eu realmente gosto do farhadi, não adianta, rs. gosto sempre de como ele estrutura o drama, a partir da normalidade até chegar a um auge de conflito e revelações e não-revelações com camadas de debates - normalmente, quando focado no irã, a questão de tradição/ocidentalização é a que aparece muito forte - aqui isso se revela na tensão sutil e crescente de patrão/filho do empregado, essa relação de classe bem tradicionalzona, envolvendo terra e família e as "quase famílias"; as masculinidades e seus egos, as fragilidades, como sempre fugindo do maniqueísmo. ele trabalha muito bem com criar uma teia onde fica muito difícil julgar as personagens. eu tive medo que juntando penélope cruz, javier barden e ricardo darín, fosse dar ruim, mas em mim fi(n)cou.
desromantização da maternidade, como ter um mano em casa não quer dizer que você vá ter um parceiro (nenhuma novidade no front), lugares internos que salvam a gente (que me tocou no lugar do "a soma de todas as minhas partes", do Hans Weingartner
não só pelo escapismo mental, que há em vários filmes, mas por esse escapismo, que faz sobreviver, ser um eu-antigo, um eu-criança, um eu-antes-das-crias
acho bem problemático que se construam sempre narrativas homoafetivas de forma não saudáveis (pra dizer o mínimo), justamente por ter menos produções em comparação as heteronormativas, isso salta muito os olhos, e incomoda demais.
: Enquanto assistia 'Get Out' o bicho inquieto da escrita me percorreu diversas vezes. Mas quando o filme acabou percebi que não seria possível formular algo com a riqueza que eu gostaria; com tudo que me perpassou cá dentro nisso que afeta. É que a palavra tem seu tempo. Nesse caso exigiria a paciência da costura e maturação, que os sentires pudessem se alocar nalgum canto com menos passión.
Mas o bicho ignora essas leis, continuou com pelos eriçados contra a parede do estômago e penso que modo de colocar calma nisso é dizer algumas coisas.
Pois.
Tendo sido o cinema um dos modos que a classe dominante encontrou para esparramar a sua ideologia e, ao mesmo tempo, pensando no que diz Jean-Claude Bernadet que "A classe dominante, para dominar, não pode nunca apresentar a sua ideologia como sendo a sua ideologia, mas ela deve lutar para que esta ideologia seja sempre entendida como a verdade. Donde a necessidade de apresentar o cinema como sendo expressão do real e disfarçar constantemente que ele é artifício, manipulação, interpretação."(1985, p.20)
Afunilando, a partir disso, para a construção do imaginário que define muito de como se dão as relações raciais até hoje, tivemos produções como "O nascimento de uma nação" (1915), considerado um clássico e que traz em seu roteiro a exaltação da condenação à morte de um “estuprador negro” pela organização de supremacia branca Ku Klux Klan. No, excelente, documentário 13ª Emenda, dirigo pela Ava DuVernay, temos uma linha histórica de como essa imagem do "negro estuprador" se conecta ao modo como um homem negro norte-americano é visto pela sociedade e é tratado (assassinado) pela polícia.
Diante disso, o que me parece o maior trunfo de "Get Out" é se utilizar de um dos estilos mais rentáveis da indústria do cinema norte-americano para escancarar as feridas, tirar as questões do que pode ser uma bolha específica dos documentários e colocá-la na sessão do cotidiano.
O terror, ainda que muito bem desenvolvido, não me parece importar tanto no sentido de inovação, inclusive a fórmula me lembrou muito o filme "A Chave Mestra" (2005) - embora ele vá além -, e mesmo isso me parece proposital, pois o horror mesmo está nos discursos, nos detalhes das relações, no que elas simbolizam.
Assistindo 'Get Out' minha cabeça e meu afeto passaram pelo capítulo 03 de "Pele Negra, Máscaras Brancas" de Frantz Fanon. Logo de início quando ele traz que o homem negro, que deseja ser reconhecido como branco e não como negro, crê que é pelo amor da mulher branca que isso ocorrerá, pois se ela o ama, ele é digno de um amor branco, através desse amor esposará "a cultura branca, a beleza branca, a brancura branca".
É como se o diretor Jordan Peele pegasse esse trecho para revelar, uma vez mais, que uma sociedade construída em fundamentos racistas jamais esquecerá a cor negra da pele e os adjetivos a ela atribuídos; seja pela marginalização, seja pela hiperssexualização.
É, como ele mesmo disse, para que o tema deixe de ser tabu, para que saiamos da mentira da era "pós-racial", é o apelo contrário ao título do filme: não corra, encare!
não tem um filme desse homem que eu não termine aos prantos. como ele trabalha a complexidade de nossas humanidades-e-desumanidades [ as violências, as tristezas, as relações] como ele constrói minucioso e calmo. enfim.
sem contar essa velha construção de colocar os americanos como os diplomatas; a china / rússia como os inconsequentes/ radicais e uma parcela do mundo, como a venezuela, como os 'rebeldes' - não achei uma palavra melhor agora - , de uma forma sempre caricata.
ainda estou mexida com aquela fotografia, travellings e montagem ao longo da narrativa, e com a própria narrativa ( a poética, a oralidade, a relação autor/persona, ser político, a contradição - humana contradição)
resistir pela existência! resistir pela existência! . "o que eles querem é nós analfabeto E nós usando droga é nós tudo sem teto É nós sem reclamar é nós desinformado É nós sem trabalhar é nós tudo enjaulado" [Pelé do Manifesto - Retrato Social] . . caminho pré-determinado: senzala - favela - prisão senzala - favela - prisão . . nenhuma novidade e, no entanto, dói d'um tanto-tamanho que me faltam as medidas. o cotidiano, os desgastes, as construções da mídia, tudo tão formatado para que odiemos e para que se odeie a nossa cor, tudo de modo a ser bem 'naturalzinho'.
nenhuma novidade, nada que não me assombre todo dia desde que me descobri uma mulher negra e, no entanto, assistir, ali, umahoraequarenta de narrativa crua: dados, imagens, corpos [negros!] tão como os nossos, na américa de cá, me convulsionou em um choro largo e ruidoso o suficiente para precisar parar o documentário na metade e ir tomar um banho: passar mão e sabonete por cada cantinho da pele, não na busca de arrancá-la (como já vimos / sentimos, como ainda se sabe, tanto), mas para demarcar amor e identidade.
lembrar do relatório da ONU de janeiro deste ano onde foi citado o "racismo institucional" em nosso sistema carcerário. lembrar que, de acordo com o documento "em 2014, em torno de 67% dos presidiários brasileiros eram classificados como negros ou mulatos."
e que
“Negros enfrentam risco significativamente maior de encarceramento em massa, abuso policial, tortura e maus-tratos, negligência médica, de serem mortos pela polícia, receber sentenças maiores que os brancos pelo mesmo crime e de sofrer discriminação na prisão – sugerindo alto grau de racismo institucional”.
lembrar do atlas da violência também deste ano: "aos 21 anos de idade, quando há o pico das chances de uma pessoa sofrer homicídio no Brasil, pretos e pardos possuem 147% a mais de chances de ser vitimados por homicídios"
lembrar que temos que ouvir vez & outra sobre : Racismo Inverso !! lembrar, ah..... lembrar que nesse mês essas mesmas vozes entoam o cântico do "somos todos iguais", esquecendo-se de um pequeno detalhe, que também não é nenhuma, nenhuma novidade, refazendo George Orwell: somos todos humanos, mas alguns são mais que outros (isso quando o outro é considerado humano).
"Sabe, talvez é como o seu concerto termina. Digo, não um 'grande final' com trombetas e violinos. talvez este seja o final. Só assim, de repente. Nem triste, nem feliz. Só um pequeno quarto, uma lâmpada, uma cama, crianças dormindo e... toneladas de solidão."
[Assisto e fibrilo: o cinema todo posto em mim. O cinena e sua técnica; imagem, escolha das cores, da luz, do enquadramento, narrativa, cada sonido e medido silêncio. O cinema e como pode construir e enrijecer estereótipos, mas noutras mãos engendra alteridades. O cinema e também seus incômodos, mesmo meio às belezas, seus machismos escrachados ou sutis, mas tão presentes. O cinema e suas problemáticas. O cinema e sua potência política-poética-polifônica.]
"Es urgente hablar de los ausentes. Es urgente hablar de las ausencias Es tiempo de hablar de los que siempre se equivocan. Es urgente hablar de la libertad. Es importante de interrogar los ausentes. De aquellos que viven sin democracia en general. La democracia, la democracia está siempre violada, la democracia, la democracia... "
Tony Gatlif: Exílios, 2004.
[Verve sonora & imagética. Pulsão telúrica, afetiva, evocativa. Estirpe. Extirpe. Ir até os fundos. Ir-se, para, enfim, ai.]
o imperativo do dia e da noite: a dança: como identidade, expurgo, luta, redenção, travessias, morada, repouso, palavra, corpus de tantos corpos, encontros e o despontamento do porvir.
/
"- Você dança para corrigir o quê? - perguntei. - A vida." Ondjaki | Massoxiangango
" - Celebro o amor e a vida. Danço sobre a vida e a morte. Danço sobre a tristeza e a solidão. Piso para o fundo da terra todos os males que me torturam. A dança liberta a mente das preocupações do momento. A dança é uma prece. Na dança celebro a vida enquanto aguardo a morte. Por que é que não danças?" Paulina Chiziane | Niketche
onde este filme me toca não é estética, é poesia & resiliência. é sentir estes lugares de aproximação e distinção cultural. o que nos coloca elo e também o que nos é particular - enquanto povo.
o sertão é a eternidade. um perpétuo que se desdobra em reentrâncias. lugar onde amor & dor não compõem rima pobre, não é obviedade de verso pueril. palavras de fundição: ser a faca e o próprio corte.
Um filme de kieslowski é o próprio desdobramento da palavra. Aquele parágrafo que não conseguimos lapidar: suas cores (aqui; verde, vermelho, amarelo, laranja), sua luz, (barroca ou onírica), suas personas (angustiadas, melancólicas, humanas), sua música, sua fotografia (me lembrou tanto alguns quadros de hammershoi, aquele plano onde alguém de uma janela vizinha dá um sinal para Veronique). tudo aqui percorre minhas vértebras.
"É como se reconhecessem... Quem conhece a quem? Esse é o começo ou o fim? É o que veremos agora. É o começo e o fim. O amor e a despedida Sei que não preciso mencionar, mas mesmo assim o faço. Lembre-se: tudo é apenas um filme. uma construção. Mas, mesmo assim, dói."
Me sinto absorvida, puxada para um invólucro desconhecido; reconheço a dor, a sinto em alguns dos meus amados, que em mim bate num ponto tão oposto ( pulsão à vida não importa que só tenha restos).
Penso em obviedades inevitáveis; o quanto somos impelidos de modo geral à competição, a um perfeccionismo inalcançável que seria o motor do estímulo, o quanto é importante "mostrar-se forte"; adiciono a isso o que punge ainda mais às mulheres, a beleza que está relacionada a cor da pele, peso, tipo de cabelo, altura, detalhes que não precisam ser mencionados pois todos sabem qual é o requerido.
Se como rebanho vamos sendo guiados, também como bicho doente são tratados os que de alguma forma não suportam mais quebrar os ossos para caber em moldes. O sistema não se importa com traços, trajetórias, singularidades; o ser não adaptável está fadado se não sobrar um sopro para si mesmo. Mas, pensar em si é egocentrismo, é futilidade, a menos que sirva para caber outra vez no molde rejeitado.
Essas palavras transpiram pelos meus dedos embora pesem uma tonelada, é feio falar da dor, não se quer olhar fundo em sua retina, trazê-la à superfície, ela é feita para as entranhas e não para o retrato, ela é feita para o divã - mesmo que este caia no egocentrismo antes mencionado.
É então, ao refletir sobre tantas exigências subjetivas e paradoxais, que me sinto reconfortada, como Petra deixando-se fundir à água para que esta leve o que impossibilita novas danças, me sinto par de tantos e te permeio Elena. Sei o quanto há de impossível no existir sem um pertencimento idealizado, sei o quanto há de absurdo em às vezes precisar picotar os ideais e virar a folha em branco, recriar o passo, entonar outro canto. É no entendimento que a lufada me toma, deixo-a me guiar.
gostei que você vai pensando que é uma comédia-romântica, ou que vai virar isso, quando na verdade é um filme agridoce, onde os protagonistas não precisam ficar juntos para sustentar o roteiro!
Todos Já Sabem
3.4 216 Assista Agoraeu realmente gosto do farhadi, não adianta, rs. gosto sempre de como ele estrutura o drama, a partir da normalidade até chegar a um auge de conflito e revelações e não-revelações com camadas de debates - normalmente, quando focado no irã, a questão de tradição/ocidentalização é a que aparece muito forte - aqui isso se revela na tensão sutil e crescente de patrão/filho do empregado, essa relação de classe bem tradicionalzona, envolvendo terra e família e as "quase famílias"; as masculinidades e seus egos, as fragilidades, como sempre fugindo do maniqueísmo. ele trabalha muito bem com criar uma teia onde fica muito difícil julgar as personagens. eu tive medo que juntando penélope cruz, javier barden e ricardo darín, fosse dar ruim, mas em mim fi(n)cou.
Tully
3.9 562 Assista Agoradesromantização da maternidade, como ter um mano em casa não quer dizer que você vá ter um parceiro (nenhuma novidade no front), lugares internos que salvam a gente (que me tocou no lugar do "a soma de todas as minhas partes", do Hans Weingartner
não só pelo escapismo mental, que há em vários filmes, mas por esse escapismo, que faz sobreviver, ser um eu-antigo, um eu-criança, um eu-antes-das-crias
Duck Butter
2.8 145acho bem problemático que se construam sempre narrativas homoafetivas de forma não saudáveis (pra dizer o mínimo), justamente por ter menos produções em comparação as heteronormativas, isso salta muito os olhos, e incomoda demais.
Corra!
4.2 3,6K Assista Agora: Enquanto assistia 'Get Out' o bicho inquieto da escrita me percorreu diversas vezes. Mas quando o filme acabou percebi que não seria possível formular algo com a riqueza que eu gostaria; com tudo que me perpassou cá dentro nisso que afeta. É que a palavra tem seu tempo. Nesse caso exigiria a paciência da costura e maturação, que os sentires pudessem se alocar nalgum canto com menos passión.
Mas o bicho ignora essas leis, continuou com pelos eriçados contra a parede do estômago e penso que modo de colocar calma nisso é dizer algumas coisas.
Pois.
Tendo sido o cinema um dos modos que a classe dominante encontrou para esparramar a sua ideologia e, ao mesmo tempo, pensando no que diz Jean-Claude Bernadet que "A classe dominante, para dominar, não pode nunca apresentar a sua ideologia como sendo a sua ideologia, mas ela deve lutar para que esta ideologia seja sempre entendida como a verdade. Donde a necessidade de apresentar o cinema como sendo expressão do real e disfarçar constantemente que ele é artifício, manipulação, interpretação."(1985, p.20)
Afunilando, a partir disso, para a construção do imaginário que define muito de como se dão as relações raciais até hoje, tivemos produções como "O nascimento de uma nação" (1915), considerado um clássico e que traz em seu roteiro a exaltação da condenação à morte de um “estuprador negro” pela organização de supremacia branca Ku Klux Klan. No, excelente, documentário 13ª Emenda, dirigo pela Ava DuVernay, temos uma linha histórica de como essa imagem do "negro estuprador" se conecta ao modo como um homem negro norte-americano é visto pela sociedade e é tratado (assassinado) pela polícia.
Diante disso, o que me parece o maior trunfo de "Get Out" é se utilizar de um dos estilos mais rentáveis da indústria do cinema norte-americano para escancarar as feridas, tirar as questões do que pode ser uma bolha específica dos documentários e colocá-la na sessão do cotidiano.
O terror, ainda que muito bem desenvolvido, não me parece importar tanto no sentido de inovação, inclusive a fórmula me lembrou muito o filme "A Chave Mestra" (2005) - embora ele vá além -, e mesmo isso me parece proposital, pois o horror mesmo está nos discursos, nos detalhes das relações, no que elas simbolizam.
Assistindo 'Get Out' minha cabeça e meu afeto passaram pelo capítulo 03 de "Pele Negra, Máscaras Brancas" de Frantz Fanon. Logo de início quando ele traz que o homem negro, que deseja ser reconhecido como branco e não como negro, crê que é pelo amor da mulher branca que isso ocorrerá, pois se ela o ama, ele é digno de um amor branco, através desse amor esposará "a cultura branca, a beleza branca, a brancura branca".
É como se o diretor Jordan Peele pegasse esse trecho para revelar, uma vez mais, que uma sociedade construída em fundamentos racistas jamais esquecerá a cor negra da pele e os adjetivos a ela atribuídos; seja pela marginalização, seja pela hiperssexualização.
É, como ele mesmo disse, para que o tema deixe de ser tabu, para que saiamos da mentira da era "pós-racial", é o apelo contrário ao título do filme: não corra, encare!
O Apartamento
3.9 258 Assista Agoranão tem um filme desse homem que eu não termine aos prantos. como ele trabalha a complexidade de nossas humanidades-e-desumanidades [ as violências, as tristezas, as relações] como ele constrói minucioso e calmo. enfim.
Julieta
3.8 529 Assista Agora"e quem se sente culpado quer, no mais fundo, ser castigado" [hilda hilst]
A Chegada
4.2 3,4K Assista Agoraeu acho que poderia ser muito bom,
trabalhar com a linguagem como gênese!!!!
sem contar essa velha construção de colocar os americanos como os diplomatas; a china / rússia como os inconsequentes/ radicais e uma parcela do mundo, como a venezuela, como os 'rebeldes' - não achei uma palavra melhor agora - , de uma forma sempre caricata.
Neruda
3.5 81 Assista Agoraainda estou mexida com aquela fotografia, travellings e montagem ao longo da narrativa, e com a própria narrativa ( a poética, a oralidade, a relação autor/persona, ser político, a contradição - humana contradição)
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista Agoraresistir pela existência!
resistir pela existência!
.
"o que eles querem é nós analfabeto
E nós usando droga é nós tudo sem teto
É nós sem reclamar é nós desinformado
É nós sem trabalhar é nós tudo enjaulado"
[Pelé do Manifesto - Retrato Social]
.
.
caminho pré-determinado:
senzala - favela - prisão
senzala - favela - prisão
.
.
nenhuma novidade e, no entanto, dói d'um tanto-tamanho que me faltam as medidas. o cotidiano, os desgastes, as construções da mídia, tudo tão formatado para que odiemos e para que se odeie a nossa cor, tudo de modo a ser bem 'naturalzinho'.
nenhuma novidade, nada que não me assombre todo dia desde que me descobri uma mulher negra e, no entanto, assistir, ali, umahoraequarenta de narrativa crua: dados, imagens, corpos [negros!] tão como os nossos, na américa de cá, me convulsionou em um choro largo e ruidoso o suficiente para precisar parar o documentário na metade e ir tomar um banho: passar mão e sabonete por cada cantinho da pele, não na busca de arrancá-la (como já vimos / sentimos, como ainda se sabe, tanto), mas para demarcar amor e identidade.
lembrar do relatório da ONU de janeiro deste ano onde foi citado o "racismo institucional" em nosso sistema carcerário. lembrar que, de acordo com o documento "em 2014, em torno de 67% dos presidiários brasileiros eram classificados como negros ou mulatos."
e que
“Negros enfrentam risco significativamente maior de encarceramento em massa, abuso policial, tortura e maus-tratos, negligência médica, de serem mortos pela polícia, receber sentenças maiores que os brancos pelo mesmo crime e de sofrer discriminação na prisão – sugerindo alto grau de racismo institucional”.
lembrar do atlas da violência também deste ano:
"aos 21 anos de idade, quando há o pico
das chances de uma pessoa sofrer homicídio no Brasil,
pretos e pardos possuem 147% a mais
de chances de ser vitimados por homicídios"
lembrar que temos que ouvir vez & outra sobre : Racismo Inverso !!
lembrar, ah..... lembrar que nesse mês essas mesmas vozes entoam o cântico do "somos todos iguais", esquecendo-se de um pequeno detalhe, que também não é nenhuma, nenhuma novidade, refazendo George Orwell: somos todos humanos, mas alguns são mais que outros (isso quando o outro é considerado humano).
A Banda
4.0 59os desdobramentos do deserto:
"Sabe, talvez é como o seu concerto termina. Digo, não um 'grande final' com trombetas e violinos. talvez este seja o final. Só assim, de repente. Nem triste, nem feliz. Só um pequeno quarto, uma lâmpada, uma cama, crianças dormindo e... toneladas de solidão."
[Assisto e fibrilo: o cinema todo posto em mim. O cinena e sua técnica; imagem, escolha das cores, da luz, do enquadramento, narrativa, cada sonido e medido silêncio. O cinema e como pode construir e enrijecer estereótipos, mas noutras mãos engendra alteridades. O cinema e também seus incômodos, mesmo meio às belezas, seus machismos escrachados ou sutis, mas tão presentes. O cinema e suas problemáticas. O cinema e sua potência política-poética-polifônica.]
Exílios
3.8 40"Es urgente hablar de los ausentes. Es urgente hablar de las ausencias Es tiempo de hablar de los que siempre se equivocan. Es urgente hablar de la libertad. Es importante de interrogar los ausentes. De aquellos que viven sin democracia en general. La democracia, la democracia está siempre violada, la democracia, la democracia... "
Tony Gatlif: Exílios, 2004.
[Verve sonora & imagética. Pulsão telúrica, afetiva, evocativa. Estirpe. Extirpe. Ir até os fundos. Ir-se, para, enfim, ai.]
Transylvania
3.8 19o imperativo do dia e da noite: a dança: como identidade, expurgo, luta, redenção, travessias, morada, repouso, palavra, corpus de tantos corpos, encontros e o despontamento do porvir.
/
"- Você dança para corrigir o quê? - perguntei.
- A vida."
Ondjaki | Massoxiangango
" - Celebro o amor e a vida. Danço sobre a vida e a morte. Danço sobre a tristeza e a solidão. Piso para o fundo da terra todos os males que me torturam. A dança liberta a mente das preocupações do momento. A dança é uma prece. Na dança celebro a vida enquanto aguardo a morte. Por que é que não danças?"
Paulina Chiziane | Niketche
Minha Mãe
3.7 61 Assista Agoraaiai ♥
Oxalá cresçam pitangas: Histórias de Luanda
4.2 4onde este filme me toca não é estética, é poesia & resiliência. é sentir estes lugares de aproximação e distinção cultural. o que nos coloca elo e também o que nos é particular - enquanto povo.
e, ondjaki....♥
Uma Canção
3.2 275gracinha!
[e essa trilha....]
A História da Eternidade
4.3 448o sertão é a eternidade. um perpétuo que se desdobra em reentrâncias. lugar onde amor & dor não compõem rima pobre, não é obviedade de verso pueril. palavras de fundição: ser a faca e o próprio corte.
Angel-A
3.7 141 Assista AgoraAnja Garbarek na trilha ♥
Livre
3.8 1,2K Assista Agora"- você parece uma feminista...
- eu sou "
"- uma mulher consegue fazer o que ela quiser"
**
A Dupla Vida de Véronique
4.1 276 Assista AgoraUm filme de kieslowski é o próprio desdobramento da palavra. Aquele parágrafo que não conseguimos lapidar: suas cores (aqui; verde, vermelho, amarelo, laranja), sua luz, (barroca ou onírica), suas personas (angustiadas, melancólicas, humanas), sua música, sua fotografia (me lembrou tanto alguns quadros de hammershoi, aquele plano onde alguém de uma janela vizinha dá um sinal para Veronique). tudo aqui percorre minhas vértebras.
e o duplo ♥
Reconstrução de um Amor
3.8 23"É como se reconhecessem...
Quem conhece a quem? Esse é o começo ou o fim?
É o que veremos agora. É o começo e o fim. O amor e a despedida
Sei que não preciso mencionar, mas mesmo assim o faço.
Lembre-se: tudo é apenas um filme. uma construção.
Mas, mesmo assim, dói."
noir, duplo, romance, metalinguagens, cigarros, leica. ♥
Nada Levarei Quando Morrer, Aqueles que Me Devem Cobrarei no …
4.4 10a imagem corrói, escancara, verte.
Dois Lados do Amor
3.4 244A trilha é linda, o filme é bem bonito e triste, mas achei que seria inovador na linguagem.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraMe sinto absorvida, puxada para um invólucro desconhecido; reconheço a dor, a sinto em alguns dos meus amados, que em mim bate num ponto tão oposto ( pulsão à vida não importa que só tenha restos).
Penso em obviedades inevitáveis; o quanto somos impelidos de modo geral à competição, a um perfeccionismo inalcançável que seria o motor do estímulo, o quanto é importante "mostrar-se forte"; adiciono a isso o que punge ainda mais às mulheres, a beleza que está relacionada a cor da pele, peso, tipo de cabelo, altura, detalhes que não precisam ser mencionados pois todos sabem qual é o requerido.
Se como rebanho vamos sendo guiados, também como bicho doente são tratados os que de alguma forma não suportam mais quebrar os ossos para caber em moldes. O sistema não se importa com traços, trajetórias, singularidades; o ser não adaptável está fadado se não sobrar um sopro para si mesmo. Mas, pensar em si é egocentrismo, é futilidade, a menos que sirva para caber outra vez no molde rejeitado.
Essas palavras transpiram pelos meus dedos embora pesem uma tonelada, é feio falar da dor, não se quer olhar fundo em sua retina, trazê-la à superfície, ela é feita para as entranhas e não para o retrato, ela é feita para o divã - mesmo que este caia no egocentrismo antes mencionado.
É então, ao refletir sobre tantas exigências subjetivas e paradoxais, que me sinto reconfortada, como Petra deixando-se fundir à água para que esta leve o que impossibilita novas danças, me sinto par de tantos e te permeio Elena. Sei o quanto há de impossível no existir sem um pertencimento idealizado, sei o quanto há de absurdo em às vezes precisar picotar os ideais e virar a folha em branco, recriar o passo, entonar outro canto. É no entendimento que a lufada me toma, deixo-a me guiar.
Mesmo se Nada der Certo
4.0 1,9K Assista AgoraEsse título nacional é terrível,rs.
Bueno, achei bem fofinho, a trilha é ótima.
gostei que você vai pensando que é uma comédia-romântica, ou que vai virar isso, quando na verdade é um filme agridoce, onde os protagonistas não precisam ficar juntos para sustentar o roteiro!