Eu gosto da simplicidade estética e como ele evoca reflexões interessantes durante e principalmente no encerramento do filme. Achei que os atores sustentam muito bem os diálogos mas todos os personagens, tirando Pauline, me fizeram revirar os olhos de repulsa, cada um à sua maneira. A forma como as mulheres são tratadas no filme também me deu muita preguiça. Não sei acusar se é o caso de ser daqueles filmes que envelheceram mal, porque ao mesmo tempo ele carrega uma leveza e um a simpatia que me é agradável. De todo jeito vale mencionar que a naturalidade com que a trama vai se desenvolvendo é merecedora de reconhecimento.
Excelente! Arco muito bem escrito, redondinho, carismático, intrigante, complementa muito bem a primeira temporada sem deixar o nível cair. Final épico e muito certeiro em posicionar Loki em seu lugar de prestígio conquistado sem torná-lo um herói livre das maldades que já cometeu. Fazia muito tempo que eu não via nenhum lançamento realmente bom da Marvel. Fiquei muito feliz com o resultado. Ainda há esperança pelo retorno das boas produções!
Eu estava bem perdido no começo, achando um pouco massante os episódios iniciais, mas resolvi insistir pelas fortes recomendações que eu recebi quando me convenceram a iniciar essa série. E valeu a pena porque a partir do 4º episódio fica muito bom e só melhora. Os episódios finais dessa temporada são muito esclarecedores e me fez gostar até dos personagens que antes eu achava que não tinha química. É lá que as peças se encaixam finalmente e você entende que tudo está elaborado pra que cause essa sensação mesmo de descobrimento. O arco dos imperadores clones é fantástico e sem dúvida resulta nas duas melhores cenas finais da série com a medonha, fúnebre e doce Dermerzel.
Em resumo, dá pra dizer que eu fui conquistado aos poucos pela história, pelos dilemas éticos, pelas questões existenciais e pela inteligência e arquitetura da trama. Já curioso pela segunda temporada. Altamente recomendável!
Eu gostei muito da primeira metade do filme. Acho que a história é contada com muita classe, em um ótimo ritmo que instiga. Fizeram um excelente trabalho estético de textura e resolução do quadro que traz a sensação "oldschool" em reverência à fonte original de 73. E claro, além de reverência, também referências, que eu prefiro não mencionar pra não ter que ativar o filtro de spoilers. Por fim, o filme é razoavelmente satisfatório, uma pena que o final decepcione quanto ao seu potencial de ser algo a mais. Infelizmente, passado a emoção imediata da sessão, ele é só mais um.
Sabe aquele filme que você assiste sem saber se é isso mesmo, que quando termina você olha pra pessoa do lado meio incrédulo? Tem um pouco de terror, um pouco de comédia, um pouco non-sense e uma sensação enorme de constrangimento que eu não identifiquei de onde veio. Acho que a palavra "esquisito" é a definição mais próxima e sucinta que eu consigo fazer.
A ideia é interessante mas muito repetitivo e cansativo. Não recomendo não. Por outro lado, seria um excelente filme se fosse um curta-metragem.
Pra mim Atlanta é um dos melhores tesouros já produzidos nos últimos anos dentro da temática. Pra essa temporada eu só não dei nota máxima porque a 3ª na minha opinião é o ápice do que eles fizeram de discurso, arte e entretenimento entrelaçados em um nível de cinema indiscutivelmente altíssimo.
E essa 4ª apesar de ter excelentes episódios, a sensação que fica no final é a de que estávamos no meio do caminho ainda. Mas não daquele jeito que os finais abertos são, e sim mais de um jeito como quando você está conversando na rua e te interrompem no meio da frase porque algo desviou nossa atenção e depois a gente não lembra muito bem do que tava falando. Por outro lado, de certa forma eu respeito isso e valorizo também a história que guarda seus momentos mais preciosos no meio do caminho. Então, como espectador curioso que sempre assistiu Atlanta se perguntando "onde esse episodio maluco vai dar?" é difícil dizer que fiquei satisfeito sem um encerramento de temporada um pouco mais conclusivo. Mas também eu saio dessa calçada com um sentimento de "hey, ok, foi uma estranha e interessante conversa que eu tive aqui".
Bem lá no fundo, eu tenho esperanças de que eles se reunam futuramente pra continuar Atlanta um dia. Não tanto porque eu acho que precisa...mas que bom seria.
Eu confesso que achei o começo bem interessante e eu tava me divertindo na metade, tentando adivinhar quem era o(a) assassino(a). Assisti com a minha namorada e a gente tava aqui elaborando várias teorias do que realmente estava acontecendo. Eu tava querendo muito que o filme fosse bom! Mas não sei o que aconteceu que parece que em determinado ponto trocam a equipe nos bastidores do nada e o final escorrega tão feio que parece piada. O filme parecia consciente de si, dos clichês do gênero e tudo mais, então eu tinha expectativas de uma subversão, uma reviravolta, algo inteligente que me surpreendesse. Mas de repente o filme foi na direção contrária e, olhando o conjunto da obra, não dá pra defender.
O filme começa com grande promessas, a primeira batalha é excelente de se assistir. Mas os confrontos finais são fracos, o vilão é decepcionante, caricato, dramático, se rasteja por nada. Esperava mais do Adam como personagem também, qualquer coisa a mais do que um poderoso abobalhado.
E claro, tem as conclusões sem fundamento nenhum do roteiro, aquelas forçadinhas convenientes que ignoram a lógica, mas beleza, a gente tá ali pra pensar menos e se divertir mais. Né? Ou...já cansamos disso? O que dá o contrapeso é realmente o plot simpático e trágico do passado do rocket, que realmente cativa. Esse terreno do filme tem uma sensibilidade de tela e tempo que todo o resto não tem.
Incrível! Surpreendentemente conseguiram o improvável: superaram o primeiro. Facilmente não só um dos melhores filmes de Homem Aranha mas também um dos melhores filmes de animação da história. Criativo, profundo, divertido, emocionante e ambicioso. A continuação PRECISA ser boa, queremos mais!
É a mesma coisa do Sem Escalas, só que num trem. A fórmula se repete, nada de novidade, clássico roteiro hollywoodiano amarradinho, mas tenho que dar o braço a torcer: funciona! Algumas cenas capturaram minha atenção de verdade, toda a dinâmica de câmera x cenário é muito bem feita e, afinal, ele cumpre bem o que promete. E não tem enrolação, toda cena é interessante e importante! Pra além da ótima performance do Liam Neeson, vale a pena destacar a presença do casal Invocação do Mal, Patrick Wilson e Vera Farmiga - maravilhosa como sempre.
Sou suspeito falar porque gosto muito de filmes investigativos e de filmes que se passam em um lugar apenas basicamente, mas de toda forma acho seguro dizer que quem gosta de ação e quer se divertir, é uma ótima opção.
Como seria se Wes Anderson tivesse dirigido "A Vida é Bela"? Imagine um choque de humor e suspense no que poderia haver entre "O Pequeno Nicolau" e "Bastardos Inglórios". Ah, e dá pra pôr "Calvin e Haroldo" também? Seria divertido tentar descrever todos os ingredientes desse filme que, com a maestria da direção de Taika Waititi, se torna potente, delicado e muito simpático.
Eu até ia comentar sobre as interpretações e dos personagens que gostei, mas acabei percebendo que foram todos! Porém, se eu tivesse que destacar algo aqui, seria a cena da mesa de jantar em que Scarlett Johansson eleva a camada sentimental da experiência a outro patamar. Sua personagem inspira admiração nos esforços que demonstra em seus breves diálogos ou nas entrelinhas de suas próprias secretas batalhas, dentro e fora de casa.
A trilha musical também merece reconhecimento e elogios quando ela vem pra contorcer os significados consensuais da narrativa. Nos faz compreender um pouco mais sobre o universo de um garoto de 10 anos vivendo empolgado sob as expectativas de uma juventude Hitlerista. Nesse sentido, as músicas não estão meramente ilustrando, não atuam no sentido de reafirmar, pelo contrário: ela contradiz, provoca e transforma. Cumpre perfeitamente a função de nos convidar a assistir por uma perspectiva que não é a nossa, nos apresentando um personagem em fase de descobrir suas vaidades e seus ídolos. É angustiante pensar que nessa idade existe uma demanda enorme por pertencimento, mas ver que naquele contexto o mundo já é dominado por medo, farsas e paranoias. O filme que assistimos portanto é sobre a guerra que Jojo trava dentro de si mesmo e sua emancipação. E é muito curioso ver seu progresso durante a história, perdendo todas as batalhas, sendo o rabbit, até finalmente precisar ser destruído de dentro pra fora, se desvencilhar de tudo e sobreviver pra conquistar o maior prêmio: sua liberdade.
Queria reservar algumas palavras também pra exaltar o humor ácido e violento que vem pra contrastar a presença da inocência das crianças que acreditam em tudo que lhes é dito. Os tiros no acampamento, Yorki carregando uma basuca, os clones suicidas, tudo é absurdamente hilário!
Roteiro muito cativante, direção de arte e fotografia impecáveis, execução encantadora. E ainda na emoção de ter visto o filme agora há pouco, dá pra dizer que fiquei maravilhado e recomendaria pra todo tipo de espectador com muita tranquilidade.
Eu reativei minha conta no Filmow só pra vir reclamar desse filme. Tudo bem que eu vi dublado em TV aberta e isso estraga 85% de qualquer experiência, mas mesmo com muita boa vontade pra assistir e com todo esse elenco de apoio esse filme conseguiu desperdiçar tanto potencial que me deixou puto.
Convenhamos, a última coisa que importou nessa história foi o fato dele ser chamado de "Príncipe". O background promete muito até a metade do filme, John Cusack se esforçando pra deixar a trama interessante e quando você chega no final, percebe que não fez diferença nenhuma. Uma tentativa fajuta de ser Busca Implacável com um anti-herói sem qualquer expressividade de preocupação ou esforço. Durante os tiroteios a cara dele é como se estivesse cortando as unhas do pé depois do almoço de domingo. Quando terminou eu só conseguia pensar, "tiraram o Bruce Willis de casa só pra isso?"
Espertos são os que marcaram aqui como "não quero ver".
a pessoa guardar um dossiê completo de provas contra ela mesma numa caixinha super disponível dentro da própria casa. Gente, se eu cometi um crime desses e minha vida funciona em torno disso diariamente, eu com certeza destruiria toda e qualquer prova contra mim que estivesse ao meu alcance. Não faz o menor sentido. Eu teria gostado mais se os roteiristas resolvessem essa parte de uma outra forma.
A elegância da direção e a trilha sonora deixam suas marcas impressas no que parece se tratar de um representante do terror contemporâneo. Chamam atenção o elemento oldschool do zoom e a cena do jogo no teatro em que o diálogo se estende contínuo ainda que os cortes desloquem os personagens de ambientes sem que sejam interrompidos. Um trabalho de apuro técnico, que assume a estilização e sabe criar tensão com uma efetividade curiosa. A combinação entre a maquiagem e o CG aplicados nas formas que o monstro assume conquistou um resultado bem interessante (o grandalhão magrelo meio Frankenstein é aterrorizante). Conceber uma criatura letal, imortal, mas lenta, é a ferramenta ideal para gerar uma graduação do terror perturbador, da inquietação, que atordoa.
O mais legal de It Follows é interpretar toda a trama como uma alegoria para o período em que os adolescentes estão para ingressar de fato em uma relação sexual. A começar pela ideia da paranoia, é coerente pensar que os jovens sentem-se constantemente perseguidos, sendo observados, fortemente pressionados a ter relações sexuais. Para os jovens, é o que os legitima socialmente. É imposta uma falsa necessidade de transar, seus pensamentos são constantemente deslocados para o campo sexual e tudo que você precisa fazer é escolher um(a) parceiro(a) qualquer, como se sua vida dependesse disso. Colocar a criatura para assumir formas dos pais das vítimas é cruelmente freudiano. O sexo muitas vezes é vazio, feito quase por obrigação, pra “cumprir a meta”, e os corpos embreagado de receios interagem à deriva. Tudo isso é resumido na cena final, quando vemos caminhando pelo passeio um casal de jovens que não se amam de mãos dadas. Atrás deles, um alguém qualquer, a presença da dúvida constante, a tensão que se recusa a desaparecer.
Achei muito bom e com certeza assistiria de novo daqui uns anos.
A grosso modo, o saldo geralmente é de que Boong faz o mais simpático dos médias, de maior plasticidade e delicadeza criativa; Gondry fica em segundo lugar com a empatia do casal e seu inusitado desfecho; e Carax, com agressividade, provoca estranhamento e confusão, apesar da fenomenal interpretação dos atores.
O primeiro filme é quase um neo-realista japonês da modernidade, em que a precária situação financeira dos personagens é latente. Mas o principal enfoque da história está na angústia de ter que ser alguém e demarcar sua existência no mundo. É como se desejassem negar a vida adulta que os obriga a executar tarefas sem sentido e talvez fosse melhor que se refugiassem em um mundo de fantasia por mais algum tempo até que se estivessem prontos para a cidade. Um sentimento de desamparo muito comum nas grandes cidades. A história é baseada em uma HQ.
O segundo média é talvez o mais enigmático e que valha a pena buscar um backgroud pra entender o que diabos Carax quis dizer ou o que Merde representa. Alguns textos dizem que a criatura come flores (em referência ao símbolo da família imperial japonesa) e dinheiro, como crítica à aliança do Japão à Alemanha nazista durante a segunda Guerra Mundial (note os argumentos genocidas do personagem). Daí as granadas encontradas por Merde, como se os japoneses tivessem empurrado toda essa história para debaixo do tapete, para o subterrâneo do país, e que agora vem à tona para atormentá-los. Uma afronta para fazer reagir a memória do Japão esquecida no esgoto e que como resultado acabou gerando uma criatura que afronta e se perpetua pela cultura japonesa como uma lenda urbana. Quase como o Godzilla de Carax, mas importado da França. O desfecho fantasmagórico mostra que essa memória não está disposta a morrer, que permanecerá viva em algum lugar, atormentando japoneses.
Ainda vale a pena reparar em aspectos criativos, em especial a dinâmica das câmeras no momento do interrogatório, que divide a tela em três ou quatro quadros mostrando vários ângulos ou personagens simultaneamente, como é comum no Japão o grande número de telões ou outdoors nas ruas. O evento ou a própria aparição de Merde é tratada como espetáculo (comportamento comum da mídia televisiva). Somos todos espectadores agora e o jornal (que é bizarro desde a fúnebre música de abertura ao fato de que só a bela apresentadora tem participação) evidencia a adesão fanática do público ao caso. Um completo show de aberrações. Uma possível crítica à cultura japonesa que é repleta de coisas até mais esquisitas que isso.
Bong Joon-ho, muito talentoso nas minúcias, encanta por todos os atributos envolvidos. A história aponta para o futuro do Japão onde as pessoas tendem a viver em reclusão, cada vez mais anti-sociais por se distanciarem do contato humano em opção à artificialidade e tecnologia tão bem sucedidas e desenvolvidas no país. No caso, até o amor está mecanizado por um botão. Uma bela triste poesia cinematográfica que fecha com chave de ouro - e alguma leveza - a trilogia que reverencia a manifestação da célebre fantasia japonesa.
É engraçado que a nossa noção atual de um filme de zumbi é carrega expectativas muito distantes do que esse filme realmente é. Seu mecanismo não toca na violência ou no gore, mas sim no mistério, naquilo que está na ordem do oculto. O horror não é agressivo, se constrói gradualmente na noção do bizarro ou do sobrenatural. O medo na verdade é a curiosidade disfarçada, o misticismo desconhecido que intriga e, se surge o pavor, é pelo eventual deparar de figuras mórbidas. Sem dúvidas é uma obra bem única e o meu problema com o filme foi justamente esse choque de expectativas que tento superar. Ainda não sei muito sobre o Tourneur, mas não há nada para se queixar da direção. A decupagem é muito interessante, a precisão da narrativa, sucinta e eficiente, a grande maioria dos closes ou movimentos de câmera tem sua potência relevante.
O que geralmente dá consistência aos filmes de zumbi é uma crítica nas entrelinhas sobre a relação entre os homens, elevando a ideia para além do mero entretenimento. E ainda que este preceda praticamente todos os zumbis do cinema, esse caso não me parecia diferente disso.
Obviamente, o personagem que mais chama atenção é o próprio zumbi negro de olhos esbugalhados. E pra mim, o nome dele tornou tudo mais interessante. Carrefour, como sabemos, significa "encruzilhada" ou "cruzamento" em francês. Não à toa ele é encontrado posto no miolo da plantação como um guarda que marca a divisão entre os dois territórios. Estamos falando de ciência e mitologia? Do encontro entre brancos e negros? E eu fiquei pensando sobre Carrefour poder ser encarada como um parônimo de "careful", que em inglês significa "cuidadoso". Imediatamente me veio a figura do zumbi carregando Jessica nos braços, sereno, na última cena. Betsy é uma enfermeira, dedicada à cuidar, preservar a vida, mas a verdade é que historicamente o homem branco ocidental está cercado pelos cuidados dos negros desde a escravidão. Enxerga-se claramente que todo o entorno da casa é repleto de trabalhadores negros, desde o cocheiro às cozinheiras. A briga entre os irmãos pela mulher desejada poderia ser a representação da disputa egoísta, eurocêntrica, por aquilo que acabaram matando. Não à toa, a principal empregada negra do filme se chama Alma. Por isso Carrefour, o homem negro de olhos esbugalhados é oco. Vazio, de pés descalços, feito para obedecer ordens, o morto-vivo, o zumbi.
Toda essa atmosfera soturna atua para preservar algumas entrelinhas que os estúdios não permitiriam expor tão explicitamente assim. Era preciso por o belo rosto de Frances Dee protagonizando o filme mas, na verdade, ele parece querer apontar para a crítica que faz ao choque cultural de brancos e negros. Questões amorosas são puro rodeio pra se chegar aonde se quer. Ti-Misery é a figura da proa e emblema máximo do tráfico negreiro e é com uma de suas flechas cravadas que Wesley dá fim à Jessica e em seguida entrega seu espírito ao mar. Toda a tragédia voltada para a família branca faz borbulhar interpretações variadas sobre a existência dos rituais de vodoo, que no filme pode ser lido como modo de perpetuação cultural africana ou, infelizmente, de forma antagônica, quase como uma ameaça ao homem branco. O que me pareceu pouco plausível, sobretudo, foi a presença da senhora Rand, a mãe cheia de segredos, encabeçando as cerimônias, justamente pelas questões culturais implícitas. De qualquer maneira, é feliz a arquitetura narrativa que confirma a existência das tensões entre os povos dominantes e oprimidos, o que é certamente destrutivo para ambos os lados.
O esplendor das grandes casas dos senhores é, na verdade, repleto de tristeza, um Fort Holland falido, movido por células inertes, um organismo condenado, sem cura. Com isso, dá pra revisitar as palavras de Paul, ditas ainda no navio, com outros olhos.
"Tudo parece bonito, porque você não entende. Os peixes voadores não pulam de alegria. Eles pulam de terror. Os peixes maiores querem devorá-los. A água luminosa obtém o seu brilho devido a milhões de cadáveres minúsculos. O brilho da putrescência. Aqui não há beleza, só morte e decadência (...). Aqui tudo de bom morre, até mesmo as estrelas".
Nem tanto pelo encanto cinematográfico mas mais pela sutileza inteligente em pouco mais de 1h de filme. Vale a pena conhecer.
O interesse veio pelo pioneirismo documental e se sustentou com as curiosidades didáticas que o filme traz. Por um momento fiquei admirado em como Flasherty privilegiava Nanook em cena com um certo resguardo, como se tivesse consciência de que a arte se manifestava mais pelas habilidades do esquimó que pelo próprio cinema que conduzia. Também achei bonito em como o filme começa com um primeiro plano de Nanook e termina da mesma forma, como um ciclo ao som do uivo mórbido e malancólico - que me pareceu falar de algum aspecto da essência humana . Uma vida de deserto branco em que vagam perecíveis com fomes perfurantes e sorrisos crus. Sabendo de todo o background do que foi a produção do filme, o conjunto da obra deixa um gosto afiado e primitivo congelado em nossos olhos.
Pra quem curtiu as sensações de natureza do filme, sugiro a ficção "A Balada de Narayama".
Já publiquei essa opinião aqui há uns 6 meses mas vou repostar pra saber de mais gente o que acham da hipótese. Não fiz controle de spoilers.
The Babadook está certamente acima da média se comparado a maioria dos companheiros de gênero. Dar atenção a ele foi gratificante porque ele me provou ser digno de uma profunda análise, especialmente no que diz respeito ao roteiro. Recapitulando o filme diversas vezes, eu consegui observar alguns traços que podem ser hipóteses corretas ou meras coincidências, mas que valem ser registradas aqui porque não encontrei nenhum texto na internet que fazia tais associações.
Antes de partir para as camadas de construção do filme, me perturba a ideia de que Jennifer Kent tenha feito referências (e reverencias) ao cineasta russo Tarkovsky, e ninguém tenha comentado sobre isso. Chegar a ele não foi difícil porque a semelhança entre a personagem Amelia, com seus cabelos loiros desvairados e sua cara de cansada é muito semelhante a uma fase específica da personagem Natalya (procurem por imagens dela no Google), do filme "Zerkalo" (Espelho, 1975). "Zerkalo" é um filme sobre memórias fragmentadas, então não é preciso ser nenhum grande esforço pra entender a conexão. Além disso, ainda temos a cena em que se molha na banheira e as levitações sobre a cama, fazendo alusões a cenas memoráveis de Espelho. Sem contar que o filme já começa com fragmentos de vidro voando pra todos os lados. Já o final de The Babadook tem uma relação muito direta com o desfecho de "Stalker" (1979), outro famoso filme de Tarkovsky, que também se encerra flertando com o elemento místico.
Agora, as três possíveis camadas de interpretação da história de acordo com o meu ponto de vista. 1 - Tudo aconteceu como se vê na tela, literalmente. Babadook é realmente uma entidade invocada através da leitura dos livros e que passou a perturbar a família. No final, é exorcizado da figura do marido falecido e é encarcerado no porão da casa. 2 - As manifestações sobrenaturais são, na verdade, alucinações da mente de uma mãe perturbada por um trauma do passado, somada à solidão e à tensão de um filho problemático. Sem contar a insônia, aspecto que a leva a assistir TV durante a madrugada e acaba absorvendo figuras de clássicos do terror de forma inconsciente, o que em seu imaginário dá forma física a Babadook. No final, a loucura é trancafiada em algum lugar dentro de si para que possa exercer de seu amor pelo filho, mas sem conseguir se livrar dela por definitivo, permanece alimentando-a em seu porão interno. Um final feliz que representa uma vitória relativamente otimista.
E aí, depois de muito refletir e observar, no dia seguinte me questionei sobre uma série de pistas e comportamentos significativos que poderia aprofundar a questão, uma evolução do ponto anterior. Afinal, "a vida nem sempre é o que parece. Pode ser uma coisa maravilhosa. Mas também pode ser uma coisa muito enganosa para nós". É aqui que as coisas ficaram mais interessantes, se me permitem a especulação:
3 - Amelia, possivelmente viúva e possuída pela solidão, matou o cachorro e o filho mesmo, foi dada por louca e agora vive diante de uma televisão num manicômio. O ponto é: a notícia do crime em que Amelia se vê na TV (lembram disso?) aconteceu mesmo. A insanidade a convenceu de que Samuel era um garoto problemático e a irritava, então o matou. Mas, agora, movida pela culpa, tenta convencer a todos os personagens de sua mente de que ele só precisava de alguém que o entendesse, afinal, alguma sanidade ainda reluta e se debate por dentro. A ala dos idosos é logo ao lado, por isso sempre vê sua vizinha velhinha do outro lado. Forçar o garoto a tomar o medicamento é um reflexo direto do cotidiano que ela mesmo vive em sua ala. A notícia diz que o garoto comemorava seu aniversário quando esfaqueado pela própria mãe. Por que a existência dessa informação? Para nos conectar à cena final, quando Amelia dá os parabéns para o filho e o coloca no colo. Percebi que, naquelas condições, seria mesmo impossível - ou no mínimo improvável - um garoto de 7, 8 anos fazer aquela mágica da pomba. Foi quando eu me toquei que a cena era completamente onírica, uma fantasia que refletia, ainda no que lhe restava de sanidade, seu desejo irresgatável. E Samuel continua a incomodando na hora de dormir, mas a verdade é que a perturbação é exclusivamente psicológica.
Renegando a ideia de alucinação, mas assumindo agora uma ilusão ameaçadora, o remorso se associa à luta por sobrevivência de Samuel. E para combater uma ilusão, nada melhor que um mágico, aspiração infantil do garoto. Personagem que mais gostei, não só pela fenomenal interpretação e presença de Noah Wiseman em tela, mas também por ter características físicas e comportamentais muito parecidas com as de meu irmão pequeno, então a minha experiência foi mais íntima.
Babadook é um nome de sonoridade infantil e, ao mesmo tempo, se aproxima da ideia de onomatopeia, o que é uma conjunção bem criativa. Gosto de assistir filmes em silêncio, mas diversas vezes quebrei a norma pela necessidade de elogiar quadros que mostravam ambientes e detalhes da casa de madrugada, resultado de um trabalho de fotografia e composição belíssimos. Definitivamente um excelente investimento de tempo, tanto como entretenimento quanto reflexão.
Apesar de não entender o porquê do Russel colocar uns lances meio bregas no meio, é um filme bem corajoso e potente. Agora, o domínio de mise-en-scene que esse cara tem é fantástico. Virou referência pra mim.
Pauline na Praia
3.9 64Eu gosto da simplicidade estética e como ele evoca reflexões interessantes durante e principalmente no encerramento do filme. Achei que os atores sustentam muito bem os diálogos mas todos os personagens, tirando Pauline, me fizeram revirar os olhos de repulsa, cada um à sua maneira. A forma como as mulheres são tratadas no filme também me deu muita preguiça. Não sei acusar se é o caso de ser daqueles filmes que envelheceram mal, porque ao mesmo tempo ele carrega uma leveza e um a simpatia que me é agradável. De todo jeito vale mencionar que a naturalidade com que a trama vai se desenvolvendo é merecedora de reconhecimento.
Loki (2ª Temporada)
4.0 192Excelente! Arco muito bem escrito, redondinho, carismático, intrigante, complementa muito bem a primeira temporada sem deixar o nível cair. Final épico e muito certeiro em posicionar Loki em seu lugar de prestígio conquistado sem torná-lo um herói livre das maldades que já cometeu. Fazia muito tempo que eu não via nenhum lançamento realmente bom da Marvel. Fiquei muito feliz com o resultado. Ainda há esperança pelo retorno das boas produções!
Fundação (1ª Temporada)
3.8 122 Assista AgoraEu estava bem perdido no começo, achando um pouco massante os episódios iniciais, mas resolvi insistir pelas fortes recomendações que eu recebi quando me convenceram a iniciar essa série. E valeu a pena porque a partir do 4º episódio fica muito bom e só melhora. Os episódios finais dessa temporada são muito esclarecedores e me fez gostar até dos personagens que antes eu achava que não tinha química. É lá que as peças se encaixam finalmente e você entende que tudo está elaborado pra que cause essa sensação mesmo de descobrimento. O arco dos imperadores clones é fantástico e sem dúvida resulta nas duas melhores cenas finais da série com a medonha, fúnebre e doce Dermerzel.
Em resumo, dá pra dizer que eu fui conquistado aos poucos pela história, pelos dilemas éticos, pelas questões existenciais e pela inteligência e arquitetura da trama. Já curioso pela segunda temporada. Altamente recomendável!
O Exorcista: O Devoto
2.1 407 Assista AgoraEu gostei muito da primeira metade do filme. Acho que a história é contada com muita classe, em um ótimo ritmo que instiga. Fizeram um excelente trabalho estético de textura e resolução do quadro que traz a sensação "oldschool" em reverência à fonte original de 73. E claro, além de reverência, também referências, que eu prefiro não mencionar pra não ter que ativar o filtro de spoilers. Por fim, o filme é razoavelmente satisfatório, uma pena que o final decepcione quanto ao seu potencial de ser algo a mais. Infelizmente, passado a emoção imediata da sessão, ele é só mais um.
Me Assuste
2.6 44 Assista AgoraSabe aquele filme que você assiste sem saber se é isso mesmo, que quando termina você olha pra pessoa do lado meio incrédulo? Tem um pouco de terror, um pouco de comédia, um pouco non-sense e uma sensação enorme de constrangimento que eu não identifiquei de onde veio. Acho que a palavra "esquisito" é a definição mais próxima e sucinta que eu consigo fazer.
A ideia é interessante mas muito repetitivo e cansativo. Não recomendo não. Por outro lado, seria um excelente filme se fosse um curta-metragem.
Atlanta (4ª Temporada)
4.4 53 Assista AgoraPra mim Atlanta é um dos melhores tesouros já produzidos nos últimos anos dentro da temática. Pra essa temporada eu só não dei nota máxima porque a 3ª na minha opinião é o ápice do que eles fizeram de discurso, arte e entretenimento entrelaçados em um nível de cinema indiscutivelmente altíssimo.
E essa 4ª apesar de ter excelentes episódios, a sensação que fica no final é a de que estávamos no meio do caminho ainda. Mas não daquele jeito que os finais abertos são, e sim mais de um jeito como quando você está conversando na rua e te interrompem no meio da frase porque algo desviou nossa atenção e depois a gente não lembra muito bem do que tava falando. Por outro lado, de certa forma eu respeito isso e valorizo também a história que guarda seus momentos mais preciosos no meio do caminho. Então, como espectador curioso que sempre assistiu Atlanta se perguntando "onde esse episodio maluco vai dar?" é difícil dizer que fiquei satisfeito sem um encerramento de temporada um pouco mais conclusivo. Mas também eu saio dessa calçada com um sentimento de "hey, ok, foi uma estranha e interessante conversa que eu tive aqui".
Bem lá no fundo, eu tenho esperanças de que eles se reunam futuramente pra continuar Atlanta um dia. Não tanto porque eu acho que precisa...mas que bom seria.
O Clube de Leitores Assassinos
2.3 99 Assista AgoraEu confesso que achei o começo bem interessante e eu tava me divertindo na metade, tentando adivinhar quem era o(a) assassino(a). Assisti com a minha namorada e a gente tava aqui elaborando várias teorias do que realmente estava acontecendo. Eu tava querendo muito que o filme fosse bom! Mas não sei o que aconteceu que parece que em determinado ponto trocam a equipe nos bastidores do nada e o final escorrega tão feio que parece piada. O filme parecia consciente de si, dos clichês do gênero e tudo mais, então eu tinha expectativas de uma subversão, uma reviravolta, algo inteligente que me surpreendesse. Mas de repente o filme foi na direção contrária e, olhando o conjunto da obra, não dá pra defender.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 808 Assista AgoraO filme começa com grande promessas, a primeira batalha é excelente de se assistir. Mas os confrontos finais são fracos, o vilão é decepcionante, caricato, dramático, se rasteja por nada. Esperava mais do Adam como personagem também, qualquer coisa a mais do que um poderoso abobalhado.
E claro, tem as conclusões sem fundamento nenhum do roteiro, aquelas forçadinhas convenientes que ignoram a lógica, mas beleza, a gente tá ali pra pensar menos e se divertir mais. Né? Ou...já cansamos disso?
O que dá o contrapeso é realmente o plot simpático e trágico do passado do rocket, que realmente cativa. Esse terreno do filme tem uma sensibilidade de tela e tempo que todo o resto não tem.
Gostei de como eles se separaram no final e também gostei da nova equipe.
Por fim, é isso, realmente fiquei bem dividido. Não é ruim mas também não é nada demais. O sentimento não é mais nem menos do que um "hm, ok".
Ruptura (1ª Temporada)
4.5 751 Assista AgoraFinal de temporada sensacional! O último episódio é de rasgar o sofá!
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 525 Assista AgoraIncrível! Surpreendentemente conseguiram o improvável: superaram o primeiro.
Facilmente não só um dos melhores filmes de Homem Aranha mas também um dos melhores filmes de animação da história. Criativo, profundo, divertido, emocionante e ambicioso. A continuação PRECISA ser boa, queremos mais!
JoJo's Bizarre Adventure: Stone Ocean (5ª Temporada)
4.1 33 Assista AgoraGente, que loucura.
Eu não me empolguei tanto no caminho mas assisti de insistência mas formalizo aqui que o final é muito lindo, valeu a pena.
O Exorcista do Papa
2.8 360 Assista AgoraProtagonista com potencial mas roteiro desperdiçado, cai nos clichês de sempre e de forma bem fraca. Infelizmente dispensável.
O Passageiro
3.3 376 Assista AgoraÉ a mesma coisa do Sem Escalas, só que num trem. A fórmula se repete, nada de novidade, clássico roteiro hollywoodiano amarradinho, mas tenho que dar o braço a torcer: funciona! Algumas cenas capturaram minha atenção de verdade, toda a dinâmica de câmera x cenário é muito bem feita e, afinal, ele cumpre bem o que promete. E não tem enrolação, toda cena é interessante e importante! Pra além da ótima performance do Liam Neeson, vale a pena destacar a presença do casal Invocação do Mal, Patrick Wilson e Vera Farmiga - maravilhosa como sempre.
Sou suspeito falar porque gosto muito de filmes investigativos e de filmes que se passam em um lugar apenas basicamente, mas de toda forma acho seguro dizer que quem gosta de ação e quer se divertir, é uma ótima opção.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraPode conter fragmentos de spoilers inofensivos.
Como seria se Wes Anderson tivesse dirigido "A Vida é Bela"? Imagine um choque de humor e suspense no que poderia haver entre "O Pequeno Nicolau" e "Bastardos Inglórios". Ah, e dá pra pôr "Calvin e Haroldo" também? Seria divertido tentar descrever todos os ingredientes desse filme que, com a maestria da direção de Taika Waititi, se torna potente, delicado e muito simpático.
Eu até ia comentar sobre as interpretações e dos personagens que gostei, mas acabei percebendo que foram todos! Porém, se eu tivesse que destacar algo aqui, seria a cena da mesa de jantar em que Scarlett Johansson eleva a camada sentimental da experiência a outro patamar. Sua personagem inspira admiração nos esforços que demonstra em seus breves diálogos ou nas entrelinhas de suas próprias secretas batalhas, dentro e fora de casa.
A trilha musical também merece reconhecimento e elogios quando ela vem pra contorcer os significados consensuais da narrativa. Nos faz compreender um pouco mais sobre o universo de um garoto de 10 anos vivendo empolgado sob as expectativas de uma juventude Hitlerista. Nesse sentido, as músicas não estão meramente ilustrando, não atuam no sentido de reafirmar, pelo contrário: ela contradiz, provoca e transforma. Cumpre perfeitamente a função de nos convidar a assistir por uma perspectiva que não é a nossa, nos apresentando um personagem em fase de descobrir suas vaidades e seus ídolos. É angustiante pensar que nessa idade existe uma demanda enorme por pertencimento, mas ver que naquele contexto o mundo já é dominado por medo, farsas e paranoias. O filme que assistimos portanto é sobre a guerra que Jojo trava dentro de si mesmo e sua emancipação. E é muito curioso ver seu progresso durante a história, perdendo todas as batalhas, sendo o rabbit, até finalmente precisar ser destruído de dentro pra fora, se desvencilhar de tudo e sobreviver pra conquistar o maior prêmio: sua liberdade.
Queria reservar algumas palavras também pra exaltar o humor ácido e violento que vem pra contrastar a presença da inocência das crianças que acreditam em tudo que lhes é dito. Os tiros no acampamento, Yorki carregando uma basuca, os clones suicidas, tudo é absurdamente hilário!
Roteiro muito cativante, direção de arte e fotografia impecáveis, execução encantadora. E ainda na emoção de ter visto o filme agora há pouco, dá pra dizer que fiquei maravilhado e recomendaria pra todo tipo de espectador com muita tranquilidade.
O Príncipe
2.4 107 Assista AgoraEu reativei minha conta no Filmow só pra vir reclamar desse filme. Tudo bem que eu vi dublado em TV aberta e isso estraga 85% de qualquer experiência, mas mesmo com muita boa vontade pra assistir e com todo esse elenco de apoio esse filme conseguiu desperdiçar tanto potencial que me deixou puto.
Convenhamos, a última coisa que importou nessa história foi o fato dele ser chamado de "Príncipe". O background promete muito até a metade do filme, John Cusack se esforçando pra deixar a trama interessante e quando você chega no final, percebe que não fez diferença nenhuma. Uma tentativa fajuta de ser Busca Implacável com um anti-herói sem qualquer expressividade de preocupação ou esforço. Durante os tiroteios a cara dele é como se estivesse cortando as unhas do pé depois do almoço de domingo. Quando terminou eu só conseguia pensar, "tiraram o Bruce Willis de casa só pra isso?"
Espertos são os que marcaram aqui como "não quero ver".
Fuja
3.4 1,1K Assista AgoraExcelente! Pra quem gosta de tensão e suspense, esse é uma ótima!
A única coisa que eu achei muito absurdo de nada a ver foi
a pessoa guardar um dossiê completo de provas contra ela mesma numa caixinha super disponível dentro da própria casa. Gente, se eu cometi um crime desses e minha vida funciona em torno disso diariamente, eu com certeza destruiria toda e qualquer prova contra mim que estivesse ao meu alcance. Não faz o menor sentido. Eu teria gostado mais se os roteiristas resolvessem essa parte de uma outra forma.
E sobre o final,
queria ter visto ela entrar ou formar na universidade. E também não entendi pq ela já não estava andando normalmente mesmo depois de tantos anos.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraA elegância da direção e a trilha sonora deixam suas marcas impressas no que parece se tratar de um representante do terror contemporâneo. Chamam atenção o elemento oldschool do zoom e a cena do jogo no teatro em que o diálogo se estende contínuo ainda que os cortes desloquem os personagens de ambientes sem que sejam interrompidos. Um trabalho de apuro técnico, que assume a estilização e sabe criar tensão com uma efetividade curiosa. A combinação entre a maquiagem e o CG aplicados nas formas que o monstro assume conquistou um resultado bem interessante (o grandalhão magrelo meio Frankenstein é aterrorizante). Conceber uma criatura letal, imortal, mas lenta, é a ferramenta ideal para gerar uma graduação do terror perturbador, da inquietação, que atordoa.
O mais legal de It Follows é interpretar toda a trama como uma alegoria para o período em que os adolescentes estão para ingressar de fato em uma relação sexual. A começar pela ideia da paranoia, é coerente pensar que os jovens sentem-se constantemente perseguidos, sendo observados, fortemente pressionados a ter relações sexuais. Para os jovens, é o que os legitima socialmente. É imposta uma falsa necessidade de transar, seus pensamentos são constantemente deslocados para o campo sexual e tudo que você precisa fazer é escolher um(a) parceiro(a) qualquer, como se sua vida dependesse disso. Colocar a criatura para assumir formas dos pais das vítimas é cruelmente freudiano. O sexo muitas vezes é vazio, feito quase por obrigação, pra “cumprir a meta”, e os corpos embreagado de receios interagem à deriva. Tudo isso é resumido na cena final, quando vemos caminhando pelo passeio um casal de jovens que não se amam de mãos dadas. Atrás deles, um alguém qualquer, a presença da dúvida constante, a tensão que se recusa a desaparecer.
Achei muito bom e com certeza assistiria de novo daqui uns anos.
Tokyo!
4.0 127 Assista AgoraA grosso modo, o saldo geralmente é de que Boong faz o mais simpático dos médias, de maior plasticidade e delicadeza criativa; Gondry fica em segundo lugar com a empatia do casal e seu inusitado desfecho; e Carax, com agressividade, provoca estranhamento e confusão, apesar da fenomenal interpretação dos atores.
O primeiro filme é quase um neo-realista japonês da modernidade, em que a precária situação financeira dos personagens é latente. Mas o principal enfoque da história está na angústia de ter que ser alguém e demarcar sua existência no mundo. É como se desejassem negar a vida adulta que os obriga a executar tarefas sem sentido e talvez fosse melhor que se refugiassem em um mundo de fantasia por mais algum tempo até que se estivessem prontos para a cidade. Um sentimento de desamparo muito comum nas grandes cidades. A história é baseada em uma HQ.
O segundo média é talvez o mais enigmático e que valha a pena buscar um backgroud pra entender o que diabos Carax quis dizer ou o que Merde representa. Alguns textos dizem que a criatura come flores (em referência ao símbolo da família imperial japonesa) e dinheiro, como crítica à aliança do Japão à Alemanha nazista durante a segunda Guerra Mundial (note os argumentos genocidas do personagem). Daí as granadas encontradas por Merde, como se os japoneses tivessem empurrado toda essa história para debaixo do tapete, para o subterrâneo do país, e que agora vem à tona para atormentá-los. Uma afronta para fazer reagir a memória do Japão esquecida no esgoto e que como resultado acabou gerando uma criatura que afronta e se perpetua pela cultura japonesa como uma lenda urbana. Quase como o Godzilla de Carax, mas importado da França. O desfecho fantasmagórico mostra que essa memória não está disposta a morrer, que permanecerá viva em algum lugar, atormentando japoneses.
Ainda vale a pena reparar em aspectos criativos, em especial a dinâmica das câmeras no momento do interrogatório, que divide a tela em três ou quatro quadros mostrando vários ângulos ou personagens simultaneamente, como é comum no Japão o grande número de telões ou outdoors nas ruas. O evento ou a própria aparição de Merde é tratada como espetáculo (comportamento comum da mídia televisiva). Somos todos espectadores agora e o jornal (que é bizarro desde a fúnebre música de abertura ao fato de que só a bela apresentadora tem participação) evidencia a adesão fanática do público ao caso. Um completo show de aberrações. Uma possível crítica à cultura japonesa que é repleta de coisas até mais esquisitas que isso.
Bong Joon-ho, muito talentoso nas minúcias, encanta por todos os atributos envolvidos. A história aponta para o futuro do Japão onde as pessoas tendem a viver em reclusão, cada vez mais anti-sociais por se distanciarem do contato humano em opção à artificialidade e tecnologia tão bem sucedidas e desenvolvidas no país. No caso, até o amor está mecanizado por um botão. Uma bela triste poesia cinematográfica que fecha com chave de ouro - e alguma leveza - a trilogia que reverencia a manifestação da célebre fantasia japonesa.
A Morta-Viva
3.8 65É engraçado que a nossa noção atual de um filme de zumbi é carrega expectativas muito distantes do que esse filme realmente é. Seu mecanismo não toca na violência ou no gore, mas sim no mistério, naquilo que está na ordem do oculto. O horror não é agressivo, se constrói gradualmente na noção do bizarro ou do sobrenatural. O medo na verdade é a curiosidade disfarçada, o misticismo desconhecido que intriga e, se surge o pavor, é pelo eventual deparar de figuras mórbidas. Sem dúvidas é uma obra bem única e o meu problema com o filme foi justamente esse choque de expectativas que tento superar. Ainda não sei muito sobre o Tourneur, mas não há nada para se queixar da direção. A decupagem é muito interessante, a precisão da narrativa, sucinta e eficiente, a grande maioria dos closes ou movimentos de câmera tem sua potência relevante.
O que geralmente dá consistência aos filmes de zumbi é uma crítica nas entrelinhas sobre a relação entre os homens, elevando a ideia para além do mero entretenimento. E ainda que este preceda praticamente todos os zumbis do cinema, esse caso não me parecia diferente disso.
Obviamente, o personagem que mais chama atenção é o próprio zumbi negro de olhos esbugalhados. E pra mim, o nome dele tornou tudo mais interessante. Carrefour, como sabemos, significa "encruzilhada" ou "cruzamento" em francês. Não à toa ele é encontrado posto no miolo da plantação como um guarda que marca a divisão entre os dois territórios. Estamos falando de ciência e mitologia? Do encontro entre brancos e negros? E eu fiquei pensando sobre Carrefour poder ser encarada como um parônimo de "careful", que em inglês significa "cuidadoso". Imediatamente me veio a figura do zumbi carregando Jessica nos braços, sereno, na última cena. Betsy é uma enfermeira, dedicada à cuidar, preservar a vida, mas a verdade é que historicamente o homem branco ocidental está cercado pelos cuidados dos negros desde a escravidão. Enxerga-se claramente que todo o entorno da casa é repleto de trabalhadores negros, desde o cocheiro às cozinheiras. A briga entre os irmãos pela mulher desejada poderia ser a representação da disputa egoísta, eurocêntrica, por aquilo que acabaram matando. Não à toa, a principal empregada negra do filme se chama Alma. Por isso Carrefour, o homem negro de olhos esbugalhados é oco. Vazio, de pés descalços, feito para obedecer ordens, o morto-vivo, o zumbi.
Toda essa atmosfera soturna atua para preservar algumas entrelinhas que os estúdios não permitiriam expor tão explicitamente assim. Era preciso por o belo rosto de Frances Dee protagonizando o filme mas, na verdade, ele parece querer apontar para a crítica que faz ao choque cultural de brancos e negros. Questões amorosas são puro rodeio pra se chegar aonde se quer. Ti-Misery é a figura da proa e emblema máximo do tráfico negreiro e é com uma de suas flechas cravadas que Wesley dá fim à Jessica e em seguida entrega seu espírito ao mar. Toda a tragédia voltada para a família branca faz borbulhar interpretações variadas sobre a existência dos rituais de vodoo, que no filme pode ser lido como modo de perpetuação cultural africana ou, infelizmente, de forma antagônica, quase como uma ameaça ao homem branco. O que me pareceu pouco plausível, sobretudo, foi a presença da senhora Rand, a mãe cheia de segredos, encabeçando as cerimônias, justamente pelas questões culturais implícitas. De qualquer maneira, é feliz a arquitetura narrativa que confirma a existência das tensões entre os povos dominantes e oprimidos, o que é certamente destrutivo para ambos os lados.
O esplendor das grandes casas dos senhores é, na verdade, repleto de tristeza, um Fort Holland falido, movido por células inertes, um organismo condenado, sem cura. Com isso, dá pra revisitar as palavras de Paul, ditas ainda no navio, com outros olhos.
"Tudo parece bonito, porque você não entende. Os peixes voadores não pulam de alegria. Eles pulam de terror. Os peixes maiores querem devorá-los. A água luminosa obtém o seu brilho devido a milhões de cadáveres minúsculos. O brilho da putrescência. Aqui não há beleza, só morte e decadência (...). Aqui tudo de bom morre, até mesmo as estrelas".
Nem tanto pelo encanto cinematográfico mas mais pela sutileza inteligente em pouco mais de 1h de filme. Vale a pena conhecer.
Nanook, o Esquimó
3.8 81 Assista AgoraO interesse veio pelo pioneirismo documental e se sustentou com as curiosidades didáticas que o filme traz. Por um momento fiquei admirado em como Flasherty privilegiava Nanook em cena com um certo resguardo, como se tivesse consciência de que a arte se manifestava mais pelas habilidades do esquimó que pelo próprio cinema que conduzia. Também achei bonito em como o filme começa com um primeiro plano de Nanook e termina da mesma forma, como um ciclo ao som do uivo mórbido e malancólico - que me pareceu falar de algum aspecto da essência humana . Uma vida de deserto branco em que vagam perecíveis com fomes perfurantes e sorrisos crus. Sabendo de todo o background do que foi a produção do filme, o conjunto da obra deixa um gosto afiado e primitivo congelado em nossos olhos.
Pra quem curtiu as sensações de natureza do filme, sugiro a ficção "A Balada de Narayama".
O Babadook
3.5 2,0KJá publiquei essa opinião aqui há uns 6 meses mas vou repostar pra saber de mais gente o que acham da hipótese. Não fiz controle de spoilers.
The Babadook está certamente acima da média se comparado a maioria dos companheiros de gênero. Dar atenção a ele foi gratificante porque ele me provou ser digno de uma profunda análise, especialmente no que diz respeito ao roteiro. Recapitulando o filme diversas vezes, eu consegui observar alguns traços que podem ser hipóteses corretas ou meras coincidências, mas que valem ser registradas aqui porque não encontrei nenhum texto na internet que fazia tais associações.
Antes de partir para as camadas de construção do filme, me perturba a ideia de que Jennifer Kent tenha feito referências (e reverencias) ao cineasta russo Tarkovsky, e ninguém tenha comentado sobre isso. Chegar a ele não foi difícil porque a semelhança entre a personagem Amelia, com seus cabelos loiros desvairados e sua cara de cansada é muito semelhante a uma fase específica da personagem Natalya (procurem por imagens dela no Google), do filme "Zerkalo" (Espelho, 1975). "Zerkalo" é um filme sobre memórias fragmentadas, então não é preciso ser nenhum grande esforço pra entender a conexão. Além disso, ainda temos a cena em que se molha na banheira e as levitações sobre a cama, fazendo alusões a cenas memoráveis de Espelho. Sem contar que o filme já começa com fragmentos de vidro voando pra todos os lados. Já o final de The Babadook tem uma relação muito direta com o desfecho de "Stalker" (1979), outro famoso filme de Tarkovsky, que também se encerra flertando com o elemento místico.
Agora, as três possíveis camadas de interpretação da história de acordo com o meu ponto de vista.
1 - Tudo aconteceu como se vê na tela, literalmente. Babadook é realmente uma entidade invocada através da leitura dos livros e que passou a perturbar a família. No final, é exorcizado da figura do marido falecido e é encarcerado no porão da casa.
2 - As manifestações sobrenaturais são, na verdade, alucinações da mente de uma mãe perturbada por um trauma do passado, somada à solidão e à tensão de um filho problemático. Sem contar a insônia, aspecto que a leva a assistir TV durante a madrugada e acaba absorvendo figuras de clássicos do terror de forma inconsciente, o que em seu imaginário dá forma física a Babadook. No final, a loucura é trancafiada em algum lugar dentro de si para que possa exercer de seu amor pelo filho, mas sem conseguir se livrar dela por definitivo, permanece alimentando-a em seu porão interno. Um final feliz que representa uma vitória relativamente otimista.
E aí, depois de muito refletir e observar, no dia seguinte me questionei sobre uma série de pistas e comportamentos significativos que poderia aprofundar a questão, uma evolução do ponto anterior. Afinal, "a vida nem sempre é o que parece. Pode ser uma coisa maravilhosa. Mas também pode ser uma coisa muito enganosa para nós". É aqui que as coisas ficaram mais interessantes, se me permitem a especulação:
3 - Amelia, possivelmente viúva e possuída pela solidão, matou o cachorro e o filho mesmo, foi dada por louca e agora vive diante de uma televisão num manicômio. O ponto é: a notícia do crime em que Amelia se vê na TV (lembram disso?) aconteceu mesmo. A insanidade a convenceu de que Samuel era um garoto problemático e a irritava, então o matou. Mas, agora, movida pela culpa, tenta convencer a todos os personagens de sua mente de que ele só precisava de alguém que o entendesse, afinal, alguma sanidade ainda reluta e se debate por dentro. A ala dos idosos é logo ao lado, por isso sempre vê sua vizinha velhinha do outro lado. Forçar o garoto a tomar o medicamento é um reflexo direto do cotidiano que ela mesmo vive em sua ala. A notícia diz que o garoto comemorava seu aniversário quando esfaqueado pela própria mãe. Por que a existência dessa informação? Para nos conectar à cena final, quando Amelia dá os parabéns para o filho e o coloca no colo. Percebi que, naquelas condições, seria mesmo impossível - ou no mínimo improvável - um garoto de 7, 8 anos fazer aquela mágica da pomba. Foi quando eu me toquei que a cena era completamente onírica, uma fantasia que refletia, ainda no que lhe restava de sanidade, seu desejo irresgatável. E Samuel continua a incomodando na hora de dormir, mas a verdade é que a perturbação é exclusivamente psicológica.
Renegando a ideia de alucinação, mas assumindo agora uma ilusão ameaçadora, o remorso se associa à luta por sobrevivência de Samuel. E para combater uma ilusão, nada melhor que um mágico, aspiração infantil do garoto. Personagem que mais gostei, não só pela fenomenal interpretação e presença de Noah Wiseman em tela, mas também por ter características físicas e comportamentais muito parecidas com as de meu irmão pequeno, então a minha experiência foi mais íntima.
Babadook é um nome de sonoridade infantil e, ao mesmo tempo, se aproxima da ideia de onomatopeia, o que é uma conjunção bem criativa. Gosto de assistir filmes em silêncio, mas diversas vezes quebrei a norma pela necessidade de elogiar quadros que mostravam ambientes e detalhes da casa de madrugada, resultado de um trabalho de fotografia e composição belíssimos. Definitivamente um excelente investimento de tempo, tanto como entretenimento quanto reflexão.
Os Demônios
3.9 153Apesar de não entender o porquê do Russel colocar uns lances meio bregas no meio, é um filme bem corajoso e potente. Agora, o domínio de mise-en-scene que esse cara tem é fantástico. Virou referência pra mim.
Instinto Fatal
3.4 70 Assista AgoraTem uma das cenas de acidente mais bonitas do cinema.
A Fortaleza Escondida
4.2 54Quando eu vejo Kurosawa eu só consigo pensar em domínio cinematográfico. Que cara impressionante.
"esconda uma pedra entre pedras. esconda homens entre homens"