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Últimas opiniões enviadas

  • Adam Hoffmann

    O trabalho de quatro mãos livres

    O filme franco-português de Pedro Costa acompanha Jean-Marie Straub e Danièle Huillet na edição do filme Sicília, passando pelo processo da montagem do filme e como ambos tratam das complexidades da linguagem cinematográfica a cada corte que realizam. Três ambientes aparecem no filme: a sala de edição, a sala de exibição do filme e o próprio filme. No primeiro se passa a maior parte da obra, onde Straub e Huillet discutem posicionamentos de câmera e de atores, as formas de atuação e como diferentes elementos interferem na leitura da obra.
    Uma das falas de Straub durante a película que mais alto chega aos ouvidos é a de que o artista é sempre jovem, neste ponto encontro forte associação com o dizer de Gilles sobre a arte ser aquilo que resiste, arte ser aquilo que se mantém além da passagem do tempo, além das mudanças do corpo e da forma. A obra de arte tem grande afinidade com o ato de resistência, seja ela a um sistema de opressão, seja a resistência ao fim da vida - pois a própria existência é ato de resistência.
    Na edição de Sicília, o casal Straub e Huillet discute incessantemente sobre elementos da obra, debatem a importância do momento exato para o corte, sobre a necessidade de paciência plena para o processo - o vai e vem do trabalho faz parte do mesmo. Esse constante retorno em busca do melhor momento para o corte traz consigo o estranhamento sonoro e visual do rebobinar dos rolos de filme, a sala onde o casal passa a maior parte do filme tem seus sons próprios que acompanham o espectador durante toda obra; o clicar nos botões da mesa de edição, o toque entre as películas, o ligar e desligar da luz da mesa de edição, o ato de corte e o som que gera, até mesmo a tosse de Straub que serve como sinal de sua permanência em estado de vida. Todos esses elementos sonoros contribuem para manter a atenção no processo, em como se dá o ato de criação dos dois.
    Em momentos do filme, Huillet se incomoda com elementos ruidosos da obra editada, talvez por ter a clareza objetiva de suas ideias, o que em vezes gera conflito com as ideias de Straub, e é este conflito entre os cineastas que dá forma à obra. A colaboração e divisão de funções entre os dois parece ser essencial para a composição final de suas películas.
    Outros pontos interessantes do filme são as escolhas de quebra e omissão que os cineastas tomam em Sicília, aqui tratando quebra como os momentos em que diálogos pacatos são rompidos por gestos bruscos que fogem do ritmo levado pelo filme (cena do amolador entusiasmado) e omissões aqui pela escolha de não mostrar paisagens citadas pelas personagens, como na cena sobre a procissão de fiéis, onde a omissão aparece como espaço para a imaginação do espectador.
    A obra de Pedro Costa acompanha dois artistas em sua prática, seu processo, seu trabalho por gosto e liberdade, domínio pleno de sua técnica e respeito mútuo de conhecimentos. O documentário faz um excelente trabalho de observação desses processos, sem intromissões diretas, como se ali estivesse apenas uma câmera sobre um tripé gravando o trabalho do casal. Em certos momentos o filme pode ser monótono para aqueles que não se interessam necessariamente pelos processos de produção do cinema, pelas discussões que estão por trás de cada corte, ao mesmo tempo que serve como aula para outros dispostos a observar e absorver o potencial crítico dos cineastas sobre sua própria obra.
    Ao fim do filme, chegamos também ao fim do processo de produção de Sicília, que havia começado lá em suas etapas de ideação. Em sua última cena, Straub aparece às margens da sala de exibição, como um diretor ansioso para saber a opinião sobre sua obra, pois, após entregue para o espectador, não há muito mais espaço para explicações e citações que orientem o espectador a como interpretar o filme - cabe agora unicamente ao espectador absorver o que lhe cabe da obra.
    Como conclusão, posso colocar duas questões que permanecem comigo a respeito dos envolvidos no documentário: o que sentem estes cineastas após entregar a obra ou consumidor da sua arte? (angústia, libertação, ansiedade) e, como seria um documentário sobre a produção documental do próprio Pedro Costa? Quais elementos ele escolheu omitir? Quais decidiu mostrar? Como foi seu processo de criação documental e em que instância se relaciona com os processos de Straub e Huillet.
    Cabe, antes do fim, pontuar a importância do gênero documental, tanto pelo seu potencial de compartilhamento dos processos, quanto pelo exercício de observação das atividades de dois profissionais tão bem adaptados ao seu ambiente de produção. Acho que é ali, na sala de edição, que muitas vezes se encontrava o sorriso dos cúmplices Straub e Huillet - ali foi onde sorriram juntos por muitos anos e muitos filmes.

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  • kamille
    kamille

    Oi, Adam...adorei tua lista de favorito! Aceito recomendações de filmes que ce anda assistindo hehe

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