Não sei se quero ver. Não sou muito afeito a cinebiografias, pois elas tendem a fixar no público geral uma ideia que muitas vezes não corresponde a uma verdade (quando se há alguma verdade realmente, já que muitas coisas na vida são interpretadas e sentidas individualmente). Sempre recomendo a assistir com ressalvas esses tipos de filmes.
Decepcionante transposição para o cinema de um clássico personagem dos animes/mangas. Para quem já está familiarizado com a mitologia de Leiji Matsumoto esse filme é uma afronta a tudo que ele criou. O personagem principal, Harlock, foi totalmente desconstruído. Tudo aquilo que o colocava como um herói de princípios nobres é trocado por características de delírios egoístas, de quase vilania. Se o Harlock do mangá/animê era um herói de moral elevada, esse é um personagem perturbado, traumatizado e absorto em seu próprio ego, desrespeitando o diálogo franco em troca de suas certezas.
Tecnicamente é bem feito com bom uso de computação gráfica, mas também nada assim tão espetacular (os movimentos ainda são meio que robóticos, e a física é irreal). Um ponto interessante é que o animê/mangá tinha traços caricatos, já o filme vai para uma linha mais realista, mas até certo ponto preservando os traços originais de Matsumoto. A história é mal executada, arrastada; especialmente quando vai chegando ao seu fim ao ponto de ter de usar recursos deus ex machina (a arma Jovian Blaster) para tentar dar ritmo a trama.
Colocando na balança, é um filme mediano para ruim. O estranho do filme é que Harlock nem é o personagem principal. O protagonismo na verdade é dado a Yama, um personagem confuso e com um conflito interno mal aproveitado e muitas vezes inverossímil.
Pelo final do filme está claro que Harlock deixa de ser um personagem fixo para se tornar uma marca, uma franquia, que ao que tudo indica será herdada pelo personagem Yama em uma provável continuação.
Uma vez que Harlock é um personagem tão cultuado e querido pelos fãs de anime/mangá, essa adaptação foi frustrante para dizer o mínimo.
Há tempos não assistia a um terror tão bom. Adoro esse tipo de filme que usa o terror como alegoria do aspecto psicológico das personagens. Algo que falta a maioria dos filmes atuais, que buscam o terror pelo simples susto, como se não houvesse mais respeito a história e importância do cinema como um meio artístico sério, resumindo-se a um passeio no trem fantasma (o susto é o que importa). Conjuntamente com a ficção científica, acho que o cinema de horror oferece esses meios que aliam muito bem uma camada mais profunda e latente de entendimento (que se percebe apenas com o decorrer da obra), com outra mais aparente e atraente.
Babadook se constrói tijolo a tijolo através basicamente da relação conturbada de dois personagens (a mãe e o filho) em um processo de catarse das magoas da ausência da figura do marido/pai, morto em um acidente de carro com a criança ainda prestes a nascer. O isolamento é um fator que condiciona o terror no filme, uma vez que tanto a mãe (Essie Davis) como o filho (Noah Wiseman) são postos à margem pela sociedade (melhor dizer que a mãe se promove a essa condição diante de sua má assimilação do passado de dor). O cenário mais frequente no filme é a casa de aspecto envelhecido e soturno, que oferece o ambiente claustrofóbico ideal para a manifestação do "monstro". Babadook é desde já um clássico moderno do gênero.
"Irei te matar, padre" - a voz revela ao padre no confessionário. Ele tem uma semana para ajustar sua vida até o destino final. O padre James sabe o tempo todo quem será o seu futuro executor, mas a trama deixa a figura em mistério para o telespectador. Destarte, a partir dessa primeira cena é impossível não querer saber mais sobre o desenrolar da trama. Evidente que pelo título do filme e pelo contexto faz-se aqui um paralelo com o calvário de Cristo, que tal qual James também sabia de antemão o seu destino. O problema é que uma sociedade tão corrompida, corroída em medo, vícios, tédio, narcisismo e revolta pode já não caber a figura de um redentor. Padre James não é Cristo, mas tenta encontrar mesmo em suas dúvidas o melhor das pessoas. Uma figura ultrapassada, segundo um dos personagens de sua paróquia.
Calvário é um drama, mas com uma pitada aqui e ali de humor (negro), tem bons diálogos e marcantes atuações, especialmente de Brendan Gleeson. O filme toca naturalmente em vários temas de forma inteligente, sejam políticos, socias, filosóficos e espirituais. Apesar de muitas vezes desconexo em alguns momentos, é um dos melhores filmes de 2014.
Bela joia cinematográfica. A busca pelo túmulo dos pais é um MacGuffin para a busca da própria identidade da personagem Ida. A relação da tia e sobrinha faz um bom paralelo da complexidade humana: elementos contrastantes, mas lados de uma mesma moeda. Neste sentido percebi o uso da música incidental como objeto de construção dramática dessa complexidade. Wanda, apesar de ser uma mulher que vive o mundo material, que por si só é caos, se identifica com a música clássica. Música que em geral remete ao formalismo, e também à tradição clerical. Por sua vez Ida/Anna, às vesperas de fazer seus votos em um convento, durante o filme se identifica com o Jazz, estilo musical que tem no improviso (não formalismo) a sua verve e seu sentido. Este já é mais identificado com o mundo mundado, dos bares e prostitutas.
Bom filme. Para quem quiser ver legendado e não entende de inglês, procurem uma que traduza as músicas. O filme irá fazer muito mais sentido entendendo as letras das músicas.
Cinema nacional entrou numa forte vertente de comédias bobinhas mesmo. Contanto que tenha retorno financeiro e abra espaço para melhores produções, não acho tão ruim.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraNão sei se quero ver. Não sou muito afeito a cinebiografias, pois elas tendem a fixar no público geral uma ideia que muitas vezes não corresponde a uma verdade (quando se há alguma verdade realmente, já que muitas coisas na vida são interpretadas e sentidas individualmente). Sempre recomendo a assistir com ressalvas esses tipos de filmes.
Capitão Harlock: Pirata do Espaço
3.4 47Decepcionante transposição para o cinema de um clássico personagem dos animes/mangas. Para quem já está familiarizado com a mitologia de Leiji Matsumoto esse filme é uma afronta a tudo que ele criou. O personagem principal, Harlock, foi totalmente desconstruído. Tudo aquilo que o colocava como um herói de princípios nobres é trocado por características de delírios egoístas, de quase vilania. Se o Harlock do mangá/animê era um herói de moral elevada, esse é um personagem perturbado, traumatizado e absorto em seu próprio ego, desrespeitando o diálogo franco em troca de suas certezas.
Tecnicamente é bem feito com bom uso de computação gráfica, mas também nada assim tão espetacular (os movimentos ainda são meio que robóticos, e a física é irreal). Um ponto interessante é que o animê/mangá tinha traços caricatos, já o filme vai para uma linha mais realista, mas até certo ponto preservando os traços originais de Matsumoto. A história é mal executada, arrastada; especialmente quando vai chegando ao seu fim ao ponto de ter de usar recursos deus ex machina (a arma Jovian Blaster) para tentar dar ritmo a trama.
Colocando na balança, é um filme mediano para ruim. O estranho do filme é que Harlock nem é o personagem principal. O protagonismo na verdade é dado a Yama, um personagem confuso e com um conflito interno mal aproveitado e muitas vezes inverossímil.
Pelo final do filme está claro que Harlock deixa de ser um personagem fixo para se tornar uma marca, uma franquia, que ao que tudo indica será herdada pelo personagem Yama em uma provável continuação.
Grandes Esperanças
3.2 104 Assista AgoraEstreia? Já vi esse filme tem um tempinho.
O Babadook
3.5 2,0KHá tempos não assistia a um terror tão bom. Adoro esse tipo de filme que usa o terror como alegoria do aspecto psicológico das personagens. Algo que falta a maioria dos filmes atuais, que buscam o terror pelo simples susto, como se não houvesse mais respeito a história e importância do cinema como um meio artístico sério, resumindo-se a um passeio no trem fantasma (o susto é o que importa). Conjuntamente com a ficção científica, acho que o cinema de horror oferece esses meios que aliam muito bem uma camada mais profunda e latente de entendimento (que se percebe apenas com o decorrer da obra), com outra mais aparente e atraente.
Babadook se constrói tijolo a tijolo através basicamente da relação conturbada de dois personagens (a mãe e o filho) em um processo de catarse das magoas da ausência da figura do marido/pai, morto em um acidente de carro com a criança ainda prestes a nascer. O isolamento é um fator que condiciona o terror no filme, uma vez que tanto a mãe (Essie Davis) como o filho (Noah Wiseman) são postos à margem pela sociedade (melhor dizer que a mãe se promove a essa condição diante de sua má assimilação do passado de dor). O cenário mais frequente no filme é a casa de aspecto envelhecido e soturno, que oferece o ambiente claustrofóbico ideal para a manifestação do "monstro". Babadook é desde já um clássico moderno do gênero.
Calvário
3.6 134"Irei te matar, padre" - a voz revela ao padre no confessionário. Ele tem uma semana para ajustar sua vida até o destino final. O padre James sabe o tempo todo quem será o seu futuro executor, mas a trama deixa a figura em mistério para o telespectador. Destarte, a partir dessa primeira cena é impossível não querer saber mais sobre o desenrolar da trama. Evidente que pelo título do filme e pelo contexto faz-se aqui um paralelo com o calvário de Cristo, que tal qual James também sabia de antemão o seu destino. O problema é que uma sociedade tão corrompida, corroída em medo, vícios, tédio, narcisismo e revolta pode já não caber a figura de um redentor. Padre James não é Cristo, mas tenta encontrar mesmo em suas dúvidas o melhor das pessoas. Uma figura ultrapassada, segundo um dos personagens de sua paróquia.
Calvário é um drama, mas com uma pitada aqui e ali de humor (negro), tem bons diálogos e marcantes atuações, especialmente de Brendan Gleeson. O filme toca naturalmente em vários temas de forma inteligente, sejam políticos, socias, filosóficos e espirituais. Apesar de muitas vezes desconexo em alguns momentos, é um dos melhores filmes de 2014.
Ida
3.7 439Bela joia cinematográfica. A busca pelo túmulo dos pais é um MacGuffin para a busca da própria identidade da personagem Ida. A relação da tia e sobrinha faz um bom paralelo da complexidade humana: elementos contrastantes, mas lados de uma mesma moeda. Neste sentido percebi o uso da música incidental como objeto de construção dramática dessa complexidade. Wanda, apesar de ser uma mulher que vive o mundo material, que por si só é caos, se identifica com a música clássica. Música que em geral remete ao formalismo, e também à tradição clerical. Por sua vez Ida/Anna, às vesperas de fazer seus votos em um convento, durante o filme se identifica com o Jazz, estilo musical que tem no improviso (não formalismo) a sua verve e seu sentido. Este já é mais identificado com o mundo mundado, dos bares e prostitutas.
Alabama Monroe
4.3 1,4KBom filme. Para quem quiser ver legendado e não entende de inglês, procurem uma que traduza as músicas. O filme irá fazer muito mais sentido entendendo as letras das músicas.
Até Que a Sorte Nos Separe 2
2.6 492 Assista AgoraCinema nacional entrou numa forte vertente de comédias bobinhas mesmo. Contanto que tenha retorno financeiro e abra espaço para melhores produções, não acho tão ruim.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraMeu preferido para o Oscar de filme estrangeiro.