No fim, não faz tanta diferença o que é a “verdade” por trás de todo conflito gerado, mas sim quais pressupostos e caminhos cada um decide seguir ou ignorar perante os dilemas. Quais pesos cada um carrega consigo ou quer jogar sobre o outro? Quais pesos se está disposto a enxergar sobre o outro? Com uma grande ajudinha das normas sociais (teísmo, classismo, machismo...) é interessante perceber como vários caminhos já estão quase que determinados a cada um. O filme lança um jogo entre moral, ética, lei e normas sociais, embaralhando tudo e pondo em cheque até que medida uma coisa sobrepõe ou substitui outra. Se aqui ou se Alá, muitas variáveis subjetivas e sociais se entrelaçam e desfazem o que seria a busca por quem tem razão: é mais complexo e profundo. Quantas separações precisam ser realizadas em nós mesmos e dos outros diante dos problemas que nos convocam? Mesmo que possamos avaliar certas ações como mais ou menos desejáveis, não é um filme que quer passar o que é o certo e o errado, mas sim apresentar caminhos possíveis naquele contexto. Revela que há sim a liberdade individual, mas ela está fortemente associada às consequências presentes por ocupar determinados papeis sociais.
Sou meio chato, dou pouco valor ao Oscar pelo seu fator excludente (em vários quesitos, inclusive por não representar nem de longe o que é o cinema mundial). Visualmente, cada cena é tão bem construída que se você pausar quase qualquer momento do filme, daria para considerar uma foto massa. Nos demais quesitos, não é preciso nem falar muito sobre a relevância que possui tanto técnica quanto humanamente, é bem aparente. O fator “melhor filme” do Oscar tem mais sua importância de marketing do que qualquer outra coisa para essa obra que deve ser vista e sentida pelo maior número de pessoas possíveis. Moonlight é a arte em sua melhor forma, para mim, mostra que o século XXI tá começando de fato a entrar no mapa, em contraposição a persistentes ideias tão século XX de ver o mundo, dando visibilidade a novas discussões e possibilidades de existência e expressão.
São só alguns filmes que me transportam tão fortemente para dentro dele. É uma experiência para se sufocar, para se questionar sobre até que ponto chega a banalidade do mal, pois mostra de forma muito próxima e angustiante um resumo das diversas mortes (metafórica e literalmente) que ocorriam dentro de um campo de concentração. Aliás, quanto à câmera, achei genial, primeiramente pelo trabalho de conseguir filmar de forma tão não usual todo o filme e realmente dar um resultado visual muito interessante aos acontecimentos presentes no filme.
Também entendi que, sentindo que já está morto em muitos sentidos, Saul se prende ao seu objetivo e simplesmente fica insensível à realidade tão absurda que está inserido, o que reflete na própria câmera do longa. Tudo aparece quase sempre desfocado, mostrando apenas o que está estritamente próximo do protagonista, porque a própria dinâmica daquele ambiente não torna possível uma pausa para tentar compreender (ou até mesmo suportar) tudo aquilo que está ocorrendo. Além disso, no fim, pouco importa se o garoto é filho dele ou não, mas sim o papel que aquele objetivo de levar uma criança para o céu (segundo sua religião) tem para ele, sendo uma maneira de buscar algum sentido para a sua existência, já tão insignificante perante tudo aquilo.
Grandioso e ao mesmo tempo simples, com bastante slow motion para ajudar a digerir com calma os muitos detalhes que poderiam ser ignorados, mas que se tornam centrais nessa obra. Uma experiência singular e primorosa, instiga a reflexão e o sentimento através de uma maneira única de documentar as existências humanas, como já era de se esperar de Godfrey Reggio. Há a mistura de várias imagens que representam o fluxo da vida pela natureza, a quietude de locais que outrora já foram frequentados, as diferentes expressões e feições dos visitantes... Fluxo, finitude, profundidade, beleza, minúcias dessa visita... Não há muito como tentar classificar esse longa metragem, mais fácil assistir, escutar e sentir, como na trilogia qatsi.
Acho bem interessante como o cinema sul-coreano (na verdade, o oriental de maneira geral) consegue trazer enredos que seriam meio inviáveis se fossem realizados aqui do outro lado do mundo, já que envolve costumes e modos de se relacionar consideravelmente diferentes. Casa Vazia está inclusa nessa categoria e é legal como o silêncio de fato dá voz ao filme, pois, sem falas, os protagonistas dialogam muito entre eles... Vale a pena assisti-lo!
Esse documentário consegue retratar por meio de uma experiência singular um século inteiro, através de citações, acontecimentos, ideias e humanos diversos, de maneira irônica, cativante e angustiantemente real. Seu fim cria a deixa que nos aproxima das memórias e nos inclui nesse fluxo constante que é a história do homem. Genial!
A Separação
4.2 726 Assista AgoraNo fim, não faz tanta diferença o que é a “verdade” por trás de todo conflito gerado, mas sim quais pressupostos e caminhos cada um decide seguir ou ignorar perante os dilemas. Quais pesos cada um carrega consigo ou quer jogar sobre o outro? Quais pesos se está disposto a enxergar sobre o outro? Com uma grande ajudinha das normas sociais (teísmo, classismo, machismo...) é interessante perceber como vários caminhos já estão quase que determinados a cada um. O filme lança um jogo entre moral, ética, lei e normas sociais, embaralhando tudo e pondo em cheque até que medida uma coisa sobrepõe ou substitui outra. Se aqui ou se Alá, muitas variáveis subjetivas e sociais se entrelaçam e desfazem o que seria a busca por quem tem razão: é mais complexo e profundo. Quantas separações precisam ser realizadas em nós mesmos e dos outros diante dos problemas que nos convocam? Mesmo que possamos avaliar certas ações como mais ou menos desejáveis, não é um filme que quer passar o que é o certo e o errado, mas sim apresentar caminhos possíveis naquele contexto. Revela que há sim a liberdade individual, mas ela está fortemente associada às consequências presentes por ocupar determinados papeis sociais.
Projeto Flórida
4.1 1,0KMartin Parr foi o diretor de fotografia desse filme e não o creditaram? xD
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraSou meio chato, dou pouco valor ao Oscar pelo seu fator excludente (em vários quesitos, inclusive por não representar nem de longe o que é o cinema mundial). Visualmente, cada cena é tão bem construída que se você pausar quase qualquer momento do filme, daria para considerar uma foto massa. Nos demais quesitos, não é preciso nem falar muito sobre a relevância que possui tanto técnica quanto humanamente, é bem aparente. O fator “melhor filme” do Oscar tem mais sua importância de marketing do que qualquer outra coisa para essa obra que deve ser vista e sentida pelo maior número de pessoas possíveis. Moonlight é a arte em sua melhor forma, para mim, mostra que o século XXI tá começando de fato a entrar no mapa, em contraposição a persistentes ideias tão século XX de ver o mundo, dando visibilidade a novas discussões e possibilidades de existência e expressão.
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraSão só alguns filmes que me transportam tão fortemente para dentro dele. É uma experiência para se sufocar, para se questionar sobre até que ponto chega a banalidade do mal, pois mostra de forma muito próxima e angustiante um resumo das diversas mortes (metafórica e literalmente) que ocorriam dentro de um campo de concentração. Aliás, quanto à câmera, achei genial, primeiramente pelo trabalho de conseguir filmar de forma tão não usual todo o filme e realmente dar um resultado visual muito interessante aos acontecimentos presentes no filme.
Também entendi que, sentindo que já está morto em muitos sentidos, Saul se prende ao seu objetivo e simplesmente fica insensível à realidade tão absurda que está inserido, o que reflete na própria câmera do longa. Tudo aparece quase sempre desfocado, mostrando apenas o que está estritamente próximo do protagonista, porque a própria dinâmica daquele ambiente não torna possível uma pausa para tentar compreender (ou até mesmo suportar) tudo aquilo que está ocorrendo. Além disso, no fim, pouco importa se o garoto é filho dele ou não, mas sim o papel que aquele objetivo de levar uma criança para o céu (segundo sua religião) tem para ele, sendo uma maneira de buscar algum sentido para a sua existência, já tão insignificante perante tudo aquilo.
Visitantes
3.9 9Grandioso e ao mesmo tempo simples, com bastante slow motion para ajudar a digerir com calma os muitos detalhes que poderiam ser ignorados, mas que se tornam centrais nessa obra. Uma experiência singular e primorosa, instiga a reflexão e o sentimento através de uma maneira única de documentar as existências humanas, como já era de se esperar de Godfrey Reggio. Há a mistura de várias imagens que representam o fluxo da vida pela natureza, a quietude de locais que outrora já foram frequentados, as diferentes expressões e feições dos visitantes... Fluxo, finitude, profundidade, beleza, minúcias dessa visita... Não há muito como tentar classificar esse longa metragem, mais fácil assistir, escutar e sentir, como na trilogia qatsi.
Casa Vazia
4.2 409Acho bem interessante como o cinema sul-coreano (na verdade, o oriental de maneira geral) consegue trazer enredos que seriam meio inviáveis se fossem realizados aqui do outro lado do mundo, já que envolve costumes e modos de se relacionar consideravelmente diferentes. Casa Vazia está inclusa nessa categoria e é legal como o silêncio de fato dá voz ao filme, pois, sem falas, os protagonistas dialogam muito entre eles... Vale a pena assisti-lo!
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416Esse documentário consegue retratar por meio de uma experiência singular um século inteiro, através de citações, acontecimentos, ideias e humanos diversos, de maneira irônica, cativante e angustiantemente real. Seu fim cria a deixa que nos aproxima das memórias e nos inclui nesse fluxo constante que é a história do homem. Genial!