“O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes…“ Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), Aniversário.
Os Ventos de Anarene hão de corroer tudo quanto se move, - e algo daquilo que não pode fazê-lo também - enodoando as relações afetivas todas, sem misericórdia. Mesmo aquilo no qual há suposto vínculo intrínseco é reduzido às cinzas, parecendo-nos mesmo que na tétrica cidade texana nada sobreviverá.
Uma coisa ressoa-nos por demais evidente, não há valor que tenha perdurado de pé diante de tantos açoites do Tempo que, sob forma de um zéfiro excruciante, inexorável expressão da natureza, esgueira-se por sobre todas as almas degradando-as; espreita mesmo aquelas mais lívidas e, enfim, tomará também pra si Sonny, quiçá único indivíduo advertidamente chamado “vivo” em toda a cidade. Como espectadores do declínio de uma civilização, tomamos também parte dessa, e nossas esperanças, com a de todos os outros, agora pares nossos, deverá atingir a nulidade. Está feito, compusemos a peça.
Se o que encontra-se dentro dos limites das casas carcomidas do restrito povoado está, paulatinamente, dissolvendo-se, - trem descarrilhado que é conduzido por um maquinista anódino rumo ao lugar nenhum - como cimo cuja erosão gradualíssima se estende ao longo dos milénios conquanto a redução absoluta mostre-se intergiversável no porvir, noutro plano, paralelo, esse mesmo Tempo que açoita também aprisiona, restringe, limita.
A bem da verdade haverá quem consiga D’ele escapar, um dos quais, talvez, em direção a um abismo mais lacónico; a outra, se de fato obterá sucesso no ardil, terá cobrado uma alma para tal; não fosse sua mãe, cuja existência acabou por ser dilacerada e reduzida a um resíduo insignificante e quase insuficiente para o movimento, não soa lá muito verossímil que Jacy teria futuro dos mais alvissareiros. Alvíssaras em Anarene, dir-se-ia, só as trazem mesmo os irrefreáveis Ventos.
Cultivei ao longo dos anos particular afeição por composições artísticas de cunho memorialístico; e, conquanto haja outras que fascinem-me muitíssimo no que concerne ao cinema , nomeadamente, “O Espelho” (Tarkovski) e “Morangos Silvestres” (Bergman), creio que aqui encontro o meu mais seguro refúgio.
Impressionou-me à primeira vista - e ratifiquei a impressão nesta segunda - a forma como as cenas são reencenadas aos olhos da Ana; como que a entremearem-se, mesclarem-se, de modo a produzir seu sentido a partir da interação dos diversos dados sensoriais que perduraram enquanto reminiscências. Como um Proust à madeline, os ensejos para o desencadear duma cena de outrora culminam nas cenas que seguem a esta e confundem-se, conseguintemente, com a anterior, na medida em que compartilham um nexo afetivo.
Intriga-me sempre perceber os mecanismos nos quais o intento artístico arvora-se a fim de reproduzir algo análogo à reconstituição mnemónica dita “real” (ainda que seja talvez inadvertido julgá-la como tal), exercício sempre hercúleo, na medida em que somos, via de regra, pouco efectivos na transcrição estritamente verbal do pensar que toma o passado como protagonista e, nesse sentido, este filme é mesmo uma façanha notável!
O que sei é que depois que estive em Marienbad jamais deixei de estar. Estive tanto na primeira vez em que estive, que, nos escaninhos de minha memória, continuam a ressoar aqueles acordes lúgubres; e, não raro, acometem-me como pensamento súbito aquelas imagens longínquas, como efígies insondáveis, dos corredores longínquos da mansão longinquamente infinda que Resnais delineou.
Na primeira vez em que assisti a este filme achei que estava a contemplar algum tipo de «milagre» a manifestar-se sem escrúpulos à minha precária sensibilidade. Depois de ter tido a gentil oportunidade cosmológica de ter com um ou outro desses «milagres» cinematográficos passei a ter certeza da impressão de outrora.
Uma tragediazinha um tanto sórdida. A personagem da Elizabeth Patterson é, quiçá, a única coisa que tangencia uma espécie distante de ordinariedade.
A fotografia do Miller não está longe de cativar olhos complacentes, como foram os meus, uma vez já expostos ao trabalho exuberante em " How Green Was My Valley". Pontuando-se o fato de aqui tudo estar sensivelmente mais contido, o trabalho com o preto/branco não está alheio ao efeito do filme.
Os últimos minutos tem certo charme também. Uma melancolia presumida, ou será talvez uma presunção melancólica, vá saber…
Não há nada que eu posso agregar no que tange a exegese desta obra prima, o que tenho para escrever diz respeito a fatores estritamente passionais.
Revistar Godfather é sempre uma experiência engrandecedora, não houve uma vez sequer em minhas inúmeras experiências com esta trilogia, que eu tenha saído do sofá sem a percepção de que acabara de contemplar a beleza no seu mais alto nível. Análogo à minhas melhores leituras ou aos melhores discos que já escutei, apreciar Godfather e sua primorosidade é notar o quão intensa pode ser a contemplação estética de uma grande obra de arte.
Como dito, eximirei deste texto análises técnicas acerca do filme, são prescindíveis, outros já as fizeram ostensivamente e de modo muito mais sofisticado que eu poderia, posso, todavia, prestar minha estima a essa excepcionalidade do cinema, cuja importância para minha vida é absolutamente imensurável.
Melancholia é um diálogo com a precariedade intrínseca no ser humano.
Ao retratar o trágico término da vida em nosso planeta nos vemos defronte à nossa substancial incapacidade de lidar com as contingências da natureza, esteja essa relacionada com a colisão de um planeta epopeico com a Terra ou quem sabe com um certo Covid 19.
Através de um prólogo arvorado em uma composição artística diversificada, dispondo da belíssima “Tristan und Isolde” ao fundo, uma fotografia primorosa agregada a enquadramentos contundentes, além de referências a pinturas, von Trier entrega aos espectadores um dos inícios mais belos da sétima arte, extremamente poético e simbólico.
No que tange a narrativa o longa é magistral, o diretor é hábil em alternar-se em cenas paulatinas e poéticas e sequências vertiginosas e desconfortáveis concernente ao propósito dessas.
A atuação de Kirsten Dunst é, indubitavelmente, a melhor de sua carreira, a atriz consegue explicitar a melancolia contida em Justine de modo orgânico e verossímil. Ademais, vale salientar a atuação de Charlotte Gainsbourg que concede a sua personagem traços de contradição fulcrais para o desenvolvimento de Claire.
A fotografia de Manoel Alberto Claro é lindíssima em vários planos e a trilha sonora consegue acentuar a angústia que permeia a trama.
Em suma, Melancolia é uma solene demonstração de nossa inabilidade perante as contingências do cosmos.
Anticristo é, provavelmente, um dos filmes mais insólitos de Lars.
Assim como fará posteriormente em Melancholia (2011) o diretor se detém a perscrutar o sofrimento melancólico contido na personagem de Gainsbourg e o faz magistralmente. A culpabilização da personagem feminina contraposta pela demasiada tentativa do homem de racionalizar o conflito expõe a primeira das muitas antíteses que permeiam a trama, tais quais: Licenciosidade x Austeridade, Carne x Pureza, Racionalidade x Animalidade, Feminino x Masculino, todas essas que, de certo, contribuem substancialmente para a riqueza desse roteiro e por conseguinte para que a mensagem posta em tela seja devidamente apreendida.
Ademais, o diretor ainda se arvora em incontáveis reflexões nietzschianas (que vão além do título) e freudianas (para além de uma irônica frase posta no filme) que proporcionam uma experiência ainda mais rica, haja vista que o caráter imersivo do longa cresce quando a obra começa a ser percebida em “camadas” por nós que assistimos.
A composição fotográfica de Anthony Dod é primorosa, fulcral na construção de seu ambiente edênico infernal (sabe-se lá como isso é possível),além de uma trilha sonora contundente. As atuações de Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg são impecáveis e alicerçam a trama muito bem.
Anticristo é mais um dos convites de von Trier para uma visita que você não quer (a priori) experienciar e, apesar disso, lhe toma pelos braços e mergulha-nos nesse ambiente hostil que é a natureza caótica de nossa própria consciência. "Nature is Satan's church."
Gravidade é um filme com pouco asseio no que tange a roteiro e, indubitavelmente, um apuro técnico invejável. Essa é, todavia, a fórmula perfeita para minhas experiências negativas no cinema contemporâneo.
Alfonso Cuáron desenvolve aqui uma premissa simples imbuída de clichês em sobremaneira, cenas demasiadamente melodramáticas (que parecem tencionar gerar emoções gratuitas no espectador),sem o devido respaldo do roteiro. Há ainda a utilização de deus ex machina sucessivos, sendo um mais inverossímil que o outro que culminam em uma das resoluções de conflito mais bisonhas que já vi.
Não obstante a todos esses problemas no roteiro, a primorosidade técnica é evidente. A fotografia é substancialmente imersiva, a edição é asseada, os efeitos visuais são muito bem postos e a trilha sonora agregada a mixagem de som são marcantes, todos esses fatores praticamente lhe obrigam a experienciar o espaço juntamente com Ryan.
Essa obra é a representação do cinema hollywoodiano, possui recursos técnicos deslumbrantes mais um roteiro que mais parece ter sido concebido por uma criança dada a fantasias, com algumas metáforas piegas jogadas de qualquer maneira.
O diretor Thomas Vinterberg que já vinha de trabalhos bons como “Festen” de 98,entrega um filme cujas cenas são excepcionalmente bem construídas, de modo que, ao meu ver, impossibilita opiniões categóricas acerca da culpabilidade ou não do personagem de Mads Mikkelsen.
Aliás, é imprescindível destacar a atuação substancialmente primorosa de Mikkelsen, afirmo peremptoriamente que é uma das melhores atuações que já tive o prazer de vislumbrar. O personagem Lucas cujas idiossincrasias incontáveis, reitero, impedem conclusões simplórias, foi vivido pelo ator sob uma verdade tal, que para olhares atentos, a sensação de pesar para com sua delicada situação e a incerteza presente em suas excêntricas reações se alternam com uma constância assombrosa.
A fotografia, dirigida por Charlotte Bruus, é magistral, eventualmente, pausei o filme para me atentar aos lindos planos em cena.
Um filme brilhantemente bem escrito e dirigido por um diretor que cada vez mais me fascina. Decididamente, nem só de Lars viverá a Dinamarca!
Darabont parece ter, entre outras idiossincrasias, a capacidade de fazer boas adaptações da obra de Stephen King.
A despeito de quesitos gráficos questionáveis (mesmo para a época),o diretor consegue sintetizar a atmosfera escrita por King que, para além de criaturas lovecraftianas macabras, possui como pano de fundo os conflitos humanos.
As atuações não são marcantes, em geral, com exceção à brilhante interpretação de Marcia Harden que consegue gerar incômodo com seus discursos melodramáticos e ensandecidos.
O longa possui pontos negativos, sem dúvidas, parco desenvolvimento dos personagens, cenas demasiadamente clichês e os já mencionados efeitos especiais pouco atraentes são alguns dos fatores que comprometem parte do brilho da obra.
Talvez o filme até poderia ser esquecível, se não fosse a complexidade humana, cujas consequências são muito bem apresentados em tela, e um dos finais mais arrojados do cinema.
Paul Thomas Anderson arvora-se aqui em um dos roteiros mais bem escritos do cinema, uma história permeada de existencialismo, arrependimentos, escusas, pusilânimes, etc.
O elenco do filme é absolutamente apoteótico, ousaria dizer que todos os atores estão entregando (ao menos) uma de suas melhores atuações na carreira, característica inclusive amiúde nos filmes de PTA.
A história é formidavelmente bem contada, com diálogos marcantes, personagens com histórias altamente cativantes, desenrolares inesperados e concretos, reais, palpáveis.
A trilha sonora desempenha papel fulcral neste longa, haja vista que sua catarse situa-se em uma quebra da quarta parede em que os protagonistas cantam a mesma canção “Wise Up” o que culminaria no clímax do filme, uma das cenas mais icônicas da sétima arte cujas interpretações mil gerariam como corolário a construção do caráter de perenidade que essa obra de arte alcançou.
Magnólia é uma ode à existência norteada pelos equívocos do passado e pelo desespero por redenção!
Uma excelente obra para você apreciar quando quiser ficar entusiasmado!
Nesse que é a segunda parte do projeto “Grindhouse” de Tarantino e Rodriguez, o mestre dos diálogos e das cenas de ação entrega um filme altamente vertiginoso (sobretudo à partir de seu segundo ato), em uma homenagem, além de evidentemente direcionada aos filmes de terror B dos anos 70, que envereda para exaltação aos grandes carros dos filmes americanos.
Além das cenas de ação extasiantes, é imprescindível destacar os diálogos divertidíssimos que Tarantino elabora, dezenas de referência à cultura pop e tiradas bem construídas culminam em personagens altamente cativantes que corroboram com o longa.
Com incontáveis cenas memoráveis do personagem completamente louco de Kurt Russel (e como ele está bem no filme),uma trilha sonora arrebatadora e esta premissa alucinante, Quentin Tarantino mostra que mesmo em seus trabalhos menos aclamados ele entrega bons filmes.
Um processo profundamente incômodo e perturbador de imersão na psíque da personagem Carole!
Em seu primeiro longa fora da Polônia Roman Polanski, juntamente com Gérard Brach, concebem esse roteiro subversivo e impactante. Nesta obra teremos a oportunidade de olhar o mundo sob os olhares perturbados da jovem Carole,(interpretada primorosamente pela belíssima Catherine Deneuve) cujas idiossincrasias de comportamento vão paulatinamente mergulhando-nos nesse ambiente desconfortável que é sua vida.
A trilha sonora (e também a ausência dela) concatena-se indissociavelmente com o que está em tela, contribuindo para criar uma substancial angustia em nós telespectadores que auxilia na percepção adequada da mente da protagonista.
Polanski faz uso de diversas metáforas que quando compreendidas também nos direcionam para um entendimento da trama, as freiras felizes não obstante a ausência de figuras sexuais masculinas em suas vidas, o coelho enquanto símbolo da fertilidade, o apodrecimento de componentes orgânicos em concomitância com a destruição do apartamento e a desconstrução da mente de Carole são elementos fulcrais para a compreensão dessa psíque perturbadamente violentada.
Um filme que viria à mostrar ao mundo do que Polanski era capaz de fazer em tela, as coordenações de câmeras ousadas, o uso de efeitos sonoros angustiantes e uma trama altamente subversiva tornar-se-iam marcas desse que é um dos melhores cineastas de seu tempo.
O filme “sociedade dos poetas mortos” é, indubitavelmente, imprescindível para quaisquer indivíduos. Seu roteiro possui uma característica marcante de transmitir a mensagem filosófica da fuga da ortodoxia, ou seja, da padronização demasiada que a sociedade nos impõe, e essa por sua vez, é transmitida brilhantemente pelo Professor Keating cuja sabedoria e sobriedade do discurso cativam os alunos (e a nós também) a buscarem a, extraordinariedade, isto é, se desprenderem do ordinário, do comum, que lhes são incutidos à força por suas famílias, que na realidade, convenhamos, poderia ser percebido como a sociedade contemporânea (ou é claro, de quaisquer outros tempos),haja vista que, a estandardização é sistematicamente incentivada (lamentavelmente) em todas as facetas da conjuntura social.
A atuação de Robin Williams é magistral, indelével, de modo que, a imagem de um professor instigante dificilmente se dissociará de Keating em sua cabeça depois de assistir esse longa. A relação do grupo de jovens é muito bem construída e desenvolvida, as nuances dos discursos e das situações vividas por eles contribuem muito para a verossimilhança do clímax do filme.
Em suma, esse filme possui uma potência substancial para mudar vidas e percepções acerca da realidade, sobretudo porque “a peça continua e você sempre pode contribuir com um verso”, não é mesmo? Que tal tentarmos construir nosso próprio verso? Qual será o seu?
Talvez a primeira grande obra de Hitchcock e também o primeiro de seus filmes em cores, o filme traz uma adaptação de uma peça teatral e utiliza da linguagem cinematográfica para apresentar esta obra de maneira distinta, evidentemente, do que o campo teatral poderia fazer.
A premissa do filme soa absurda (e de fato é), entretanto, impressionantemente o personagem de John Dall consegue convencer-nos de que está convencido da lógica de seu crime, sendo talvez um dos psicopatas mais bem retratados do cinema, ao passo que o personagem feito por Farley Granger representa o senso de humanidade da dupla com seu jeito caricato de se portar, mas que ao longo da trama vai passando a soar natural. O personagem de James Stewart é igualmente intrigante, analítico ao extremo, utilizando da lógica como seu pedestal até o diálogo final excepcionalmente bem feito.
A direção de Hitchcock é um espetáculo à parte, seu ''plano sequência'' parece extremamente real, os cortes quando percebíveis são para dar ao espectador uma sensação de susto, geralmente quando a câmera é repentinamente focada no personagem de Stewart sempre intrigado com as declarações curiosas de Brandon. Os planos detalhe no baú, a construção da tensão, a expressão corporal dos atores é tudo metodicamente bem trabalhado.
A cena final é espetacular, com o uso das cores (o vermelho e verde piscando incomodamente) Hitchcock constrói uma cena em que o a moralidade de Rupert finalmente ascende, quando então ele demonstra a deturpação lógica que Brandon ''psicopaticamente'' faz, baita cena.
Enfim trata-se de uma obra prima desse gênio chamado Alfred Hitchcock!
Resolvi revisitar esta obra a qual me proporcionou uma de minhas melhores experiências com filmes de terror recentemente (muito por conta da destruição contumaz que Hollywood tem feito do gênero) e devo dizer que o filme se tornou ainda melhor!
A direção de Robert Eggers é primorosa em todos os sentidos, a maneira que ele coordena a câmera, o modo que ele permite que os planos ocorram, os cortes metódicos, o enquadramento e, claro não poderia deixar de citar, o desprezo pelos jumpscares, basicamente inexistentes na obra.
A trilha sonora é imprescindível para a obra, diria que ela concatena-se com as prolongadas cenas perfeitamente, é angustiante e profundamente imersivo.
Ambientação em concomitância com o figurino são fundamentais para a construção da tensão. Os cenários possuem cores frias, cinzentas, ao passo que o figurino remonta algo cabalístico e contribuem consideravelmente para mergulhar o espectador ainda mais no filme.
Os atores estão todos muito bem, entretanto, Anya Taylor-Joy é sem dúvidas a melhor em tela, a ambiguidade que ela proporciona a personagem é incrível, a personagem encontra-se o tempo inteiro manipulando as sensações do espectador, e isso se dá pela capacidade espetacular da atriz modificar suas expressões de modo crível e celeremente.
Este filme é a prova que não há necessidade de apelar para monstros gritando por horas, jumpscares constantes e cortes a cada 10 segundos para esconder a incapacidade do diretor em dirigir um filme. Se fossem retirados os 5 minutos finais do longa (que ao meu ver retiram boa parte da ambiguidade que permeava o roteiro) ele seria irretocável.
16 planos sequências coadunados de maneira magistral, isso resume a primorosidade técnica deste longa. Demorei bastante tempo para assisti-lo, devo admitir, pelo fato deste ter sido tão bem falado (tenho um pouco de pé atrás com filmes aclamados pelo público),e tive uma grata surpresa o filme reúne inúmeras camadas que me fizeram compreender o porquê dele agradar desde o público comum ao público mais exigente.
A obra se trata de uma metáfora clara a carreira de Michael Keaton que havia interpretado os filmes do Batman ao lado de Tim Burton e depois de negar o convite do terceiro filme não fez nada relevante por bastante tempo. As camadas psicológicas que envolvem a trama são várias, o filme discute depressão, suicídio, busca por relevância, desprendimento do passado, mas, acima de tudo discute a diferença entre ser famoso e ser importante, a busca insaciável de Riggan para deixar de ser Birdman e se tornar alguém, de fato, relevante.
A trilha sonora deste obra concatena-se com o filme de modo simplesmente genial. Nos momentos em que Keaton está no palco (do teatro) toca música clássica, calma, melódica. Fora do palco o que se tem é um free jazz um solo de bateria veloz, agressivo, firme, intercalado com músicas românticas quando Riggan encontra-se mergulhado em seus delírios.
O elenco excepcional não está aí por acaso, todos os atores tem seus momentos em evidência, destaco alguns: Edward Norton interpreta um personagem que satiriza o próprio ator, cuja fama é de que não é muito simples se trabalhar com ele e está muito bem no filme. Emma Stone possui uma cena que me fez voltar 3 vezes para reassistir, Está incrível. Michael Keaton tem uma atuação absolutamente fora de série.
Em suma, a obra possui muito a dizer, a direção de Iñárritu é metódica e indelével, a edição é impecável, a trilha sonora compõe muito bem as cenas, os atores estão todos muito bem e a crítica ao cinema mainstream é algo interessante, dá pra perceber o incômodo do diretor para com a situação do cinema hodiernamente.
Uma das obras mais impactantes que vi em toda minha vida. Filosófica no mais alto nível, transcendente, obra prima. A maquiagem desse filme é espetacular, beirando a perfeição, a trilha sonora compõe as cenas de maneira indissociável e fundamental para construção do clima. A reflexão que esse filme propõe faz-lhe pensar em tantos níveis que esta per se, já da ao filme um caráter primoroso.
É um filme para poucos, sem dúvidas, mas acredito que dar uma chance a obra, disposto a reflexão, pode lhe trazer insights interessantes!
Revisitando alguns filmes do Woody Allen pra ver se consigo terminar de assistir a relativamente longa filmografia do diretor. Nada melhor, então, do que começar com meu filme preferido dele, este em que Woody cria uma narrativa beirando a perfeição, demonstrando de forma crível o desenvolvimento de um relacionamento e todos os percalços que fazem parte deste. Vindo de trabalhos consideravelmente superficiais Woody se aventura em apresentar em seu 7º longa uma obra que difere do tradicional e resolve utilizar uma comédia romântica para tocar em pontos que incomodam, como o desgaste de um relacionamento, os traumas gerados por uma infância atormentada e relacionamentos abusivos. Movimentos de câmeras inovadores, quebra da 4º parede, diálogos excepcionais, tangibilidade da obra, atuações reais, roteiro hábil. Com esse leque de elementos fazendo parte de sua obra fica fácil perceber o porquê desta obra ter sobrepujado ''guerra nas estrelas'' em 77 e levado o prêmio da academia pra casa (não que Woody ligue muito, rs).
PS: A cena em que os personagens de Diane Keaton e Woody Allen estão a conversar, e enquanto dialogam seus pensamento são transcritos em tela, é genial a um nível que não consigo descrever. Perfeita dicotomia entre o que o construto social permite que você fale e o que realmente você quer falar.
É magistral, o filme discute tanta coisa que se torna difícil elencar, medo, o que é ser covarde, como encarar a vida, morte, determinação. Alguns diálogos são memoráveis, muitos possuem uma beleza da ingenuidade daqueles fazendeiros, outros são revestidos de pensamentos que transcendem o senso comum (do jovem que acreditava que a honra estava em ser um pistoleiro, do homem que acreditava que somente o dinheiro era suficiente para se viver, do fazendeiro que teve sua primeira experiência com a adrenalina e por aí vai...). O confronto final é simplesmente espetacular, uma obra prima!
Um filme que demorou a me envolver na trama, a narrativa que Jean-Marc Vallée opta por utilizar contribui para esse envolvimento gradual. De forma lenta você vai entendendo as motivações de Cheryl e o porquê de ela se encontrar naquela situação. O desenvolvimento da personagem é, de certo, o ponto alto do filme, é consideravelmente interessante ver o que se tornou aquela menina do primeiro dia de trilha no final desta. A fotografia é magistral, belíssima. A trilha sonora é marcante e importante para o enredo como um todo. É um bom filme para se assistir quando lhe falta inspiração para agir.
A Última Sessão de Cinema
4.1 123 Assista Agora“O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…“
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), Aniversário.
Os Ventos de Anarene hão de corroer tudo quanto se move, - e algo daquilo que não pode fazê-lo também - enodoando as relações afetivas todas, sem misericórdia. Mesmo aquilo no qual há suposto vínculo intrínseco é reduzido às cinzas, parecendo-nos mesmo que na tétrica cidade texana nada sobreviverá.
Uma coisa ressoa-nos por demais evidente, não há valor que tenha perdurado de pé diante de tantos açoites do Tempo que, sob forma de um zéfiro excruciante, inexorável expressão da natureza, esgueira-se por sobre todas as almas degradando-as; espreita mesmo aquelas mais lívidas e, enfim, tomará também pra si Sonny, quiçá único indivíduo advertidamente chamado “vivo” em toda a cidade. Como espectadores do declínio de uma civilização, tomamos também parte dessa, e nossas esperanças, com a de todos os outros, agora pares nossos, deverá atingir a nulidade. Está feito, compusemos a peça.
Se o que encontra-se dentro dos limites das casas carcomidas do restrito povoado está, paulatinamente, dissolvendo-se, - trem descarrilhado que é conduzido por um maquinista anódino rumo ao lugar nenhum - como cimo cuja erosão gradualíssima se estende ao longo dos milénios conquanto a redução absoluta mostre-se intergiversável no porvir, noutro plano, paralelo, esse mesmo Tempo que açoita também aprisiona, restringe, limita.
A bem da verdade haverá quem consiga D’ele escapar, um dos quais, talvez, em direção a um abismo mais lacónico; a outra, se de fato obterá sucesso no ardil, terá cobrado uma alma para tal; não fosse sua mãe, cuja existência acabou por ser dilacerada e reduzida a um resíduo insignificante e quase insuficiente para o movimento, não soa lá muito verossímil que Jacy teria futuro dos mais alvissareiros. Alvíssaras em Anarene, dir-se-ia, só as trazem mesmo os irrefreáveis Ventos.
Cria Corvos
4.3 199 Assista AgoraCultivei ao longo dos anos particular afeição por composições artísticas de cunho memorialístico; e, conquanto haja outras que fascinem-me muitíssimo no que concerne ao cinema , nomeadamente, “O Espelho” (Tarkovski) e “Morangos Silvestres” (Bergman), creio que aqui encontro o meu mais seguro refúgio.
Impressionou-me à primeira vista - e ratifiquei a impressão nesta segunda - a forma como as cenas são reencenadas aos olhos da Ana; como que a entremearem-se, mesclarem-se, de modo a produzir seu sentido a partir da interação dos diversos dados sensoriais que perduraram enquanto reminiscências. Como um Proust à madeline, os ensejos para o desencadear duma cena de outrora culminam nas cenas que seguem a esta e confundem-se, conseguintemente, com a anterior, na medida em que compartilham um nexo afetivo.
Intriga-me sempre perceber os mecanismos nos quais o intento artístico arvora-se a fim de reproduzir algo análogo à reconstituição mnemónica dita “real” (ainda que seja talvez inadvertido julgá-la como tal), exercício sempre hercúleo, na medida em que somos, via de regra, pouco efectivos na transcrição estritamente verbal do pensar que toma o passado como protagonista e, nesse sentido, este filme é mesmo uma façanha notável!
O Ano Passado em Marienbad
4.2 156 Assista AgoraO que sei é que depois que estive em Marienbad jamais deixei de estar. Estive tanto na primeira vez em que estive, que, nos escaninhos de minha memória, continuam a ressoar aqueles acordes lúgubres; e, não raro, acometem-me como pensamento súbito aquelas imagens longínquas, como efígies insondáveis, dos corredores longínquos da mansão longinquamente infinda que Resnais delineou.
Nostalgia
4.3 186Na primeira vez em que assisti a este filme achei que estava a contemplar algum tipo de «milagre» a manifestar-se sem escrúpulos à minha precária sensibilidade. Depois de ter tido a gentil oportunidade cosmológica de ter com um ou outro desses «milagres» cinematográficos passei a ter certeza da impressão de outrora.
Caminho Áspero
3.6 13Uma tragediazinha um tanto sórdida. A personagem da Elizabeth Patterson é, quiçá, a única coisa que tangencia uma espécie distante de ordinariedade.
A fotografia do Miller não está longe de cativar olhos complacentes, como foram os meus, uma vez já expostos ao trabalho exuberante em " How Green Was My Valley". Pontuando-se o fato de aqui tudo estar sensivelmente mais contido, o trabalho com o preto/branco não está alheio ao efeito do filme.
Os últimos minutos tem certo charme também. Uma melancolia presumida, ou será talvez uma presunção melancólica, vá saber…
Genius Within: The Inner Life of Glenn Gould
4.0 1Bernhard trouxe-me à esta maldita obsessão. Que criaturinha sui generis essa...
O Poderoso Chefão
4.7 2,9K Assista AgoraNão há nada que eu posso agregar no que tange a exegese desta obra prima, o que tenho para escrever diz respeito a fatores estritamente passionais.
Revistar Godfather é sempre uma experiência engrandecedora, não houve uma vez sequer em minhas inúmeras experiências com esta trilogia, que eu tenha saído do sofá sem a percepção de que acabara de contemplar a beleza no seu mais alto nível. Análogo à minhas melhores leituras ou aos melhores discos que já escutei, apreciar Godfather e sua primorosidade é notar o quão intensa pode ser a contemplação estética de uma grande obra de arte.
Como dito, eximirei deste texto análises técnicas acerca do filme, são prescindíveis, outros já as fizeram ostensivamente e de modo muito mais sofisticado que eu poderia, posso, todavia, prestar minha estima a essa excepcionalidade
do cinema, cuja importância para minha vida é absolutamente imensurável.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraMelancholia é um diálogo com a precariedade intrínseca no ser humano.
Ao retratar o trágico término da vida em nosso planeta nos vemos defronte à nossa substancial incapacidade de lidar com as contingências da natureza, esteja essa relacionada com a colisão de um planeta epopeico com a Terra ou quem sabe com um certo Covid 19.
Através de um prólogo arvorado em uma composição artística diversificada, dispondo da belíssima “Tristan und Isolde” ao fundo, uma fotografia primorosa agregada a enquadramentos contundentes, além de referências a pinturas, von Trier entrega aos espectadores um dos inícios mais belos da sétima arte, extremamente poético e simbólico.
No que tange a narrativa o longa é magistral, o diretor é hábil em alternar-se em cenas paulatinas e poéticas e sequências vertiginosas e desconfortáveis concernente ao propósito dessas.
A atuação de Kirsten Dunst é, indubitavelmente, a melhor de sua carreira, a atriz consegue explicitar a melancolia contida em Justine de modo orgânico e verossímil. Ademais, vale salientar a atuação de Charlotte Gainsbourg que concede a sua personagem traços de contradição fulcrais para o desenvolvimento de Claire.
A fotografia de Manoel Alberto Claro é lindíssima em vários planos e a trilha sonora consegue acentuar a angústia que permeia a trama.
Em suma, Melancolia é uma solene demonstração de nossa inabilidade perante as contingências do cosmos.
Anticristo
3.5 2,2K Assista AgoraAnticristo é, provavelmente, um dos filmes mais insólitos de Lars.
Assim como fará posteriormente em Melancholia (2011) o diretor se detém a perscrutar o sofrimento melancólico contido na personagem de Gainsbourg e o faz magistralmente. A culpabilização da personagem feminina contraposta pela demasiada tentativa do homem de racionalizar o conflito expõe a primeira das muitas antíteses que permeiam a trama, tais quais: Licenciosidade x Austeridade, Carne x Pureza, Racionalidade x Animalidade, Feminino x Masculino, todas essas que, de certo, contribuem substancialmente para a riqueza desse roteiro e por conseguinte para que a mensagem posta em tela seja devidamente apreendida.
Ademais, o diretor ainda se arvora em incontáveis reflexões nietzschianas (que vão além do título) e freudianas (para além de uma irônica frase posta no filme) que proporcionam uma experiência ainda mais rica, haja vista que o caráter imersivo do longa cresce quando a obra começa a ser percebida em “camadas” por nós que assistimos.
A composição fotográfica de Anthony Dod é primorosa, fulcral na construção de seu ambiente edênico infernal (sabe-se lá como isso é possível),além de uma trilha sonora contundente. As atuações de Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg são impecáveis e alicerçam a trama muito bem.
Anticristo é mais um dos convites de von Trier para uma visita que você não quer (a priori) experienciar e, apesar disso, lhe toma pelos braços e mergulha-nos nesse ambiente hostil que é a natureza caótica de nossa própria consciência. "Nature is Satan's church."
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraGravidade é um filme com pouco asseio no que tange a roteiro e, indubitavelmente, um apuro técnico invejável. Essa é, todavia, a fórmula perfeita para minhas experiências negativas no cinema contemporâneo.
Alfonso Cuáron desenvolve aqui uma premissa simples imbuída de clichês em sobremaneira, cenas demasiadamente melodramáticas (que parecem tencionar gerar emoções gratuitas no espectador),sem o devido respaldo do roteiro. Há ainda a utilização de deus ex machina sucessivos, sendo um mais inverossímil que o outro que culminam em uma das resoluções de conflito mais bisonhas que já vi.
Não obstante a todos esses problemas no roteiro, a primorosidade técnica é evidente. A fotografia é substancialmente imersiva, a edição é asseada, os efeitos visuais são muito bem postos e a trilha sonora agregada a mixagem de som são marcantes, todos esses fatores praticamente lhe obrigam a experienciar o espaço juntamente com Ryan.
Essa obra é a representação do cinema hollywoodiano, possui recursos técnicos deslumbrantes mais um roteiro que mais parece ter sido concebido por uma criança dada a fantasias, com algumas metáforas piegas jogadas de qualquer maneira.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraUma trama tremendamente incômoda e multifacetada.
O diretor Thomas Vinterberg que já vinha de trabalhos bons como “Festen” de 98,entrega um filme cujas cenas são excepcionalmente bem construídas, de modo que, ao meu ver, impossibilita opiniões categóricas acerca da culpabilidade ou não do personagem de Mads Mikkelsen.
Aliás, é imprescindível destacar a atuação substancialmente primorosa de Mikkelsen, afirmo peremptoriamente que é uma das melhores atuações que já tive o prazer de vislumbrar. O personagem Lucas cujas idiossincrasias incontáveis, reitero, impedem conclusões simplórias, foi vivido pelo ator sob uma verdade tal, que para olhares atentos, a sensação de pesar para com sua delicada situação e a incerteza presente em suas excêntricas reações se alternam com uma constância assombrosa.
A fotografia, dirigida por Charlotte Bruus, é magistral, eventualmente, pausei o filme para me atentar aos lindos planos em cena.
Um filme brilhantemente bem escrito e dirigido por um diretor que cada vez mais me fascina. Decididamente, nem só de Lars viverá a Dinamarca!
O Nevoeiro
3.5 2,6K Assista AgoraDarabont parece ter, entre outras idiossincrasias, a capacidade de fazer boas adaptações da obra de Stephen King.
A despeito de quesitos gráficos questionáveis (mesmo para a época),o diretor consegue sintetizar a atmosfera escrita por King que, para além de criaturas lovecraftianas macabras, possui como pano de fundo os conflitos humanos.
As atuações não são marcantes, em geral, com exceção à brilhante interpretação de Marcia Harden que consegue gerar incômodo com seus discursos melodramáticos e ensandecidos.
O longa possui pontos negativos, sem dúvidas, parco desenvolvimento dos personagens, cenas demasiadamente clichês e os já mencionados efeitos especiais pouco atraentes são alguns dos fatores que comprometem parte do brilho da obra.
Talvez o filme até poderia ser esquecível, se não fosse a complexidade humana, cujas consequências são muito bem apresentados em tela, e um dos finais mais arrojados do cinema.
Magnólia
4.1 1,3K Assista AgoraPaul Thomas Anderson arvora-se aqui em um dos roteiros mais bem escritos do cinema, uma história permeada de existencialismo, arrependimentos, escusas, pusilânimes, etc.
O elenco do filme é absolutamente apoteótico, ousaria dizer que todos os atores estão entregando (ao menos) uma de suas melhores atuações na carreira, característica inclusive amiúde nos filmes de PTA.
A história é formidavelmente bem contada, com diálogos marcantes, personagens com histórias altamente cativantes, desenrolares inesperados e concretos, reais, palpáveis.
A trilha sonora desempenha papel fulcral neste longa, haja vista que sua catarse situa-se em uma quebra da quarta parede em que os protagonistas cantam a mesma canção “Wise Up” o que culminaria no clímax do filme, uma das cenas mais icônicas da sétima arte cujas interpretações mil gerariam como corolário a construção do caráter de perenidade que essa obra de arte alcançou.
Magnólia é uma ode à existência norteada pelos equívocos do passado e pelo desespero por redenção!
À Prova de Morte
3.9 2,0K Assista AgoraUma excelente obra para você apreciar quando quiser ficar entusiasmado!
Nesse que é a segunda parte do projeto “Grindhouse” de Tarantino e Rodriguez, o mestre dos diálogos e das cenas de ação entrega um filme altamente vertiginoso (sobretudo à partir de seu segundo ato), em uma homenagem, além de evidentemente direcionada aos filmes de terror B dos anos 70, que envereda para exaltação aos grandes carros dos filmes americanos.
Além das cenas de ação extasiantes, é imprescindível destacar os diálogos divertidíssimos que Tarantino elabora, dezenas de referência à cultura pop e tiradas bem construídas culminam em personagens altamente cativantes que corroboram com o longa.
Com incontáveis cenas memoráveis do personagem completamente louco de Kurt Russel (e como ele está bem no filme),uma trilha sonora arrebatadora e esta premissa alucinante, Quentin Tarantino mostra que mesmo em seus trabalhos menos aclamados ele entrega bons filmes.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraLars perscruta nosso âmago avidamente...Enfim olha no interior de nossos olhos e diz:
Não terei pena de você, haja vista que a vida também não há de ter.
Repulsa ao Sexo
4.0 462 Assista AgoraUm processo profundamente incômodo e perturbador de imersão na psíque da personagem Carole!
Em seu primeiro longa fora da Polônia Roman Polanski, juntamente com Gérard Brach, concebem esse roteiro subversivo e impactante. Nesta obra teremos a oportunidade de olhar o mundo sob os olhares perturbados da jovem Carole,(interpretada primorosamente pela belíssima Catherine Deneuve) cujas idiossincrasias de comportamento vão paulatinamente mergulhando-nos nesse ambiente desconfortável que é sua vida.
A trilha sonora (e também a ausência dela) concatena-se indissociavelmente com o que está em tela, contribuindo para criar uma substancial angustia em nós telespectadores que auxilia na percepção adequada da mente da protagonista.
Polanski faz uso de diversas metáforas que quando compreendidas também nos direcionam para um entendimento da trama, as freiras felizes não obstante a ausência de figuras sexuais masculinas em suas vidas, o coelho enquanto símbolo da fertilidade, o apodrecimento de componentes orgânicos em concomitância com a destruição do apartamento e a desconstrução da mente de Carole são elementos fulcrais para a compreensão dessa psíque perturbadamente violentada.
Um filme que viria à mostrar ao mundo do que Polanski era capaz de fazer em tela, as coordenações de câmeras ousadas, o uso de efeitos sonoros angustiantes e uma trama altamente subversiva tornar-se-iam marcas desse que é um dos melhores cineastas de seu tempo.
Sociedade dos Poetas Mortos
4.3 2,3K Assista AgoraO filme “sociedade dos poetas mortos” é, indubitavelmente, imprescindível para quaisquer indivíduos. Seu roteiro possui uma característica marcante de transmitir a mensagem filosófica da fuga da ortodoxia, ou seja, da padronização demasiada que a sociedade nos impõe, e essa por sua vez, é transmitida brilhantemente pelo Professor Keating cuja sabedoria e sobriedade do discurso cativam os alunos (e a nós também) a buscarem a, extraordinariedade, isto é, se desprenderem do ordinário, do comum, que lhes são incutidos à força por suas famílias, que na realidade, convenhamos, poderia ser percebido como a sociedade contemporânea (ou é claro, de quaisquer outros tempos),haja vista que, a estandardização é sistematicamente incentivada (lamentavelmente) em todas as facetas da conjuntura social.
A atuação de Robin Williams é magistral, indelével, de modo que, a imagem de um professor instigante dificilmente se dissociará de Keating em sua cabeça depois de assistir esse longa. A relação do grupo de jovens é muito bem construída e desenvolvida, as nuances dos discursos e das situações vividas por eles contribuem muito para a verossimilhança do clímax do filme.
Em suma, esse filme possui uma potência substancial para mudar vidas e percepções acerca da realidade, sobretudo porque “a peça continua e você sempre pode contribuir com um verso”, não é mesmo? Que tal tentarmos construir nosso próprio verso? Qual será o seu?
Festim Diabólico
4.3 883 Assista AgoraTalvez a primeira grande obra de Hitchcock e também o primeiro de seus filmes em cores, o filme traz uma adaptação de uma peça teatral e utiliza da linguagem cinematográfica para apresentar esta obra de maneira distinta, evidentemente, do que o campo teatral poderia fazer.
A premissa do filme soa absurda (e de fato é), entretanto, impressionantemente o personagem de John Dall consegue convencer-nos de que está convencido da lógica de seu crime, sendo talvez um dos psicopatas mais bem retratados do cinema, ao passo que o personagem feito por Farley Granger representa o senso de humanidade da dupla com seu jeito caricato de se portar, mas que ao longo da trama vai passando a soar natural. O personagem de James Stewart é igualmente intrigante, analítico ao extremo, utilizando da lógica como seu pedestal até o diálogo final excepcionalmente bem feito.
A direção de Hitchcock é um espetáculo à parte, seu ''plano sequência'' parece extremamente real, os cortes quando percebíveis são para dar ao espectador uma sensação de susto, geralmente quando a câmera é repentinamente focada no personagem de Stewart sempre intrigado com as declarações curiosas de Brandon. Os planos detalhe no baú, a construção da tensão, a expressão corporal dos atores é tudo metodicamente bem trabalhado.
A cena final é espetacular, com o uso das cores (o vermelho e verde piscando incomodamente) Hitchcock constrói uma cena em que o a moralidade de Rupert finalmente ascende, quando então ele demonstra a deturpação lógica que Brandon ''psicopaticamente'' faz, baita cena.
Enfim trata-se de uma obra prima desse gênio chamado Alfred Hitchcock!
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraResolvi revisitar esta obra a qual me proporcionou uma de minhas melhores experiências com filmes de terror recentemente (muito por conta da destruição contumaz que Hollywood tem feito do gênero) e devo dizer que o filme se tornou ainda melhor!
A direção de Robert Eggers é primorosa em todos os sentidos, a maneira que ele coordena a câmera, o modo que ele permite que os planos ocorram, os cortes metódicos, o enquadramento e, claro não poderia deixar de citar, o desprezo pelos jumpscares, basicamente inexistentes na obra.
A trilha sonora é imprescindível para a obra, diria que ela concatena-se com as prolongadas cenas perfeitamente, é angustiante e profundamente imersivo.
Ambientação em concomitância com o figurino são fundamentais para a construção da tensão. Os cenários possuem cores frias, cinzentas, ao passo que o figurino remonta algo cabalístico e contribuem consideravelmente para mergulhar o espectador ainda mais no filme.
Os atores estão todos muito bem, entretanto, Anya Taylor-Joy é sem dúvidas a melhor em tela, a ambiguidade que ela proporciona a personagem é incrível, a personagem encontra-se o tempo inteiro manipulando as sensações do espectador, e isso se dá pela capacidade espetacular da atriz modificar suas expressões de modo crível e celeremente.
Este filme é a prova que não há necessidade de apelar para monstros gritando por horas, jumpscares constantes e cortes a cada 10 segundos para esconder a incapacidade do diretor em dirigir um filme. Se fossem retirados os 5 minutos finais do longa (que ao meu ver retiram boa parte da ambiguidade que permeava o roteiro) ele seria irretocável.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista Agora16 planos sequências coadunados de maneira magistral, isso resume a primorosidade técnica deste longa. Demorei bastante tempo para assisti-lo, devo admitir, pelo fato deste ter sido tão bem falado (tenho um pouco de pé atrás com filmes aclamados pelo público),e tive uma grata surpresa o filme reúne inúmeras camadas que me fizeram compreender o porquê dele agradar desde o público comum ao público mais exigente.
A obra se trata de uma metáfora clara a carreira de Michael Keaton que havia interpretado os filmes do Batman ao lado de Tim Burton e depois de negar o convite do terceiro filme não fez nada relevante por bastante tempo. As camadas psicológicas que envolvem a trama são várias, o filme discute depressão, suicídio, busca por relevância, desprendimento do passado, mas, acima de tudo discute a diferença entre ser famoso e ser importante, a busca insaciável de Riggan para deixar de ser Birdman e se tornar alguém, de fato, relevante.
A trilha sonora deste obra concatena-se com o filme de modo simplesmente genial. Nos momentos em que Keaton está no palco (do teatro) toca música clássica, calma, melódica. Fora do palco o que se tem é um free jazz um solo de bateria veloz, agressivo, firme, intercalado com músicas românticas quando Riggan encontra-se mergulhado em seus delírios.
O elenco excepcional não está aí por acaso, todos os atores tem seus momentos em evidência, destaco alguns: Edward Norton interpreta um personagem que satiriza o próprio ator, cuja fama é de que não é muito simples se trabalhar com ele e está muito bem no filme. Emma Stone possui uma cena que me fez voltar 3 vezes para reassistir, Está incrível. Michael Keaton tem uma atuação absolutamente fora de série.
Em suma, a obra possui muito a dizer, a direção de Iñárritu é metódica e indelével, a edição é impecável, a trilha sonora compõe muito bem as cenas, os atores estão todos muito bem e a crítica ao cinema mainstream é algo interessante, dá pra perceber o incômodo do diretor para com a situação do cinema hodiernamente.
Mártires
3.9 1,6KUma das obras mais impactantes que vi em toda minha vida. Filosófica no mais alto nível, transcendente, obra prima. A maquiagem desse filme é espetacular, beirando a perfeição, a trilha sonora compõe as cenas de maneira indissociável e fundamental para construção do clima. A reflexão que esse filme propõe faz-lhe pensar em tantos níveis que esta per se, já da ao filme um caráter primoroso.
É um filme para poucos, sem dúvidas, mas acredito que dar uma chance a obra, disposto a reflexão, pode lhe trazer insights interessantes!
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
4.1 1,1K Assista AgoraRevisitando alguns filmes do Woody Allen pra ver se consigo terminar de assistir a relativamente longa filmografia do diretor. Nada melhor, então, do que começar com meu filme preferido dele, este em que Woody cria uma narrativa beirando a perfeição, demonstrando de forma crível o desenvolvimento de um relacionamento e todos os percalços que fazem parte deste. Vindo de trabalhos consideravelmente superficiais Woody se aventura em apresentar em seu 7º longa uma obra que difere do tradicional e resolve utilizar uma comédia romântica para tocar em pontos que incomodam, como o desgaste de um relacionamento, os traumas gerados por uma infância atormentada e relacionamentos abusivos. Movimentos de câmeras inovadores, quebra da 4º parede, diálogos excepcionais, tangibilidade da obra, atuações reais, roteiro hábil. Com esse leque de elementos fazendo parte de sua obra fica fácil perceber o porquê desta obra ter sobrepujado ''guerra nas estrelas'' em 77 e levado o prêmio da academia pra casa (não que Woody ligue muito, rs).
PS: A cena em que os personagens de Diane Keaton e Woody Allen estão a conversar, e enquanto dialogam seus pensamento são transcritos em tela, é genial a um nível que não consigo descrever. Perfeita dicotomia entre o que o construto social permite que você fale e o que realmente você quer falar.
Sete Homens e Um Destino
4.1 235 Assista AgoraÉ magistral, o filme discute tanta coisa que se torna difícil elencar, medo, o que é ser covarde, como encarar a vida, morte, determinação. Alguns diálogos são memoráveis, muitos possuem uma beleza da ingenuidade daqueles fazendeiros, outros são revestidos de pensamentos que transcendem o senso comum (do jovem que acreditava que a honra estava em ser um pistoleiro, do homem que acreditava que somente o dinheiro era suficiente para se viver, do fazendeiro que teve sua primeira experiência com a adrenalina e por aí vai...). O confronto final é simplesmente espetacular, uma obra prima!
Livre
3.8 1,2K Assista AgoraUm filme que demorou a me envolver na trama, a narrativa que Jean-Marc Vallée opta por utilizar contribui para esse envolvimento gradual. De forma lenta você vai entendendo as motivações de Cheryl e o porquê de ela se encontrar naquela situação. O desenvolvimento da personagem é, de certo, o ponto alto do filme, é consideravelmente interessante ver o que se tornou aquela menina do primeiro dia de trilha no final desta. A fotografia é magistral, belíssima. A trilha sonora é marcante e importante para o enredo como um todo. É um bom filme para se assistir quando lhe falta inspiração para agir.