua sentença de morte.
Por vingança e descontrole emocional, John wick mata Santino dentro do hotel e acaba tendo sua cabeça a prêmio. Todos os assassinos do mundo estão atrás do protagonista. Isso nos leva a comentar sobre a terceira parte: "Parabellum". O ponto de partida é logo após o final do segundo capítulo, com o dono do Hotel Continental dando um tempo de vantagem para Wick poder fugir dos assassinos que estão a sua procura.
Em "Parabellum", tudo é jogado na máxima potência. Diversos estilos de ação são misturados de forma brilhante. Muitas lutas corporais (sempre bem editada e com poucos cortes, o que favorece a coreografia dos atores), momento bang-bang, brigas com facas e espadas, perseguições 'gato e rato' a pé, de moto e... até a cavalo! Os cenários repetem a estética do antecessor com muito espelho, reflexos e luzes neons que dão charme aos ambientes noturnos. Tecnicamente falando, o longa é impecável e exemplar.
Quando disse 'tudo é jogado na máxima potência' também me refiro ao cânone que contorna o protagonista, que se expande a cada novo filme. Aqui, temos uma breve ideia de organograma da 'entidade dos assassinos' e dos superiores de Winston, o dono do Hotel Continental. Inclusive, descobrimos uma pequena particularidade da origem de John Wick. Essa ideia de alargamento desse submundo é válida e interessante, no entanto, há um certo exagero.
O roteiro se preocupa demais em alargar detalhes desse universo e acaba subvertendo os alguns conceitos narrativos. O simples se torna pano de fundo e o argumento que move a história gira em torno da concepção sobre a tal entidade oculta. A impressão é que todos, incluindo figurantes, parecem ser assassinos. Quase não vemos humanização de personagens durante a projeção. Humanização, inclusive, que foi deixada de lado na pancadaria. Há mais cenas absurdas, principalmente quando as graves feridas não atrapalham John Wick em ação.
No geral, isso se torna um ponto positivo. Toda essa demasia na construção de universo não estraga o encanto do espectador, pelo contrário, serve para deixá-lo tenso, contagiado e extasiado com cenas de ação pontuais. O ritmo não cai, é constantemente frenético. O tempo entre as pausas para diálogos servem apenas para que todos (dentro e fora da tela) recuperem o fôlego. Quando menos se espera, mais sequências incríveis aparecem para nos impressionar.
Quem são os culpados disso tudo? São o carismático Keanu Reeves (nem preciso dizer da competência desse cara) e o diretor Chad Stahelski, que também foi o responsável pelos antecessores. Stahelski, inclusive, foi um dos dublês de Reeves em "Matrix" e, sem sombra de dúvidas, é o maior nome do gênero da atualidade. "John Wick 3: Parabellum" é uma aula de se fazer cinema de ação de qualidade.
Mas, afinal de contas, o que é "Parabellum"? Veja o filme e 'prepare-se para a guerra'!
"Vingadores: Ultimato" - Mistérios e Questionamentos. (CONTÉM SPOILERS) “Vingadores: Ultimato” é espetacular. No geral, tudo é muito bem amarrado para a construção de um universo compartilhado. Como se trata de adaptações cinematográficas, nem tudo foi feito para ser fiel às origens, as histórias em quadrinhos. Por isso, existem diversas surpresas ou easter eggs para referenciar e homenagear aquilo que serviu de inspiração.
Ainda que a coesão narrativa surpreenda a todos, há algumas dúvidas sobre a coerência de alguns fatos ou situações. Claro que a lógica e a ciência também estão presentes, afinal, são 22 filmes fantasiosos que burlam, em vários aspectos, os conceitos científicos. Aliás, todos esses filmes e ideias fazem da ciência a ‘licença poética’ perfeita para conquistar o imaginário dos espectadores. Por isso, os termos e consequências de diversas áreas científicas não são tão levados a sério. No filme “Interestelar”, por exemplo, os conceitos de física quântica são aplicados de maneira mais realista possível.
É claro que tudo isso pode levar a furos de roteiro e a inconsistências narrativas. Entretanto, quando uma premissa propõe exageros, tudo em torno disso deve estar em um determinado nível de coerência, para que o espectador aceite os ‘absurdos’ que surgirão na tela. Exemplos disso são explosões barulhentas no espaço, diversos planetas ou locais no universo com atmosferas idênticas às da Terra e que não fazem mal a nenhum terráqueo visitante, a existência de deuses, semideuses ou seres poderosos de outros planetas, visualmente iguais aos seres humanos, entre outros.
As explicações de vórtices temporais ou viagens no tempo via Reino Quântico com partículas Pym, do Homem-Formiga, são absurdas, mas aceitáveis dentro do que foi proposto. Nesse tipo de situação, o espectador não quer saber as minúcias de como isso funciona, ele se interessa apenas por uma rápida introdução da engenhoca, o resto é diversão e o que isso pode impactar na narrativa. Ponto!
Para apontar alguns questionamentos sobre “Ultimato” é preciso revisitar alguns detalhes de “Guerra Infinita”. Algumas perguntas podem ter respostas interpretativas condizentes, outras podem ficar no mistério. Haverá algumas análises de pontos de vista diferentes e sugestões sobre o que acontece em tela. Claro, há muitas outras perguntas a serem respondidas, principalmente se levarmos a sério as consequências provocadas por viagens no tempo, que é o principal plot do filme. O que muda no passado reflete no presente, que modifica o futuro... Não... não quero ter essa dor de cabeça (rs...). Confira abaixo:
GUERRA INFINITA: Como foi o processo em que o Caveira Vermelha foi submetido a ser um guardião de uma joia do infinito (a da alma)? Quando chegou em Vormir ele deve ter substituído um outro guardião. Como isso aconteceu?
GUERRA INFINITA: Thanos diz, em um determinado momento do filme, que destruiu Xandar para pegar a joia do poder. Foi a única batalha que o espectador não viu. O confronto entre a Tropa Nova e o exército do titã louco seria um excelente pretexto para a introdução do Nova, um dos personagens cósmicos mais populares dos quadrinhos. Será que esse herói surgirá depois da destruição de Xandar? Vamos torcer para que ele apareça em "Guardiões da Galáxia Vol. 3" assim como Adam Warlock, outra figura bastante esperada pelos fãs. Vamos aguardar!
GUERRA INFINITA: Ao estalar os dedos para eliminar 50% dos seres vivos do universo, como foi que Thanos 'escolheu' quem viveria ou morreria? Se foi aleatoriamente, ok, mas ele se lembrou do Tony Starky (por causa do Doutor Estranho) e deixou vivas as mentes mais inteligentes do universo, as quais seriam capazes de promover uma vingança. Será que ele não pensou nisso no estalo? Merecia uma explicação melhor. Entretanto, dentro de uma linha narrativa, o fato desses herois continuarem vivos valorizou a ideia de que os Vingadores originais seriam obrigados a se unirem novamente (isso resolve o arco de “Capitão América: Guerra Civil”) para tentarem reverter o estrago causado por Thanos. Isso foi muito legal!
ULTIMATO: Em um determinado momento dos primeiros minutos, Natasha e Rhodes comentam a ocorrência de tremores no mar. Será uma referência ao Namor, o ‘Aquaman’ da Marvel? Será que teremos um filme no futuro com esse personagem? O que foi colocado aqui está muito dúbio, mas deixa aquela pulga atrás da orelha.
ULTIMATO: Viúva Negra morre. Sim, ela se sacrifica para o surgimento da joia da alma. Depois de ter visto o filme, ficou óbvio que ela seria uma baixa na história! Clint Barton, o Gavião Arqueiro, tinha família e desejava ter de volta sua esposa e filhos. Ele foi um dos que testaram a viagem no tempo e só aceitou participar da missão com os Vingadores porque viu que haveria uma chance real de recuperar sua família no final. Viúva Negra não tinha família, e foi justo, vamos dizer assim, o seu suplício. Não faria sentido se Clint pulasse do penhasco em Vormir com todo o seu drama arquitetado durante a narrativa. E o filme dela já confirmado? Está confirmadíssimo, no entanto, ao que tudo indica, será ambientado no passado, o que não prejudicaria a linha temporal. Engraçado é que muitos apostavam na teoria de que o Capitão América morreria para conseguir essa joia. A Marvel enganou a todos!
ULTIMATO: Se a Viúva Negra ganhará um filme solo, porque não fazer um filme solo do Gavião Arqueiro como Ronin, com trama antes de “Ultimato”? Esse personagem já esteve presente nos quadrinhos, assim como Shang-Chi, o herói oriental da Marvel, que ganhará um filme em breve! Será que teremos a participação de Clint como Ronin? Seria bastante interessante.
ULTIMATO: A ideia de colocar o Professor Hulk foi sensacional e divertidíssima! Tudo bem que apenas em um diálogo foi resumido o modo como ele conseguiu unir a inteligência de Bruce Banner à força de Hulk. Nessa mesma solução narrativa, foi explicada a origem do Homem-Aranha em “Guerra Civil”. No entanto, essa transformação merecia ser mostrada, já que em “Ultimato” estivemos diante da melhor versão cinematográfica do gigante esmeralda. Será que agora caberia mais um filme solo do personagem, desta vez como Professor Hulk?
ULTIMATO: Falando em Hulk, ele foi o único que não teve uma revanche contra Thanos. Tony Starky teve seu momento dando um pau no titã louco, o Capitão América idem, e, também, o Thor, que o mata nos primeiros minutos de “Ultimato”. Só faltou o Hulk ter sua ‘vingança’.
ULTIMATO: Por que a anciã não utilizou a joia do tempo para saber se o Professor Hulk estava falando a verdade? Ela simplesmente entregou a joia após muita insistência de Banner em uma conversa relativamente rasa.
ULTIMATO: Como a Nebulosa ‘do mal’ conseguiu trazer a nave de Thanos para o futuro, se a única partícula Pym da qual ela se apoderou (da Nebulosa ‘do bem’) já havia sido utilizada por ela para estar na base dos Vingadores? Como Thanos conseguiu ter acesso ao Reino Quântico para ser puxado pela Nebulosa ‘do mal’? Será que Falce de Ébano conseguiu criar ou replicar a partícula que dá acesso ao Reino Quântico a partir da capsula Pym de Nebulosa? Fica o mistério.
ULTIMATO: Gamora morre ou não? Ela não estava no funeral de Tony, não a vemos na cena em que os vilões viraram pó e nem estava na nave dos Guardiões ao final. Há uma imagem dela em uma tela sendo apreciada por Peter Quill, na qual está escrito ‘searching’ (procurando). Ela morreu ou deu uma sumida por aí? “Guardiões da Galáxia Vol. 3” deve resolver essa questão.
ULTIMATO: A manopla do infinito, em "Guerra Infinita", é feita com o poder de uma estrela. Só assim ela e seu usuário (com exceções) aguentariam utilizar as joias com poderio máximo. No filme, a nova manopla é criada com tecnologia Starky. Será que Tony Starky atingiu um nível de tecnologia que se equipara ao poder de uma estrela? Não teria sido mais consistente na trama ter feito uma nova manopla com o anão gigante em Nidavellir uma vez que o molde da mesma está intacto por lá?
ULTIMATO: Em uma das lutas mais espetaculares do filme, o Capitão América consegue erguer o Mjölnir para dar uma surra em Thanos. Sim, Steve Rogers se torna digno do martelo do Thor (e também de seus poderes) e essa cena arranca arrepios de emoção no espectador. Nas histórias em quadrinhos, outros personagens também já foram dignos do mesmo feito, envolver o Capitão, no cinema, é um baita easter eggpara os fãs. O legal é que essa situação nos remete a "Vingadores: Era de Ultron". Em uma festa na torre Starky, Thor brinca com várias pessoas ao deixa-las tentar mover o martelo em cima de uma mesa. Ele diz que quem conseguir erguer poderá governar Asgard. O único que conseguiu mexer só um pouquinho, bem de leve, e que deixou o Deus do Trovão com cara de preocupação, foi o Capitão América. De qualquer forma, a explicação no cinema para uma pessoa conseguir erguer o Mjölnir não ficou tão clara. Ao revisitar o primeiro filme do Thor, analisando determinados valores e comportamentos do protagonista, até podemos achar uma possível resposta nas entrelinhas. Como Thor se tornou o Rei de Asgard, ou um novo 'Odin' para seu povo, ele teria o poder de tornar alguém digno de empunhar seu martelo? Se sim, isso explicaria o Mjölnir nas mãos de Rogers ,uma vez que o próprio Odin já retirou a dignidade de Thor e enviou seu martelo para a Terra. No entanto, ficam as dúvidas: quais são os atributos para que um indivíduo seja considerado apto a manipular o martelo? Não é somente bondade, caridade, pureza (não é mesmo, Visão?), arrependimento, reconhecimento de erros e amor no coração, não é verdade? Lembrando que Thor já matou milhares de seres cósmicos e continua sendo digno do Mjölnir.
ULTIMATO: Nada mais emblemático do que iniciar a Saga do Infinito do universo compartilhado com Starky e finalizar com a sua morte, repleta de heroísmo e significados, que fará o público se emocionar. A morte do Tony Starky é coerente. Nos quadrinhos já aconteceu isso e ele se tornou uma inteligência artificial, como o Jarvis ou a Sexta-feira. Uma cena final gravada por Tony, por meio de um holograma, pode ser a deixa para isso. Afinal de contas, era preciso tirar Robert Downey Jr. de cena, pois mais de 1 terço do orçamento dos filmes que ele protagoniza era para pagar seu cachê. De alguma forma, seu legado será continuado por algum novo personagem.
ULTIMATO: Vi um questionamento interessante em uma matéria do site Omelete e resolvi colocá-la aqui. “Por que não usaram a joia do tempo para salvar o Homem de Ferro? Tendo em vista que Thanos a usou para impedir que a joia de Visão Fosse destruída em “Guerra Infinita”? Segue a resposta dos diretores Anthony e Joe Russo em entrevista concedida ao site chinês QQ e publicada, também, no site Omelete: “Dentre as 14 milhões de possibilidades que o Doutor Estranho viu, o sacrifício do Homem de Ferro é necessário para vencer”. Faz sentido, mas... no filme do Doutor Estranho, o mago conseguiu reverter somente a maçã comida e uma página de um poderoso livro sem ter modificado a realidade em torno desses objetos, ou seja, o que 'voltou no tempo' foi apenas o objeto. Será que isso teria sido possível para salvar apenas o Tony? Por outro lado, salvar o Starky dessa maneira poderia estar em uma das 14 milhões de derrotas. Thanos, mesmo após ter virado pó, de alguma forma retornaria no futuro para terminar execução do seu plano.
ULTIMATO: Capitão América ficou encarregado de voltar no tempo e deixar as joias do infinito em seus devidos lugares (e também 'devolver' o Mjölnir). No entanto, um desses lugares seria Vormir, entregar a joia da alma para o Caveira Vermelha, seu inimigo no primeiro filme. Como seria esse encontro? O Doutor Estranho do presente ficaria sem a joia do tempo já que o artefato foi 'destruído' por Thanos? Ou, devolvendo a joia do tempo para anciã, a pedra apareceria automaticamente para o Doutor Estranho no presente?
ULTIMATO: “Lembra heim, você tem que devolver as joias para o momento exato em que pegamos ou vai abrir um monte de realidades alternativas doidas”, disse o Professor Hulk ao Capitão Steve Rogers. Seria uma referência a uma realidade onde existem os X-Men? Que viagem... mas seria muito legal isso.
ULTIMATO: Em uma das últimas cenas, Steve Rogers, já bem velhinho, dá o último salto temporal (segundo os diretores do filme) e entrega seu escudo ao Falcão e, indiretamente, o batiza como o novo Capitão América. Tudo bem, isso já aconteceu nos quadrinhos, mas Sam não tem uma super força para se equiparar com o que foi Rogers. Não seria melhor ter nomeado o Soldado Invernal, que tem esse atributo semelhante, como o novo Capitão? Lembrando que Bucky também já havia ostentado o escudo nas HQs. No entanto, é importante lembrar que, aos olhos do mundo, Bucky Barnes pode ser considerado um vilão, por todas as confusões do passado. Logo, dar a ‘patente’ a ele, nesse contexto, não soaria bem. Portanto, Falcão está ‘OK’, mas, ainda assim, prefiro o Soldado Invernal.
ULTIMATO: No início do filme, as joias não estão mais na manopla de Thanos devido a um novo estalo. Rocket consegue detectar essa grande explosão de energia e localiza o paradeiro do titã louco. Quando os Vingadores vão ao seu encontro, Thanos, enfraquecido com a última utilização da manopla, diz que ‘destruiu’ as joias, transformando-as em níveis de átomo. Seria possível o Homem-Formiga, por exemplo, recuperar todas essas joias no Reino Quântico? Será que essas joias serão utilizadas na nova fase da Marvel nos cinemas?
Sempre haverá ligações, entre as tramas e as reviravoltas, que farão algum sentido dentro do contexto proposto pelo universo cinematográfico da Marvel. Ainda que a complexidade de tudo isso gere alguns furos, dúvidas e mistérios, em linhas gerais, a coesão é um grande trunfo. Se os defeitos não atrapalham o poder de encantamento, então estamos diante de uma diversão perfeita.
Embora “Vingadores: Ultimato” não tenha cenas pós-créditos, devido à ideia de fim de um ciclo, podemos considerar que essas tais ‘cenas’ ficarão em nosso imaginário, como perguntas não respondidas. Lembrando que muita coisa não mostrada pode ser proposital, para que cada espectador imagine, a sua maneira, a versão dos fatos não contados ou mostrados. Algumas pontas soltas servirão de ‘pontapé inicial’ para uma nova saga. Junto a isso surgem inúmeras teorias e ideias para se construir um novo universo compartilhado. O jeito é equilibrar nossa ansiedade e aguardar as cenas dos próximos capítulos.
(SEM SPOILERS) 11 anos, 3 fases e 22 filmes com narrativas independentes que possuem detalhes que interligam todos em um universo de heróis compartilhado. Um projeto audacioso que deu certo, fez história no cinema e marcou gerações. "Vingadores: Ultimato" finaliza um ciclo iniciado em 2008 com "Homem de ferro" e põe um ponto final em algumas narrativas. E essas conclusões, quanta emoção, meus amigos! Quanta celebração!
O filme possui 3 horas de duração que passarão em um 'estalar de dedos'. Você nem irá perceber. O longa é uma continuação direta de "Vingadores: Guerra Infinita". Após Thanos dizimar metade dos seres vivos, os sobreviventes vivem em um mundo pós apocalíptico repleto de amargura. Há um clima fúnebre. Todos aprendem a conviver com essa realidade nem que seja na base da terapia de grupo.
Os primeiros minutos são melancólicos e silenciosos (quase não há trilha sonora). A atmosfera de luto é dominante e o espectador sente toda a tristeza dos personagens. Tudo é trabalhado em um ritmo lento e eficaz. A esperança aflora na narrativa quando surge Scott Lang (não é spoiler, isso está nos trailers), o Homem-Formiga com uma ideia mirabolante, talvez a única teoria acertada por muitos, para tentar reverter o estrago feito por Thanos. À medida que a história avança, o ritmo ganha dinamismo e as cenas de ação espetaculares surgem para contagiar e preparar os espectadores para o clímax épico.
A partir daí, qualquer informação é um spoiler que pode prejudicar a experiência de quem quer se surpreender. O que posso dizer é que tudo está em harmonia e prepara o espectador para se delirar em um final apoteótico. É impressionante como toda essa construção de mundo é coesa, bem montada, bem organizada e bem desenvolvida. Há uma certa lógica em todas as reviravoltas que acontecem, principalmente nas soluções para resoluções de problemas (até aquilo que você não concordar há um sentido dentro do contexto proposto). O roteiro até possui pequenos furos (que não prejudicam no resultado final), mas amarra tudo de uma forma extremamente eficiente. O 'amarrar tudo' digo todo o universo compartilhado. Há uma homenagem a todas as outras produções do selo Marvel Studios (ou quase todas) e, com isso, inúmeros easter eggs pipocam na tela para nos fazer rir e emocionar. Easter Eggs não só do universo cinematográfico (com abordagens diferentes de alguns personagens) e de seus bastidores, mas também muitas referência aos quadrinhos.
Falando em rir, o roteiro ainda abre espaço para o humor rasteiro e situacional em meio a tragédias. Por incrível que pareça, a mistura da comédia com o drama é dosada com perfeição. Ambos os gêneros aparecem na tela de maneiras pontuais. A sensibilidade dramática é um dos destaques. A empatia criada durante os 11 anos de MCU tem um peso diferente em "Ultimato". Se não nos emocionamos nos longas anteriores (com exceção de "Guerra Infinita"), as sensações de alívio, esperança, empoderamento e despedida, aqui, nos fazem importar ainda mais com os protagonistas. Com isso, vem arrepios de emoção a cada cena épica que acontece diante de nossos olhos. Aplausos e lágrimas dividem espaços fazendo com que o espectador saia do cinema satisfeito com uma experiência ímpar que acabou de presenciar. É emblemático! Prepare-se, o efeito apoteótico pode durar horas e até dias. É uma diegese perfeita e vibrante como não se via há muito tempo. Irmãos Russo (diretores do filme), roteiristas e a todos da Marvel Studios/Disney, palmas de pé para vocês!
O que podemos esperar para o futuro cinematográfico da Marvel? Homem-Aranha, Pantera Negra, Viúva Negra, Doutor Estranho, Shang-Chi (o primeiro herói oriental), Os Eternos e Capitã Marvel já possuem projetos para novos filmes. A plataforma de streaming da Disney, que será lançada em breve, também já anunciou novidades, como as séries de 'Falcão e Soldado Invernal', 'Feiticeira Escarlate' e 'Loki'. Segundo informações do CEO da Marvel Studios Kevin Feige, a próxima fase desses heróis irá misturar TV e cinema para o compartilhamento de universo. Sem falar na entrada de "X-Men" e "Quarteto Fantástico", recentemente readquiridos pela Disney, que deverão ser utilizados em algum momento. Portanto, podemos esperar mais aventura e diversão para a próxima década.
"Capitã Marvel", até que enfim você apareceu nos cinemas! A tão aguardada 'super-heroína mais poderosa do MCU', como disse o presidente do Marvel Studios, Kevin Feig, surge em um filme essencialmente icônico para o estúdio ao dar protagonismo solo para uma mulher (Evangeline Lilly, que interpreta a Vespa, em "Homem-Formiga e a Vespa" foi a primeira protagonista, porém ela dividiu as atenções com Paul Rudd, ou seja, não foi um papel solo), mas nem tão perolado para quem conhece o cânone da personagem.
Calma, vou explicar! Assim como todos os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), "Capitã Marvel" é inspirada nas histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee. Como se trata de uma adaptação, isso permite que os roteiristas tenham liberdade ao criar ou reinventar arcos ou situações sobre a personagem. Lembre-se! Tudo isso é pensado para que a 'nova história' se encaixe com coerência dentro do universo cinematográfico estabelecido ('cinema' é uma coisa e 'HQs' é outra coisa!). Portanto, aos fãs da 'literatura quadrinística', preparem-se pois haverá muitas alterações sobre as origens de Carol Danvers/Capitã Marvel.
Como o objetivo aqui não é revelar spoilers, vamos à resenha. Sim, "Capitã Marvel" é um bom filme. Para quem desconhece a heroína ou conhece, mas não a acompanha nas HQs, todas essas alterações não farão diferença alguma. O público que curte esses super-heróis apenas no cinema irá se divertir, como nos outros exemplares do mesmo universo.
É interessante observar que "Capitã Marvel" parece fugir um pouco da tal 'fórmula Marvel'. O filme mostra uma história de origem diferente das que já vimos no MCU. Há uma pegada não linear na narrativa, que nos faz interessar pela jornada da personagem. Enquanto tudo começa na pancadaria, com Carol Danvers já com os poderes, vamos descobrindo aos poucos, via flashbacks, o que aconteceu no passado da protagonista antes de se tornar super poderosa. O detalhe aí é que ela ganha os poderes, mas não sabe como isso aconteceu e o quanto isso é significativo para suas ações, o que faz o clímax da 'jornada do herói' não fugir à regra.
Assim como todo longa da Marvel, há um humor rasteiro na narrativa e aqui a veia cômica é muito bem encaixada. E como se trata de universos compartilhados, o filme presenteia os fãs com inúmeros easter eggs, relacionados à 'casa das ideias' ou à cultura pop dos anos 90, e com a 'extensão histórica' de alguns detalhes que já conhecemos. Um deles, por exemplo, é como Nick Fury perdeu um dos olhos.
Falando nisso, Samuel L. Jackson está excelente como sempre e aparece com uma maquiagem digital que rejuvenesce seu rosto de maneira incrivelmente real. Outro ator que foi rejuvenescido é Clark Gregg, o agente Coulson, mas os efeitos visuais nele não ficaram tão perfeitos como em Samuel.
Os efeitos visuais, ainda que oscilem a qualidade em alguns momentos, são competentes. Já as cenas de ação são problemáticas, principalmente aquelas que não se passam na Terra. A maioria é mal editada. Há muitos cortes. Apesar disso, as cenas não chegam a ser confusas, mas não conseguem ser empolgantes como deveriam (pelo menos não contagia aos mais exigentes).
Falta de empolgação é o que muitos críticos estão dizendo sobre o desempenho de Brie Larson e... não é bem assim. Embora tenha uma atuação fria, com forte personalidade, ela cumpre o que o roteiro determina, e cumpre bem! Essa frieza é notável, justamente pela condição em que a personagem se encontra na narrativa, já que ela vive um momento de amnésia e não lembra nada de seu passado. Devido a isso, seu papel, propositalmente, carece de sensibilidade em boa parte da projeção (tá explicado?). Outro aspecto que é importante ressaltar é que o filme evita o estereótipo de 'sexo frágil' e sua feminilidade não é sexualizada. Tudo isso reforça o chamado girl power (ou empoderamento feminino) que se destaca com veemência no desfecho.
Enfim, "Capitã Marvel" é uma boa opção de 'filme pipoca' para se ver em IMAX 2D (não gaste seu dinheiro com o 3D). O longa não figura entre os melhores do MCU, está na prateleira do meio com muita honra, mas deixa uma excelente impressão do que está por vir no universo cósmico da Marvel. Como de costume, há duas cenas após a conclusão: uma entre os créditos finais (a melhor, não deixe de ver) eoutra engraçadinha antes do acender das luzes.
Pronto. Agora podemos ver "Vingadores - Ultimato"! Pode vir, Thanos, você está f...!
Obs.: destaque para a bela homenagem ao Stan Lee nos créditos iniciais.
(SEM SPOILERS) 11 anos, 3 fases e 22 filmes com narrativas independentes que possuem detalhes que interligam todos em um universo de heróis compartilhado. Um projeto audacioso que deu certo, fez história no cinema e marcou gerações. "Vingadores: Ultimato" finaliza um ciclo iniciado em 2008 com "Homem de ferro" e põe um ponto final em algumas narrativas. E essas conclusões, quanta emoção, meus amigos! Quanta celebração!
O filme possui 3 horas de duração que passarão em um 'estalar de dedos'. Você nem irá perceber. O longa é uma continuação direta de "Vingadores: Guerra Infinita". Após Thanos dizimar metade dos seres vivos, os sobreviventes vivem em um mundo pós apocalíptico repleto de amargura. Há um clima fúnebre. Todos aprendem a conviver com essa realidade nem que seja na base da terapia de grupo.
Os primeiros minutos são melancólicos e silenciosos (quase não há trilha sonora). A atmosfera de luto é dominante e o espectador sente toda a tristeza dos personagens. Tudo é trabalhado em um ritmo lento e eficaz. A esperança aflora na narrativa quando surge Scott Lang (não é spoiler, isso está nos trailers), o Homem-Formiga com uma ideia mirabolante, talvez a única teoria acertada por muitos, para tentar reverter o estrago feito por Thanos. À medida que a história avança, o ritmo ganha dinamismo e as cenas de ação espetaculares surgem para contagiar e preparar os espectadores para o clímax épico.
A partir daí, qualquer informação é um spoiler que pode prejudicar a experiência de quem quer se surpreender. O que posso dizer é que tudo está em harmonia e prepara o espectador para se delirar em um final apoteótico. É impressionante como toda essa construção de mundo é coesa, bem montada, bem organizada e bem desenvolvida. Há uma certa lógica em todas as reviravoltas que acontecem, principalmente nas soluções para resoluções de problemas (até aquilo que você não concordar há um sentido dentro do contexto proposto). O roteiro até possui pequenos furos (que não prejudicam no resultado final), mas amarra tudo de uma forma extremamente eficiente. O 'amarrar tudo' digo todo o universo compartilhado. Há uma homenagem a todas as outras produções do selo Marvel Studios (ou quase todas) e, com isso, inúmeros easter eggs pipocam na tela para nos fazer rir e emocionar. Easter Eggs não só do universo cinematográfico (com abordagens diferentes de alguns personagens) e de seus bastidores, mas também muitas referência aos quadrinhos.
Falando em rir, o roteiro ainda abre espaço para o humor rasteiro e situacional em meio a tragédias. Por incrível que pareça, a mistura da comédia com o drama é dosada com perfeição. Ambos os gêneros aparecem na tela de maneiras pontuais. A sensibilidade dramática é um dos destaques. A empatia criada durante os 11 anos de MCU tem um peso diferente em "Ultimato". Se não nos emocionamos nos longas anteriores (com exceção de "Guerra Infinita"), as sensações de alívio, esperança, empoderamento e despedida, aqui, nos fazem importar ainda mais com os protagonistas. Com isso, vem arrepios de emoção a cada cena épica que acontece diante de nossos olhos. Aplausos e lágrimas dividem espaços fazendo com que o espectador saia do cinema satisfeito com uma experiência ímpar que acabou de presenciar. É emblemático! Prepare-se, o efeito apoteótico pode durar horas e até dias. É uma diegese perfeita e vibrante como não se via há muito tempo. Irmãos Russo (diretores do filme), roteiristas e a todos da Marvel Studios/Disney, palmas de pé para vocês!
O que podemos esperar para o futuro cinematográfico da Marvel? Homem-Aranha, Pantera Negra, Viúva Negra, Doutor Estranho, Shang-Chi (o primeiro herói oriental), Os Eternos e Capitã Marvel já possuem projetos para novos filmes. A plataforma de streaming da Disney, que será lançada em breve, também já anunciou novidades, como as séries de 'Falcão e Soldado Invernal', 'Feiticeira Escarlate' e 'Loki'. Segundo informações do CEO da Marvel Studios Kevin Feige, a próxima fase desses heróis irá misturar TV e cinema para o compartilhamento de universo. Sem falar na entrada de "X-Men" e "Quarteto Fantástico", recentemente readquiridos pela Disney, que deverão ser utilizados em algum momento. Portanto, podemos esperar mais aventura e diversão para a próxima década.
Muita expectativa foi gerada com a chegada do filme "Bohemian Rhapsody", a cinebiografia da empolgante banda inglesa Queen. O conjunto marcou, não apenas uma geração inteira, mas a indústria da música. A ousadia, a criatividade musical e a extravagância de seu vocalista eternizaram a banda como um dos fortes ícones da música pop.
Queen tem cadeira cativa no cenário musical dos anos 70 e 80. A ascensão da banda se deve à figura carismática e 'porra louca' de Freddie Mercury. E esse é o cenário proposto pelo filme ao apresentar duas narrativas em uma: contar a historia do conjunto musical, seus sucessos e suas inspirações e retratar o ego e o drama de seu cantor.
O roteiro entrelaça as tramas desde 'quando tudo começou' até o marcante show Live Aid, em 1985. A trajetória de Freddie não foge do clichê da história sobre cantores famosos ao abordar temas como o preço da fama, sexualidade, rebeldia, amizades e os relacionamentos ruins (e suas consequências). Inclusive, há uma clara intenção de não polemizá-lo. Talvez, por isso, há uma certa rapidez nos assuntos mais ásperos sobre sua carreira. Não me incomodou, mas isso pode gerar alguma estranheza por parte dos fãs mais exigentes.
Embora a trama do vocalista não tenha sido tão satisfatória, todos os defeitos dela 'somem' quando a banda entra em cena. Além de mostrar curiosidade de bastidores, a sonoridade e os principais hinos aparecem em tela com muito vigor. É de arrepiar o resultado do trabalho da engenharia de som ao organizar com eficiência o encaixe das músicas nas cenas. Sem falar na qualidade ímpar dos acordes mais graves. Impossível não se emocionar em diversas passagens, principalmente com o clímax, que recria com competência, o marcante show Live Aid.
"Bohemian Rhapsody" é bem produzido, a reconstituição de época é convincente, a fotografia está OK, o humor rasteiro não compromete e, no geral, o longa acerta mais do que erra. O maior erro, talvez, seja uma falha cronológica de um show que apenas alguns notarão. Entretanto, como se trata de uma adaptação, isso não atrapalha na narrativa. A direção de Bryan Singer/Dexter Fletcher (Singer pulou fora da produção com 80% do filme concluído e Fletcher finalizou), embora seja burocrática, imprime bom ritmo e a 'passagem de bastão' entre os cineastas é imperceptível.
Ahhh, claro, o elenco. Todos estão fantásticos e com visuais parecidíssimos com os originais! O destaque é Rami Malek que encarnou Freddie de uma maneira absurdamente semelhante. Todos os trejeitos estão perfeitos. Malek equilibra com muito talento a execução de um performista com as emoções dramáticas de uma atuação. Espero que ele seja lembrado nas premiações de 2018 e 2019. No mais, 'vida longa a Rainha'!
Geralmente, quando um filme de ação não é exibido no cinema e é lançado diretamente em 'home video' há uma grande chance de o produto ser ruim. "Rota de Fuga 2" é um exemplo disso. O primeiro longa, que contava com dois ícones do cinema oitentista (Stallone e Schwarzenegger), era pouco sofisticado, mas divertido. Esta sequência, também com Stallone (coadjuvante!), investe na modernização de alguns elementos (presidio high tech!) e acaba sendo careta demais. Há um efeito dominó de ruindade. O roteiro é frágil, desenvolve mal os personagens, carece de explicações melhores de quase tudo e expõe uma trama rasa difícil de engolir. A direção não sabe que ritmo imprimir e se perde cada vez mais à medida que a narrativa avança. E, por último, a edição faz tudo ficar rápido e inconvincente. Talvez, o único ponto positivo seja a performance do chinês Xiaoming Huang nas coreografias das cenas de luta.
"A Freira" é um spin-off de "Invocação do Mal 2" (2016), que, por sua vez, é o quinto longa que integra o 'universo satânico' iniciado em "Invocação do Mal" (2013). Embora tenha algum potencial, este é o pior exemplar de toda a saga. O roteiro possui alguma passagens sobrenaturais confusas, o inútil bom humor na trama surge sempre deslocado, a fotografia é escura demais (a pouca luz, recurso para criar clima de tensão, é um incômodo constante ao prejudicar a composição de cena) e a criação do terror é mal construída. A maioria dos sustos é provocada pelo aumento exagerado da trilha sonora. Sem falar que o filme parece mais com alguma produção sobre zumbis e menos com um suspense religioso. O trabalho é tão mal executado que muitas partes que deveriam assustar acabam causando risadas, o que gera frustração aos mais exigentes. O único destaque é a atuação convincente de Taissa Farmiga.
Matrix
4.3 2,5K Assista Agora"Matrix" envelheceu... muito bem, obrigado! Vinte anos após seu lançamento, essa ficção científica continua mais atual do que nunca! O visual, a sonoridade, o estilo, as inúmeras concepções filosóficas entrelaçadas, as metáforas e todos os elementos (textuais ou cinematográficos) que o fizeram revolucionário no final dos anos 90 estão irretocáveis.
Rever "Matrix" no cinema para comemorar seu 20° aniversário foi uma experiência deliciosa e contemplativa. A nostalgia de rever as cenas favoritas e recordar outros tantos momentos épicos culminaram em diversos arrepios!
A qualidade do áudio e da imagem, muito bem remasterizados, deixa muito longa atual comendo poeira. Os efeitos visuais, ainda que tenha um detalhe ou outro de artificialidade, seguem, no geral, impecáveis.
O inovador efeito bullet time implantado aqui, e copiado por centenas de outras produções, é o mais bem executado nas telonas até hoje e impressiona por sua criatividade. Incluem-se, também, as cenas de ação pontualmente insuperáveis.
E a fotografia exemplar de enquadramentos, planos e ângulos incomuns? E as câmeras lentas extraordinárias que espetaculariza os movimentos em cena? E a edição perfeita que costura tudo de forma eficaz? Muito f...!
Em tempo de recessão de obras-primas no cinema, a saga de Neo, Trinity e Morpheus contra o domínio das máquinas se torna o 'melhor filme de 2019', inclusive no quesito super-herói 😜.
20 anos é um tempo considerável para mudanças. Os diretores Wachowski se tornaram diretoras, os fãs que se deslumbraram em 1999 estão mais 'experientes' e Neo virou John Wick, mas o conceito sobre manipulação de realidade está longe de ser velho ou obsoleto.
Contágio
3.2 1,8K Assista AgoraEpidemias virais fazem, ou tem feito, mais sucesso no gênero terror. Vírus mortal que transforma pessoas em zumbis é o principal argumento para críticas sociais ao 'sistema'. No campo dramático, o melhor filme sobre essas críticas em cenário apocalíptico é “Contágio”, que encena o caos mundial de forma realista e repleta de mistério e conspiração.
Dirigido por Steven Soderbergh, “Contágio” tem uma estrutura narrativa já bastante utilizada no cinema, o de reunir várias tramas que se interligam por um mesmo tema (numa pegada semelhante, o cineasta já havia feito o excelente “Traffic”). Há diversos dramas que mostram diferentes pontos de vista sobre uma epidemia viral no planeta: médicos que vivenciam o caos; pai de família imune que perde a mulher e protege a filha; cientistas em busca da origem da contaminação e da cura; jornalista que investiga os bastidores dessa pandemia e as ações políticas das autoridades.
O roteiro de Scott Z. Burns faz uma alusão aos recentes surtos de gripes suína e aviária que preocupou a população mundial por causa das várias mortes relacionadas a essas doenças. Em "Contágio", esse panorama foi colocado em um nível catastrófico muito bem ensaiado por Soderbergh, que conseguiu criar, por meio da fotografia melancólica e enquadramentos de câmera detalhistas, uma atmosfera extremamente densa, alarmista e desesperançosa.
Além de sugerir convincentes situações de emergência, principalmente nas ações das autoridades, nos procedimentos científicos e nos comportamentos sociais frente ao caos, a figura do jornalista interpretada por Jude Law é a mais interessante delas. Essa história é a responsável ao dar o tom crítico ao longa por valorizar e expor intrigas que geram conspirações contra o sistema político controlador em relação aos acontecimentos.
O restante das pequenas tramas, que também são bem conduzidas e interpretadas por atores consagrados, apenas serve para enriquecer o tenso cenário do desespero, do confinamento e da anarquia diante de milhões de mortes. Apesar do tratamento brando de alguns detalhes, como no curto tempo decorrido para as soluções (em proporções apocalípticas seriam anos ao invés de meses) e no clímax ameno e pouco político, “Contágio” faz refletir sobre o quanto que a humanidade está despreparada para qualquer tipo de pandemia.
O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio
3.1 724 Assista Agora“O Exterminador do Futuro” foi um ícone da ficção científica em 1985. Sua continuação, “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” (1991), se tornou um marco para o cinema, principalmente pela evolução dos efeitos digitais e pela direção criativa de James Cameron. É um filme que impressiona até hoje! As carreiras de Cameron e Arnold Schwarzenegger (não há um ator melhor para interpretar um robô como ele) foram impulsionadas após o sucesso desses longas.
O destino da franquia mudou de rumo quando James Cameron se divorciou de Linda Hamilton no final dos anos 90, atriz que interpreta a protagonista Sarah Connor nas primeiras produções. Com isso, Hamilton ganhou os direitos dos filmes em um acordo de divórcio e os vendeu. Após passar por diversas empresas, os direitos foram aproveitados pela Skydance Productions e Annapurna Pictures, que acabaram fazendo uma trilogia (“A Rebelião das Máquinas”, “A Salvação” e “Gênesis”). Após 20 anos, o controle criativo da franquia voltou para as mãos de James Cameron, que resolveu produzir “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio”.
Ocupando o cargo de produtor, Cameron informou que “Destino Sombrio” ignora a nova trilogia e é uma continuação direta de “O Julgamento Final” trazendo, inclusive, Linda Hamilton para reviver Sarah Connor e Arnold Schwarzenegger para interpretar o memorável robô T-800. Impossível não ter uma boa expectativa com esses nomes vinculados ao novo 'Exterminador'. Porém, entretanto, contudo, todavia...
Apesar das conjunções adversativas que finaliza o parágrafo anterior, “Destino Sombrio” está longe de ser ruim, mas, também, está aquém das expectativas criadas. O problema é que o longa está engessado em uma cartilha repetitiva, com uma jornada semelhante aos seus antecessores sem se preocupar com a evolução narrativa: um exterminador é enviado do futuro pela Skynet para matar uma pessoa que será importante; um soldado da resistência é enviado do futuro para proteger a pessoa ameaçada; e muitas perseguições acontecem.
E é assim que a trama se desenvolve, sem grandes mudanças. A estrutura continua a mesma, o que muda são alguns detalhes, como um novo e mais avançado exterminador (REV-9) capaz de se multiplicar, uma nova personagem que é perseguida (mexicana, diga-se de passagem) e uma soldado (mulher) da resistência com impressionantes habilidades militares.
O que poderá incomodar aos mais exigentes é o roteiro que não oferece novidades satisfatórias em relação ao progresso da, digamos, macro-história. Além disso, o texto não dá uma devida importância para a participação de Sarah Connor e nem de T-800. Eles estão na trama mais como fan service. São meros ajudantes, com pouca essência para narrativa. Claro, é divertido vê-los no filme, gera nostalgia, contemplação (com diálogos emblemáticos) e roubam a cena por serem icônicos, mas nada mudaria se fossem outros personagens de apoio para os protagonistas.
É curioso observar que mesmo ignorando os eventos da trilogia nova, “Destino Sombrio” parece se inspirar nela para dar forma aos seus personagens. O novo exterminador REV-9 aparenta ser uma mistura do T-1000 com a T-X, vistos em “O Julgamento Final” e “Rebelião das Máquinas”, respectivamente.
A soldado da resistência que deve proteger o novo alvo da Skynet se assemelha ao híbrido visto em “A Salvação”
O filme começa com bastante vigor na primeira meia hora, com longos e tensos momentos ininterruptos de ação. Há muito ‘tiro, porrada e bomba’ e perseguição ‘gato-e-rato’ para nenhum fã da franquia botar defeito. As cenas, inclusive, são muito bem conduzidas pelo diretor Tim Miller (“Deadpool”). O cineasta utiliza muita câmera lenta, faz bom uso dos eficientes efeitos visuais, evita que a geografia das cenas fique confusa e proporciona algum impacto em momentos que exigem uma escala maior de ameaça. Nesse quesito, a produção capricha mesmo proporcionando um exagerado terceiro ato.
O fato de não progredir tanto narrativamente pode ser proposital para que isso seja melhor explorado nas possíveis continuações, caso o filme fature bem nas bilheterias. O jeito é esperar e torcer por um sucesso de “Destino Sombrio”. Ah, os dois primeiros 'Exterminadores' ainda continuam inesquecíveis e intocáveis!
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraInspirado em livro de mesmo nome do escritor Stephen King, lançado em 2013, o longa “Doutor Sono” é considerado a continuação do terror cult “O Iluminado” (1980), de Stanley Kubrick. Há muita reverência ao filme oitentista, mas, também, desequilíbrios de concepções entre as obras, os quais poderão frustrar os fãs do clássico.
Existem três situações em “Doutor Sono”: um grupo de ciganos/bruxos que possui um estranho poder sobrenatural que se alimenta da ‘energia’ das pessoas; uma garota com poderes telepáticos e Danny Torrance (interpretado pelo competente Ewan McGregor), o garotinho de “O Iluminado”, que vive atormentado pelos eventos ocorridos no mal assombrado Hotel Overlook. Há quase 40 anos, Danny e sua mãe sobreviveram a uma tentativa de homicídio por parte do pai, que havia sido possuído por espíritos malignos.
A dinâmica da história é a seguinte: os ciganos matam pessoas, a garota telepata sente as mortes e compartilha todas as informações com Danny, que também desenvolve uma telepatia/mediunidade. Os ciganos percebem que estão sendo ‘vigiados’ e vão atrás da garota que, por sua vez, pede a ajuda a Danny.
“Doutor Sono” parece dois filmes em um. Ao mesmo tempo em que é um trilher com toques sobrenaturais, também é um suspense contemplativo recheado de fan service de “O Iluminado”. O problema é que a junção disso tudo pode não agradar aos fãs do longa de Kubrick. O motivo? O simples fato de o sobrenatural não ser trabalhado da mesma forma como no clássico.
Os tais espíritos malignos do longa original são abstratos e existem, apenas, no imaginário dos personagens, o que gera uma pegada de terror psicológico. Em “Doutor Sono”, o sobrenatural é retratado de maneira inversa, é real para todos, o que faz os novos vilões (mal desenvolvidos, diga-se de passagem) destoarem das concepções vistas na produção de 1980. Com isso, o tal terror psicológico perde força, é pouco crível e não assusta como deveria.
Entretanto, “Doutor Sono” não é 100% decepcionante. Ainda que a interação de poderes sobrenaturais entre os protagonistas seja interessante e de não apressar as ações da trama, o filme é assertivo na contemplação ao clássico de Kubrick. Nesse quesito, o diretor e roteirista Mike Flanagan (“A Maldição da Residência Hill”) fez um trabalho eficiente. As referências são inúmeras, a começar pela fotografia (há semelhanças nas transições sobrepostas, nos movimentos e ângulos de câmera), pela trilha sonora de acordes graves prolongados, pelo ritmo cadenciado e pelas diversas cenas refeitas que se tornaram icônicas. A nostalgia é um fator contagiante, principalmente na meia hora final.
Somente homenagem não é suficiente. Faltou coesão no roteiro para que os eventos fluíssem com uma melhor sintonia. Por isso, “Doutor Sono” perdeu a chance de ser original. Há elementos que poderiam funcionar sem depender de conexões com “O Iluminado”. Ligações que valorizam mais a promoção ao invés da ampliação da narrativa. Infelizmente, o terceiro ato destrói tudo com soluções rasas e com pouco impacto. É uma pena que a desarmonia de ideias tenha desonrado o legado do cultuado clássico de 1980.
Projeto Gemini
2.8 460 Assista AgoraA premissa de “Projeto Gemini” é bem legal. O melhor assassino de todos (vivido por Will Smith) decide se aposentar, mas acaba sendo exposto a um segredo que o faz virar o alvo principal da organização em que trabalha. Ele é tão bom e preciso que nenhum outro assassino altamente treinado consegue matá-lo. A solução? Utilizar um clone, uma ‘cópia’ mais jovem do maior assassino, para (tentar) eliminá-lo.
Uma ‘boa premissa’ não é sinônimo de bom filme. Infelizmente, “Projeto Gemini” erra mais que acerta. Os erros não fazem o longa ser execrável, mas torna-o burocrático e pouco criativo. O roteiro desenvolve mal a ideia, ou melhor, as ideias. Uma delas é explorar pouco a potencialidade do tal assassino, cujas habilidades de luta e precisão de tiro beiram a perfeição. Praticamente, há um breve momento de ação para construir esse empoderamento. Vemos o quanto ele é tão bom quando é perseguido pelo clone, mas isso não é o suficiente para se criar empatia. Não há uma jornada para que ele possa demonstrar suas aptidões. Nem o carisma de Will Smith consegue fazer seu personagem ser empolgante. A título de comparação, nesse quesito, John Wick é um acerto inquestionável.
A outra ideia mal explorada é a do clone e todo o contexto que envolve sua criação. Tudo é muito raso, não debate conceitos e o pouco que mostra não convence como deveria. Há um grande potencial desperdiçado. O filme poderia ter sido uma baita ficção científica, mas acaba ficando apenas no ‘tiro, porrada e bomba’. Isso me faz questionar o porquê deste projeto, que seria interpretado por Clint Eastwood e depois substituído por Mel Gibson, ter sido cancelado no final dos anos 90 por ser ‘tecnologicamente impossível’ de ser feito. Se o problema era a limitação dos efeitos visuais da época para rejuvenescer o protagonista em 28 anos, não teria sido melhor Eastwood, por exemplo, contracenar com um sósia? “Cowboys do Espaço”, em 2000, fez isso, utilizou sósias para retratar os protagonistas em fases mais joviais e funcionou muito bem.
Se o texto não funciona bem, pelo menos, duas coisas são bem-vindas: a direção de Ang Lee e a novidade high frame rate (HFR), traduzindo, alta taxa de quadros, que foi divulgada no lançamento do filme. Lee é um bom cineasta. Em 2012, ele ganhou o Oscar de Melhor Diretor por “As Aventuras de Pi”. Na época, ele pegou um roteiro problemático e o transformou em um belíssimo trabalho, principalmente pelo que fez ao retratar a parte do naufrágio que envolve Pi. Em “Projeto Gemini”, ele não teve a mesma sorte. Ainda que proporcione bom ritmo e trabalhe com poucos cortes de câmera nas sequências de ação (há vários pequenos planos-sequências ao longo da projeção), a maioria das cenas criadas é muito simples, carece de complexidade e, em muitas delas, de emoção. O que Lee fez de relevante na produção foi na utilização do tal HFR.
Sejamos francos, o ‘high frame rate’ não é tão novidade assim no cinema. O cineasta Peter Jackson já havia rodado “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, em 2012, em 48 quadros por segundo (um filme tradicional é feito com 24qps – para os leigos, um segundo de filmagem é equivalente a 24 fotos). Ang Lee foi além e fez “Projeto Gemini” com inéditos 120qps, mas, na maioria dos cinemas, o HFR esteve disponível em 60qps apenas na versão 3D para o exibidor utiliza projetores em 4k. A distribuidora Paramount vendeu essa ideia como 3D+.
Que diferença faz esse HFR? As imagens ficam mais nítidas e mais dinâmicas. Fazendo uma comparação com a TV (guardadas as devidas proporções, obviamente), quanto maior a frequência em Hertz (Hz), ou taxa de atualização da imagem, menos ‘motion blur’ ou movimento borrado terá na tela (dê um ‘Google’ aí para entender mais sobre isso).
O HFR nas cenas de ação ficou bastante interessante. Além de possibilitar a utilização de câmeras lentas (poderia ter sido mais utilizada aqui, diga-se de passagem), os movimentos nunca ficam confusos e as cenas ganham mais impacto, mais realismo. Exemplo disso é a boa sequência da perseguição de motos. Ah, sem falar em uma melhora considerável da profundidade do 3D utilizando esse recurso. O ponto negativo é revelar a artificialidade dos efeitos visuais. Embora os efeitos sejam bem aplicados aqui, alguns detalhes podem se tornar perceptíveis. São poucos, mas há determinados momentos que percebemos que há uma ‘maquiagem digital’ no jovem Will Smith.
Claro, não é o HFR que fará o filme ser bom. Isso é apenas uma ferramenta para ajudar na imersão do espectador na história que está sendo contada. Ang Lee acerta no HFR, mas derrapa ao não conseguir se safar se um roteiro ruim. No geral, “Projeto Gemini” é uma sessão da tarde descompromissada, principalmente para aqueles que curtem o estilo de ação ‘gato-e-rato’.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraEsqueça, ou melhor, tente esquecer os super-heróis, eles não existem em “Coringa”. Eu sei que será difícil não associar o protagonista e toda a ambientação do longa ao Batman, mas, mesmo assim, é importante deixar de lado o homem-morcego. O que você verá, aqui, são dramas que retratam a origem daquele que foi um cidadão comum e que se tornou um dos mais icônicos vilões das histórias em quadrinhos (da DC Comics).
É importante salientar que “Coringa” é uma releitura do personagem e não faz parte, pelo menos por enquanto, do ‘universo estendido’ da DC Comics no cinema. Segundo os produtores e diretor, é um filme isolado e que não haverá conexão com o atual (e futuro) cenário dos longas baseados nos personagens da editora.
Inclusive, o roteiro do filme não é adaptado de nenhuma obra específica. Seu conteúdo é original e inspirado em inúmeros recortes e fontes, como algumas HQs (“A piada Mortal”, histórias assinadas por Frank Miller, entre outras) e determinados produtos cinematográficos, como “Clube da Luta”, “O Cavaleiro das Trevas” e filmes de Martin Scorsese, em especial “Taxi Driver”, sua maior e notável influência.
A narrativa nos mostra Arthur Fleck já adulto e tentando ganhar a vida com muita dificuldade. Além de conviver com problemas neurológicos por causa de seu passado e de contratempos que enfrenta no trabalho como palhaço, ele ainda tem a incumbência de cuidar sozinho da mãe doente. Como diz o ditado ‘desgraça pouca é bobagem’, Fleck sofre bullying, preconceitos e descaso das autoridades o que faz aflorar, lentamente, a psicopatia que conhecemos.
“Coringa” é um estudo de personagem brilhante e perturbador! Sua subversão mostrada no filme tornou-se polêmica justamente pelo fato de associarem o vitimismo social ao protagonista, o que não deixa de ser uma meia verdade. Fleck sofre de todas as violências, físicas e, principalmente, psicológicas, causadas por seu passado de abusos e por desigualdades políticas e econômicas desencadeadas pelos interesses da sociedade elitista.
Fleck é ‘gente como a gente’ e isso gera uma estranha empatia. Nos identificamos com seu sofrimento, mas, ao mesmo tempo, sabemos o quão implacável e assustador ele se tornará no final das contas. O Coringa se torna um conceito, fruto de uma consequência. É o limbo que alimenta seu sentimento de vingança e anarquia dentro de uma ficção. A violência, inclusive, é inserida de maneira pontual na narrativa.
O longa é otimamente dirigido por Todd Phillips (“Cães de Guerra” e “Se Beber, Não Case!”). Seu trabalho se destaca por proporcionar um equilíbrio eficiente em relação a todos os aspectos do filme, seja visualmente (fotografia), sonoramente (trilha sonora), textualmente (roteiro e edição) e na direção de elenco. Além do ritmo cadenciado, o cineasta investe em uma estética fria, realista e com cores mais escuras, ora desbotadas ora acinzentadas (que ganha coloração em um terceiro ato espetacular) para retratar uma Gotham City com ares sombrios e com atmosfera sempre hostil. Phillips ainda harmoniza a imagem com uma trilha sonora visceral de acordes graves que valoriza a inquietude do personagem.
Falando em personagem, que atuação de Joaquin Phoenix! Sua interpretação nos faz sentir todo o peso dramático que Fleck carrega. A tal empatia, citada anteriormente, também se deve pelo desempenho de Phoenix. Ele nos faz acreditar que Fleck realmente existe. Sua magreza (que passa a sensação de ser frágil), sua expressão corporal, o jeito de seu caminhar e seu comportamento diante do transtorno neurológico, afeto pseudobulbar, que o faz rir de maneira descontrolada (para cada situação há uma risada diferente) são assustadoramente convincentes. Um trabalho impressionante digno de Oscar.
“Coringa” é um exercício de gênero diferente dentro do universo de super-heróis que estamos acostumados a ver. O filme poderia funcionar perfeitamente sem que houvesse conexões com Batman (há boas e inacreditáveis reviravoltas, diga-se de passagem). No entanto, que graça teria se não existisse o Coringa para antagonizar o homem-morcego?
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista Agora“Ad Astra”, cujo significado em latim é basicamente o subtítulo que o longa ganhou no Brasil (para as estrelas), é uma ficção científica para poucos. Para se ter uma ideia do que o espectador encontrará, o filme tem a simplicidade estética e a qualidade sonora que remete a “Gravidade”, a busca pela sobrevivência lembra “Interestelar”, há um conflito psicológico a lá “Apocalipse Now” e o ritmo lento e a essência filosófica da narrativa faz referência a produções como “Solaris” e “2001 - Uma odisseia no espaço”. Apesar de ser bem menos complexo em relação aos dois últimos longas citados, “Ad Astra” utiliza a imensidão do universo para passar uma mensagem familiar que é maior do que imaginamos.
Roy McBride é o astronauta mais bem preparado da SpaceCom. Após misteriosos flashes espaciais ameaçarem a vida dos seres humanos, Roy é recrutado para uma missão no intuito de desvendar os tais eventos e resgatar seu pai Clifford McBride, que pode estar por trás de tudo isso. Clifford, inclusive, está em uma base espacial desaparecida a anos após comandar o desastroso Projeto Lima, que visa procurar sinais de vida alienígena no espaço.
O longa apresenta uma temática grandiosa, porém com uma estética mais simplista, pouco futurista, ou melhor, menos fantasiosa. A concepção do design de produção parece estar mais próxima do que conhecemos hoje, no presente, do que pensamos ser no futuro. Claro, como se trata de uma ficção científica, há vislumbres de futurismo, como a gigantesca ‘torre espacial’ com suas bases cravadas na Terra e as estações lunar e marciana, cenários da jornada do protagonista. Há uma tecnologia evoluída, mas ela nunca rouba a cena.
Essa ideia de ser pouco fantasiosa é trabalhada de maneira brilhante pelo diretor James Gray (“Z: A Cidade Perdida”). O cineasta concede um visual minimalista ímpar, imprime um ritmo frio e cadenciado e dirige ações pontuais ao longo da projeção para quebrar a lentidão narrativa. Há, pelo menos, três ótimas sequências mais movimentadas que farão o espectador se agarrar de tensão na poltrona. Além disso, salvo as licenças poéticas, o longa obedece alguns conceitos científicos da física e não apela para a complexidade relativista, como aquelas que vimos em “Interestelar”, por exemplo. Isso traz certa leveza ao roteiro e faz o público absorver mais a história que está sendo contada (é o que mais importa) ao invés de focar no didatismo científico sobre a verossimilhança das ações.
A grande virtude de Gray em “Ad Astra” talvez seja a harmonia que ele proporcionou em todos os aspectos do projeto. Prova disso, é o seu domínio na utilização da excelente parte técnica. A edição, os efeitos visuais, a cinematografia, a engenharia de som (em especial, a mixagem) e, principalmente, a espetacular trilha sonora são os propulsores da imersão do espectador ao filme. O silêncio é preenchido com acordes hipnotizantes do compositor Max Richter.
É impressionante o resultado disso tudo. A sensação é de que estamos flutuando junto com o protagonista. Claro, outro fator que agrega na regularidade da produção é a atuação irretocável de Brad Pitt. O desempenho minimalista do ator está em uma perfeita sintonia com a proposta do filme. Pitt transborda talento ao ‘dizer muito com pouco’ em meio ao silêncio e a solidão do espaço.
A narrativa demonstra ter alguma ambição, mas quando as ações afunilam para o clímax há um intimismo que freia a expectativa daqueles que esperam uma grande reviravolta. Apesar de soar negativo, esse tom intimista nos faz refletir sobre a discussão familiar presente em todo o longa (o filho em busca do pai) e mostra que os sentimentos são mais grandiloquentes que a missão do Projeto Lima ou da própria exploração do espaço sideral. Muitas vezes, barreiras internas do ser humano podem ser mais desafiadoras e importantes do que um desbravamento espacial.
Enfim, “Ad Astra” é uma ficção científica grandiosa que valoriza mais a ‘contemplação’ que o ‘movimento’. Não tem a complexidade de produções icônicas do passado, mas é um ótimo exemplar do gênero para os tempos atuais. Um espetáculo visual que, embora seja recomendado para a minoria por causa de sua vagarosidade, merece ser apreciado. Oscar? Eu ouvi indicações ao Oscar?
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0KO diretor Danny Boyle nunca foi de se aventurar no gênero da comédia. Tudo bem que a maioria de seus filmes possui humor, mas não são considerados comédias, de fato. Talvez, “Por uma vida menos ordinária” tenha sido, até então, o único título cômico do cineasta. Agora, com “Yesterday”, Boyle aumenta seu repertório no gênero em um filme leve e com uma premissa genial.
Se a banda The Beatles não existisse, como seria? Essa é a ideia do roteiro que brinca com a não existência do quarteto de Liverpool e do efeito dominó que isso causa sobre suas influências na cultura pop.
Essa brincadeira afeta um (frustrado) aspirante a músico. Após sofrer um acidente, Jack acorda no dia seguinte e descobre que a famosa banda nunca existiu. Somente ele tem conhecimento do grupo musical e, também, de suas icônicas canções. Diante disso, ele aproveita para lançar as famosas músicas dos ‘besouros’ como se fossem suas para alavancar sua tão sonhada carreira e ganhar fama. Entretanto, todo esse cenário e o conflito de dilemas podem trazer consequências desagradáveis para Jack.
O roteiro equilibra pontualmente os momentos dramáticos e cômicos vividos pelo protagonista. A ideia da inexistência de The Beatles gera inúmeras situações interessantes e divertidas que contagiam o público. Ainda que tenha discussões convencionais relacionadas ao preço da fama, o problema é a subtrama romântica que fica cada vez mais deslocada com a aproximação do clímax. Ao final, a empolgação criada pela narrativa pode frustrar aquele espectador que espera ‘aquela’ reviravolta que não acontece, não surpreende. Fica a sensação de que o potencial da premissa foi desperdiçado em uma conclusão vazia, previsível e politicamente correta.
Apesar disso, os primeiros dois atos são suficientes para que o espectador crie simpatia com o filme. Claro, a excelente seleção de músicas de The Beatles (o título é uma menção a uma delas) e a maneira com que elas foram executadas pesam bem a favor desse veredito. Bom trabalho de mixagem som, diga-se de passagem!
“Yesterday” é uma comédia despretensiosa, bonitinha, bem interpretada (destaque para Himesh Patel, Lily James e Joel Fry) e de humor rasteiro agradável. Tecnicamente, é bem feita, só não espere tanto do estilo frenético consagrador de Danny Boyle. Mesmo assim, o diretor ainda deixa um pouco de sua assinatura ao utilizar enquadramentos assimétricos e diagonais e rápidos movimentos de câmera em determinadas cenas.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraLonga é a nona produção dirigida e roteirizada por Quentin Tarantino. Segundo ele, o penúltimo de sua carreira antes de se ‘aposentar’ (será?). “Era uma vez em... Hollywood” é um dos filmes mais simples e um dos menos ousados do cineasta. Mesmo assim, é uma obra competente, muito bem filmada e otimamente interpretada.
A narrativa é, na verdade, uma sátira que homenageia os bastidores de Hollywood no final dos anos 60. Assim como fez em “Bastardos Inglórios”, Tarantino reinventa situações utilizando cenários reais. Prova disso é quando a história dos protagonistas (o ator Rick Dalton e seu dublê Cliff Booth) se cruza com a atriz Sharon Tate, esposa do diretor Roman Polanski, que, na vida real, foi assassinada pelo famoso psicopata Charles Manson.
Apesar da simplicidade do enredo, “Era uma vez em... Hollywood” traz a qualidade cinematográfica exigida pelo diretor: ótimos diálogos, roteiro bem humorado recheado de (auto)referências a outras produções, ritmo cadenciado, trilha sonora harmoniosa e muita entrega do elenco. Destaque para as atuações dos carismáticos Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, ambos estão em uma ótima sintonia.
Como o filme retrata os bastidores da indústria do entretenimento estadunidense, ainda há espaços para os bons momentos de metalinguagem. É o cinema mostrando ele mesmo com boas doses de nostalgia. A nostalgia, inclusive, é bem fotografada. Há alguns planos-sequências e muitas tomadas com câmera estática que valorizam a excelente reconstituição de época.
No final das contas, ainda que tenha faltado uma abordagem mais aprofundada dos hippies, que são retratados de maneira bem caricata, “Era uma vez em... Hollywood” contempla os profissionais que fazem funcionar as engrenagens do cinema e da televisão, vide o violento clímax que metaforiza o assunto de forma espetacular. Sem eles no backstage, os atores não seriam celebridades, mesmo sendo fantásticos em cena e ocos longe das câmeras.
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista AgoraAs primeiras imagens desta versão live action (?) de "O Rei Leão" são espetaculares! O visual dos trailers promocionais é incrivelmente belo e realista. Parecem, inclusive, cenas de algum episódio sobre a vida selvagem exibidos nos canais da TV a cabo, tais como Animal Planet, Discovery Channel e National Geographic. Se a ideia é conquistar o público pela primeira impressão, isso foi um tiro certeiro.
Para os fãs da animação 2D dos anos 90, fiquem tranquilos! A história (e seus toques shakespeariano) não foi, essencialmente, alterada. Ainda que tenha quase 30 minutos a mais de duração em relação ao desenho, o filme é um repeteco do que conhecemos e, portanto, não se trata de uma releitura da fábula. Claro, como é uma adaptação, algumas coisinhas sofreram mudanças/inserções ou contextualizações para que certos detalhes tenham coerência em relação a proposta de ser, digamos, 'realista'. Até os números musicais são os mesmos e contextualizados com novas vozes.
O problema da produção fica por conta da falta de expressividade dos personagens. Com o hiperrealismo do visual, os trejeitos faciais ficaram mais contidos, mais frios. Com isso, o filme perde dramaticidade na interpretação. As emoções são expressadas de maneira tímida, como leves movimentos na musculatura da boca ou movimentações corporais que imitam o comportamento natural dos animais. As manifestações sentimentais ficam mais evidentes por causa da entonação da dublagem dos atores (todas as vozes originais estão ótimas, diga-se de passagem). Sem uma harmonização com a imagem, apenas a voz não é suficiente para proporcionar o carisma ideal que cada personagem merece.
Apesar disso, essa estranha impressão de ver animais 'de verdade' falando ou cantando sem expressar emoção não afeta tanto para quem se encantou com a magia e o traço caricato do clássico. Falando em emoção, essa sensação é proporcionada pelas boas execuções das canções e pela ótima trilha sonora, também contextualiza, de Hans Zimmer. O compositor, inclusive, levou o Oscar na categoria ao assinar as músicas da animação de 1995. Há cenas que dão bons arrepios, principalmente aquelas que sugerem a imponência leonina. Isso acontece devido ao uso pontual da ótima música de Zimmer.
E aí, vale a pena? Claro que vale, especialmente pela estética apurada deste ‘live action’ sem humanos. Calma aí, live action? O filme é vendido assim, mas é meio que enganoso. Todo o processo de gravação foi em realidade virtual e com acabamentos de CGI (efeitos gráficos) e de animação 3D computadorizada. É um trabalho ímpar de fotorrealismo que pode ser revolucionário para as produções futuras (cheiro de Oscar 2020 no ar?). Os detalhes de pelos dos mamíferos, os insetos e o movimento da musculatura dos animais são incríveis!
Diria que tudo em "O Rei Leão" é uma evolução de "Mogli - O Menino Lobo", ambos dirigidos pelo competente Jon Favreau. "Mogli", certamente, serviu de laboratório para Favreau realizar esta nova versão da icônica animação que encantou a todos nos anos 90. O diretor utilizou as tais quase 'meia hora a mais' para esticar diversas cenas, valorizar as belas paisagens bucólicas e espetacularizar as boas sequências de tensão. Além disso, Favreau homenageia, a todo instante, a obra original com enquadramentos semelhantes.
A magia do desenho é insubstituível e marcante. Neste novo "O Rei Leão", a magia é proporcionada pela tecnologia que deixará o espectador deslumbrado pela extraordinária parte técnica.
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw
3.1 456Se você acha os filmes da saga "Velozes & Furiosos" exagerados é porque você não viu este derivado da franquia "Hobbs & Shaw". A produção, estrelada e produzida por Dwayne Johnson e Jason Statham (ambos reprisam seus personagens), ignora qualquer regra da física nas sequências de ação. Apesar disso, o longa é muito divertido!
"Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw" é absurdo ao extremo. Só não é ruim porque nada é levado a sério. Isso fica claro desde o início quando a pegada galhofa toma conta da atmosfera que contorna o filme. Portanto, recomendo desligar o cérebro por duas horas para que o entretenimento funcione.
Ser despretensioso é a melhor coisa que o roteiro oferece. Isso beneficia o carisma dos protagonistas que destilam diálogos ácidos e engraçadíssimos. Quem conhece, já sabe que os personagens se odeiam. Mas, como diz o ditado: 'os opostos se atraem'. Nada melhor que o humor e suas inúmeras gags situacionais (as disputas de comparações entre eles são as melhores) para fazer essa fusão de forças.
Sim, galhofa! Tudo é em tom de brincadeira. Inclusive, o filme parece uma comédia de ação dos anos 90. E brincar com 200 milhões de dólares de orçamento nas mãos pode ser bastante divertido. Foi o que fez o diretor David Leitch ao aliar muita grana com sua experiência em comandar cenas de ação mirabolantes. Não é atoa que ele é uma das atuais referências do gênero ao lado de Chad Stahelski, ambos dirigiram o primeiro "John Wick". Depois, o cineasta se aventurou em "Atômica" e "Deadpool 2".
Ainda que não sejam marcantes, as sequências em "Hobbs & Shaw" são espalhafatosas e, muitas vezes, ilógicas, mas sempre bem dirigidas. A boa direção de Leitch faz a diferença. Há bom uso de câmeras lentas, o senso de escala é bem trabalhado e a edição, embora tenha momentos frenéticos, não prejudica a geografia das cenas (nada fica confuso). Além disso, os efeitos visuais são eficientes e contribuem para que o exagero fique bem feito. A absurdidade é tão grande que tudo se torna cômico e aceitável.
Ah, sim, a história. Hobbs e Shaw são convocados por suas agências para deter Brixton (bem interpretado por Idris Elba), um anarquista geneticamente aprimorado que está atrás de uma arma biológica perigosa que pode alterar a humanidade para sempre! Ah... outra parte legal do roteiro é mostrar um pouco da origem dos personagens. Atente para algumas participações especiais durante a projeção.
Se fizer dinheiro nas bilheterias, pode ter certeza que "Hobbs & Shaw" ganhará uma continuação. Se isso acontecer, Dwayne Johnson e Jason Statham adorariam ter uma franquia longe de Vin Diesel, não é mesmo? Quero o próximo desafio no espaço, pode ser? (rs...)
Atentado ao Hotel Taj Mahal
4.0 256 Assista AgoraFilmes que retratam fatos verídicos, com realismo, me remetem a dois bons diretores: Peter Berg e Paul Greengrass. Na verdade há mais Greengrass que Berg no ótimo “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, do estreante Anthony Maras. Certamente, o cineasta e roteirista australiano bebeu da mesma fonte que as figuras citadas para retratar o atentado terrorista ao luxuoso Hotel Taj Mahal em Mumbai, uma das maiores (se não a maior) cidade da Índia.
O episódio, ocorrido em 2008, deixou 166 mortos e centenas de feridos em diversos locais da cidade em um ataque comando por uma célula islamista. Somente no hotel, 31 vidas foram eliminadas durante as 60 horas de terror. Para contar a história do trágico acontecimento, o roteiro foca em algumas pessoas que realizaram pequenos atos heroicos, como o renomado chef Hemant Oberoi e o garçom Arjun, ambos otimamente interpretados por Anupam Kher e Dev Patel, respectivamente.
Dentre as vítimas, cinco eram dos Estados Unidos. No filme, o ator Armie Hammer faz o papel do estadunidense que precisa salvar a vida de seu filho recém-nascido. Inclusive, até o final de 2018, os norte-americanos haviam atualizado a recompensa de 10 milhões de dólares pela detenção dos organizadores dos atentados.
O diretor Anthony Maras consegue proporcionar uma eficiência técnica semelhante ao que Greengrass fez em alguns de seus longas, como “Vôo United 93” e “Capitão Phillips”. A fotografia imprime um tom documental assertivo. Além disso, a câmera inquieta, o ritmo ágil, a fidelidade das locações, a atmosfera claustrofóbica e o uso de imagens de notícias reais em televisões de fundo valorizam o suspense. A ação crua e a hostilidade sanguinolenta dos terroristas também colaboram para que o filme tenha boas doses de tensão. Talvez tenha faltado uma trilha sonora melhor, para que as situações ficassem ainda mais emocionantes.
Sabemos o que aconteceu, mas não sabemos como aconteceu. Essa é a prerrogativa convencional que o roteiro utiliza para chamar a atenção do espectador e jogar na tela peculiaridades do atentado, sejam representações fidedignas ou fictícias que ajudam a dar dramaticidade ao longa. Exemplo disso são questões religiosas e financeiras sutilmente abordadas ou até a possível retratação da condição de pobreza de um dos personagens que, apesar das dificuldades, é honesto e convicto de suas crenças.
O sentimento de heroísmo é coletivo entre os funcionários do hotel. Embora estejam atordoados e preocupados, a maioria dos empregados não perde a elegante postura profissional (ou ‘gourmet’) de ajudar e servir os hospedes. Isso proporciona empatia e emoção no clímax do filme. Claro, não sobram críticas às autoridades locais. É impressionante como há falta de infraestrutura em segurança na cidade indiana.
Enfim, “Atentado ao Hotel Taj Mahal” é uma ótima pedida de suspense para quem curte longas baseados em tragédias reais. Certamente, Anthony Maras é um dos destaques positivos da nova safra de cineastas australianos. Outro diretor do país que ganhou notoriedade recentemente foi Garth Davis, responsável pelo espetacular “Lion: Uma Jornada para Casa”.
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista Agora"Homem-Aranha: Longe de Casa" não é ruim, mas, dependendo do ponto de vista, pode ser uma experiência frustrante. Para quem não assistiu ao trailer, o filme entrega o que promete, uma aventura de tom adolescente para se divertir em uma sessão da tarde despretensiosa. Já para quem ficou animado com o trailer, o longa pode deixar a desejar, principalmente para os fãs do MCU (traduzindo, Universo Cinematográfico da Marvel).
Como projeto, Homem-Aranha é o filme que finaliza a fase 3 da Marvel no cinema. Como narrativa, o ‘gran finale’ foi, de fato, em "Vingadores: Ultimato".
E isso pode gerar alguma frustração no público que anseia por novidades sobre o futuro dos heróis nas telonas. Quem viu os trailers perceberá que quase nada do MCU avança. Talvez, somente as duas cenas pós-créditos trazem algum vislumbre do futuro, o que é muito pouco para quem estava com altas expectativas.
Vamos ao filme. Peter Parker retorna para a escola e volta a lidar com seus ideais e, claro, problemas que todo adolescente enfrenta na vida pessoal. Além disso, Parker ainda carrega a dor da perda de Stark, que salvou o mundo em "Ultimato". Em uma excursão escolar pela Europa, ele se depara com novas ameaças, os Elementais, e um novo herói, nomeado de Mysterio, que se une a Nick Fury para combater as tais criaturas feitas de água, terra, vento e fogo. Com muito custo, Fury consegue recrutar Parker para ajudar o misterioso paladino.
Analisando como ‘copo meio cheio’, há virtudes peculiares referentes à Marvel Studios, como as conexões coerentes com outros longas e a manutenção da velha cartilha utilizada em todos os filmes. As consequências do estalo de Thanos são repercutidas aqui, a falta de Tony Stark é sentida durante toda a projeção, as motivações de Mysterio estão bem contextualizadas, easter eggs e referências aos montes sobre o MCU e, claro, participações de personagens conhecidos, como Happy e Nick Fury.
Novamente roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers e dirigido por Jon Watts, todos trabalharam juntos em "De volta ao lar", o longa investe em um tom bem adolescente. Com isso, espere a retratação de diversas peculiaridades do ‘cabeça de teia’, como sua personalidade meio atrapalhada para resolver problemas, sua timidez aparente no interesse amoroso com MJ e os conflitos na transição de sua maturidade como um inocente garoto e a responsabilidade de um herói. Tudo isso é banhado por um humor rasteiro que não está tão em sintonia como deveria. Algumas passagens cômicas funcionam, mas a maioria parece estar deslocada na narrativa, infantilizando diversas quebras de texto (é até mais infantil que "De volta ao lar").
As melhores piadas (principalmente as situacionais) aparecem na primeira metade da projeção que, inclusive, é a melhor parte do filme. Há bom ritmo e um desenvolvimento interessante da trama. Entretanto, quando ocorre a primeira grande reviravolta, a partir da segunda metade, o longa passa a dar mais espaço ao seu antagonista. A partir daí, tudo que acontece até a conclusão pode não convencer os mais exigentes.
Ainda que tudo pareça estar encaixado, o plot twist e suas resoluções não empolgam tanto. Nada tenho a reclamar da competente parte técnica e do bom elenco (o carismático Tom Holland está ótimo assim como Jake Gyllenhaal que está muito bem como Mysterio – talvez a ressalva seja para Zendaya, que está meio ‘sem sal’). Mas, como disse, somente as ótimas cenas pós-créditos trazem alguma novidade.
Com o "Ultimato" ainda fervendo na mente dos espectadores, o marketing de "Homem-Aranha: Longe de Casa" é quase enganoso. Por isso poderá haver frustrações por parte do público pelo fato de o filme prometer algo e não entregar (ahhh trailer @#$%&).
X-Men: Fênix Negra
2.6 1,1K Assista AgoraComo disse Galvão Bueno na Copa do Mundo de 1994: "Acabôoo, é tetraaa"! Sim, meus amigos, a saga dos "X-Men" (e seus derivados) nos cinemas acabou... por enquanto. Foram 19 anos e 13 filmes produzidos pela Fox, sendo sete deles comandados pela trupe do Professor Xavier, três longas sobre Wolverine, duas produções protagonizadas por Deadpool e um que já está pronto há muito tempo ("X-Men: Novos Mutantes", outro proveniente desse universo), mas seu lançamento foi adiado inúmeras vezes e ainda há uma previsão de estreia para 2 de abril de 2020.
"Fênix Negra" faz parte da 'narrativa principal' dos mutantes nas telonas e que 'apagou as luzes e fechou a porta' desse universo cinematográfico. É o quarto (péssimo trocadilho com o 'tetra' acima, me desculpem) da nova série de filmes sobre mutantes da Marvel que foi reiniciada em "Primeira Classe", com um elenco carismático estrelado por James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult.
"Fênix Negra" não é abominável como dizem. Embora tenha lá seus defeitos, o longa é 'OK', divertidamente assistível, ou melhor, uma boa sessão da tarde. Convenhamos, nenhum longa sobre esses mutantes conseguiu ser espetacular como merecia, de fato. No entanto, cinco deles são muito bons: os dois primeiros, "Primeira Classe", "Dias de um futuro esquecido" (sim, eu gosto!) e "Logan".
A verdade é que a saga dos "X-Men" no cinema foi uma bagunça em sua linha temporal. Quanto mais mexiam na tentativa de alinhar os fatos mais atrapalhavam as conexões narrativas. E o pior, muitas produções não obedeciam a determinados critérios para que a linha temporal tivesse alguma coesão. Isso contribuiu para o desinteresse do público. "Dias de um Futuro Esquecido" tentou consertar e conseguiu em partes, mas não foi satisfatório como um todo. Outra crítica pertinente à saga é o contexto social metafórico sobre a existência dos mutantes, sempre explorado de maneira rasa e aqui não é diferente.
"Fênix Negra", como disse, não é execrável, embora seja convencional (qual não é?). Não dá para esperar tanto de uma franquia que nunca entregou um produto de excelência sobre os mutantes. Por isso, prefiro avaliar o filme com a perspectiva (apenas cinematográfica, sem entrar do mérito e na importância da Fênix Negra das HQs) do 'copo meio cheio'. Apesar de muitas falhas, há alguma qualidade neste último episódio dos X-Men. A premissa não é de se jogar fora, tem algum potencial, mas...
A narrativa foca na personagem Jean Grey e em Charles Xavier no primeiro ato. No segundo, o assunto é a nova ameaça clichê de 'destruição do planeta'. No terceiro, 'a união faz a força' e... você verá.
Todos já sabemos que Jean conseguiu atingir o ápice de seu poder transformando-a na Fênix Negra ao derrotar o vilão Apocalypse no longa anterior. Em uma missão de resgate a um ônibus espacial fora da Terra, Jean absorve uma poderosa energia cósmica que tem capacidade de ampliar seus poderes, mas, também, deixá-los descontrolados. Com isso, ela se torna uma ameaça a todos.
O que uma boa e velha história faz? Coloca a heroína em um drama existencialista que a obriga a lidar e superar seus problemas. E é isso que o roteiro faz ao retratar o passado da protagonista e ao mostrar a influência duvidosa de Charles em sua vida.
Em determinado momento, Charles é tratado como um antagonista e é o responsável por moldar a personalidade ameaçadora de Jean. Ela deixa os X-Men em busca de verdades sobre seu passado e, paralelamente a isso, extraterrestres, que monitoravam a tal energia cósmica, procuram-na por acreditarem que a mutante seja a chave para viabilizar um plano catastrófico para a humanidade. Todos estão à sua busca, seja para explicar um 'mal entendido' ou para ser manipulada e utilizada como uma poderosa arma capaz de destruir o planeta inteiro.
O primeiro ato é muito bom. Os X-Men, enfim, se tornam 'amigos de todo o mundo', em especial do governo norte-americano. São respeitados e tratados como heróis. No entanto, toda essa paz se desmorona com a hostilidade de Jean. E aí começam os problemas de roteiro. Algumas decisões textuais soam infantis. Além disso, há inconsistências dramáticas e argumentos repentinos nas transições de ações/reviravoltas. Tudo isso faz com o que roteiro seja frágil, com passagens mal desenvolvidas e com desperdício de personagens (Mercúrio e Magneto, por exemplo, tem pouca presença de cena).
Essas falhas de roteiro não são novidades nesse tipo de filme. A maioria deixa a desejar nesse quesito. O que faz isso não ser tão grave é uma boa direção que, aqui, infelizmente, é pecaminosa. Simon Kinberg, que dirige e roteiriza "Fênix Negra" (também escreveu os dois últimos X-Men), é burocrático. Ele desenha boas cenas, há ideias interessantes, mas não consegue realizá-las com criatividade. O uso de câmeras lentas não impressiona. Falta vigor, ambição, descontração.
A melhor cena é aquela que abre o longa e é bem competente, diga-se de passagem. A trilha sonora de Hans Zimmer contribui para que essa sequência tenha impacto positivo. Falando nisso, a trilha de Zimmer é a melhor coisa que tem em toda a projeção e é uma importante ferramenta que ajuda no ritmo de quase tudo. O problema é que só a trilha não faz milagre.
No final das contas, tudo termina sem o 'gosto de quero mais' e uma estranha incerteza de definir se o filme é ruim ou bom. Pelo menos é melhor que "X-Men 3", outro longa, como "Fênix Negra", que teve seu potencial desperdiçado. Tá bom, tenho que decidir, né... apesar das críticas aparentemente duras, é legalzinho!
O futuro dos X-Men nos cinemas vai depender da Disney, que comprou a Fox por um valor bilionário e adquiriu os direitos de utilizá-los nas telonas. E como o Mickey é, também, o dono da Marvel Studios, fica a esperança de ver os X-Men participando do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) ao lado dos Vingadores e, claro, sendo comandado por pessoas mais qualificadas que adaptem as HQs de Jack Kirby e Stan Lee com a excelência que os mutantes merecem.
Toy Story 4
4.1 1,4K Assista AgoraAhhh Pixar! Você dificilmente erra. Aliás, ainda não errou. Talvez os longas menos prestigiados - que tem lá seus defeitos, mas não são ruins - sejam “Carros 2 e 3”. Quando eu achava que a saga dos famosos brinquedos que ganham vida já tinha se encerrado brilhantemente em sua terceira parte, vocês me aparecem com “Toy Story 4”. É... vocês conseguiram novamente!
O quarto longa de Woody e sua trupe é tão fantástico quanto seus antecessores. Todos os quatro filmes seguem a mesma cartilha moral na narrativa. O primeiro mostra o drama de um brinquedo que tem medo de ser trocado por outro mais novo. O segundo mostra uma jornada de autoconhecimento de Woody ao ser sequestrado por um colecionador de brinquedos. O terceiro entra de cabeça em questões familiares e na compreensão de valores enquanto brinquedo aliando a despedida e a aceitação de novos ‘donos’.
Em “Toy Story 4” mostra o amadurecimento por completo do cowboy em uma jornada especial: resgatar o novo ‘amigo’ de sua dona e fazer com que ele saiba a sua importância como brinquedo. Assim como nos outros longas, há uma repetência na aventura (resgate e ‘volta para casa’), em alguns diálogos e na discussão de valores. Isso, no entanto, não se torna cansativo devido ao macro ambiente estabelecido pelo roteiro. A cada nova animação, a geometria dos eventos é ainda maior e com cenários mais desafiadores (vide o parque de diversões e o sombrio antiquário). É a velha receita feita de uma forma diferente, mas que resulta no mesmo e delicioso produto de sempre.
Desta vez, a trama fica estritamente centrada em Woody e no Garfinho, o novo brinquedo que servirá de inspiração para uma nova e bela lição. Buzz e os outros brinquedos são meros coadjuvantes, porém com alguma relevância nos acontecimentos do enredo. Vemos em Woody uma figura completamente madura e sabendo lidar com os conflitos coletivos que teve nos longas anteriores. Mesmo assim, com a ajuda de uma importante personagem (que representa a parcela ‘girl power’ do filme), ainda resta um espaço em seu interior para se discutir outros valores e atribuições.
Os temas também se repetem, porém continuam importantes, como a união, o respeito, fazer o bem, a compreensão de mundo e a missão como brinquedo (criar memórias na infância da criança), entre outros. Entretanto, o roteiro dá prioridade a novos conteúdos, como sacrifício, cumplicidade, a importância do acolhimento e sua inserção social, a busca da felicidade, do amor e a realização de um sonho.
O que faz a Pixar ser assertiva nesta quarta aventura é que tudo é bem amarrado e bem feito mesmo sendo repetitivo na maioria de seu material. A visão de mundo dos personagens e suas humanizações são tratadas com sensibilidade e dramaticidade inquestionáveis. Isso proporciona empatia e emoção (e como tem emoção!). Aliado a isso, há vários e divertidos easter eggs (sejam eles brinquedos nostálgicos ou referências a outros filmes da franquia) e um bom humor equilibrado que agradam crianças e adultos.
Por fim, vale mencionar o visual de cair o queixo! A qualidade técnica da animação impressiona, principalmente nas texturas, seja nos brinquedos, na paisagem, nos objetos em cena ou nos ‘cenários externos’. Há momentos que tudo parece ser real e só damos conta que se trata de animação quando aparecem os traços cartunescos dos seres humanos. Além disso, a luz está mais vibrante aqui, com muitos tons coloridos em harmonia, o que deixa o longa ainda mais bonito de se ver.
É Pixar, você conseguiu mais uma vez! Não sei se “Toy Story 4” finalizou um ciclo e reiniciou outro, mas só sei que se tiver uma quinta parte vou estar no cinema para prestigiar, seja com velhos ou novos brinquedos.
MIB: Homens de Preto - Internacional
2.8 458"MIB: Homens de Preto - Internacional" possui uma coisa legal: em cada parte do mundo há uma agência de vigilância e controle de extraterrestre na Terra. Sendo assim, a narrativa aborda a 'filial' de Londres onde vemos outra dupla de agentes que terá a missão de salvar o planeta de ameaças externas.
Até aí, tudo 'Ok', já sabemos que estamos diante de um quarto filme da franquia com um conteúdo 'mais do mesmo'. Entretanto, esse clichê é mal trabalhado. Não se trata se a história é boa ou ruim ou se as atuações são convincentes ou deixam a desejar. O problema está nas decisões por trás do 'neuralizador', digo, câmeras.
"MIB" não é para se levar a sério. Não podemos exigir tanto dos elementos fantásticos e da premissa clássica de 'salvar o mundo' que existem para divertir o espectador. Apesar disso, esse universo e suas minúcias absurdas ainda funcionam, como as novas engenhocas, os novos alienígenas bizarros (e outros fofos), os exageros das cenas de ação, entre outras coisas. O que não funciona é o fraco roteiro, que desenvolve mal determinadas situações, e a direção ruim de F. Gary Gray, que não consegue dar ritmo e criatividade ao longa.
Uma das ferramentas cinematográficas que inicia o processo de convencimento do público sobre a trama é o roteiro. É ele quem vai, digamos, atrair outras peças para que o diretor faça uma montagem harmônica das engrenagens com a finalidade de se contar uma boa história nas telonas. Como isso é percebido? De um modo geral e resumido, é por meio de diálogos e pela exposição de situações definidas que devem acontecer em tela. As decisões dessas características afetam os rumos da narrativa, sejam eles coerentes ou não.
Diálogos confusos ou com excesso de exposição, o humor e seu encaixe no texto, personagens mal/pouco desenvolvidos e pequenas reviravoltas repentinas ('Deus ex-máquina') que ditam as ações dos protagonistas são alguns dos problemas recorrentes de roteiros ruins. Esses aspectos soam como deméritos em "MIB: Homens de Preto - Internacional". Se o roteiro não ajuda, a direção deve ter uma autonomia para contornar as adversidades.
E o diretor, como faz para melhorar o filme? Trabalhando em conjunto com o montador para cortar diálogos ou eliminar cenas desnecessárias ou deslocá-las dentro da linha narrativa e fazer alterações no texto de algumas cenas sem fugir da ideia principal do roteiro. Dependendo de como foram feitas as intervenções, o diretor pode proporcionar um ritmo mais dinâmico, qualidade que faltou aqui nos atos finais.
Ahhh, claro, o mais importante: criatividade. Além de ser primordial para os processos citados anteriormente, ser criativo no desenvolvimento do visual e nas sequências de ação podem abafar a ruindade do script. Entretanto, F. Gary Gray não obteve êxito nesse quesito. O primeiro terço do longa é bem objetivo e divertido. No entanto, à medida que o filme avança, a direção parece perder a harmonia de quase tudo resultando em longa arrastado, com emoção nula e com cenas de ação pouco empolgantes.
O que dá certo no filme? As poucas referências aos longas anteriores são sempre bem vindas, duas ou três piadinhas funcionam e a dupla de protagonista não decepciona (apesar de achar que Will Smith e Tommy Lee Jones são mais afinados). Falando nisso, os carismáticos Chris Hemsworth e Tessa Thompson reeditam a parceria que foi sucesso em "Thor: Ragnarok".
E os efeitos visuais? Há uma oscilação de verossimilhança e artificialidade, mas, no geral, os efeitos não chegam a ser um problema. Acerta mais do que erra.
Enfim, esse novo "MIB" é o mais descartável dentre os antecessores. Parece que foi feito as pressas para aproveitar a moda de 'expansão de universos cinematográficos'. Os produtores perderam a chance de revitalizar a franquia e prepará-la para um crossover com os personagens dos filmes anteriores. Já imaginou? Seria legal demais! Contudo, não coloque o óculos escuro e olhe direto para a parte superior do neuralizador. Preste a atenção... 3, 2, 1... "MIB: Homens de Preto - Internacional" não existe, o que você viu foi apenas uma boa ideia que colocaram na sua cabeça.
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista Agora"John Wick" se tornou a melhor referência do gênero ação nos últimos anos. É o 'cinema pipoca' quase perfeito, principalmente por ser bem trabalhado. O primeiro, nominado no Brasil como "De volta ao jogo", fascina por sua simplicidade textual e nos excelentes momentos de pancadaria. Os dois longas subsequentes aumentam a dose de violência, aprimora a plasticidade das cenas, melhoram a qualidade cinematográfica na execução das coreografias e se destaca por apresentar um universo 'underground' de assassinos que nos faz interessar por tudo que vemos.
John Wick, um respeitado assassino profissional, decide se aposentar para viver uma vida normal ao lado de sua esposa. Ao falecer em função de uma doença, ela deixa de presente para seu marido um cachorrinho para lhe fazer companhia. Em um belo dia, 'arruaceiros' roubam o seu carro e mata o presente deixado por sua esposa, forçando-o a 'voltar ao jogo'.
Um dos 'arruaceiros' é o filho do chefe da máfia russa nos Estados Unidos. John Wick caça o rapaz, provoca toda a cúpula da tal máfia, mata o delinquente russo e consegue sua vingança. Entretanto, sua intenção também gera uma caçada dos russos por sua cabeça o que provoca uma série de ações. No fim das contas, Wick extermina quase toda a máfia russa, adota um novo cachorro e 'vence' a parada.
O argumento é simples, é bom e de arco dramático redondinho. Aliado a isso, temos um filme de pancadaria de respeito que investe em coreografias de lutas bem feitas (assim como a edição dessas cenas), bons tiroteios, tiros à queima roupa e violência caricatamente extrema. A verossimilhança é um trunfo e isso cativa o espectador. "De volta ao jogo" é estiloso e John Wick se torna um anti-herói carismático ao aliar amor e vingança como ponto de inspiração para suas ações. Além disso, há todo um interessante cânone sobre assassinos profissionais que é mostrado como pano de fundo e que ganha mais força no segundo filme.
Em "John Wick: Um novo dia para matar", o famoso matador espera se aposentar de vez, tranquilo... só que não. Um mafioso italiano o procura para lhe cobrar uma promissória, um pacto de sangue que Wick havia feito por ter sido beneficiado por algum motivo no passado. Essa dívida obriga Wick a realizar sua 'última missão'. Ele nega o pedido do mafioso e, por consequência, é espancado e tem sua casa destruída. Desta vez, o cachorro sobrevive! Pronto, 'de volta ao jogo' novamente!
Wick acaba aceitando a missão: matar a atual chefe da máfia italiana, a irmã do 'mandante'. Ele executa a missão, mas é perseguido por capangas italianos, inclusive, por Santino, o que lhe cobrou a promissória. Tiro pra lá, tiro pra cá, socos e pontapés aos montes, muita correria, muito estrago e... a briga acaba dentro do Hotel Continental, o local neutro entre os assassinos e que é estritamente proibido matar nas dependências do lugar. Se alguém descumprir as regras, estará ferindo a 'constituição' da entidade e assinará sua sentença de morte.
Por vingança e descontrole emocional, John wick mata Santino dentro do hotel e acaba tendo sua cabeça a prêmio. Todos os assassinos do mundo estão atrás do protagonista. Isso nos leva a comentar sobre a terceira parte: "Parabellum". O ponto de partida é logo após o final do segundo capítulo, com o dono do Hotel Continental dando um tempo de vantagem para Wick poder fugir dos assassinos que estão a sua procura.
Em "Parabellum", tudo é jogado na máxima potência. Diversos estilos de ação são misturados de forma brilhante. Muitas lutas corporais (sempre bem editada e com poucos cortes, o que favorece a coreografia dos atores), momento bang-bang, brigas com facas e espadas, perseguições 'gato e rato' a pé, de moto e... até a cavalo! Os cenários repetem a estética do antecessor com muito espelho, reflexos e luzes neons que dão charme aos ambientes noturnos. Tecnicamente falando, o longa é impecável e exemplar.
Quando disse 'tudo é jogado na máxima potência' também me refiro ao cânone que contorna o protagonista, que se expande a cada novo filme. Aqui, temos uma breve ideia de organograma da 'entidade dos assassinos' e dos superiores de Winston, o dono do Hotel Continental. Inclusive, descobrimos uma pequena particularidade da origem de John Wick. Essa ideia de alargamento desse submundo é válida e interessante, no entanto, há um certo exagero.
O roteiro se preocupa demais em alargar detalhes desse universo e acaba subvertendo os alguns conceitos narrativos. O simples se torna pano de fundo e o argumento que move a história gira em torno da concepção sobre a tal entidade oculta. A impressão é que todos, incluindo figurantes, parecem ser assassinos. Quase não vemos humanização de personagens durante a projeção. Humanização, inclusive, que foi deixada de lado na pancadaria. Há mais cenas absurdas, principalmente quando as graves feridas não atrapalham John Wick em ação.
No geral, isso se torna um ponto positivo. Toda essa demasia na construção de universo não estraga o encanto do espectador, pelo contrário, serve para deixá-lo tenso, contagiado e extasiado com cenas de ação pontuais. O ritmo não cai, é constantemente frenético. O tempo entre as pausas para diálogos servem apenas para que todos (dentro e fora da tela) recuperem o fôlego. Quando menos se espera, mais sequências incríveis aparecem para nos impressionar.
Quem são os culpados disso tudo? São o carismático Keanu Reeves (nem preciso dizer da competência desse cara) e o diretor Chad Stahelski, que também foi o responsável pelos antecessores. Stahelski, inclusive, foi um dos dublês de Reeves em "Matrix" e, sem sombra de dúvidas, é o maior nome do gênero da atualidade. "John Wick 3: Parabellum" é uma aula de se fazer cinema de ação de qualidade.
Mas, afinal de contas, o que é "Parabellum"? Veja o filme e 'prepare-se para a guerra'!
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista Agora"Vingadores: Ultimato" - Mistérios e Questionamentos.
(CONTÉM SPOILERS) “Vingadores: Ultimato” é espetacular. No geral, tudo é muito bem amarrado para a construção de um universo compartilhado. Como se trata de adaptações cinematográficas, nem tudo foi feito para ser fiel às origens, as histórias em quadrinhos. Por isso, existem diversas surpresas ou easter eggs para referenciar e homenagear aquilo que serviu de inspiração.
Ainda que a coesão narrativa surpreenda a todos, há algumas dúvidas sobre a coerência de alguns fatos ou situações. Claro que a lógica e a ciência também estão presentes, afinal, são 22 filmes fantasiosos que burlam, em vários aspectos, os conceitos científicos. Aliás, todos esses filmes e ideias fazem da ciência a ‘licença poética’ perfeita para conquistar o imaginário dos espectadores. Por isso, os termos e consequências de diversas áreas científicas não são tão levados a sério. No filme “Interestelar”, por exemplo, os conceitos de física quântica são aplicados de maneira mais realista possível.
É claro que tudo isso pode levar a furos de roteiro e a inconsistências narrativas. Entretanto, quando uma premissa propõe exageros, tudo em torno disso deve estar em um determinado nível de coerência, para que o espectador aceite os ‘absurdos’ que surgirão na tela. Exemplos disso são explosões barulhentas no espaço, diversos planetas ou locais no universo com atmosferas idênticas às da Terra e que não fazem mal a nenhum terráqueo visitante, a existência de deuses, semideuses ou seres poderosos de outros planetas, visualmente iguais aos seres humanos, entre outros.
As explicações de vórtices temporais ou viagens no tempo via Reino Quântico com partículas Pym, do Homem-Formiga, são absurdas, mas aceitáveis dentro do que foi proposto. Nesse tipo de situação, o espectador não quer saber as minúcias de como isso funciona, ele se interessa apenas por uma rápida introdução da engenhoca, o resto é diversão e o que isso pode impactar na narrativa. Ponto!
Para apontar alguns questionamentos sobre “Ultimato” é preciso revisitar alguns detalhes de “Guerra Infinita”. Algumas perguntas podem ter respostas interpretativas condizentes, outras podem ficar no mistério. Haverá algumas análises de pontos de vista diferentes e sugestões sobre o que acontece em tela. Claro, há muitas outras perguntas a serem respondidas, principalmente se levarmos a sério as consequências provocadas por viagens no tempo, que é o principal plot do filme. O que muda no passado reflete no presente, que modifica o futuro... Não... não quero ter essa dor de cabeça (rs...). Confira abaixo:
GUERRA INFINITA: Como foi o processo em que o Caveira Vermelha foi submetido a ser um guardião de uma joia do infinito (a da alma)? Quando chegou em Vormir ele deve ter substituído um outro guardião. Como isso aconteceu?
GUERRA INFINITA: Thanos diz, em um determinado momento do filme, que destruiu Xandar para pegar a joia do poder. Foi a única batalha que o espectador não viu. O confronto entre a Tropa Nova e o exército do titã louco seria um excelente pretexto para a introdução do Nova, um dos personagens cósmicos mais populares dos quadrinhos. Será que esse herói surgirá depois da destruição de Xandar? Vamos torcer para que ele apareça em "Guardiões da Galáxia Vol. 3" assim como Adam Warlock, outra figura bastante esperada pelos fãs. Vamos aguardar!
GUERRA INFINITA: Ao estalar os dedos para eliminar 50% dos seres vivos do universo, como foi que Thanos 'escolheu' quem viveria ou morreria? Se foi aleatoriamente, ok, mas ele se lembrou do Tony Starky (por causa do Doutor Estranho) e deixou vivas as mentes mais inteligentes do universo, as quais seriam capazes de promover uma vingança. Será que ele não pensou nisso no estalo? Merecia uma explicação melhor. Entretanto, dentro de uma linha narrativa, o fato desses herois continuarem vivos valorizou a ideia de que os Vingadores originais seriam obrigados a se unirem novamente (isso resolve o arco de “Capitão América: Guerra Civil”) para tentarem reverter o estrago causado por Thanos. Isso foi muito legal!
ULTIMATO: Em um determinado momento dos primeiros minutos, Natasha e Rhodes comentam a ocorrência de tremores no mar. Será uma referência ao Namor, o ‘Aquaman’ da Marvel? Será que teremos um filme no futuro com esse personagem? O que foi colocado aqui está muito dúbio, mas deixa aquela pulga atrás da orelha.
ULTIMATO: Viúva Negra morre. Sim, ela se sacrifica para o surgimento da joia da alma. Depois de ter visto o filme, ficou óbvio que ela seria uma baixa na história! Clint Barton, o Gavião Arqueiro, tinha família e desejava ter de volta sua esposa e filhos. Ele foi um dos que testaram a viagem no tempo e só aceitou participar da missão com os Vingadores porque viu que haveria uma chance real de recuperar sua família no final. Viúva Negra não tinha família, e foi justo, vamos dizer assim, o seu suplício. Não faria sentido se Clint pulasse do penhasco em Vormir com todo o seu drama arquitetado durante a narrativa. E o filme dela já confirmado? Está confirmadíssimo, no entanto, ao que tudo indica, será ambientado no passado, o que não prejudicaria a linha temporal. Engraçado é que muitos apostavam na teoria de que o Capitão América morreria para conseguir essa joia. A Marvel enganou a todos!
ULTIMATO: Se a Viúva Negra ganhará um filme solo, porque não fazer um filme solo do Gavião Arqueiro como Ronin, com trama antes de “Ultimato”? Esse personagem já esteve presente nos quadrinhos, assim como Shang-Chi, o herói oriental da Marvel, que ganhará um filme em breve! Será que teremos a participação de Clint como Ronin? Seria bastante interessante.
ULTIMATO: A ideia de colocar o Professor Hulk foi sensacional e divertidíssima! Tudo bem que apenas em um diálogo foi resumido o modo como ele conseguiu unir a inteligência de Bruce Banner à força de Hulk. Nessa mesma solução narrativa, foi explicada a origem do Homem-Aranha em “Guerra Civil”. No entanto, essa transformação merecia ser mostrada, já que em “Ultimato” estivemos diante da melhor versão cinematográfica do gigante esmeralda. Será que agora caberia mais um filme solo do personagem, desta vez como Professor Hulk?
ULTIMATO: Falando em Hulk, ele foi o único que não teve uma revanche contra Thanos. Tony Starky teve seu momento dando um pau no titã louco, o Capitão América idem, e, também, o Thor, que o mata nos primeiros minutos de “Ultimato”. Só faltou o Hulk ter sua ‘vingança’.
ULTIMATO: Por que a anciã não utilizou a joia do tempo para saber se o Professor Hulk estava falando a verdade? Ela simplesmente entregou a joia após muita insistência de Banner em uma conversa relativamente rasa.
ULTIMATO: Como a Nebulosa ‘do mal’ conseguiu trazer a nave de Thanos para o futuro, se a única partícula Pym da qual ela se apoderou (da Nebulosa ‘do bem’) já havia sido utilizada por ela para estar na base dos Vingadores? Como Thanos conseguiu ter acesso ao Reino Quântico para ser puxado pela Nebulosa ‘do mal’? Será que Falce de Ébano conseguiu criar ou replicar a partícula que dá acesso ao Reino Quântico a partir da capsula Pym de Nebulosa? Fica o mistério.
ULTIMATO: Gamora morre ou não? Ela não estava no funeral de Tony, não a vemos na cena em que os vilões viraram pó e nem estava na nave dos Guardiões ao final. Há uma imagem dela em uma tela sendo apreciada por Peter Quill, na qual está escrito ‘searching’ (procurando). Ela morreu ou deu uma sumida por aí? “Guardiões da Galáxia Vol. 3” deve resolver essa questão.
ULTIMATO: A manopla do infinito, em "Guerra Infinita", é feita com o poder de uma estrela. Só assim ela e seu usuário (com exceções) aguentariam utilizar as joias com poderio máximo. No filme, a nova manopla é criada com tecnologia Starky. Será que Tony Starky atingiu um nível de tecnologia que se equipara ao poder de uma estrela? Não teria sido mais consistente na trama ter feito uma nova manopla com o anão gigante em Nidavellir uma vez que o molde da mesma está intacto por lá?
ULTIMATO: Em uma das lutas mais espetaculares do filme, o Capitão América consegue erguer o Mjölnir para dar uma surra em Thanos. Sim, Steve Rogers se torna digno do martelo do Thor (e também de seus poderes) e essa cena arranca arrepios de emoção no espectador. Nas histórias em quadrinhos, outros personagens também já foram dignos do mesmo feito, envolver o Capitão, no cinema, é um baita easter eggpara os fãs. O legal é que essa situação nos remete a "Vingadores: Era de Ultron". Em uma festa na torre Starky, Thor brinca com várias pessoas ao deixa-las tentar mover o martelo em cima de uma mesa. Ele diz que quem conseguir erguer poderá governar Asgard. O único que conseguiu mexer só um pouquinho, bem de leve, e que deixou o Deus do Trovão com cara de preocupação, foi o Capitão América. De qualquer forma, a explicação no cinema para uma pessoa conseguir erguer o Mjölnir não ficou tão clara. Ao revisitar o primeiro filme do Thor, analisando determinados valores e comportamentos do protagonista, até podemos achar uma possível resposta nas entrelinhas. Como Thor se tornou o Rei de Asgard, ou um novo 'Odin' para seu povo, ele teria o poder de tornar alguém digno de empunhar seu martelo? Se sim, isso explicaria o Mjölnir nas mãos de Rogers ,uma vez que o próprio Odin já retirou a dignidade de Thor e enviou seu martelo para a Terra. No entanto, ficam as dúvidas: quais são os atributos para que um indivíduo seja considerado apto a manipular o martelo? Não é somente bondade, caridade, pureza (não é mesmo, Visão?), arrependimento, reconhecimento de erros e amor no coração, não é verdade? Lembrando que Thor já matou milhares de seres cósmicos e continua sendo digno do Mjölnir.
ULTIMATO: Nada mais emblemático do que iniciar a Saga do Infinito do universo compartilhado com Starky e finalizar com a sua morte, repleta de heroísmo e significados, que fará o público se emocionar. A morte do Tony Starky é coerente. Nos quadrinhos já aconteceu isso e ele se tornou uma inteligência artificial, como o Jarvis ou a Sexta-feira. Uma cena final gravada por Tony, por meio de um holograma, pode ser a deixa para isso. Afinal de contas, era preciso tirar Robert Downey Jr. de cena, pois mais de 1 terço do orçamento dos filmes que ele protagoniza era para pagar seu cachê. De alguma forma, seu legado será continuado por algum novo personagem.
ULTIMATO: Vi um questionamento interessante em uma matéria do site Omelete e resolvi colocá-la aqui. “Por que não usaram a joia do tempo para salvar o Homem de Ferro? Tendo em vista que Thanos a usou para impedir que a joia de Visão Fosse destruída em “Guerra Infinita”? Segue a resposta dos diretores Anthony e Joe Russo em entrevista concedida ao site chinês QQ e publicada, também, no site Omelete: “Dentre as 14 milhões de possibilidades que o Doutor Estranho viu, o sacrifício do Homem de Ferro é necessário para vencer”. Faz sentido, mas... no filme do Doutor Estranho, o mago conseguiu reverter somente a maçã comida e uma página de um poderoso livro sem ter modificado a realidade em torno desses objetos, ou seja, o que 'voltou no tempo' foi apenas o objeto. Será que isso teria sido possível para salvar apenas o Tony? Por outro lado, salvar o Starky dessa maneira poderia estar em uma das 14 milhões de derrotas. Thanos, mesmo após ter virado pó, de alguma forma retornaria no futuro para terminar execução do seu plano.
ULTIMATO: Capitão América ficou encarregado de voltar no tempo e deixar as joias do infinito em seus devidos lugares (e também 'devolver' o Mjölnir). No entanto, um desses lugares seria Vormir, entregar a joia da alma para o Caveira Vermelha, seu inimigo no primeiro filme. Como seria esse encontro? O Doutor Estranho do presente ficaria sem a joia do tempo já que o artefato foi 'destruído' por Thanos? Ou, devolvendo a joia do tempo para anciã, a pedra apareceria automaticamente para o Doutor Estranho no presente?
ULTIMATO: “Lembra heim, você tem que devolver as joias para o momento exato em que pegamos ou vai abrir um monte de realidades alternativas doidas”, disse o Professor Hulk ao Capitão Steve Rogers. Seria uma referência a uma realidade onde existem os X-Men? Que viagem... mas seria muito legal isso.
ULTIMATO: Em uma das últimas cenas, Steve Rogers, já bem velhinho, dá o último salto temporal (segundo os diretores do filme) e entrega seu escudo ao Falcão e, indiretamente, o batiza como o novo Capitão América. Tudo bem, isso já aconteceu nos quadrinhos, mas Sam não tem uma super força para se equiparar com o que foi Rogers. Não seria melhor ter nomeado o Soldado Invernal, que tem esse atributo semelhante, como o novo Capitão? Lembrando que Bucky também já havia ostentado o escudo nas HQs. No entanto, é importante lembrar que, aos olhos do mundo, Bucky Barnes pode ser considerado um vilão, por todas as confusões do passado. Logo, dar a ‘patente’ a ele, nesse contexto, não soaria bem. Portanto, Falcão está ‘OK’, mas, ainda assim, prefiro o Soldado Invernal.
ULTIMATO: No início do filme, as joias não estão mais na manopla de Thanos devido a um novo estalo. Rocket consegue detectar essa grande explosão de energia e localiza o paradeiro do titã louco. Quando os Vingadores vão ao seu encontro, Thanos, enfraquecido com a última utilização da manopla, diz que ‘destruiu’ as joias, transformando-as em níveis de átomo. Seria possível o Homem-Formiga, por exemplo, recuperar todas essas joias no Reino Quântico? Será que essas joias serão utilizadas na nova fase da Marvel nos cinemas?
Sempre haverá ligações, entre as tramas e as reviravoltas, que farão algum sentido dentro do contexto proposto pelo universo cinematográfico da Marvel. Ainda que a complexidade de tudo isso gere alguns furos, dúvidas e mistérios, em linhas gerais, a coesão é um grande trunfo. Se os defeitos não atrapalham o poder de encantamento, então estamos diante de uma diversão perfeita.
Embora “Vingadores: Ultimato” não tenha cenas pós-créditos, devido à ideia de fim de um ciclo, podemos considerar que essas tais ‘cenas’ ficarão em nosso imaginário, como perguntas não respondidas. Lembrando que muita coisa não mostrada pode ser proposital, para que cada espectador imagine, a sua maneira, a versão dos fatos não contados ou mostrados. Algumas pontas soltas servirão de ‘pontapé inicial’ para uma nova saga. Junto a isso surgem inúmeras teorias e ideias para se construir um novo universo compartilhado. O jeito é equilibrar nossa ansiedade e aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Ahhh, 'Viva o Rato'!
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Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista Agora(SEM SPOILERS) 11 anos, 3 fases e 22 filmes com narrativas independentes que possuem detalhes que interligam todos em um universo de heróis compartilhado. Um projeto audacioso que deu certo, fez história no cinema e marcou gerações. "Vingadores: Ultimato" finaliza um ciclo iniciado em 2008 com "Homem de ferro" e põe um ponto final em algumas narrativas. E essas conclusões, quanta emoção, meus amigos! Quanta celebração!
O filme possui 3 horas de duração que passarão em um 'estalar de dedos'. Você nem irá perceber. O longa é uma continuação direta de "Vingadores: Guerra Infinita". Após Thanos dizimar metade dos seres vivos, os sobreviventes vivem em um mundo pós apocalíptico repleto de amargura. Há um clima fúnebre. Todos aprendem a conviver com essa realidade nem que seja na base da terapia de grupo.
Os primeiros minutos são melancólicos e silenciosos (quase não há trilha sonora). A atmosfera de luto é dominante e o espectador sente toda a tristeza dos personagens. Tudo é trabalhado em um ritmo lento e eficaz. A esperança aflora na narrativa quando surge Scott Lang (não é spoiler, isso está nos trailers), o Homem-Formiga com uma ideia mirabolante, talvez a única teoria acertada por muitos, para tentar reverter o estrago feito por Thanos. À medida que a história avança, o ritmo ganha dinamismo e as cenas de ação espetaculares surgem para contagiar e preparar os espectadores para o clímax épico.
A partir daí, qualquer informação é um spoiler que pode prejudicar a experiência de quem quer se surpreender. O que posso dizer é que tudo está em harmonia e prepara o espectador para se delirar em um final apoteótico. É impressionante como toda essa construção de mundo é coesa, bem montada, bem organizada e bem desenvolvida. Há uma certa lógica em todas as reviravoltas que acontecem, principalmente nas soluções para resoluções de problemas (até aquilo que você não concordar há um sentido dentro do contexto proposto). O roteiro até possui pequenos furos (que não prejudicam no resultado final), mas amarra tudo de uma forma extremamente eficiente. O 'amarrar tudo' digo todo o universo compartilhado. Há uma homenagem a todas as outras produções do selo Marvel Studios (ou quase todas) e, com isso, inúmeros easter eggs pipocam na tela para nos fazer rir e emocionar. Easter Eggs não só do universo cinematográfico (com abordagens diferentes de alguns personagens) e de seus bastidores, mas também muitas referência aos quadrinhos.
Falando em rir, o roteiro ainda abre espaço para o humor rasteiro e situacional em meio a tragédias. Por incrível que pareça, a mistura da comédia com o drama é dosada com perfeição. Ambos os gêneros aparecem na tela de maneiras pontuais. A sensibilidade dramática é um dos destaques. A empatia criada durante os 11 anos de MCU tem um peso diferente em "Ultimato". Se não nos emocionamos nos longas anteriores (com exceção de "Guerra Infinita"), as sensações de alívio, esperança, empoderamento e despedida, aqui, nos fazem importar ainda mais com os protagonistas. Com isso, vem arrepios de emoção a cada cena épica que acontece diante de nossos olhos. Aplausos e lágrimas dividem espaços fazendo com que o espectador saia do cinema satisfeito com uma experiência ímpar que acabou de presenciar. É emblemático! Prepare-se, o efeito apoteótico pode durar horas e até dias. É uma diegese perfeita e vibrante como não se via há muito tempo. Irmãos Russo (diretores do filme), roteiristas e a todos da Marvel Studios/Disney, palmas de pé para vocês!
O que podemos esperar para o futuro cinematográfico da Marvel? Homem-Aranha, Pantera Negra, Viúva Negra, Doutor Estranho, Shang-Chi (o primeiro herói oriental), Os Eternos e Capitã Marvel já possuem projetos para novos filmes. A plataforma de streaming da Disney, que será lançada em breve, também já anunciou novidades, como as séries de 'Falcão e Soldado Invernal', 'Feiticeira Escarlate' e 'Loki'. Segundo informações do CEO da Marvel Studios Kevin Feige, a próxima fase desses heróis irá misturar TV e cinema para o compartilhamento de universo. Sem falar na entrada de "X-Men" e "Quarteto Fantástico", recentemente readquiridos pela Disney, que deverão ser utilizados em algum momento. Portanto, podemos esperar mais aventura e diversão para a próxima década.
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista Agora"Capitã Marvel", até que enfim você apareceu nos cinemas! A tão aguardada 'super-heroína mais poderosa do MCU', como disse o presidente do Marvel Studios, Kevin Feig, surge em um filme essencialmente icônico para o estúdio ao dar protagonismo solo para uma mulher (Evangeline Lilly, que interpreta a Vespa, em "Homem-Formiga e a Vespa" foi a primeira protagonista, porém ela dividiu as atenções com Paul Rudd, ou seja, não foi um papel solo), mas nem tão perolado para quem conhece o cânone da personagem.
Calma, vou explicar! Assim como todos os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), "Capitã Marvel" é inspirada nas histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee. Como se trata de uma adaptação, isso permite que os roteiristas tenham liberdade ao criar ou reinventar arcos ou situações sobre a personagem. Lembre-se! Tudo isso é pensado para que a 'nova história' se encaixe com coerência dentro do universo cinematográfico estabelecido ('cinema' é uma coisa e 'HQs' é outra coisa!). Portanto, aos fãs da 'literatura quadrinística', preparem-se pois haverá muitas alterações sobre as origens de Carol Danvers/Capitã Marvel.
Como o objetivo aqui não é revelar spoilers, vamos à resenha. Sim, "Capitã Marvel" é um bom filme. Para quem desconhece a heroína ou conhece, mas não a acompanha nas HQs, todas essas alterações não farão diferença alguma. O público que curte esses super-heróis apenas no cinema irá se divertir, como nos outros exemplares do mesmo universo.
É interessante observar que "Capitã Marvel" parece fugir um pouco da tal 'fórmula Marvel'. O filme mostra uma história de origem diferente das que já vimos no MCU. Há uma pegada não linear na narrativa, que nos faz interessar pela jornada da personagem. Enquanto tudo começa na pancadaria, com Carol Danvers já com os poderes, vamos descobrindo aos poucos, via flashbacks, o que aconteceu no passado da protagonista antes de se tornar super poderosa. O detalhe aí é que ela ganha os poderes, mas não sabe como isso aconteceu e o quanto isso é significativo para suas ações, o que faz o clímax da 'jornada do herói' não fugir à regra.
Assim como todo longa da Marvel, há um humor rasteiro na narrativa e aqui a veia cômica é muito bem encaixada. E como se trata de universos compartilhados, o filme presenteia os fãs com inúmeros easter eggs, relacionados à 'casa das ideias' ou à cultura pop dos anos 90, e com a 'extensão histórica' de alguns detalhes que já conhecemos. Um deles, por exemplo, é como Nick Fury perdeu um dos olhos.
Falando nisso, Samuel L. Jackson está excelente como sempre e aparece com uma maquiagem digital que rejuvenesce seu rosto de maneira incrivelmente real. Outro ator que foi rejuvenescido é Clark Gregg, o agente Coulson, mas os efeitos visuais nele não ficaram tão perfeitos como em Samuel.
Os efeitos visuais, ainda que oscilem a qualidade em alguns momentos, são competentes. Já as cenas de ação são problemáticas, principalmente aquelas que não se passam na Terra. A maioria é mal editada. Há muitos cortes. Apesar disso, as cenas não chegam a ser confusas, mas não conseguem ser empolgantes como deveriam (pelo menos não contagia aos mais exigentes).
Falta de empolgação é o que muitos críticos estão dizendo sobre o desempenho de Brie Larson e... não é bem assim. Embora tenha uma atuação fria, com forte personalidade, ela cumpre o que o roteiro determina, e cumpre bem! Essa frieza é notável, justamente pela condição em que a personagem se encontra na narrativa, já que ela vive um momento de amnésia e não lembra nada de seu passado. Devido a isso, seu papel, propositalmente, carece de sensibilidade em boa parte da projeção (tá explicado?). Outro aspecto que é importante ressaltar é que o filme evita o estereótipo de 'sexo frágil' e sua feminilidade não é sexualizada. Tudo isso reforça o chamado girl power (ou empoderamento feminino) que se destaca com veemência no desfecho.
Enfim, "Capitã Marvel" é uma boa opção de 'filme pipoca' para se ver em IMAX 2D (não gaste seu dinheiro com o 3D). O longa não figura entre os melhores do MCU, está na prateleira do meio com muita honra, mas deixa uma excelente impressão do que está por vir no universo cósmico da Marvel. Como de costume, há duas cenas após a conclusão: uma entre os créditos finais (a melhor, não deixe de ver) eoutra engraçadinha antes do acender das luzes.
Pronto. Agora podemos ver "Vingadores - Ultimato"! Pode vir, Thanos, você está f...!
Obs.: destaque para a bela homenagem ao Stan Lee nos créditos iniciais.
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista Agora(SEM SPOILERS) 11 anos, 3 fases e 22 filmes com narrativas independentes que possuem detalhes que interligam todos em um universo de heróis compartilhado. Um projeto audacioso que deu certo, fez história no cinema e marcou gerações. "Vingadores: Ultimato" finaliza um ciclo iniciado em 2008 com "Homem de ferro" e põe um ponto final em algumas narrativas. E essas conclusões, quanta emoção, meus amigos! Quanta celebração!
O filme possui 3 horas de duração que passarão em um 'estalar de dedos'. Você nem irá perceber. O longa é uma continuação direta de "Vingadores: Guerra Infinita". Após Thanos dizimar metade dos seres vivos, os sobreviventes vivem em um mundo pós apocalíptico repleto de amargura. Há um clima fúnebre. Todos aprendem a conviver com essa realidade nem que seja na base da terapia de grupo.
Os primeiros minutos são melancólicos e silenciosos (quase não há trilha sonora). A atmosfera de luto é dominante e o espectador sente toda a tristeza dos personagens. Tudo é trabalhado em um ritmo lento e eficaz. A esperança aflora na narrativa quando surge Scott Lang (não é spoiler, isso está nos trailers), o Homem-Formiga com uma ideia mirabolante, talvez a única teoria acertada por muitos, para tentar reverter o estrago feito por Thanos. À medida que a história avança, o ritmo ganha dinamismo e as cenas de ação espetaculares surgem para contagiar e preparar os espectadores para o clímax épico.
A partir daí, qualquer informação é um spoiler que pode prejudicar a experiência de quem quer se surpreender. O que posso dizer é que tudo está em harmonia e prepara o espectador para se delirar em um final apoteótico. É impressionante como toda essa construção de mundo é coesa, bem montada, bem organizada e bem desenvolvida. Há uma certa lógica em todas as reviravoltas que acontecem, principalmente nas soluções para resoluções de problemas (até aquilo que você não concordar há um sentido dentro do contexto proposto). O roteiro até possui pequenos furos (que não prejudicam no resultado final), mas amarra tudo de uma forma extremamente eficiente. O 'amarrar tudo' digo todo o universo compartilhado. Há uma homenagem a todas as outras produções do selo Marvel Studios (ou quase todas) e, com isso, inúmeros easter eggs pipocam na tela para nos fazer rir e emocionar. Easter Eggs não só do universo cinematográfico (com abordagens diferentes de alguns personagens) e de seus bastidores, mas também muitas referência aos quadrinhos.
Falando em rir, o roteiro ainda abre espaço para o humor rasteiro e situacional em meio a tragédias. Por incrível que pareça, a mistura da comédia com o drama é dosada com perfeição. Ambos os gêneros aparecem na tela de maneiras pontuais. A sensibilidade dramática é um dos destaques. A empatia criada durante os 11 anos de MCU tem um peso diferente em "Ultimato". Se não nos emocionamos nos longas anteriores (com exceção de "Guerra Infinita"), as sensações de alívio, esperança, empoderamento e despedida, aqui, nos fazem importar ainda mais com os protagonistas. Com isso, vem arrepios de emoção a cada cena épica que acontece diante de nossos olhos. Aplausos e lágrimas dividem espaços fazendo com que o espectador saia do cinema satisfeito com uma experiência ímpar que acabou de presenciar. É emblemático! Prepare-se, o efeito apoteótico pode durar horas e até dias. É uma diegese perfeita e vibrante como não se via há muito tempo. Irmãos Russo (diretores do filme), roteiristas e a todos da Marvel Studios/Disney, palmas de pé para vocês!
O que podemos esperar para o futuro cinematográfico da Marvel? Homem-Aranha, Pantera Negra, Viúva Negra, Doutor Estranho, Shang-Chi (o primeiro herói oriental), Os Eternos e Capitã Marvel já possuem projetos para novos filmes. A plataforma de streaming da Disney, que será lançada em breve, também já anunciou novidades, como as séries de 'Falcão e Soldado Invernal', 'Feiticeira Escarlate' e 'Loki'. Segundo informações do CEO da Marvel Studios Kevin Feige, a próxima fase desses heróis irá misturar TV e cinema para o compartilhamento de universo. Sem falar na entrada de "X-Men" e "Quarteto Fantástico", recentemente readquiridos pela Disney, que deverão ser utilizados em algum momento. Portanto, podemos esperar mais aventura e diversão para a próxima década.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraMuita expectativa foi gerada com a chegada do filme "Bohemian Rhapsody", a cinebiografia da empolgante banda inglesa Queen. O conjunto marcou, não apenas uma geração inteira, mas a indústria da música. A ousadia, a criatividade musical e a extravagância de seu vocalista eternizaram a banda como um dos fortes ícones da música pop.
Queen tem cadeira cativa no cenário musical dos anos 70 e 80. A ascensão da banda se deve à figura carismática e 'porra louca' de Freddie Mercury. E esse é o cenário proposto pelo filme ao apresentar duas narrativas em uma: contar a historia do conjunto musical, seus sucessos e suas inspirações e retratar o ego e o drama de seu cantor.
O roteiro entrelaça as tramas desde 'quando tudo começou' até o marcante show Live Aid, em 1985. A trajetória de Freddie não foge do clichê da história sobre cantores famosos ao abordar temas como o preço da fama, sexualidade, rebeldia, amizades e os relacionamentos ruins (e suas consequências). Inclusive, há uma clara intenção de não polemizá-lo. Talvez, por isso, há uma certa rapidez nos assuntos mais ásperos sobre sua carreira. Não me incomodou, mas isso pode gerar alguma estranheza por parte dos fãs mais exigentes.
Embora a trama do vocalista não tenha sido tão satisfatória, todos os defeitos dela 'somem' quando a banda entra em cena. Além de mostrar curiosidade de bastidores, a sonoridade e os principais hinos aparecem em tela com muito vigor. É de arrepiar o resultado do trabalho da engenharia de som ao organizar com eficiência o encaixe das músicas nas cenas. Sem falar na qualidade ímpar dos acordes mais graves. Impossível não se emocionar em diversas passagens, principalmente com o clímax, que recria com competência, o marcante show Live Aid.
"Bohemian Rhapsody" é bem produzido, a reconstituição de época é convincente, a fotografia está OK, o humor rasteiro não compromete e, no geral, o longa acerta mais do que erra. O maior erro, talvez, seja uma falha cronológica de um show que apenas alguns notarão. Entretanto, como se trata de uma adaptação, isso não atrapalha na narrativa. A direção de Bryan Singer/Dexter Fletcher (Singer pulou fora da produção com 80% do filme concluído e Fletcher finalizou), embora seja burocrática, imprime bom ritmo e a 'passagem de bastão' entre os cineastas é imperceptível.
Ahhh, claro, o elenco. Todos estão fantásticos e com visuais parecidíssimos com os originais! O destaque é Rami Malek que encarnou Freddie de uma maneira absurdamente semelhante. Todos os trejeitos estão perfeitos. Malek equilibra com muito talento a execução de um performista com as emoções dramáticas de uma atuação. Espero que ele seja lembrado nas premiações de 2018 e 2019. No mais, 'vida longa a Rainha'!
Rota de Fuga 2: Hades
1.8 135 Assista AgoraGeralmente, quando um filme de ação não é exibido no cinema e é lançado diretamente em 'home video' há uma grande chance de o produto ser ruim. "Rota de Fuga 2" é um exemplo disso. O primeiro longa, que contava com dois ícones do cinema oitentista (Stallone e Schwarzenegger), era pouco sofisticado, mas divertido. Esta sequência, também com Stallone (coadjuvante!), investe na modernização de alguns elementos (presidio high tech!) e acaba sendo careta demais. Há um efeito dominó de ruindade. O roteiro é frágil, desenvolve mal os personagens, carece de explicações melhores de quase tudo e expõe uma trama rasa difícil de engolir. A direção não sabe que ritmo imprimir e se perde cada vez mais à medida que a narrativa avança. E, por último, a edição faz tudo ficar rápido e inconvincente. Talvez, o único ponto positivo seja a performance do chinês Xiaoming Huang nas coreografias das cenas de luta.
A Freira
2.5 1,5K Assista Agora"A Freira" é um spin-off de "Invocação do Mal 2" (2016), que, por sua vez, é o quinto longa que integra o 'universo satânico' iniciado em "Invocação do Mal" (2013). Embora tenha algum potencial, este é o pior exemplar de toda a saga. O roteiro possui alguma passagens sobrenaturais confusas, o inútil bom humor na trama surge sempre deslocado, a fotografia é escura demais (a pouca luz, recurso para criar clima de tensão, é um incômodo constante ao prejudicar a composição de cena) e a criação do terror é mal construída. A maioria dos sustos é provocada pelo aumento exagerado da trilha sonora. Sem falar que o filme parece mais com alguma produção sobre zumbis e menos com um suspense religioso. O trabalho é tão mal executado que muitas partes que deveriam assustar acabam causando risadas, o que gera frustração aos mais exigentes. O único destaque é a atuação convincente de Taissa Farmiga.